Há mais de 30 anos, o mercado nacional das letras perdeu José Olympio, mais conhecido pela sigla J.O., o principal editor brasileiro do século 20. Por sua editora, passaram nomes como Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, José Lins do Rego, Carlos Drummond de Andrade e Rachel de Queiroz
Texto por Cris Nascimento
Em 2020, completaram-se 30 anos da morte de J.O. (como era mais conhecido) – ele faleceu em 3 de maio de 1990 (Foto: Divulgação)
Nome de editora costuma ser curioso e criativo: Estronho, Companhia das Letras, Estrada de Papel etc. Principalmente quando tem um sobrenome: Martins Fontes, Francisco Alves, Rocco, entre outros.
Muitos leitores costumam ficar curiosos em saber quem é o cara por trás daquela denominação. Será que o tal “Francisco Alves” existiu mesmo? Ou é apenas uma invenção para conferir mais prestígio à casa editorial?
Geralmente, nome/sobrenome de uma editora vem de seu fundador, que é o dono e principal editor. Um dos mais famosos na história do mercado livreiro brasileiro é José Olympio Pereira Filho.
Ele começou a imprimir sua marca no universo das letras em 1931 com a Livraria José Olympio Editora em São Paulo. Mas foi no Rio de Janeiro, após mudança de sede e livros, que seu nome fez a diferença. Era na Rua do Ouvidor, 110, que a loja funcionou durante duas décadas, movimentando a cena cultural do país.
Em 2020, completaram-se 30 anos da morte de J.O. (como era mais conhecido) – ele faleceu em 3 de maio de 1990. Por isso, vale a pena mergulhar nos arquivos sobre o editor brasileiro mais importante do século 20. Parece exagero dizer isso. Mas não é.
José Olympio e sua Casa (livraria e editora) abriram as portas (literalmente falando) e as páginas para a consolidação de escritores como Graciliano Ramos (autor de “Vidas Secas”, por exemplo), José Lins do Rego (“Menino de Engenho”), Guimarães Rosa (“Grande Sertão: Veredas”), Rachel de Queirós (“O Quinze”), Carlos Drummond de Andrade. A lista cobre mais de 900 autores e 2,2 mil títulos.
Tema foi debatido no EdTech Meeting, encontro que reuniu especialistas para discutir o presente e o futuro do setor educacional dentro da indústria do livro
Aconteceu nesta terça-feira (15), o EdTech Meeting, encontro que reuniu especialistas para debater o futuro do setor educacional da indústria do livro. Responsável por R$ 2,85 bilhões na soma do PIB da indústria editorial, o setor educacional tem passado por profundas transformações e startups da educação – as EdTechs – querem dar respostas rápidas a essas mudanças. Representantes de duas delas – João Leal, fundador da Árvore e Mauris Henrique Poggio dos Santos, coordenador de produtos digitais da FTD Educação – conversaram com Gabriela Dias, colunista do PublishNews e especialista no tema, neste primeiro EdTech Meeting.
A personalização de conteúdos e a gamificação são duas das importantes tendências apontadas pelos participantes do encontro. Mauris apontou que vê uma permanente ameaça ao negócio do livro físico por ele não atender a estes dois quesitos. “O conteúdo [dos livros físicos] é muito rico, é curado, tem autores renomados, tem toda uma inteligência por trás, mas ele não é adaptável, não oferece aprendizado personalizado, não tem big data. É algo realmente complicado de você sustentar”, comentou dizendo ainda que a estratégia da FTD é adaptar às necessidades dos clientes. “As plataformas precisam se adequar cada vez mais ao estudantes e não o contrário”, arrematou.
A pandemia se impôs como um grande desafio que exigiu agilidade das empresas. “Foi um grande desafio”, ressaltou Mauris. João apontou que o relacionamento com as escolas ao longo da história da Árvore e as necessidades surtiram um efeito importante na operação da plataforma de leitura digital. Ele revelou que, no início do ano letivo de 2020, a Árvore contava com 200 mil alunos de 500 escolas. Finaliza o ano com 1,7 milhão de alunos de três mil escolas. Na FTD, Mauris revelou que o número de acessos quadriplicou em 2020. Apesar dos números positivos, os dois foram unânimes ao apontar que a conectividade e o acesso ainda são barreiras para que os conteúdos digitais cheguem aos alunos.
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Como resposta ao crescimento do consumo de e-books por brasileiros, Saraiva Educação e Record colocam no mercado selos por onde publicarão títulos exclusivamente no formato digital
No mês passado, a Bookwire Brasil analisou cerca de 1,6 milhão de registros para compor um relatório que mostra a dinâmica do mercado de e-books durante o período de pandemia. O consultor austríaco Rüdiger Wischenbart, responsável pelo estudo, concluiu: “Vimos que no Brasil a crise serviu de catalisador na aceleração de uma tendência já existente em direção à transformação digital. O mercado editorial digital no Brasil foi impactado de forma relevante pela pandemia da Covid-19”.
O relatório mostra que há crescimento relevante nas vendas entre o pré-isolamento e o isolamento, com um pico entre abril e maio. Mas mais importante do que isso: o crescimento se sustenta nos períodos seguintes, criando um patamar de vendas superior quando comparado a 2019.
Duas grandes editoras entenderam o recado e anunciam, nessa semana, o lançamento de selos voltados para publicar títulos inéditos exclusivamente no formato digital. A Record lança, nesta sexta-feira (11), o selo E-stante e a Saraiva Educação acaba de colocar no mercado o Expressa.
O E-stante Record seguirá a pluralidade temática dos vários selos do Grupo, publicando desde clássicos da literatura até livros de autoajuda. “Verificamos um aumento expressivo na venda de e-books durante a pandemia. Muito prático para quem está buscando opção de leitura sem sair de casa. Assim, tivemos a ideia de ampliar o nosso catálogo de e-books com novos títulos e criamos o selo E-stante”, explicou Sônia Machado, presidente do Grupo Editorial Record.
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A Bienal presencial, que aconteceria este ano, foi transferida para 2022. Escritores online e leitores em casa improvisam uma das mais importantes festas da literatura. Este ano, inovação saiu das capas dos livros para virar questão de sobrevivência no mercado editorial.
A Bienal Internacional do Livro de São Paulo com a presença do público foi transferida para 2022 por causa da pandemia. Mas 2020 não vai passar em branco, não.
Alimentada pela conexão da internet, enquadrada na tela, a Bienal do Livro imita a vida. “Precisamos justamente desse momento da resiliência, de afeto. Eu acho que o livro pode trazer isso para todos nós”, disse o escritor Leonardo Tonus.
Escritores online e leitores em casa improvisam uma das mais importantes festas da literatura. Este ano, a inovação saiu das capas dos livros para virar questão de sobrevivência no mercado editorial. O medo do vírus e as medidas de segurança esvaziaram as livrarias, que foram ocupar as prateleiras do comércio eletrônico para vender, além de livros, oficinas, cursos, palestras. Chegou a vez da Bienal Internacional do Livro de São Paulo se reinventar.
“Temos 330 personalidades literárias convidadas tanto do Brasil quanto de outras partes do mundo, e tudo isso via remota, virtual. Isso vai acabar fazendo com que muito mais pessoas participem sem sair de casa, com todas as garantias, seu afastamento social. Porém, não vamos deixar de ter contato com o que há de melhor nos livros”, afirmou Vitor Tavares, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL).
Vendas on-lines se apresentaram como alternativa, mas eventos literários seguem como fundamentais recuperar mercado
Texto por Márcia Maria da Cruz
Ana Luísa Chafir, da editora Bem-te-vi, reconhece o momento delicado, mas também destaca o crescimento do mercado virtual
O mercado editorial brasileiro se movimenta para não ser engolido por empresas multinacionais e, durante a pandemia do novo coronavírus, busca se reinventar. A quarentena obrigou as livrarias a fechar as portas. Vendas on-lines se apresentaram como alternativa, mas eventos literários seguem como fundamentais para a formação de leitores. A Feira Literária de Tiradentes (Fliti), realizada no fim de novembro na cidade histórica mineira, demonstra a importância dos eventos presenciais. O contato do leitor com o livro de papel segue como experiência única.
Eventos como a Fliti apontam caminhos para a recuperação, como demonstra a participação das editoras Melhoramentos, Mandala Produções, Aquarius, Quixote+Do, Aletria, Bambolê e Bem-te-vi. Para muitas delas, foi a primeira, e única, feira presencial do ano.
“Feiras, como a de Tiradentes, privilegiam as editoras. A organização tem esse cuidado, mas, mesmo assim, imagina a luta que é nesse contexto chegar às pessoas”, afirma Luciana Tanure, editora da Quixote Do. Ela lembra que quando veio a pandemia, em março, a empresa havia acertado todos os contratos para a produção de livros, mas foi surpreendida. “Fechei os contratos em um cenário e tive que executá-los em outro. Pela primeira vez estou em déficit financeiro. Tenho de pagar gráfica, porque o papel acabou de aumentar.”
O cenário ficou ainda mais instável para as editoras, porque há apenas um fornecedor de papel no Brasil, diz Luciana, o que dificulta a negociação. A Fliti foi o primeiro evento presencial da Quixote Do. A pandemia impediu, por exemplo, a realização do Festival Livro na Rua (Flir), em Belo Horizonte, evento que teve de ser adiado. “Por causa do isolamento social, não realizamos o Flir, mas há planejamento para fazê-lo em 2021 com apoio internacional, da embaixada da França”, revela Luciana.
Localizada no Copan, prédio histórico no centro da capital paulista, a livraria pretende manter programações culturais voltadas à difusão do livro
Livraria Megafauna em São Paulo (Foto: Divulgação)
Codirigida por Fernanda Diamant e Irene de Hollanda e tendo em seu quadro de funcionárias a maioria de mulheres, a livraria Megafauna — Livros no Centro nasce com a proposta de expandir a ideia de livraria, criando um espaço de reflexão, curadoria e criação de conteúdo no centro de São Paulo.
Localizada no térreo do Copan, um dos edifícios mais icônicos da capital, a livraria, que foi idealizado pelas editoras Fernanda Diamant e Maria Emília Bender, pela arquiteta Anna Ferrari, pelo empresário Arthur Mello e pelo bibliófilo e veterinário Thiago Salles Gomes, pretende manter programações culturais voltadas à difusão do livro e, de forma mais ampla, à literatura, às artes, às ciências.
A arquiteta Anna valorizou o projeto arquitetônico original ao reativar a passagem da livraria para a galeria do prédio e também ao sublinhar a relação do local com a cidade, com amplas portas e possibilidade de circulação entre a rua e a galeria. Todo o projeto foi pensado em detalhes: a madeira das estantes; as vitrines voltadas para a rua; os espaços para palestras e apresentações; a maneira como os títulos são expostos; a seleção de livros que compõem o catálogo e que prioriza não seu apelo comercial, mas a bibliodiversidade e a relevância das edições escolhidas; e chama a atenção de quem passa por lá.
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A Editora Fiocruz acaba de conquistar mais um Prêmio Abeu. O livro Formulário Médico: manuscrito atribuído aos jesuítas e encontrado em uma arca da Igreja de São Francisco de Curitiba foi o grande vencedor na categoria Ciências da Vida da sexta edição do prêmio, concedido pela Associação Brasileira das Editoras Universitárias (Abeu). A vitória foi anunciada em cerimônia realizada virtual apresentada na última quinta-feira (26/11). A transmissão ocorreu pelo canal da Abeu no YouTube.
Lançada em 2019, como parte do selo especial Clássicos & Fontes da coleção História e Saúde, a obra foi organizada pelos pesquisadores Heloisa Meireles Gesteira, João Eurípedes Franklin Leal, Maria Claudia Santiago. Os segundo e terceiro lugares na categoria foram, respectivamente, os livros Terra Papagalorum (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo) e Geopolítica do Alimento: o Brasil como fonte estratégica de alimentos para a humanidade (Editora da Embrapa).
Um vídeo com depoimento da coorganizadora Maria Claudia Santiago, chefe da Seção de Obras Raras da Biblioteca de Manguinhos da Fiocruz, foi exibido durante a transmissão. Em seus agradecimentos, a historiadora ressaltou que o trabalho só foi possível pelo esforço conjunto de pesquisadores das mais diversas áreas e de órgãos científicos. “Aproveito para agradecer aos 43 profissionais de 17 instituições brasileiras que participaram da produção desse livro”. Segundo ela, a publicação representou a chance de fazer com que um manuscrito raro e de fundamental importância para a história da saúde do país saísse das estantes da Biblioteca e chegasse a um público mais amplo. Ao premiar o livro, a Abeu ressaltou que o cuidado com a memória enriquece e fortalece a ciência do Brasil.
Essa foi a 5ª vez que a Editora Fiocruz conquistou o primeiro lugar no Prêmio Abeu. Desde sua criação, em 2015, a Editora vem marcando presença em todas as edições da premiação, incluindo, além das vitórias, uma série de indicações e menções honrosas. Em 2019, o livro Clínica, Laboratório e Eugenia: uma história transnacional das relações Brasil-Alemanha foi o vencedor na categoria Ciências Sociais, enquanto Arquivo de um sequestro jurídico-psiquiátrico: o caso Juvenal conquistou menção honrosa em Ciências da Vida.
O segmento de biografias é um dos favoritos dos brasileiros e existem diversos motivos para isso. Além de apresentar aos principais passos da história de sucesso de personalidades incríveis, essas obras fornecem grandes lições de vida e aprendizados valiosos.
De acordo com dados levantados pela quarta edição da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Ibope Inteligência para o Instituto Pró-Livro (IPL) em 2015 e realizada a cada quatro anos, cerca de 35 milhões de brasileiros consomem obras de memórias e biografias – número equivalente a quase 40% do universo de leitores.
Segmento é um dos que mais cresce
Segundo dados da Nielsen Bookscan, o lançamento de livros de memórias em 2017 fez osegmento disparar em vendas no paíse crescer 23,4% em relação a 2016, com uma alta de 8% no número de exemplares vendidos. Para fins de comparação, o setor de livros como um todo cresceu apenas 6%.
A tendência de crescimento continuou nos últimos anos e a quinta edição pesquisa da IPL revelou que ainda que o Brasil tenha perdido parte dos seus leitores, a média de livros lidos por eles aumentou de 4,54 para 4,95.
Além disso, cerca de 54% do público feminino se identifica como leitora, frente a 50% do público masculino, e impressionantes 82% dos entrevistados afirmaram que gostariam de ter lido mais, o que indica que os números devem crescer nos próximos quatro anos.
Diversas biografias fizeram sucesso entre os leitores nacionais e abaixo será possível conhecer algumas das mais recomendadas para qualquer leitor que queira ingressar nesse fenômeno.
No fim de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde declarou que o mundo vivia uma pandemia. Um novo vírus se tornava motivo de um alarme global. Poucos meses depois, a doença já tinha atingido mais de um milhão de pessoas e o número de mortes é ainda hoje crescente. Sem um remédio eficaz e nem uma vacina, poucas medidas restaram se não o isolamento social. O comércio fechou as portas em boa parte do mundo. E o impacto disso na economia foi catastrófico. Essa trama, todos que viveram 2020 já conhecem.
