Fundada em 1883, história da instituição permanece viva na memória cultural dos gaúchos

Muitos podem pensar que o livro de bolso não é uma invenção tão antiga. Trata-se de um erro. Com formato reduzido e preço acessível, o livro de bolso se popularizou na Europa do século 19, a exemplo da Coleção Charpentier, na França, das edições Tauchnitz, na Alemanha, e dos livros oferecidos nas estações de trem da Inglaterra.
No Rio Grande do Sul, o livro de bolso, de acordo com alguns autores, remete-nos à poetisa cega Delfina Benigna da Cunha (1791-1857), nascida em São José do Norte, na Estância do Pontal. Entre outras obras, ela é autora de Poesias Oferecidas às Senhoras Rio-Grandenses(1834), considerado o primeiro livro de poesia impresso no Estado, reeditado, em 1838, no Rio de Janeiro. No livro 50 anos de Literatura – Perfil das Patronas (1993), página 25, organizado pela Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul (ALFRS), a escritora Marília Beatriz Cibils Becker registrou sobre a poetisa cega: “(…) Seus livros são de pequeno tamanho, fáceis de manusear e delicados para a leitura das senhoras (livro de bolso)”. Marília ocupa na ALFRS a cadeira número 1, da qual Delfina Benigna da Cunha é a patrona. Já o autor Eloy Terra, em As Ruas de Porto Alegre (2001), da Editora AGE, página 69, ao se referir à obra da poetisa cega, complementou: “(…) Era um livro de pequeno formato. Cabia na bolsa das senhoras da sociedade”.
No Brasil, os primeiros livros de bolso em série são creditados à Coleção Globo, lançada em 1933 pela Livraria do Globo de Porto Alegre. Totalizando 24 títulos, os livros mediam 11cm x 16cm. Em 1942, o seu editor e empresário, Henrique Bertaso (1906-1977), lançou a Coleção Tucano. Infelizmente, ambas as iniciativas tiveram sucesso apenas parcial. Nos anos 1960, diante do êxito de venda do pocket book nos supermercados dos Estados Unidos, novamente a Editora Globo decidiu investir no livro de bolso. Ao lançar, em 1961, a Coleção Catavento, a editora manteve a sua proposta inicial de difundir os clássicos literários a preços populares, saindo, assim, do restrito circuito das livrarias, consideradas, à época, elitistas.
Segundo Antônio Coutinho Leite, em seu artigo “Difusão do Livro de Bolso”, publicado na revista literária Preto e Branco da Editora Globo, número 3, de 1961, a Coleção Catavento foi colocada à venda, em Porto Alegre, em farmácias, confeitarias, supermercados e bares, sendo acondicionada em modernas estantes de madeira. Alguns números dessa revista fazem parte do acervo do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, atualmente dirigido pela jornalista Elizabeth Corbetta.

Historicamente, é notório que havia restrições quanto ao livro de bolso. Como os exemplares eram vendidos a preços mais baixos, o livreiro não se sentia atraído em receber margens menores por produto. Finalmente, em fevereiro de 1997, com o lançamento de uma série pela editora L&PM, composta de 12 clássicos da literatura universal, o pocket book iniciaria a sua consolidação no mercado.

Ivan Pinheiro Machado – um dos fundadores da L&PM – declarou que a editora, em 2004, já havia alcançado a marca de 1,5 mil displays dos pockets “do Belém à Avenida Paulista”. Em 2011, a editora atingia a venda expressiva de mais de 2 milhões de livros de bolso em todo o Brasil. Em 1986, a nossa tradicional Editora Globo foi vendida à carioca Rio Gráfica Editora.
Fundada em Porto Alegre em 1883, sua história permanece viva na memória cultural dos gaúchos. Entre novidades e tantos sucessos editoriais, a Editora Globo foi pioneira no Brasil ao introduzir no mercado o livro de bolso.
Colaboração de Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite, pesquisador e coordenador do setor de imprensa do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa
Fonte: GaúchaZH