Por aqui, o varejo tradicional de livros apresentou maior queda em abril, quando a Nielsen registrou tombo de 49% no faturamento de livrarias, supermercado e lojas de autoatendimento apurado com a venda de livros. Aos poucos, o setor vem se recuperando, como aponta o Painel do Varejo de Livros no Brasil.
Mas ainda restava pelo menos uma pergunta: “qual o impacto disso nas vendas de livros digitais?”. Tendo essa questão em mente, a Bookwire e o consultor austríaco Rüdiger Wischenbart criaram o Digital consumer book barometer, relatório que analisa a dinâmica do mercado de e-books em três períodos: pré-isolamento (29/12/2019 – 14/03/2020), durante o isolamento (15/03/2020 – 31/05/2020) e pós-isolamento (1º/06/2020 a 16/08/2020). Para o estudo, foram processados cerca de 1,6 milhão de registros.
Uma das principais conclusões é que há mudanças relevantes no comportamento do consumidor deste formato ao longo dos oito primeiros meses de 2020. Rüdiger explica: “Vimos que no Brasil a crise serviu de catalisador na aceleração de uma tendência já existente em direção à transformação digital. O mercado editorial digital no Brasil foi impactado de forma relevante pela pandemia da Covid-19”.
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Após o cancelamento de alguns eventos literários devido a pandemia de Covid-19, como a Bienal Internacional do Livro de São Paulo e do Rio de Janeiro, o mercado editorial precisou se reinventar para não sofrer mais com a crise que o persegue há anos. Analisando as possibilidades, o Grupo Editorial Coerência fundou e organizou a FLISP (Festa Literário de São Paulo), que será realizada no dia 08 de novembro, a partir das 10h na Associação Osaka Naniwa-Kai com entrada franca.
Contando com a presença de várias editoras, como a Editora Alfabeto, Editora Bamboozinho, Editora Bezz, Editora DCL, Faro Editorial, Grupo Editorial Angel, Grupo Editorial Coerência, Grupo Editorial IBEP, Leya Brasil e Editora PL, o evento estará recheado de novidades para o mercado editorial, principalmente os lançamentos de livros que, infelizmente, sofreram atrasos ao longo do ano mediante a quarentena de Coronavírus.
A temática deste ano é referente aos esboços e rabiscos de todos os originais dos autores que estarão presente na festa, assim fazendo uma homenagem aos que não desistiram da literatura mesmo vivendo momentos complicados com a presença da Covid-19.
Por enfrentar um momento delicado e cheio de cautelas, a Festa Literária de São Paulo seguirá todas as medidas de prevenção para não propagar o Coronavírus, por isso, é necessário o uso de máscara durante o evento, e além disso, a organização já afirmou a presença de totens de álcool em gel nos corredores, medidores de temperatura e seguranças na entrada.
Até o momento, mais de 50 autores já confirmaram presença. Além disso, a organização preparou diversos sorteios para o público.
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Alê Santos concorre na categoria ensaio com obra que traz histórias de personagens da história afro falando sobre lutas. Escritor de Guaratinguetá (SP) fala sobre reconhecimento em mercado editorial, predominantemente branco.
Texto por Poliana Casemiro
Alê Santos concorre ao prêmio Jabuti — Foto: Divulgação
O publicitário e escritor Alê Santos, de Guaratinguetá (SP), foi indicado ao prêmio Jabuti, um dos mais importantes da literatura do país. Negro, do interior e de periferia, Alê recebeu destaque, que rendeu a indicação, pelo livro “Rastros de Resistência” que traz histórias de personagens da história afro falando sobre as lutas deles.
“Essa indicação representa uma quebra do paradigma. Uma sociedade que não se assumia racista e que passou a tomar posição. As pessoas estão se tocado que não é normal viver em um país em que você entra em um estabelecimento e todos são brancos. E que a maioria dos pobres são pretos”, disse.
Alê concorre na categoria ensaios na 62ª edição do prêmio. O autor comenta que a atual edição ouviu uma luta das minorias, que tenta extrapolar as barreiras majoritárias brancas do mercado editorial. Com ele, Djamila Ribeiro, Petrônio Domingues, ambos negros e com obras sobre o racismo, além do líder indígena, Ailton Krenak.
Alê Santos trabalha há dez anos com literatura, mas ganhou voz no mercado com a internet. O autor viralizou no twitter com as “threads” — como são chamadas as publicações em série — contando a saga de líderes negros e explicações sobre a origem do racismo. Depois do viral, recebeu convite de editoras para transformar as postagens em obras.
Capazes de transportar o leitor para diferentes realidades, os livros são de grande importância para o desenvolvimento do ser humano e para o seu conhecimento e sentido crítico. Por isso, a vontade de democratizar o acesso à leitura no país cresce e iniciativas para aumentar a constância deste hábito são implementadas.
Já existem diversos projetos digitais gratuitos, que, além de simplificar o acesso aos livros, beneficiam a população que não tem condições financeiras de adquiri-los. Dentre as iniciativas mais populares, como o Google Livros, há também algumas brasileiras. A plataforma Domínio Público, por exemplo, promove o acesso sem qualquer custo a diferentes tipos de obras. Por outro lado, numa abordagem mais restrita, a Biblioteca Digital de Obras Raras, desenvolvida pela Universidade de São Paulo, fornece a pesquisadores de diferentes áreas com obras de vários países. Em geral, todas estas publicações digitais podem ser consultadas a partir de diferentes dispositivos, caso do seu próprio smartphone ou tablet, mas também através de ferramentas criadas especificamente para leitura, como o Kindle.
A democratização dos hábitos de leitura aparentemente vem crescendo no país, já que, segundo a pesquisa Retratos de Leitura no Brasil, entre os anos de 2011 e 2015, o percentual da população que consumia livros aumentou de 50% para 56%, o que equivale a 104,7 milhões de pessoas. Além disso, este estudo promovido pelo Instituo Pró-Livro destaca que, em média, o brasileiro lê cerca de 2,43 livros por ano.
Reforma articulada pelo governo federal ameaça sobrevivência do setor editorial, diz Marcus Teles, dono da Leitura
Texto por Adriana Izel
Novo imposto sobre o livro, proposto pelo governo federal, impactará a sobrevivência das livrarias (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press )
Desde que a primeira etapa da reforma tributária proposta pelo governo federal foi encaminhada ao Congresso pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, o mercado livreiro vive momentos de apreensão. Até então imunes a impostos, por determinação da Constituição Federal, e isentos de PIS/Pasep e Cofins, os livros serão impactados pela Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços (CBS), o novo imposto que prevê a tributação do produto em 12%.
Abaixo-assinado com mais de 1 milhão de assinaturas defende a não tributação do livro, alegando que o novo imposto tornaria o produto mais caro e menos acessível a setores mais vulneráveis da população. Parcela essa que mantém índices constantes de hábito de leitura, segundo mostrou a pesquisa “Retratos da leitura no Brasil”, feita pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural. De acordo com esse levantamento, houve queda no número de leitores das classes A e B.
“Todo imposto, principalmente, para a pequena empresa, já é mais complicado. A gente enfrenta um problema anterior a isso: a falta de políticas públicas para a leitura. Publicar um livro e estimular a leitura é um esforço, uma luta diária das editoras e dos autores. Para aumentar o nosso desafio, ainda vem essa taxação dos livros, que já pagam impostos agregados à atividade funcional”, afirma o escritor Andrey de Amaral, responsável pela Editora Pergunta Fixar.
Online, 3a Edição da Festa Literária da Penha homenageia as escritoras Ruth Guimarães e Gabriela Mistral
Festa acontece entre os dias 13 e 17 de outubro com shows, rodas de conversa e outros eventos
A Festa Literária da Penha – FLIPENHA – chega a sua 3ª edição com programação totalmente gratuita e online de 13 a 17 de outubro. As homenageadas deste ano são: Ruth Guimarães, cuja obra celebramos no seu centenário de nascimento; e a escritora chilena Gabriela Mistral, primeira mulher a receber o prêmio Nobel de Literatura.
Organizada por coletivos culturais e educadores do bairro da Penha, a FLIPENHA tem como objetivos movimentar uma discussão sobre literatura através da produção cultural. Além disso, o evento promove a formação de leitores, o encontro de moradores de diferentes gerações e grupos sociais, e o intercâmbio entre profissionais de diversas linguagens como bibliotecários, agentes culturais, ilustradores, editores, pesquisadores, poetas, entre outros.
Fazem parte da 3ª FLIPENHA bate-papos com escritoras e escritores, pesquisadoras e pesquisadores, recitais, oficinas, rodas de conversa, saraus, shows e contações de história.
Neste ano, o público é convidado a mergulhar na vida e obra das escritoras homenageadas. Ruth, brasileira de Cachoeira Paulista, interior de São Paulo, escritora negra e pesquisadora da cultura popular, com obras que tiveram projeção a nível nacional por meio de sua extensa produção literária e de pesquisa. Gabriela, pseudônimo de Lucila de María Alcayaga, chilena de Vicuña, primeira escritora latino-americana a ser agraciada com o Prêmio Nobel de Literatura.
Em virtude da situação de estado de emergência provocado pela Covid-19, que impossibilita os encontros presenciais, todas as atividades serão realizadas em plataformas virtuais. O desafio de promover uma festa literária sem o encontro presencial não impediu as instituições culturais públicas e os coletivos do bairro da Penha que realizam a festa de reafirmarem o desejo de realizar este evento.
A FLIPENHA é realizada pelas bibliotecas Dr. Dirceu de Paula Brasil e José Paulo Paes, pelo Centro Cultural da Penha, CEU Tiquatira, Coletivo Papo de Comadre e Movimento Cultural Penha.Toda a programação será veiculada no canal do YouTube – FLI PENHA. Além disso, a FliPenha conta com perfis no Facebook –https://www.facebook.com/Flipenha/– e Instagram –@flipenha2020– nos quais a programação será disponibilizada diariamente.
“A Marca do Editor” é uma edição de escrita magnética, que acaba de ser publicada pela editora mineira Ayné
Texto por Claudia Costa
Na coluna Bibliomania desta semana, a professora Marisa Midori fala sobre o livro A Marca do Editor, de Roberto Calasso, escritor prolífico e editor de larga experiência, internacionalmente reconhecido. Segundo ela, “uma edição elegante e coroada por uma escrita magnética, que acaba de ser publicada pela Editora Ayné, de Belo Horizonte”.
“Para Roberto Calasso, o ofício do editor está muito próximo ao de um barqueiro e de um jardineiro”, diz a professora, citando um trecho do livro: “Tanto o barqueiro quanto o jardineiro aludem a algo que preexiste: um jardim ou um viajante a ser transportado. Todo escritor possui em si mesmo um jardim a ser cultivado e um viajante a ser transportado” (página 134).
A professora ainda fala do que pensa o editor sobre as obras digitais. Segundo ela, a promessa de uma biblioteca digital de acesso amplo e irrestrito soa-lhe tão ameaçadora quanto a substituição dos livros impressos por e-readers. Calasso afirma: “A questão é que a digitalização universal implica uma hostilidade contra um modo de conhecimento – e apenas em segundo momento para o objeto que o encarna: o livro”.
Quando os fãs resolvem usar da imaginação para construir novas histórias em seus universos favoritos, nascem as fanfics. Conheça um pouco sobre essas obras criadas por fãs e fique sabendo como algumas dessas obras ganharam o mundo.
O que são as fanfics?
Fanfic é a abreviação de fan fiction, uma expressão em inglês que se traduz para “ficção de fã”. Ou seja, é quando um admirador se inspira em uma trama consolidada no mercado para criar uma história própria, decidindo novos destinos e situações para personagens criados por outra pessoa.
Um enredo seu com personagens da cultura pop? Parece uma ótima ideia e realmente é!
Muitas pessoas se enganam ao acreditar que as fanfics nascem e morrem como histórias de “gaveta”, pois existem vários exemplos conhecidos de best-sellers que surgiram a partir de uma história de fã.
Para citar alguns exemplos
Posso começar citando 50 Tons de cinza, romance hot que lotou tanto as filas dos cinemas quanto as livrarias. E.L James nunca escondeu a origem de seu renomado livro: Crepúsculo. Sim, 50 tons de Cinza é uma fanfic adaptada do best-seller.
Bella e Edward foram transformados em Anastasia Steele e Christian Grey, o livro perdeu o universo vampiresco para ganhar tons mais sensuais e o vampiro se tornou um playboy rico com desejos incomuns.
Leia a matéria completa publicada pelo Jambô Editora
Podcast do PublishNews reuniu alguns clubes de assinaturas de livros para fazer um recorte sobre esse modelo de negócio
Poucas coisas marcaram tanto o mercado editorial brasileiro quanto o Círculo do Livro, clube de assinatura de livros criado em 1973. Naquela época, os sócios recebiam em casa periodicamente uma revista promocional e livros que se destacavam por serem sempre muito bem editados. Dez anos depois, em 1983, o Círculo chegou a ter 800 mil associados, mas no final da década de 1990, o modelo entrou em declínio e Círculo encerrou suas atividades e os clubes de assinaturas de livros também caíram no esquecimento.
A reinvenção veio em 2014, quando surgiram no mercado dois dos maiores clubes de assinatura de livros atualmente, a Leiturinha, focada em livros infantis e a TAG – Experiências Literárias. Hoje, a lista dos clubes de assinatura cresceu e muitos leitores já apostam nesse modelo para ter acesso aos livros.
Depois deles, surgiram outros tantos e, nos últimos meses, o mercado ganhou o reforço de pelo menos dois novos players. Para apresentar os novatos e entender o efeito da pandemia nos clubes de assinatura, o Podcast do PublishNews dessa semana convidou Gustavo Lembert, da TAG; Leonardo de Paula, da Leiturinha; Renata Nakano, do Clube de Leitura Quindim; José Luis Tahan, do clube Realejo; Maria Carolina Borin, da Panaceia e Alex Catharino, do Clube Ludovico. Juntos, eles dão um panorama deste segmento do mercado editorial brasileiro.
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Zoara Failla participa, ao lado de Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, de edição especial do Podcast do PublishNews
O Instituto Pró-Livro e o Itaú Cultural divulgam, na próxima segunda-feira (14), os resultados da Pesquisa Retratos da Leitura, o mais completo estudo sobre os hábitos de leitura do brasileiro. O Podcast do PublishNews dessa semana recebeu Zoara Failla, coordenadora da pesquisa, para falar sobre um aspecto do estudo que muito interessa aos editores e livreiros: os hábitos de compra dos leitores brasileiros. O episódio teve ainda a participação de Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural.
O primeiro dado importante apontado por Zoara é que caiu o número de brasileiros que compraram pelo menos um livro nos últimos três meses. Se no estudo de 2015, 30% responderam sim a esta pergunta, na edição e 2019, este índice caiu para 27%. Extrapolando estes números, o Ibope Inteligência, responsável pela condução do estudo, conclui que apenas 52 milhões de brasileiros compraram pelo menos um livro no período indicado na pergunta. Zoara analisa que, ao olhar para outros dados da pesquisa, percebe-se que houve incremento importante do número de pessoas com nível superior e das classes A e B, – potenciais compradores de livros – que passaram a dedicar mais do seu tempo livre acessando a internet e redes sociais. “É possível que essa redução se explique pelo fato de esse pessoal estar lendo menos. Tem menos leitores nestes segmentos e isso certamente irá impactar no percentual de compradores de livros”, disse.
A compra é a principal forma de acesso ao livro. A maioria dos brasileiros (41%) continua acessando o livro por meio de compras em livrarias físicas ou em lojas virtuais. Uma parcela importante (25%) disse que ganham os livros que leem de presente. O acesso pelas bibliotecas se manteve estável entre 2015 e 2019.
Na hora de escolher um livro para a compra, o brasileiro continua levando em conta, em primeiro lugar, o tema ou assunto. O título do livro ganhou destaque na pesquisa de 2019. Se em 2015, este fator era importante para apenas 17% dos respondentes; agora, 31% deles julgaram importante o título, que é mais relevante na hora de escolher um livro do que o nome do autor (27%). O preço vem em quarto lugar.
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Formato se mostra como opção para impulsionar leituras
Texto por Germana Macambira
Michell Platini, diretor da Associação Pernambucana de Cegos – Foto: Michell Platini/Divulgação
Bentinho e Capitu, Rubião e Quincas Borba e Brás Cubas e todas as histórias que rodeiam a respectiva trilogia machadiana “Dom Casmurro”, “Quincas Borba” e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, literalmente chegaram aos ouvidos do diretor da Associação Pernambucana de Cegos, Michell Platini, nos idos anos em que prestou vestibular.
“Eu não encontrava livros em Braile nem ampliados, com letras maiores”, explica ele que, à época, tinha baixa visão e precisava de conteúdos de literatura para ser aprovado e ingressar em uma universidade.
A partir de então, apresentado que foi a narrativas em audiolivro, não se afastou mais do formato que vem ganhando adeptos, em paralelo ao mercado tradicional de leituras e aos e-books, seja pela praticidade (liberdade) de degustar romances, ficção, biografias, poesias e tantos outros, onde quer que se esteja, seja pelo acompanhar vivências de personagens trocando o correr dos olhos nas páginas pelo abrir dos ouvidos.
“A questão da narração é essencial para se apegar (ou não) a um audiobook. Um livro sem ritmo de leitura, sem pontos e vírgulas, é ruim, tira o estímulo”, complementa Michell, que cita o escritor pernambucano Valdir de Oliveira, autor de “Fábulas da Gente (2018), publicado também no formato de audiolivro com contexto de contos e fábulas contadas em tom lúdico e por diversas vozes.
Roger Machado durante entrevista no novo CT do Bahia, em Salvador Imagem: Darío Guimarães Neto/UOL
Texto por Demétrio Vecchioli
Uma das principais vozes do movimento negro no futebol brasileiro, o técnico do Bahia, Roger Machado, quer promover a negritude e a luta antirracista para muito além do esporte. O treinador é o mecenas de um projeto que pretende lançar 50 livros de autores negros e indígenas nos próximos cinco anos e, quem sabe, se tornar uma editora no futuro. Já em 2020 serão publicados 10 livros da coleção Diálogos da Diáspora que, graças ao financiamento do Projeto Canela Preta, de Roger, chegarão ao mercado com preço acessível para a parcela mais carente da população, formada em sua maioria por negros.
“Quando minhas filhas eram pequenas, eu procurava livros para elas, de literatura infanto-juvenil, com autores e personagens negros, e tinha dificuldade e encontrar. Essa inquietação cresceu quando li o livro da Chimamanda Adichie que fala do perigo da história única, como é prejudicial o país quando a história é contata só por um lado, o lado que detém os meios da produção do conhecimento”, conta Roger.
Essa inquietação também é presente na academia. “Menos 10% dos livros publicados no Brasil são de autores não brancos e isso é um reflexo da exclusão no espaço acadêmico. Com a chegada de mais negros à universidade, fruto das cotas socioraciais, a gente está tendo maior produção sobre racismo, lutas contra desigualdade social, e a gente entendeu que era importante ter um fomento de produção editorial desse espaço”, conta Tadeu de Paula, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e um dos coordenadores do Grupo de Pesquisa Egbé.
Os dois se encontram como pais com filhos numa mesma escola gaúcha. Ele disse: ‘Que tal a gente pensar conjuntamente?’ E eu disse que era isso que eu tava procurando fazer. Eu não conseguia achar o fio por onde começar, mas é isso que eu quero. E daí surgiu a ideia de nos próximos cinco anos eu fazer o financiamento de 10 publicações por ano de autores não brancos.”
Projeto permite que novos autores tenham suas histórias publicadas obra física e digital, além do resgate de clássicos
Texto por Beatriz Araujo
Editoras independentes lançaram campanha de financiamento coletivo pela plataforma Catarse | Foto: Reprodução
Manaus – Com o objetivo de movimentar a indústria literária e levar oportunidades a autores independentes por meio da criação de boas histórias, as editoras independentes Lendari e o Grupo Estante, do jornalista amazonense Mário Bentes, lançaram as campanhas de financiamento coletivo para desenvolver contos inéditos, e inovar com a publicação de textos clássicos como os originais escritos por Machados de Assis, em 1873.
Criada em 2014, a editora Lendari é especializada e conhecida nacionalmente por suas histórias de fantasia, realismo mágico, terror e ficção científica, que cativam seus leitores e auxilia novos autores brasileiros a entrar no mundo da leitura. Atualmente a editora o projeto “Matadores de aluguel: o sindicato”, a primeira coletânea do selo Morgue, que une thrillers e romances policiais e permite que autores brasileiros desenvolvam histórias curtas e misteriosas para serem publicadas. O projeto é organizado pela escritora J. M. Menez e encontra-se com edital aberto até 31 de agosto de 2020.
Os autores precisam escrever histórias onde os protagonistas sejam assassinos profissionais em uma missão para O Sindicato, uma organização secreta que pouco se sabe, mas que é influente o suficiente para não deixar pistas ou indícios concretos sobre sua existência. As histórias poderão se passar em qualquer época, de forma que os autores possam ter liberdade de explorar cenários, regiões, períodos históricos específicos do passado e usar tais elementos para a melhor construção do enredo de suas tramas. O projeto deve ser uma franquia com outras continuações em sub-temáticas que serão definidas pela editora na ocasião do anúncio dos próximos projetos.
Projeto permite que os autores sejam moderno e criativos na criação das histórias de terror | Foto: Reprodução
Já o Grupo Estante lançou o projeto ‘Histórias da Meia-Noite”, que busca desenvolver uma nova edição do livro de contos de 1873 do escritor, Machado de Assis, em edições impressas individuais de cada uma das seis histórias. Os contos possuem títulos lançados originalmente em jornais nos quais Assis trabalhava. A obra é composta por seis contos: “A parasita azul”, “As bodas de Luís Duarte”, “Ernesto de Tal”, “Aurora sem dia”, “O relógio de ouro” e “Ponto de vista”.
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Movimento “Black Lives Matter” colaborou para a discussão sobre a diversidade retratada nos livros e na indústria editorial
O mercado editorial e o consumo de livros já passava por mudanças para se adequar às novas convenções que abrangem a diversidade. Mesmo assim, o movimento “Black Lives Matter” (“Vidas negras importam”, em tradução livre), que luta contra o racismo e a violência direcionada às pessoas negras e originado na comunidade afro-americana, colocou o debate ainda mais em foco nos últimos meses.
Com a popularização do ativismo nas redes sociais, as manifestações iniciadas com o assassinato de George Floyd, em 25 de maio, ganharam proporções inimagináveis e o debate se estendeu a produções cinematográficas, participação das pessoas negras em cargos altos e, claro, aos escritores, profissionais da indústria editorial e personagens das histórias, que possuem, essencialmente, as mesmas características e não apresentam a diversidade encontrada no mundo real.
Nesse cenário, o movimento impulsionou as vendas de livros que pautam o racismo no Brasil. O “Pequeno Manual Antirracista”, de Djamila Ribeiro, vendeu mais de 3.000 exemplares na primeira semana de junho – primeira após o início dos protestos –, o que representa um crescimento de 184% em relação à semana anterior, de acordo com pesquisa da Nielsen.
Obras como “Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus, “Um Defeito de Cor”, romance histórico de Ana Maria Gonçalves, “Olhos d’Água”, de Conceição Evaristo, e “Racismo, Sexismo e Desigualdade no Brasil”, de Sueli Carneiro, também registraram aumento nas vendas.
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Podcast desta semana recebeu Luiz Schwarcz e Fernando Baldraia para falarem sobre o manifesto a favor da diversidade divulgado pela Companhia das Letras
Texto por Talita Facchini
No Brasil, o racismo estrutural está presente nas mais diversas áreas: na educação, na saúde, na cultura, nos esportes, no trabalho… e no mercado editorial não é diferente. Na semana passada, a Companhia das Letras, uma das maiores editoras do país, divulgou um manifesto público a favor da diversidade que repercutiu no mercado nacional e internacional.
No documento, a editora destaca que o racismo estrutura nossas relações e “impacta também o ambiente editorial, onde não só a maior parte dos funcionários em postos de direção são brancos, como os catálogos são majoritariamente compostos por autores brancos e de origem europeia”. Neste sentido, a empresa fez uma autocrítica e elaborou um plano de ações tendo a diversidade como foco principal. Para falar sobre o manifesto e explicar essas ações, o Podcast do PublishNews conversou com Luiz Schwarcz, fundador e CEO da Companhia das Letras, e Fernando Baldraia, editor de diversidade, cargo recém-criado pela editora.
Na conversa, Schwarcz explicou que a Companhia fez uma autocrítica e partiu da visão de que tudo o que foi feito ainda é muito pouco. Nas palavras do editor, a editora já tinha essa preocupação com a diversidade no seu catálogo, publicando obras sobre questões de gênero e raciais desde a década de 1980 e 90, mas reconhece que, na força de trabalho, a questão da diversidade era mínima. “Se nós conseguirmos tornar nossa equipe mais cheia de cores, com mais representatividade de outras formas de pensar, de outras formas culturais, nós seremos melhores”, disse admitindo que a Companhia reproduz o padrão da maioria das editoras: “Ela é muito branca”, assumiu.
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Na edição de sexta-feira passada, o PublishNews destacou que a desoneração de PIS/Cofins do livro está ameaçada pela proposta de reforma tributária apresentada pelo ministro Paulo Guedes, da Economia, ao Congresso. O que ele propõe é a criação da Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços (CBS), alíquota de 12% que incidiria sobre a receita bruta apurada com cada uma destas operações e abrangeriam as pessoas jurídicas de direito privado. Se aprovada pelo Congresso, a CBS substituiria PIS, Pasep e Cofins, contribuições das quais o livro está livre desde a promulgação da Lei 10.865, de 2004. A proposta de Guedes elimina regimes de exceções como este vivenciado pelo livro.
Na sexta-feira mesmo, as entidades do livro se reuniram para começarem a desenhar uma estratégia conjunta na tentativa de barrar o andamento da proposta no Congresso Nacional. Estiveram presentes a Associação Brasileira de Difusão do Livro (ABDL), a Associação Brasileira de Editores Universitários (Abeu), a Associação Brasileira de Editores e Produtores de Conteúdo e Tecnologia Educacional (Abrelivros), a Associação Nacional de Livrarias (ANL), a Câmara Brasileira do Livro (CBL), a Liga Brasileira de Editores (Libre) e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).
Entre as entidades, há um consenso de que a reoneração do livro traria impactos negativos para a indústria. “O que o governo tem feito é acabar com os regimes de exceção no qual estamos inseridos. Temos que mostrar, de novo, a validade disso, tanto do ponto de vista jurídico quanto do econômico”, destacou Marcos da Veiga Pereira, presidente do SNEL em conversa que teve com o PublishNews na manhã desta segunda-feira. Marcos apontou que a estratégia será demonstrar aos parlamenteares, ao governo e à sociedade o impacto que a CBS teria na cadeia, aumentando ainda mais a fragilidade que a indústria tem demonstrado nos últimos anos. A Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro apontou que, nos últimos 14 anos, o faturamento da indústria encolheu 20% em termos reais.
Leia a matéria completa publicada no site doPublishNewse saiba mais sobre mais sobre a reoneração do livro.
Livro reúne textos que contextualizam e explicam a trajetória de sucesso da Editora Brasiliense nos anos 1980
Texto por Marcello Rollemberg
Caio Graco Prado – Fotomontagem: Vinicius Vieira/Jornal da USP
Em finais dos anos 1970, a Editora Brasiliense estava em situação quase falimentar. Fundada em 1943 pelo intelectual Caio Prado Júnior e pelos empresários Arthur Neves e Leandro Dupré como polo de oposição ao Estado Novo de Getúlio Vargas, a editora ganhou muito prestígio ao editar as obras completas de Monteiro Lobato – que se associaria à editora em 1944 – e assim se manteve até o Golpe de 64, quando o governo militar recém-empossado passou a perseguir todos aqueles que tivessem discursos com tonalidades avermelhadas. Caio Prado Júnior e seu filho Caio Graco Prado ficaram uma semana presos em 1964, com base na Lei de Segurança Nacional. A partir daí, a editora começou a claudicar de vez e a cassação de Caio Prado Júnior, em 1969, não ajudou em nada na tentativa de reverter esse quadro. Quando Caio Graco Prado assumiu a Brasiliense em 1975, a situação parecia irreversível. Então, em 1979, ele teve um insight: por que não deixar de lado os livros massudos que a Brasiliense publicava e investir em um novo público, aqueles jovens universitários que começavam a respirar um pouco mais de liberdade depois do “verão da anistia”? Com esta visão e muita disposição para virar o jogo, criando coleções inéditas no mercado até então, Caio Graco Prado transformou a Editora Brasiliense em um ícone editorial dos anos 1980.
É justamente esta trajetória que é contada a partir de 13 textos curtos – escritos por professores e pesquisadores do mercado editorial – no livro Caio Graco Prado e a Editora Brasiliense (Publicações BBM), organizado pela professora Sandra Reimão, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, e pela pesquisadora Gisela Creni. São testemunhos de como Caio, em pouquíssimo tempo, transformou uma editora pré-falimentar na maior produtora cultural da década de 1980, investindo em textos e formatos diferenciados e em novos autores, tendo sempre o público jovem como alvo. “[Caio Graco Prado] Foi o último dos editores da linhagem de José Olympio, Jorge Zahar, Alfredo Machado, Ênio Silveira e Jacó Guinsburg. Estes são editores históricos porque colocaram suas utopias políticas acima do projeto editorial. Ao mesmo tempo, como editor, Caio fica como uma lição de modernidade”, afirmou o editor Pedro Paulo de Senna Madureira, citado no livro. Nada mais correto.
“Agitador cultural”
Na verdade, o que Caio Graco promoveu naquele começo de anos 1980 foi uma pequena revolução ao fazer sua “opção preferencial pelos jovens”. Ao mesmo tempo que queria formar novos leitores, o editor também queria fustigá-los, aproveitando o momento de reabertura política que o País vivia. Mas Caio queria oferecer algo novo. E este novo surgiu como livrinhos em formato de bolso – uma ousadia naqueles tempos – e com títulos instigantes como O que é Socialismo, O que é Capitalismo ou O que é o Anarquismo. Era a coleção Primeiros Passos, surgida, na verdade, de um quase equívoco editorial. Explica-se.
Livros da coleção Primeiros Passos da Editora Brasiliense – Foto: ReproduçãoCaio Graco Prado e a Editora Brasiliense
Caio Graco sabia que queria falar com os jovens universitários de uma forma mais leve, mas também com substância, mas não tinha ideia exatamente de como fazê-lo. Então pensou em comprar os direitos de uma coleção espanhola chamada “Que es…”. Só que esta coleção estava voltada para o público interno da Espanha, não tendo nada a ver com o Brasil que surgia. Coube a um editor iniciante, chamado Luiz Schwarcz, alertar ao chefe do problema e sugerir – cheio de dedos – que a Brasiliense produzisse sua própria coleção, com títulos próprios e autores pouco conhecidos do público, professores universitários jovens ou não. Caio topou na hora e a Primeiros Passos nasceu. E cresceu – muito. O sucesso foi imediato. Entre 1980 e 1989, foram mais de 200 títulos e cinco milhões de exemplares vendidos. Somente nos primeiros quatro anos da coleção, a Brasiliense publicou mais do que em toda sua história anterior.
“Ao publicar esses títulos a editora cumpria o papel de ligar assuntos da conjuntura nacional com temas universais. Ou seja, tratava das questões internas a partir do estímulo às leituras temáticas mais amplas, oferecendo ao leitor, indiretamente, um determinado instrumental para análise da política do período”, escreve Andrea Lemos, professora da UERJ. Aquela primeira experiência fez o editor ousar ainda mais, criando novas coleções que capturaram corações e mentes com a mesma rapidez. Tudo é História, Cantadas Literárias, Circo de Letras, Encanto Radical traziam tanto informação e conhecimento como também investiam em uma literatura ficcional nova, diferente, com autores como Marcelo Rubens Paiva e seu Feliz ano velho – o livro mais vendido no Brasil nos anos 1980 –, Jack Kerouac e todo o panteão beatnik, Bob Dylan. É bem provável que não haja leitor, na faixa dos 50 anos de idade hoje, que não tenha sido seduzido pelos títulos da Brasiliense e formado seu gosto literário a partir daí.
Livros da Editora Brasiliense – Foto: Reprodução
Em uma palestra na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP em 1986, Caio Graco definiu seu papel de editor como sendo o de um “agitador cultural”. E lembrou aos alunos o lema da editora: “Dividir opiniões, multiplicando cultura”. Essa agitação toda e a multiplicação cultural duraram praticamente a década inteira – Caio Graco ainda encontrou tempo para sugerir a cor amarela como símbolo para a campanha das “Diretas Já”. Mas no começo dos anos 1990, a Brasiliense começou a claudicar novamente: a concorrência ficou pesada – outras editoras descobriram o filão e investiram nele – e Caio Graco fez apostas empresariais que se mostraram erradas. Mas o grande baque para a editora se deu no dia 18 de junho 1992: ao fazer uma trilha de moto – uma de suas outras paixões – no interior de Minas Gerais, Caio Graco Prado sofre um acidente e morre. O editor e agitador cultural estava com 60 anos. A partir de então, a Brasiliense passou a viver em um ostracismo que direções sucessivas tentam reverter até hoje. Mas a grande fase da editora ficou cravada nos anos 1980 – justamente essa que o livro organizado por Sandra Reimão e Gisele Creni resgata em boa hora.
Com quatro lojas (no Santana Parque Shopping, em São Paulo, Shopping Mestre Álvaro, em Vitória, ParkShopping, em Brasília, e Shopping Jardim Norte, em Juiz de Fora) para inaugurar ainda em 2020, a Livraria Leitura anunciou apoio ao Projeto Retomada da Leitura. Nascida da união de esforços da Câmera Brasileira do Livro (CBL), da Associação Nacional de Livrarias (ANL), do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e de importantes players do mercado editorial, a iniciativa tem como objetivo arrecadar fundos para ajudar financeiramente as micro e pequenas livrarias do país.
A Livraria Leitura se prepara para receber visitantes e ajudar micro e pequenos negócios.
Acesse a matéria completa publicada peloBoletim Nerde conheça mais do Projeto Retomada da Leitura.
Projeto terá supervisão de Vera Eunice de Jesus, filha de Carolina, e da escritora Conceição Evaristo.
“Casa de Alvenaria” será o primeiro título do novo projeto. REPRODUÇÃO/COMPANHIA DAS LETRAS “
Texto por Amauri Terto
A Companhia das Letras anunciou nesta sexta-feira (17) que irá publicar a obra de Carolina de Jesus (1914-1977), uma das principais escritoras negras da literatura nacional. Nascida na cidade mineira de Sacramento, ela viveu a maior parte da vida em São Paulo, na favela do Canindé, em Santana, em Parelheiros.
Carolina trabalhou como catadora para sustentar os três filhos e registrou inúmeras histórias, além do cotidiano de fome e pobreza em cadernos encontrados no lixo. Na década de 1950 foram encontrados mais de 20 diários.
Ela ganhou reconhecimento com o livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada (1960), organizado pelo jornalista Audálio Dantas. Diversos de seus escritos, no entanto, nunca foram publicados ou estão fora de circulação.
A Companhia das Letras planeja publicar todo o material escrito por Carolina – hoje espalhado por diferentes acervos -, incluindo romances, diários, contos, poesias, peças de teatro e escritos memorialísticos.
Acesse a matéria publicada pelo Huffpost e entenda como será as publicações das obras de Carolina Maria de Jesus pela Companhia das Letras
Contexto da pandemia ressaltou o consumo de histórias que têm ameaça e pavor como elementos essenciais. Concurso da Darkside tem inscrições abertas até setembro
Texto por Pedro Galvão
Para quem se dedica à atividade criativa, receber um prêmio financeiro para viabilizar um projeto geralmente é encarado como a “luz” que faltava. A editora Darkside adota essa estratégia, mas quer fazer surgir um universo de sombras com o recém-lançado Prêmio Machado de Literatura, Quadrinhos e Outras Narrativas, dedicado a impulsionar a publicação de histórias apavorantes.
“A arte é seiva do céu e das sombras. Novos nomes da literatura, dos quadrinhos e de todas as possibilidades artísticas que brotam das palavras surgem em um momento de transformação. Diante deste novo mundo, devemos gritar, devemos criar, riscar antigos ideais e mudar o agora”, assim é anunciada a campanha, que distribuirá um total de R$ 100 mil para produções relacionadas ao terror e à fantasia em cinco diferentes linguagens: romances e contos; quadrinhos; obras de não ficção; outras narrativas, categoria que contempla audiovisual, podcasts, poesia, prosa, teatro, música, roteiros, exposições virtuais, reportagens, ensaios, jogos e outras ideias; além de uma última dedicada a conferir mentoria a projetos já iniciados, mas ainda não concluídos.
“É um momento delicado do país, no qual não temos nenhum tipo de apoio focado na cultura, no universo artístico. Neste período da pandemia, essa fragilidade é ainda maior. Esse foi um feedback que recebemos dos nossos próprios leitores. Há muita gente precisando de um estímulo para voltar a escrever e acreditar que a arte é transformadora para o ser humano. Ouvimos muitos relatos sobre a angústia do confinamento. Foi por isso que colocamos esse prêmio no ar”, afirma Christiano Menezes, diretor editorial e sócio da Darkside, sobre essa que é a primeira edição do prêmio.
Acesse a matéria completa publicada pelo Estado de Minas e entenda mais sobre o Prêmio Machado de Literatura, Quadrinhos e Outras Narrativas promovido pela editora Darkside.
Apesar do maior tempo em casa e da disponibilidade para leitura, as vendas de livros caíram – Pixabay
Vendas estão entre 30 a 40% abaixo do que eram antes da crise sanitária gerada pelo novo coronavírus; mercado de gráficas também é afetado
Por Reginaldo Tomaz
Vindo de um cenário de recuperação após três anos de recessão (2015, 2016 e 2017), em janeiro de 2020 o setor dos livros mostrou uma tímida melhora, porém, a chegada da pandemia do novo coronavírus (Sars-coV-2) piorou a situação novamente.
Em março – época em que decretos de restrição de mobilidade começaram a entrar em vigor -, o faturamento do mercado de livros registrou queda de 18,3%, e em abril alcançou o pico negativo de 33%. Os dados são do levantamento mensal realizado pela GFK em parceria com a Associação Nacional de Livrarias.
Mesmo havendo reabertura gradual do comércio em diferentes regiões do País, Bernardo Gurbanov, presidente da ANL , afirma ao Portal iG que o setor está longe de se recuperar: “As informações que temos é que as vendas estão entre 30 a 40% abaixo do que eram”.
Acesse a matéria publicada pelo Brasil Econômico e conheça mais sobre o impacto da pandemia do coronavírus no mercado editorial
Como a inteligência artificial está se aventurando na produção literária e na indústria criativa.
Texto por Tânia Lins
Shelley escreve contos de terror. Aliás, já criou mais de 140 mil histórias do gênero, que foram publicadas em um fórum do Reddit. Entretanto, ela não é uma escritora no estrito sentido da palavra. Em homenagem a Mary Shelley, autora do clássico Frankenstein, profissionais do Laboratório de Mídia do MIT — os pós-doutores Pinar Yanardag e Manuel Cebrian sob orientação do professor doutor Iyad Rahwan — criaram uma inteligência artificial capaz de escrever textos com certa proficiência. A notícia dos êxitos literários de Shelley não é recente. Ano após ano, vemos redes neurais desenvolvendo atividades tipicamente humanas. Em 2019, a editora inglesa Springer Nature lançou o primeiro livro escrito por inteligência artificial; a obra fornece uma visão geral das pesquisas mais recentes sobre baterias de íons de lítio. Será, então, que a criatura está superando o criador? Até que ponto as profissões de editor e autor estão ameaçadas pela máquina?
Antes de responder às questões, gostaria de falar sobre algo que me é cotidiano. Ser editor de livros é buscar as respostas que o autor nem sequer pensou que podiam ser dúvidas; é ajudá-lo a se libertar de ideias e conceitos que só têm respaldo, muitas vezes, no senso comum; é ampliar as possibilidades da obra, tornando-a mais acessível e compreensível. É questionar certezas frágeis, argumentos rotos, que se perdem na primeira reflexão do leitor. Há a tendência, principalmente na cultura nacional, de imaginar que os livros nascem prontos, com um enredo indefectível, no qual o autor optou pelo narrador adequado, e o caminho entre o início e o fim está bem traçado, sem ajustes, à prova do crivo da razão. Mas não é bem assim.
Acesse a matéria publicada pelo Diário de Petrópolis e entenda mais sobre a função do editor, do autor e da inteligência artificial no processo de produção de um livro
Projeto está em financiamento coletivo e conta com parceria de grandes empresas
Texto por Priscila Ganiko
A plataforma de financiamento coletivo Catarse se uniu a um grupo de empresas da área editorial para criar o +LIVROS, fundo de incentivo que tem como objetivo ajudar o mercado brasileiro.
O + LIVROS (veja a campanha aqui) busca angariar fundos para construir uma rede de apoio a autores, editoras e livrarias independentes, e ajudar no combate à crise no mercado, que foi intensificada com a pandemia de COVID-19.
Entre as empresas que entraram como parceiras do projeto estão Amazon, TAG Livros, Storytel, Aberst, Konduto, Felsberg Advogados e editoras como Cia das Letras, Cobogó, Jambô, Editora Wish, Antofágica, além do canal Vá Ler um Livro. Com isso, a campanha já começa com R$ 430 mil arrecadados.
A meta é R$ 750 mil através do Catarse, mas é uma meta flexível, ou seja, mesmo que não seja atingida, todo dinheiro arrecadado será doado.
Acesse a matéria completa publicada pelo site Jovem Nerd e saiba mais sobre a Campanha Mais Livros
Evento multicultural tem curadoria de Ketty Valencio, da Livraria Africanidades
Texto por Redação
Durante cinco dias, você tem a chance de conferir a programação online e super empoderada do primeiro “Fellin – Festival de Literatura Negra da Zona Norte de SP“. Organizado pela bibliotecária Ketty Valencio, responsável pelaLivraria Africanidades, o evento tem debates plurais e inéditos – além de uma série de performances.
Crédito: Divulgação Aryani Marciano é uma das atrações do Festival Literário de Literatura Negra da Zona Norte de São Paulo
As lives são transmitidas peloYouTube do Fellinentre os dias 13 e 17 de julho. Estão programados cinco debates, uma oficina, uma contação de histórias e duas performances. Para não perder nada, acompanhe oInstagram do evento.
Tudo começa às 19h20 do dia 13, com a performance da atriz, artista e pesquisadora de danças de matrizes africanas Fernanda Dias. Ela é uma das fundadoras de Os Ciclomaticos Cia de Teatro e do Coletivo Negraacåo.
A primeira mesa às 20h. Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa e Miriam Alves falam sobre os 42 anos de Cadernos Negros. A série organizada pelo Quilombhoje ajudou a impulsionar a produção literária afro-brasileira.
Acesse a matéria completa publicada pelo Catacra Livre e conheça a programação completa da “Fellin – Festival de Literatura Negra da Zona Norte de SP“
A partir da próxima segunda-feira (13) começa a primeira edição do Festival Literário de Literatura Negra da Zona Norte de São Paulo – Fellin. A idealizadora do projeto Ketty Valencio diz que a mostra busca “marcar território” nessa parte da capital paulista que, apesar de ter uma das maiores concentrações de pessoas negras, não tinha um festival cultural de peso, como os que acontecem na zonas sul e leste da cidade.
“É uma região onde moram bastante pessoa negras, tem a ver com essa questão da ancestralidade, dos quilombos”, explica Ketty sobre o histórico da região, onde existiram várias comunidades de negros que fugiram da escravidão. “Concentração de escolas de samba, que tem a ver como as pessoas que começaram a se organizar antes de mim e você. Tem vários saraus, tem jongos [dança afrobrasileira], festa de São Benedito [santo de origem africana], que tem a ver com essa relação com os quilombos”, contextualiza, ao exemplificar como esse passado foi determinante para a vida cultural dessa parte da cidade.
História e Afrofuturismo
A organizadora tentou trazer essa diversidade de manifestações culturais para o festival. A abertura vai tratar da publicação dos Cadernos Negros, antologias de poesia afrobrasileira que são publicadas periodicamente desde 1978 pelo grupo Quilombhoje. Na terça-feira, estará no palco virtual a artista multilinguagem Aryani Marciano, que fará uma contação de histórias.
Ketty destaca que a pandemia do novo coronavírus trouxe o desafio para os artistas de se apresentarem sem a proximidade direta com os espectadores. “Está sendo experimental, até para os convidados. Porque a gente quer o contato com o público, com o olhar, saber o que eles estão pensando”, diz.
Saiba mais sobre o Festival Literário de Literatura Negra da Zona Norte de São Paulo – Fellin na matéria publicada pelo UOL.
Quem acompanha o mercado de revistas já deve ter observado que muitas das publicações mensais tiveram sua circulação alterada em meio à pandemia do novo coronavírus. Modificação esta que tem sido bem difícil precisar se representa um reflexo dos impactos provocados pela crise de Covid-19 ou consequência de um processo de mudanças já em curso há algum tempo no mercado editorial.
Dos grandes grupos midiáticos até editoras independentes, de revistas consagradas a outras que vêm tateando às cegas ou lutando bravamente por seu espaço, o momento é de transformação. E nesse cenário de passar em revista as nossas publicações, há de tudo: descontinuidades, reposicionamentos, expansões e sumiços eventuais.
A Editora Globo, por exemplo, foi a primeira a suspender as versões impressas durante o período da pandemia. Em comunicado oficial, justificou a medida como uma forma de se adaptar à nova realidade e adequar temporariamente a linha de produção e entrega das suas publicações. Assim, pelo menos até julho, não circulam por aí as revistas Crescer, Autoesporte, Pequenas Empresas Grandes Negócios, Casa Jardim e Globo Rural.
Do portfólio da editora, segue sendo impressa a feminina Marie Claire. No entanto, com periodicidade alterada para bimestral. A propósito, investir na circulação de edições a cada dois meses foi também a estratégia adotada por outras revistas para fazer frente a este período, como a Glamour e a GQ Brasil, ambas fruto da parceria editorial firmada entre a Globo e a Condé Nast.
Se algumas se tornaram bimestrais ou suspenderam sua circulação temporariamente, outras no entanto sumiram de vez. Alegando dificuldades econômicas do próprio mercado de mídia nos últimos tempos e o impacto da crise do novo coronavírus, a Editora Rocky Mountain comunicou o encerramento dos títulos Women’s Health e Runner’s World no país.
Neste episódio do Podcast do PublishNews, Jéssica Balbino e Ketty Valencio falam sobre a lista de 100 autoras pretas brasileiras criada por elas e a luta constante para dar mais visibilidade para esses autores
Texto por Talita Facchini
Os livros guardam centenas de milhares de histórias. São inúmeros assuntos tratados pelos mais diversos aspectos. Mas quando se trata dos autores, essa diversidade já não é tão grande. O podcast desta semana conversou com duas pessoas que acreditam que todas as narrativas transformam o mundo. Que cansaram de ouvir que não existem muitos livros publicados por negros e de aceitar a pouca presença de escritoras e escritores negros em eventos e feiras brasileiras. Eles estão sim por aí. Em todos os lugares. Basta querer enxergar.
Para facilitar essa busca, a jornalista, pesquisadora em literatura marginal e dona do site Margens, Jéssica Balbino, e a jornalista, com pós graduação em Projetos Culturais e proprietária da Livraria Africanidades, Ketty Valencio, uniram forças e criaram uma lista com mais de 100 autoras pretas e brasileiras para o leitor conhecer.
Ketty Valencio e Jéssica Balbino
Numa edição especial, só com a presença de mulheres, quisemos saber mais sobre como surgiu esta lista, sobre as inúmeras ideias que podem fazer a diferença e trazer os livros de autoras negras e a literatura africana para o centro das atenções e como elas enxergam o mercado editorial.
Jéssica contou que a ideia da lista surgiu a partir do pedido de outras mulheres. O mapeamento começou e veio de Ketty a ideia de tornar a lista pública. “A gente fez juntas a lista e quando ela estava meio pronta, mostrei para a Mel Duarte – que também frequenta muitos slams e faz parte do Slam das Minas em São Paulo – e ela sugeriu mais alguns nomes”, explicou Jéssica. A lista chegou a ter 137 nomes de autoras negras e depois de uma segunda avaliação, chegaram nos 100 nomes, cada uma com uma mini biografia e links para trabalhos já publicados. A lista agora está aberta para que autoras negras possam se automapear. “Creio que já temos aí mais de 200 mulheres mapeadas”, comemora Jéssica.
Ketty frisou também a importância da lista no sentido de mostrar para as pessoas que a literatura feita por mulheres negras não é uma novidade e nem deveria ser vista como tal. “É muito demarcador a questão do racismo e da misoginia quando você pensa que é novidade. Por que eu não conheço esses autores? Por que eu nunca vi isso? Por que eu nunca estudei? E essa lista potencializa a questão de não ter mais uma desculpa mesmo. Tem que consumir essas mulheres, ouvir o que elas têm a dizer”.
As duas falaram ainda sobre a participação de autores negros em feiras literárias, sobre como fazer a literatura africana circular, como trazer esses livros para a frente das grandes livrarias e o papel dos livreiros nessa disseminação. “O mercado editorial reflete o que a sociedade é o que a sociedade acredita. E não podemos romantizar isso porque a sociedade tem todas essas opressões. Ela ressalta todas essas opressões”, analisou Ketty. “Se o capitalismo é irmão do racismo e de outros ismos que a gente abomina, então o mercado editorial é isso também e depende de nós. Eu estou tentando reinventar a máquina com outros livreiros”, explicou. “O mercado editorial é reflexo da sociedade”.
O Podcast do PublishNews é um oferecimento daMetabooks, a mais completa e moderna plataforma de metadados para o mercado editorial brasileiro, daUmLivro, novo modelo de negócios para o mercado editorial: mais livros e mais vendas, e daAuti Books, dê ouvidos a sua imaginação, escute Audiobooks. Você também pode ouvir o programa peloSpotify, iTunes, Google Podcasts, Overcast eYouTube.
Em novo artigo, Jaime Mendes analisa o papel da livraria no mercado editorial brasileiro e conclui: ‘Sem livrarias, corre-se o risco da desindustrialização do setor’
Quarenta e um, vírgula, sessenta por cento. Este número representa a participação do canal Livrarias no faturamento a mercado em 2019, apurado na Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, que a Câmara Brasileira do Livro (CBL), o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e a Nielsen Books (era a FIPE até 2018) divulgaram dia 8 de junho passado, e que o PublishNews noticiou.
À primeira vista parece ser um ótimo resultado. Será mesmo?
Esta pesquisa patrocinada pela CBL e SNEL existe desde 2004. A partir de 2010 passou a mostrar a participação percentual de cada canal nas vendas a mercado. O ano de 2019 passa já a ser um marco, tendo em vista que, pela primeira vez, a participação do canal Livrarias ficou abaixo dos 50%; e não foi pouco.
Como pode ser visto no gráfico a seguir, a participação das livrarias vem caindo, sistematicamente, a cada ano no faturamento das vendas a mercado. Portanto, é anterior a 2018, ano das recuperações judiciais (RJ) de Saraiva e Cultura.
A pesquisa do IBGE“Perfil dos Municípios Brasileiros 2018”também mostra a queda no número de livrarias no Brasil entre os anos de 1999 e 2018. Dos 5.570 municípios em que o país está dividido, os municípios que tinham pelo menos uma livraria, passaram de 1.977 (35,50%) para 986 (17,70%) em menos de 20 anos. Uma redução abissal!
A Associação Nacional de Livrarias (ANL) estimava que existiam 3.481 livrarias em 2012. Em 2014, a estimativa tinha caído para 3.095 livrarias. Quantas existirão hoje em dia? Talvez umas duas mil, considerando uma média de duas livrarias por município, a partir dos dados do IBGE.
Entretanto, existe um canal nas vendas a mercado que está no sentido oposto ao das livrarias. Em agosto de 2014, concomitante à realização da Bienal do Livro de São Paulo, a Amazon começou a vender livros físicos. Coincidência ou não, a Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, a partir de 2015, passou a ter a rubrica “Livrarias exclusivamente virtuais” dentre os canais de venda a mercado. A Amazon juntou-se, assim, ao Submarino, Casas Bahia, Extra, Ponto Frio, e às Livrarias Luana, Concursar, Florence, da Folha dentre outras com atuação neste canal on-line.
Acesse a matéria completa publicada peloPublishNewse compreenda a importância das livrarias no mercado editorial
Copywriting, também conhecido como escrita persuasiva, é a técnica e o campo de atuação no qual são produzidos conteúdos e materiais de marketing com o objetivo de convencer o leitor a realizar uma ação. Alguns exemplos: receber uma oferta, assinar uma newsletter, conferir um conteúdo, comprar um produto.
O produto do copywriting é o Copy, um tipo de redação produzida com o objetivo de aumentar o conhecimento do leitor sobre a marca ou produto e persuadir uma pessoa, um grupo ou um potencial cliente. Um leitor. É sobre mostrar o ouro, sobre destacar os benefícios, qualidades e diferenciais como uma forma de engajar o público.
Mas como isso se relaciona ao mercado editorial?
A busca por acessibilidade rápida e eficiente é percebida em diferentes áreas, incluindo a indústria do livro. O crescimento brasileiro nas vendas de ebooks e audiobooks reflete a busca por formatos para além do livro físico e mostram o interesse em diferentes formas de consumo de conteúdos literários. Para o leitor que não terá acesso ao visual das livrarias, às estantes perfeitamente organizadas e planejadas, aos totens publicitários e toda a experiência que uma visita física a uma livraria pode proporcionar, é importante que as editoras recorram ao ambiente virtual para vender seus livros e é aí que o Copywriting se faz necessário. E o momento de pandemia mostra isso da forma mais explícita possível.
O Copy pode se mostrar em chamadas em redes sociais das editoras e livrarias, em banners promocionais nos sites das mesmas, em blog posts das editoras, em materiais ricos fornecidos por ambas, entrevistas, artigos e todo tipo de conteúdo que se pode produzir com o objetivo de fazer o livro chegar às pessoas. E, em meio a uma gigante que se destaca cada vez mais por sua expressividade na venda e distribuição dos livros, é imprescindível que as editoras pensem nos textos que venderão os livros. Seja nos sites de terceiros ou no site delas próprias. E é justamente aqui que entra um bom Copy.
Acesse a matéria completa publicada pelaNostalgia Cinzae entenda a importância do copywriting ou da escrita persuasiva no contexto do mercado editorial.
Trabalhadores e empresas do setor editorial e livreiro também podem participar do estudo que coleta dados até o próximo dia 16
De acordo com estudo da Firjan/Senai, os setores cultural e criativo movimentaram R$ 171,5 bilhões e deram trabalho a 5,2 milhões de pessoas em 2018. Agora, afetados pelo isolamento social, empreendedores, artistas e trabalhadores desses setores veem-se diante de desafios variados, sabendo que, provavelmente serão os últimos a retomarem com atividades presenciais. Diante desse quadro, o Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura, o Sesc, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e a Representação no Brasil da Unesco uniram forças para colocar na rua uma pesquisa para avaliar o impacto do covid-19 nos setores cultural e criativo do Brasil. O objetivo é dimensionar os impactos de curto e médio prazo da pandemia, orientando o debate e a criação de saídas para a crise atual.
O sociólogo Rodrigo Correia do Amaral, um dos coordenadores da pesquisa, lembra que nos últimos 25 anos, o Brasil viveu uma profissionalização intensa do trabalho no setor cultural, impulsionado tanto pela ampliação do acesso ao ensino superior, como pelas políticas que distribuíram recursos para os círculos artísticos mais estabelecidos, associações e produtores independentes. Ele defende que o mercado relativamente forte criado sob esses estímulos (compras públicas, isenções tributárias, incentivos fiscais, editais etc.) estimulou os interessados a procurarem oficinas, cursos superiores e de pós voltados à produção e gestão cultural. “O maior perigo que a pandemia de Covid-19 coloca neste momento é a exclusão desse universo de pequenos empresários, profissionais e empreendedores individuais surgido neste processo”, explica.
Acesse a matéria completa publicada peloPublishNews.
Não tem capa dura, não tem cheiro, não envelhece, não desbota, não ocupa espaço, cabe na palma da mão e é possível levá-lo a qualquer lugar e acessá-lo a qualquer hora. Mesmo com todos esses benefícios, o livro digital, o chamado ebook, ainda está conquistando espaço entre os leitores que curtem o tradicional livro de papel. Tudo bem, certo?
A resposta é sim. De acordo a presidente da Primavera Editorial, Lu Magalhães, a mudança de hábito com as novas tecnologias é gradativa, mas sem necessariamente abandonar o papel. Ela enumera outras vantagens dos ebooks.
“Você pode comprar mais, tê-lo mais à mão. É uma questão de praticidade o livro digital. Quando você se joga nessa leitura, é muito simples ser atraído por ela, porque ela traz uma praticidade muito grande”, relata, em entrevista à Sagres TV, no programa Tom Maior desta quinta-feira (25).
À direita, Lu Magalhães, no programa Tom Maior (Foto: SagresTV)
Segundo Lu Magalhães, um levantamento feito pela Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro – realizada pela Nielsen Book e coordenada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e Câmara Brasileira do Livro – aponta que houve um crescimento de 7,7% nas vendas de livros digitais para o mercado nacional. De acordo com a presidente da Primavera Editorial, o dado significa que, descontada a variação do IPCA no período, o aumento real foi de 3,3%. O melhor resultado foi registado na venda de Obras Gerais, que obteve um aumento real de 14,8%.
Lu Magalhães não defende que haja uma competição entre os novos formatos de livros e os queridinhos das prateleiras físicas, mas fatores como a pandemia, por exemplo, que exige o isolamento social e faz da internet uma grande aliada por causa do e-commerce, pode consolidar ainda mais os formatos digitais. “Ainda há uma resistência”, afirma. “Mas se olharmos os números, os dados depois dessa pandemia, eu acho que não tem volta”, analisa.
No podcast dessa semana, ouvimos as livrarias que já reabriram as portas e as que decidiram esperar mais um pouco para voltar à ativa
Texto por Talita Facchini
No mês passado, as livrarias na Europa começaram a abrir as suas portas. Na ocasião, conversamos com Rui Campos, da Livraria da Travessa, para falar sobre a reabertura da sua loja em Lisboa. Na conversa, Rui contou que havia tidoa melhor segunda-feira do ano. Duas semanas depois, também destacamos no PublishNews a abertura das livrarias em outros lugares, como na Nova Zelândia. Por lá, os números dos primeiros dias também foram animadores e os livreiros até compararam as vendas ao Natal.
Na última sexta-feira (19), o Brasil superou a marca de um milhão de casos. No entanto, dia 10 do mesmo mês, o governo de São Paulo anunciou que a Grande São Paulo, litoral e Vale do Ribeira poderiam abrir o comércio. Mas, mesmo estando há quase três meses com as portas fechadas, muitas livrarias decidiram ainda não abrir. No podcast dessa semana, ouvimos os dois lados: as livrarias que já estão abertas, para saber como tem sido essa volta ao trabalho, e as que decidiram esperar mais um pouco para reabrir. No meio disso, também ouvimos Bernardo Gurbanov, presidente da Associação Nacional de Livrarias e Ismael Borges, gestor da ferramenta Bookscan, que monitora o varejo de livros na Nielsen Brasil para ter uma visão mais técnica sobre o assunto e saber como o mercado editorial tem se comportado nos últimos meses, na questão dos números.
Rui Campos (Livraria da Travessa), Marcus Telles (Livraria Leitura), Paulo Henrique e Marcus Pedri (Livrarias Curitiba) e Roberta Paixão (Livraria Mandarina) participam desse episódio dando suas visões sobre as lojas que já voltaram a funcionar. Jézio Gutierre (Livraria Unesp) e Talita Camargo (Livraria do Comendador) fazem parte do time que ainda continuam com as portas fechadas.
As medidas tomadas para minimizar os riscos para funcionários e clientes, as mudanças no comportamento e hábito desses clientes e os resultados e expectativas de cada uma das livrarias foi o que procuramos saber nesse episódio. “É realmente complicada essa coisa da reabertura, porque ninguém sabe exatamente o que é definitivamente seguro e o que não é. O mundo inteiro sofre esse dilema. No Brasil parece clara a precipitação e a pressa em abrir, mas é esse confronto entre a necessidade da economia se sustentar minimamente e dos empreendimentos comerciais conseguirem sobreviver, pois afinal de contas, três fechados é uma coisa impensável”, analisou Rui Campos.
Editoras ampliam no mês de junho a divulgação de obras cuja temática corrobora a luta pela igualdade nos direitos civis e o combate ao preconceito
Texto por Pedro Galvão
Se no Brasil junho sempre foi o mês das fogueiras, quadrilhas e bandeirolas, as cores do arco-íris vêm ganhando mais força a cada ano nessa altura do calendário, com as campanhas a favor dos direitos e do orgulho LGBT. Tudo começou com um episódio conhecido como Rebelião de Stonewall, ocorrida em 1969.
Em 28 de junho daquele ano, frequentadores do bar Stonewall Inn, em Nova York, resistiram a uma invasão violenta e discriminatória da polícia, desencadeando manifestações a favor da diversidade sexual e contra o preconceito sofrido por esses indivíduos em todo o planeta.
Essa luta vem ganhando novas páginas na literatura, com a temática LGBT ocupando uma vistosa fatia do trabalho de editoras. Em novembro do ano passado, a norte-americana Casey McQuiston lançou Vermelho, branco & sangue azul, seu primeiro romance. Trata-se de uma história de amor fictícia entre o filho da presidente dos EUA e o príncipe da Inglaterra. Chegou a figurar em 15º lugar na lista de mais vendidos do New York Times e foi escolhido pelo site Goodreads como o melhor de 2019 nas categorias romance e livro de estreia. Nas últimas semanas, esse e outros títulos ganharam destaque especial no mercado editorial.
No Brasil, o portal de comercialização de livros Estante Virtual promoveu a campanha Mês do Orgulho: 25 livros, autores e histórias LGBTQIA+ e diz ter notado efeito nas vendas. Segundo a empresa, os livros de ficção sobre essa temática cujas vendas mais se destacaram foram Com amor, Simon (2015), de Becky Albertalli, adaptado para o cinema em 2018, e a fantasia A menina submersa (2015), de Caitlín R. Kiernan.
Entre os de não ficção, os destaques foram Devassos no paraíso, de João Silvério Trevisan (2000), que apresenta um panorama histórico da causa LGBT no Brasil, Foucault e a teoria queer (2017), de Tamsin Spargo, com viés filosófico e teórico, e o livro reportagem Ricardo e Vânia (2019), de Chico Felitti.
Acesse a matéria completa emEstado de Minase saiba mais as iniciativas dos setores do mercado editorial e audiovisual na promoção de conteúdos sobre a comunidade LGBTQIA+
A Câmara Brasileira do Livro e a Reed Exhibitions, responsáveis pela realização e organização da 26ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, comunicam o adiamento do evento para 2022 diante da pandemia de COVID-19 e dos seus impactos. A medida visa garantir a saúde e segurança dos visitantes, autores, expositores, parceiros e colaboradores. Esta é a principal preocupação diante da crise.
De acordo com Vitor Tavares, presidente da CBL, “a intenção do adiamento é garantir que o público e as empresas possam voltar a frequentar o espaço físico do evento em segurança e com responsabilidade”. Tavares ressalta que “em 2022, vamos oferecer novas formas de interação entre leitores, escritores e expositores para uma experiência ainda melhor.
A organização da Bienal Internacional do Livro de São Paulo manterá o público informado sobre todas as novidades do evento, o principal acontecimento literário no Brasil. A Bienal do Livro recebe mais de 600 mil visitantes a cada edição e impacta milhares de leitores, profissionais e empresas. Em respeito a este público, vamos trabalhar para realizar uma edição ainda melhor e que atenda plenamente à expectativa dos leitores de todo o país.
Modalidade conquistou adeptos durante a quarentena e é uma opção cômoda para manter o hábito de leitura em dia
Texto por Amanda Capuano
No conforto do lar, leitores recebem kits literários escolhidos mensalmente por curadores TAG/Instagram
A crise no mercado editorial brasileiro não é de hoje, e a pandemia do coronavírus deu à situação contornos ainda mais dramáticos com o fechamento das livrarias em todo o país. Diante deste cenário, os clubes de livros despontaram como uma alternativa cômoda para alimentar o hábito de leitura durante o confinamento, conquistando mais adeptos com uma premissa simples: os usuários desembolsam um valor mensal e recebem, no conforto do lar, um livro selecionado por curadores. A obra, usualmente, é entregue em uma caixinha acompanhada de brindes, que variam de chaveiros a um título adicional, a depender do clube e do pacote escolhido.
Com planos a partir de 49,90 reais ao mês, o Intrínsecos, da editora Intrínseca, registrou um aumento de 117% em seus assinantes somente no mês de maio. Parte disso, é claro, deve-se à revelação de que o título de junho seria o lançamento antecipado deA Vida Mentirosa dos Adultos, aguardado romance de Elena Ferrante — que, para os demais leitores, só chega às livrarias em setembro. Mas sua ascensão é uma tendência desde o início da quarentena, e tem impacto para além das assinaturas. “É um crescimento geral do interesse. Tivemos um aumento nos assinantes mas vimos também um crescimento no número de seguidores nas redes sociais, no acesso aos nossos blogs e no tempo de permanência em nossos conteúdos”, relata Danielle Machado, editora-executiva da Intrínseca, que aponta a curadoria minuciosa como o grande diferencial da modalidade.
Kit Intrínsecos ‘A Vida Mentirosa dos Adultos’, de Elena Ferrante Livros da Joe/Instagram
Quem também observou um aumento considerável na procura foi a TAG, que anotou um salto de 70% nas visitas ao site na comparação com o período pré-pandemia. Segundo o sócio Arthur Dambros, a maior procura pela literatura é um reflexo da fase de angústia e ansiedade que o mundo enfrenta, que leva à busca por hábitos mais saudáveis. Apesar disso, o período também impõe certa dificuldade de concentração, o que motivou a empresa a criar o Conexão TAG, um portal online destinado a reunir os assinantes para leituras conjuntas, e que compila vídeos de autores, capítulos em áudio, podcasts e materiais para download. “Num momento tão fragmentado como esse, os leitores gostam do contato que a gente proporciona. O clube não só facilita a vida como produto, mas também é uma espécie de aconchego diante de toda a incerteza”, analisa ele.
Acesse a matéria completa em VEJA e conheça mais sobre os clubes leitura mantidos por diversos setores do mercado editorial.
O Internet Archive explicou em um post que, depois de 16 de junho, voltará a um modelo deempréstimo digital controlado, no qual as bibliotecas emprestam aos clientes cópias digitalizadas de um livro físico, uma de cada vez.
“Alteramos nossa programação porque, na segunda-feira passada, quatro editoras comerciais optaram por processar o Internet Archive durante uma pandemia global”, afirmou a organização sem fins lucrativos. “No entanto, esse processo não envolve apenas a Biblioteca Nacional de Emergência, que é temporária. A ação ataca o conceito de qualquer biblioteca que possui e empresta livros digitais, desafiando a própria ideia do que é uma biblioteca no mundo digital.”
Ao eliminar as listas de espera, o programa National Emergency Library tirou das mãos das editoras o controle de como as bibliotecas distribuem os e-books.
No sistema usual, as editoras vendem licenças de dois anos, que custam várias vezes mais do que você pagaria se comprasse o livro. O programa do Internet Archive basicamente permitia que um número ilimitado de pessoas baixasse temporariamente cada e-book um número infinito de vezes entre 24 de março e 30 de junho, a data final original do programa.
Em sua denúncia, Hachette, HarperCollins, Penguin Random House e John Wiley & Sons alegam que, além de violar os direitos autorais, o programa gratuito de e-books do Internet Archive “excede amplamente os serviços legítimos de biblioteca” e “constitui pirataria digital voluntária em escala industrial”.
Além de forçar o Internet Archive a capitular, esse processo tem a capacidade de afundar a organização — mais conhecida por sua Wayback Machine, que captura e mantém registros de páginas antigas da web.
As editoras podem reivindicar em danos até US$ 150.000 por título. Quando você multiplica isso pelos 1,4 milhão de arquivos que o Internet Archive disponibilizou gratuitamente, o número final pode ser astronômico e muito além da capacidade de pagamento da organização sem fins lucrativos. Uma vitória para as editoras colocaria outros projetos do Internet Archive em risco.
Parece que as editoras não estão querendo acabar apenas com a iniciativa temporária de e-books gratuitos do Internet Archive. A denúncia também afirma que os empréstimos digitais controlados são uma “teoria inventada” e que suas regras “foram inventadas do nada e continuam a piorar”. O processo também afirma que a “conflação individual de impressos e e-books do Internet Archive é fundamentalmente falha”.
Os empréstimos digitais controlados, no entanto, não são exclusivos do Internet Archive. É uma estrutura que tem sido apoiada porvárias bibliotecasnos últimos anos, incluindo muitas bibliotecas universitárias como aUC Berkeley Library. Se as editoras vencerem esse processo, também podem colocar em risco todo o modelo de empréstimo digital controlado.
Está claro que a decisão do Internet Archive foi destinada a convencer as editoras a desistirem do processo. De acordo com a organização, algumas editoras acadêmicas que inicialmente ficaram descontentes com a Biblioteca Nacional de Emergência acabaramconcordando com a iniciativa. Mesmo assim, não está claro se as editoras comerciais fariam o mesmo, pois elas têm tudo a ganhar ao fortalecer sua influência sobre os direitos autorais dos e-books.
Blockchain a ser usada no novo serviço é a da Ethereum; valor da implantação não foi revelado, mas é considerado acessível pela CBL
Texto por Rodrigo Borges Delfim
(Foto: Shutterstock)
A tecnologia que dá suporte aobitcoin também tem aplicações possíveis para o setor editorial. É o que mostra a CBL (Câmara Brasileira do Livro) ao anunciar o uso de blockchainpara o registro de contratos e de direitos autorais.
Segundo a entidade, fundada em 1946 e com cerca de 400 associados, o uso de blockchain é uma das formas mais fáceis e descomplicadas de proteger a produção intelectual. Por meio dela será possível certificar com segurança a autoria ou a titularidade de uma obra — seja ela um livro, uma foto ou uma ilustração.
Além do registro de contratos e de direitos autorais, a CBL já fornece ao mercado editorial serviços como fichas catalográficas e solicitação de ISBN — um sistema internacional de identificação de livros e softwares de livros.
Sistema confiável e seguro
De acordo com a gerente executiva da CBL, Fernanda Gomes Garcia, a implantação dessa tecnologia já era discutida dentro da entidade há cerca de um ano.
“Constada a confiabilidade passamos a discutir as funcionalidades da aplicação. Ficamos muito felizes com a forma com a qual o serviço está sendo oferecido. Ele é prático, seguro e rápido”, explica a diretora.
A blockchain a ser usada no novo serviço é a da Ethereum, de acordo com a CBL. A entidade não revela o valor investido para a implantação dessa tecnologia, mas considera o custo acessível considerando a segurança que vai oferecer.
Uso no mercado editorial
Para explicar como a tecnologia blockchain será usada pela CBL, a entidade promoveu na última quarta-feira (10) uma live por meio do perfil oficial no Facebook.
Durante a transmissão, além de uma contextualização sobre o que é blockchain e seu uso pela CBL, foram citadas outras ações mundo afora que já empregam essa tecnologia no mercado editorial.
A blockchain foi citada, por exemplo, como um caminho para melhorar mecanismos de comercialização do mercado editorial, como a consignação.
Nesse esquema, bastante comum no setor, editoras e distribuidoras repassam livros aos pontos de venda e recebem uma porcentagem do preço de capa à medida que são vendidos. Dessa forma, o material que acaba não sendo vendido pode retornar à origem sem custos.
Setor editorial encontra novas formas de comercializar livros e fatura 10,7% a mais em 2019
Texto por ABEU
Diante da crise vivida por importantes varejistas, o mercado editorial buscou alternativas e conseguiu fechar o ano de 2019 com saldo positivo, faturando R$ 5,67 bilhões, 10,7% a mais que em 2018, o que significa um aumento real de 6,1%, considerada a variação do IPCA de 4,31% no período. Esse é um dos principais destaques da Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro ano-base 2019, realizada pela Nielsen Book e coordenada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).
Em 2019, o setor editorial brasileiro produziu 395 milhões de exemplares, o que significa um crescimento de 13% em relação ao ano anterior. A pesquisa mostra que foram editados 50.331 títulos no ano, um aumento de 7,5%. Desse total, 13.671 correspondem a novos ISBNs, percentual 6,6% inferior à 2018. Um dos fatores que impulsionou o faturamento das editoras em 2019 foram as vendas para o Governo, particularmente o PLND Literário. Com a distribuição de 53 milhões de exemplares e um volume de R$ 280 milhões, este programa foi responsável por 4,9% do total da receita do setor.
As editoras do subsetor de Obras Gerais alcançaram o melhor resultado: um crescimento nominal de 19,8%, que significa um aumento real de 14,8% em vendas para o mercado. No total, unificando as vendas para o mercado e governo, o crescimento nominal é de 33,0% e de 27,5% em termos reais.Já o subsetor de Didáticos manteve-se estável com um aumento nominal de 3,9% das em vendas ao mercado, o que representa uma queda real de 0,4%. Considerando as vendas ao mercado e governo, o subsetor obteve um acréscimo nominal de 4,4%, ou seja, 0,1% em termos reais.
Outro destaque foi o subsetor de Religiosos, que registrou nas vendas ao mercado um aumento nominal de 12,0% (6,1% em termos reais). Já o subsetor CTP (Científicos, Técnicos e Profissionais) apresenta queda desde 2015 e nesta edição a pesquisa mostra uma variação nominal de 0,2%, gerando assim uma queda de vendas ao mercado de 8,2% em termos reais.
No ano passado, o setor reforçou outros canais de vendas e, com isso, a participação percentual das vendas em livrarias exclusivamente virtuais aumentou de 3,4% para 12,7%; escolas e colégios de 1,8% para 5,9%; e internet/Market Place de 0,74% para 5,20%. A participação percentual das vendas para livrarias e distribuidoras que, em 2018, respondiam por 50,5% e 29,5%, respectivamente, reduziram sua relevância para 41,6% e 22,9%.
O estudo, que mapeou a performance do setor editorial e de seus quatro subsetores em 2019, ouviu 167 editoras do país. Para ter acesso a íntegra da pesquisa,clique aqui
O Podcast do PublishNews conversou com Vagner Amaro, editor da Malê, sobre a presença de autores e editores negros no mercado editorial brasileiro e em eventos literários e sobre importância dos livros abordarem a cultura afro-brasileira
Texto por Talita Facchini
No dia 25 de maio, o afro-americano George Floyd morreu nos EUA depois que o policial Derek Chauvin, se ajoelhou sobre seu pescoço por sete minutos enquanto ele estava deitado de bruços. Esse triste episódio desencadeou inúmeras manifestações em diversos países e levantou mais uma vez a questão do racismo, assunto que nunca deveria ter saído de pauta.
Trazendo o tema para o mercado editorial, em 2014, dos livros publicados apenas 2,5% dos autores não eram brancos. Dos personagens retratados nos romances apenas 6,9% eram negros e só 4,5% eram protagonistas. Neste mesmo ano, segundo o IBGE os negros representavam 54% da população brasileira. Uma fotografia da força de trabalho da indústria do livro pode ser bem parecida com esta: a maioria dos trabalhadores de editoras e livrarias é composta por pessoas brancas. Para conversar sobre o assunto, o podcast desta semana ouviu Vagner Amaro, fundador da editora Malê.
Inaugurada em 2016, a Malê busca dar visibilidade a autores africanos e afro-brasileiros e desde então, algumas coisas mudaram no cenário editorial brasileiro. “A Malê surge em 2016, em um momento que outras vozes também estavam se colocando em relação a essa desigualdade tão grande no mercado editorial, então é o trabalho da Malê, junto com o trabalho de outras pequenas editoras que foram surgindo”, contou Vagner. “Em um certo momento, um grupo de intelectuais negros resolveu intensificar esse debate em relação a desigualdade e eu acho que de fato surgiu efeito”, definiu.
Para Vagner, um dos grandes problemas do que ele definiu como um “sistema literário da autoria negra” é que os livros não circulavam. “Eles não estavam nas livrarias, não estavam sendo distribuídos, eles não participavam dessas reuniões de compras e não eram inscritos nos prêmios”, explicou, algo que mudou com o trabalho das editoras como a Malê nos últimos anos.
Sobre a falta de diversidade no mercado de trabalho, Amaro tocou num ponto importante. “Se a gente for pensar na quantidade de editores negros atuantes no Brasil, é um número muito reduzido, não chega a 10 editores”, alertou. “E esses editores que empreenderam as empresas onde trabalham, ou seja, eles não foram absorvidos pelo mercado”, algo que segundo ele só comprova essa desigualdade. “As pessoas que estão pensando o mercado editorial não são negras”, concluiu.
A inclusão dos autores negros nos eventos literários também foi tema da conversa. Amaro lembrou da importância que a Flip de 2017 teve para a Malê e para os autores negros e falou o que tanto mudou nos últimos anos nas feiras literárias com relação a presença de autores negros e de editoras que publicam autores negros. “O que eu comecei a observar, muito atento em relação a isso, é como se o evento, a Flip, tivesse comunicado algo que os curadores entenderam que era essencial e passaram colocar isso nas suas programações”, lembrou.
A conversa com Amaro rendeu: a importância dos livros infantis abordarem a cultura africana e afro-brasileira, os problemas estruturais do mercado, e outros temas relacionados foram discutidos a fundo.
E o que as editoras podem fazer para mudar o mercado, além de somente se posicionar nas redes sociais? “Contratem pessoas negras”, resumiu Amaro. “Contratem pessoas negras, investiguem, pesquisem sua equipe e contratem pessoas negras. Quem é que avalia originais dessa editora? Tem alguma pessoa negra ai? Contrate uma pessoa para essa equipe. Quantos editores existem nessa equipe? Tem alguma pessoa negra? Contrate uma pessoa. As livrarias: na sua equipe de gerentes da sua rede de livrarias, quantos negros são gerentes? Contrate negros para serem gerentes das livrarias. No corpo da CBL, quantos membros fazem parte? Contratem negros para isso. Quantos negros fazem parte do time que pensa a Bienal de São Paulo? Contrate negros”, finalizou.
O Podcast do PublishNews é um oferecimento daMetabooks, a mais completa e moderna plataforma de metadados para o mercado editorial brasileiro, daUmLivro, novo modelo de negócios para o mercado editorial: mais livros e mais vendas, e da Auti Books, dê ouvidos a sua imaginação, escute Audiobooks. Você também pode ouvir o programa peloSpotify, iTunes, Google Podcasts, Overcast e YouTube.
Ana Elisa Ribeiro está no PublishNews Entrevista dessa semana
A professora e escritora Ana Elisa Ribeiro abriu uma picada importante em Minas Gerais. No Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) do estado – instituição centenária vocacionada ao ensino técnico e à área das Ciências Exatas, mais especificamente a Engenharia –, ela ajudou a criar um centro de referência nos estudos da produção editorial e nas questões de edição no Brasil.
Ela está no PublishNews Entrevista que volta com um novo formato, gravado a distância. Na conversa que teve com André Argolo, Ana Elisa falou dos desafios de transformar um tradicional curso de Letras, para formar gente além da docência, preparando seus alunos para pensar a formatação de conteúdos em diversas plataforma – a edição como um atitude, um conceito. “A edição é muito mais ampla que a literatura”, disse na entrevista.
Ana Elisa falou também da sua porção escritora. Ela é autora de mais de 30 livros, entre poesia, livros infantojuvenis e, claro, sobre a edição. Falou também sobre a sua pesquisa “Mulheres na Edição”.
O PublishNews Entrevista é um oferecimento do #coisadelivreiro, consultoria em marketing e inteligência de negócios para o mercado editorial.
Além de estar disponível no canal do PublishNews no YouTube, este episódio está disponível em áudio também pelas plataformas digitais: Spotify, iTunes, Google Podcasts e Overcast.
Texto por Maria Fernanda Rodrigues – Estadão Conteúdo
Quando for seguro sair de casa novamente, não vamos encontrar mais algumas lojas da Saraiva espalhadas por shoppings de São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Canoas e São Caetano. Enfrentando a pior crise de sua história, que vem de antes mas foi agravada pela pandemia, a rede, que está em recuperação judicial, está fechando pelo menos 7 livrarias – mas esse número pode chegar a 19 num futuro próximo.
No mesmo barco, a Cultura acaba de apresentar um novo plano de recuperação e tenta negociar com editoras outra forma de voltar a ter crédito com elas e livros para vender, propondo dividir o pagamento na hora, o Split, com uma porcentagem extra para amortecer a dívida recente.
Enquanto as duas lidavam com seus problemas nesses dois meses, outras livrarias e redes usavam a criatividade para seguir vendendo, mesmo com as portas fechadas. Usaram WhatsApp, investiram no e-commerce, aprenderam a fazer marketing digital, ouviram o cliente. Alguns deram férias aos funcionários. Houve alguma demissão. E, embora os números não sejam animadores – segundo a Nielsen, o varejo registrou queda de 33% em maio, em relação a 2019, e acumula perdas de 13% em 2020 -, elas estão conseguindo, com mais ou menos dificuldade, passar por isso. E algumas até já se preparam para a reabertura.
Não há uma data certa para isso acontecer. A Associação Nacional de Livrarias está ouvindo seus associados para apresentar uma proposta para a prefeitura de São Paulo. Quando essa resposta sair, Alexandre Martins Fontes já estará com a sua Livraria Martins Fontes minimamente adaptada. Nesta semana, foram instalados escudos protetores nos caixas e adesivos no chão, demarcando um distanciamento seguro além de máscara para funcionários, álcool em gel. Tudo conforme manda o novo figurino.
Apesar disso, Martins Fontes não acredita que haverá um movimento minimamente parecido com o de antes do coronavírus, e continua apostando no e-commerce, que já era importante para a empresa, no serviço de televendas que criou agora e em marketplace (por exemplo, é possível comprar pela Amazon um livro que será vendido e entregue pela Martins Fontes). “A pandemia chegou para mudar para sempre a maneira como as pessoas consomem bens e serviços e confirmou a importância da tecnologia. Vamos investir mais do que nunca em infraestrutura logística, comunicação e marketing digital”, disse o livreiro que projetava faturar 30% do que havia sido previsto antes, mas que fechou abril e maio com 75%.
O que salvou a Leitura, a maior rede em número de lojas, foi o caixa anterior, principalmente, e as vendas online – e olha que, até o ano passado, a mineira nem tinha mais um e-commerce (a regra lá é não manter aberta uma loja deficitária por muito tempo, e o site era). Entre 20 de março e o final de abril, com as 73 lojas fechadas e atendimento só pelo e-commerce e delivery, a venda caiu 96%, diz Marcus Telles, sócio da rede. A Leitura demitiu 10% dos funcionários e, mesmo agora com o início da reabertura em algumas cidades, ele prevê demitir mais 10% de seus funcionários em julho – e diz que dará preferência a eles quando retomar as contratações em novembro. Os planos, porém, não foram desacelerados e a Leitura quer encerrar este ano estranho com 79 lojas (uma foi fechada mês passado).
E como foi a reabertura? “As duas lojas de rua de Belo Horizonte voltaram acima das expectativas e venderam quase igual a antes. As seis de Brasília recomeçaram faturando 60% do que seria o normal.”
Voltando para um cenário mais modesto e menos virtual. Samuel Seibel, dono da Livraria da Vila, disse que, por ser uma livraria de loja física, o impacto foi muito forte. “Nossa filosofia sempre foi a de criarmos uma relação pessoal com o cliente, indicando livros e trocando ideias. Por priorizar as lojas físicas, o e-commerce só foi lançado em dezembro. Janeiro e fevereiro serviram de teste sem saber o que viria pela frente. E, quando houve o fechamento das lojas, tínhamos pelo menos o site para vender”, comentou. O crescimento tem sido dia a dia, e as vendas online equivalem ao faturamento de uma pequena loja da rede, que já reabriu em Curitiba e em Londrina.
A Travessa também sofreu o baque. “Muito doloroso ver as lojas fechadas”, disse Rui Campos, que não demitiu, mas suspendeu contratos e reduziu jornada. Segundo ele, o site teve um incremento de 50% nas vendas e, somado ao televendas, a Travessa está faturando cerca de 20% do que faturaria em condições normais. Rui citou Vinicius de Moraes, que diz a vida é arte do encontro, e completou: “A Travessa é um espaço pensado para encontros. Do livro com o leitor e de pessoas que gostam de livros com pessoas que gostam de livros. Vai continuar a ser.”
A Blooks também aposta na livraria como ponto de encontro, e Elisa Ventura acha que os eventos não voltam tão cedo. Por outro lado, com algum investimento no site, as vendas online melhoraram – mas elas representam 10% do que vendiam nas lojas antes. A lição que fica? “Que é fundamental olhar melhor para o cliente, fazer um atendimento personalizado e atender demandas de regiões onde não há lojas físicas”, disse.
A Mandarina estava começando a entender o mercado quando teve que fechar as portas, sete meses depois da inauguração, em Pinheiros. De lá para cá, tem vendido pelo WhatsApp porque o e-commerce só começa a funcionar na semana que vem. “Conseguimos manter a receita para pagar as contas e aceitamos todas as ajudas. Fizemos parceria com Milton Hatoum, que assinou livros para os clientes; com a Companhia das Letras, que ofereceu linha de crédito para mantermos a folha; e com editoras menores, como a Nós, que destinou parte das vendas de abril para a livraria”, contou Roberta Paixão.
Muitas editoras estão tentando ajudar pequenas livrarias, mas existe uma sensação de que uma nova fase conturbada vai começar – com as editoras, receosas de novos calotes, endurecendo negociações. “A indústria vai precisar dar crédito para o varejo, embora ela já faça isso consignando os livros.
Esperávamos que a ajuda do governo chegasse com mais facilidade”, disse Marcos da Veiga Pereira, presidente do Sindicato Nacional de Editores de Livros. Há uma proposta de projeto de lei, do senador Jean Paul Prates, para ajudar o mercado durante o período de calamidade, mas ela nem sequer entrou na pauta. “Para o ecossistema do mercado editorial, a livraria é fundamental. Uma importante vitrine. O varejo online não dá conta da quantidade novos títulos”, afirmou Pereira.
“Torço muito para que esse processo de reabertura não tenha um soluço mais grave. O medo de todos é a segunda onda do coronavírus.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
A pandemia do coronavírus não traz consequências “apenas” para o sistema de saúde, mas já está impactando vários setores da sociedade. Um deles é a economia, que promete uma desaceleração recorde e aumento considerável do desemprego. Para lutar contra isto, o Grupo Companhia das Letras anunciou a criação de um fundo de 400 mil reais para auxiliar aslivrarias independentesque operam no mercado editorial brasileiro. Vale lembrar que aspequenas e médias empresasserão as mais prejudicadas na crise que já começa a se instalar.
O fundo destina-se exclusivamente ao auxílio na folha de pagamento dessas pequenas livrarias, para evitar o desemprego de muitos livreiros que dedicam a vida a uma das funções mais nobres que existem. Uma maneira eficaz de acabar com a burocracia e a lentidão dos processos, que têm impedido às pequenas livrarias o acesso aos créditos oferecidos pelo governo federal e pelos grandes bancos.
A partir de criação deste fundo, o grupo disponibilizou o CiaLog, que faz entregas do e-commerce das livrarias pequenas, criou um e-book gratuito orientando esses profissionais a atuar nas vendas online, e ainda renegociou dívidas das pequenas e médias livrarias.
Uma das editoras mais tradicionais do mercado editorial brasileiro, a Companhia das Letras reafirma sua fé no livro em seus diferentes formatos e acredita que, sem as pequenas as livrarias, a diversidade de opinião em um país que oficialmente despreza sua produção cultural ficam seriamente comprometida. Que iniciativa! A cultura nunca foi tão importante quanto agora!
Biblioteca digital Open Library oferece 1,4 milhão de títulos para empréstimo gratuito, com temas que vão de livros infantis a material de referência para cursos universitários
O projetoInternet Archive (IA) visa construir uma biblioteca digital com “acesso universal a todo conhecimento”, oferecendo materiais digitalizados como versões preservadas de sites (via Wayback Machine), software, jogos de videogame,músicas, filmese milhões de livros.
Um dos projetos do Internet Archive é aOpen Library, uma biblioteca online que em março,como resposta à epidemia de Covid-19, colocou no ar 1,4 milhão de títulos digitalizados pelo Internet Archive e obtidos na coleção de três bibliotecas parceiras do projeto.
O catálogo cobre os temas mais variados, de literatura infantil a material de referência para cursos universitários. Os livros podem ser emprestados gratuitamente e lidos por tempo limitado (duas semanas) em aparelhos compatíveis com o software Adobe Digital Editions, ou em uma janela no navegador.
Infelizmente, as grandes editoras nos EUA (Hachette Book Group, Inc., HarperCollins Publishers LLC, John Wiley & Sons, Inc. e Penguin Random House LLC) não gostaram da idéia, e estão processando o IA alegando infração de copyright. Segundo o processo, “a Open Library não é uma biblioteca, é um agregador não licenciado e site de pirataria”.
Página da Open Library. Fonte: Reprodução
As editoras afirmam que o IA está “engajado em infração proposital de copyright em larga escala. Sem nenhuma licença ou pagamento aos autores ou editoras, o IA escaneia livros impressos, envia estes livros escaneados aos seus servidores e distribui integralmente cópias digitais destes livros através de sites acessíveis ao público. Com apenas alguns cliques, qualquer usuário conectado à Internet pode baixar cópias digitais completas de livros que ainda estão protegidos por Copyright”.
O Internet Archive afirma que a Open Library é completamente legal, e cita o sistema Controlled Digital Lending (Empréstimo Digital Controlado), que limita a duração e quantidade de empréstimos, como evidência da legalidade do projeto. Segundo o IA, fora o fato de atuar na Internet a Open Library não é muito diferente de uma biblioteca física.
As editoras estão indo “direto para a jugular” do IA, alegando violação direta de direitos autorais para cada um dos trabalhos protegidos por copyright oferecidos pela biblioteca, pedindo o pagamento de US$ 150 mil (Quase R$ 800 mil) em danos por violação.
Multiplicando isso pelo número de livros no catálogo (1,4 milhão), chegamos à estonteante soma de US$ 210 bilhões, ou mais de R$ 1,1 trilhão. Se o IA “tentar fugir da responsabilidade” culpando seus próprios usuários por violação, o processo também alega violação secundária de direitos autorais.
“O réu é secundariamente responsável sob as teorias de responsabilidade contributiva, indução e responsabilidade indireta pela reprodução subjacente, distribuição, exibição pública e desempenho público das Obras dos Autores, bem como pela criação de derivados infratores das Obras dos Autores”, acrescenta.
Washington, 1 Jun 2020 (AFP) – Quatro grandes editoras apresentaram uma queixa nesta segunda-feira, nos Estados Unidos, contra uma biblioteca digital que oferece acesso gratuito a mais de 1 milhão de livros durante a pandemia.
A plataforma Internet Archive criou em março uma “biblioteca nacional de emergência”, oferecendo gratuitamente 1,4 milhão de livros digitais, em resposta ao fechamento de bibliotecas físicas durante a pandemia do novo coronavírus.
As editoras Hachette (grupo Lagardère), HarperCollins, John Wiley & Sons e Penguin Random House consideraram a iniciativa um ato de pirataria levado adiante sob o pretexto de interesse geral, e entraram com um processo por violação de direitos autorais.
“A Internet Archive comete e promove a violação de direitos autorais em larga escala” denunciou María Pallante, presidente da associação profissional de editoras americanas, à qual pertencem as quatro demandantes.
A Internet Archive, empresa californiana especializada em arquivos da web, afirma ter consultado bibliotecas públicas e acadêmicas, e que especialistas em copyright expressaram que a biblioteca de emergência operava dentro do marco legal, à luz do fechamento das bibliotecas físicas.
John Bergmayer, da associação de defesa do consumidor Public Knowledge, lamentou a apresentação da queixa. Segundo ele, a criação desta biblioteca digital gratuita se justificava durante a pandemia, uma vez que a maioria dos livros impressos se tornaram, de fato, inacessíveis.
“Pedimos a criação de uma lei que esclareça o direito das bibliotecas de colocar os livros impressos à disposição dos clientes por via eletrônica, para que possam ser úteis para os eleitores em tempos de emergência”, sugeriu Bergmayer.
“Não há diferença entre o que a Internet Archive faz e atirar um tijolo contra a vitrine de uma mercearia, distribuir os alimentos e, depois, felicitar-se por ter prestado um serviço ao público”, comparou Douglas Preston, da Authors Guild, organização profissional que representa os autores.
Projeto procura ajudar na divulgação virtual e na criação de uma plataforma colaborativa
Livraria divulgada no projeto, a Banca Tatuí, no centro de São Paulo, precisou se reinventar para a venda on-line | Foto: Cecilia Schiavo / Divulgação / CP
Texto por Camila Souza
Portas fechadas, sentimento de incerteza, ruas vazias e comerciantes preocupados. Esse é o cenário visto no mundo nos últimos meses devido à pandemia do novo coronavírus. Em um momento tão difícil, é necessário encontrar soluções para manter os negócios funcionando, o que, para as pequenas livrarias, pode ser um desafio. Pensando nisso, a TAG, um dos maiores clubes de assinatura de livros do Brasil, lançou um projeto chamado “#PequenasGrandesLivrarias”.
A ideia é divulgar 30 livrarias independentes de todo o país que se adaptaram ao formato de venda on-line para conseguir manter sua estrutura física. A divulgação será feita durante 30 dias no Instagram do clube, que conta com um público de mais de meio milhão de seguidores. Também integra o projeto uma lista colaborativa criada em uma plataforma on-line, na qual os leitores podem incluir outras indicações de livrarias.
A campanha foi lançada no Dia Mundial do Livro, 23 de abril. A analista de conteúdo da TAG, Luise Spieweck, explica que a ideia surgiu de uma preocupação com a situação do mercado editorial durante a pandemia. “Para nós, apoiar as livrarias significa também apoiar, indiretamente, os editores. A gente valoriza bastante esses agentes do mercado do livro, que são fundamentais para a TAG e para a leitura. Então, com esse projeto queremos ajudar um pouco da forma que a gente consegue.” A escolha das livrarias que serão divulgadas no Instagram é feita com base na lista colaborativa, dando espaço para diversas regiões do país.
A Livraria Taverna, localizada no centro de Porto Alegre, foi uma das participantes do projeto da TAG. André Günther, um dos responsáveis, conta que a Taverna começou no ambiente virtual, mas depois de inaugurar a loja física, as vendas on-line ficaram em segundo plano. “Parece que voltamos para o começo, precisamos olhar para o ambiente virtual como uma prioridade.” Para a equipe da livraria, o que mais faz falta é o contato com os leitores. “O site tem nos ajudado bastante, mas não é o mesmo que estar com a livraria aberta. Sentimos falta da relação com as pessoas, porque no nosso trabalho tem muita troca e conversa”, explica André. Ele enfatiza a importância de projetos de apoio. “As pessoas poderiam estar comprando de grandes monopólios e as livrarias independentes poderiam ser esquecidas nesse momento. Estamos surpresos com a quantidade de leitores que nos procuram e a gente sabe que isso vem de estímulo de ações como as da TAG.”
Outra livraria divulgada no projeto é a Banca Tatuí, localizada no centro de São Paulo. Apesar de já trabalhar no ambiente virtual, a equipe precisou se reinventar e desenvolver estratégias para a venda on-line. “Lançamos a campanha ‘Tatuí em Casa’, oferecemos descontos, fizemos entregas grátis para as vendas de abril e um sorteio de três kits de editoras. Foram pequenas ações para manter a loja virtual ativa”, explica Cecilia Arbolave, responsável pela banca. Ela destaca que neste momento é importante que os agentes do mercado literário estejam unidos. “Temos que pensar que estamos todos juntos, editores, livreiros e autores. Quanto mais ações tiverem para a gente se ajudar, é melhor. Temos muito apoio de pessoas que estão nos divulgando, comprando livros para contribuir e isso é muito bonito, é uma rede que vai se formando”, explica Cecilia.
Os livros, mais do que nunca, se mostram essenciais. É tempo de se refugiar nas suas histórias e contribuir com as pequenas livrarias que lutam para sobreviver a esse período difícil. Para conhecer e divulgar outras livrarias independentes, basta acessar a lista colaborativa criada pela TAG em parceria com a Editora Todavia.
Os livros digitais caíram nas graças do público e se tornaram alternativa para manter o hábito de leitura durante o confinamento
Alternativa: E-books ganham nova popularidade na pandemia Jens Büttner/Getty Images
O coronavírus pode ter obrigado as livrarias a fechar as portas, mas a fome dos leitores por novas histórias continua — e as telas dos smartphones e de e-readers tornaram-se aliadas para manter o hábito de leitura durante o confinamento. Segundo um levantamento da Bookwire, que distribui e-books para cerca de 550 editoras no Brasil, o consumo de livros digitais deu um salto durante a quarentena.
Entre meados de março e o início de abril, a empresa distribuiu 9,5 milhões de exemplares digitais, entre pagos e gratuitos. O número corresponde a 80% do volume comercializado durante todo o ano de 2019 – período já considerado acima da média pelo diretor Marcelo Gioia. Tamanho crescimento pode ser explicado pelas promoções em massa das editoras, que passaram a disponibilizar e-books com preços muito reduzidos, e até mesmo gratuitos, no início do confinamento. “As ações durante a pandemia formaram novos leitores digitais, que passaram a consumir o formato neste primeiro momento”, explica Gioia.
Uma das estratégias adotadas pelas editoras é o Digital First, um termo “chique” que, na verdade, descreve algo bem simples: lançar a versão digital antes do título físico. A ação foi um dos caminhos seguidos pela editora Planeta para driblar a crise. Colo, Por Favor! Reflexões em Tempos de Isolamento, de Fabrício Carpinejar, e Você É Ansioso? Reflexões Contra o Medo, de Luiz Felipe Pondé, estão disponíveis em e-book e serão lançados posteriormente em papel. Já a obra o Autocontrole em Tempos de Estresse, de Augusto Cury, e a coleção O Mundo Pela Janela de Casa — que reúne contos inéditos ligados ao isolamento social — chegarão ao leitor exclusivamente em formato digital. O resultado foi um crescimento de 106% em relação a arrecadação prevista para abril com os e-books.
Além de ser uma alternativa logisticamente mais confortável em meio a pandemia, os livros digitais também são um meio de fomentar a leitura no confinamento. Nesse sentido, as promoções são essenciais para atrair o leitor para o formato. A Rocco fornece mensalmente uma lista de trinta títulos digitais sem custo. Na segunda quinzena de março, a Sextante chegou a distribuir 1,2 milhão de e-books gratuitos. “O plano é trazer o leitor para o ambiente digital. O e-book tem facilidades, principalmente em relação a portabilidade e agilidade”, analisa Marcos Pereira, dono e co-fundador da Sextante.
A um clique de distância
Quando o leitor busca um livro na internet, ele pode manter sua paixão pelo papel e receber o título físico em casa. Porém, com a pandemia, que afetou a logística da distribuição de algumas lojas, o dinamismo dos e-books, que chegam ao comprador de imediato, é uma vantagem e tanto. O preço reduzido também é um atrativo à parte em um cenário econômico conturbado. “Por mais que os livros físicos ainda sejam entregues, ficou tudo mais complexo. O e-book, em geral, é mais barato, e uma alternativa econômica diante de tanta gente enfrentando dificuldades financeiras com a renda reduzida”, analisa Cassiano Elek Machado, diretor editorial da Planeta.
Espera-se que o mercado editorial pós-pandemia mude drasticamente. Segundo dados da Bookwire, mesmo com a diminuição das gratuidades e ofertas em maio, as duas primeiras semanas do mês registraram três vezes mais vendas digitais do que o mesmo período do ano anterior. É difícil prever o que vai acontecer, mas os números são um indicativo de que os livros digitais podem cair nas graças do leitor mesmo com o fim da quarentena. Para Machado, tudo é uma questão de hábito, e a leitura de livros digitais durante esse período provavelmente terá impacto na maneira como a literatura será consumida no futuro. “Quando a pessoa cria um hábito novo, ela tende a seguir com ele. Os livros digitais tem vantagens importantes, uma vez que se aprende a operar nesse formato, as pessoas passam a consumi-lo mais.”
O crescimento desenfreado de Saraiva, Cultura e FNAC foi um equívoco, mas seu desaparecimento pode ser pior ainda
Texto por Rogério de Campos
Ao longo de vinte anos, as redes Saraiva, Cultura e FNAC se espalharam pelo Brasil. Praticamente todas as capitais e grandes cidades do país ganharam suas megalivrarias, algumas delas luxuosas. Talvez até desmentindo a crença de que a população brasileira não se interessa por livros, elas se tornaram locais de visitação e pontos mais frequentados de shopping centers.
Pode-se dizer que tal crescimento foi uma decisão equivocada de seus executivos e acionistas. Mais ainda: várias vozes críticas denunciaram as práticas predatórias que acompanharam tal expansão e a concorrência por vezes brutal com as pequenas livrarias, muitas das quais foram obrigadas a fechar as portas. Usando sua força de venda, essas redes puderam também impor suas condições aos fornecedores e, como consequência natural em um ambiente de concentração, passaram a condensar seus negócios com cada vez menos editoras.
Com o poder adquirido, impuseram descontos e prazos de pagamento que podiam ser absorvidos apenas por pouquíssimas editoras. Tornou-se comum práticas como a de cobrarem pelo espaço na vitrine ou nos folhetos de propaganda, em um jogo no qual a maioria das editoras não tinha como competir. O resultado deste processo: concentração de lado a lado e perda substancial da bibliodiversidade.
O problema agora é que o desaparecimento dessas grandes redes não provocará o ressurgimento imediato das tantas pequenas livrarias que desapareceram por causa delas, ainda mais em meio à crise atual. A PL 2148, que espera a aprovação do Senado, traz medidas para apoiar as pequenas e médias livrarias em meio à crise decorrente da pandemia — medidas de emergência para impedir que o mercado livreiro brasileiro desapareça. Ela tem o apoio daqueles que acreditam que o livro e a cultura são algumas das ferramentas essenciais para a recuperação nacional. Mas a PL 2148 não tem o objetivo de ajudar a criação de novas livrarias, muito menos de dar dinheiro para cobrir as dívidas de gigantes como Saraiva e Cultura.
A ausência agora dessas grandes livrarias de rede significará apenas isso: sua ausência. Já vimos isso acontecer: com o fechamento das grandes livrarias de redes, algumas regiões simplesmente ficaram sem livrarias. Se de fato acreditamos na importância do livro para a construção de um país, só podemos ver tal situação como uma tragédia.
Acreditar que grupos varejistas especializados em eletrodomésticos possam se interessar em substituir televisores por livros em suas prateleiras parece uma ilusão. Mais ilusória ainda parece a esperança de que, em tal crise do varejo, esses grupos varejistas ampliem suas redes adquirindo essas livrarias.
O final da concentração do mercado nas mãos de Saraiva, Cultura e FNAC significará apenas maior grau de concentração nas mãos de uma corporação estrangeira, a Amazon, que passará assim a ter sozinha mais de 50% das vendas de livros no Brasil.
Para seus grandes acionistas, o fim dessas redes pode ser uma frustração, que curarão nas diversões de uma aposentadoria bem confortável. Para os grandes executivos, trata-se apenas de manter o olhar vitorioso e arrumar uma colocação nas diretorias de outras grandes empresas, que podem ser de sabão em pó ou bitcoins. Mas para os trabalhadores da linha de frente dessas livrarias e aqueles que as construíram, significa o desemprego. Para as editoras, que financiaram a construção de tais redes, entregando seus livros hoje para começarem a receber (aos poucos) dois ou três meses depois, a situação agora significa perder até 50% de seu faturamento.
Por isso, neste momento, quero lembrar que tais livrarias podem ter surgido nos sonhos de grandeza de seus diretores, mas foram de fato construídas por seus trabalhadores e existiram porque tinham os produtos fornecidos pelas editoras. Não é justo agora que sejam os trabalhadores e as editoras os mais prejudicados pelo desaparecimento da Saraiva e da Cultura. Todos vimos que a existência dessas livrarias é do interesse dos leitores. Resta agora lutarmos, trabalhadores e editoras, para que elas se mantenham, sem as ambições de lucros irreais, sem as práticas predatórias. Diretamente, sem os delírios de executivos.
Se conseguimos construir tais livrarias, somos os únicos que podem fazê-las continuarem a existir. É urgente colocar na mesa planos de recuperação alternativos aos apresentados até agora. É urgente e, sobretudo, possível. Transformá-las em cooperativas de trabalhadoras, trabalhadores e credores sob uma governança completamente nova pode ser o caminho.
A pandemia mudou os hábitos de lazer em todo o mundo. O livro está se tornando um aliado e companheiro fiel nos dias de hoje, quando reuniões com amigos ou espetáculos estão proibidos. No entanto, o leitor encontrou as livrarias fechadas. O aumento da leitura no formato digital já vinha sendo confirmado em relatórios, como o Informe del Libro Digital, publicado em 2019. O documento é realizado pela Libranda, distribuidora de conteúdos digitais da Espanha. Muita coisa mudou desde a publicação, por isso, Lorenzo Herrero, editor do PublishNews em Espanhol resolveu atualizar esse assunto com Arantza Larrauri, CEO da Libranda.
PublishNews em Espanhol – Como o coronavírus está afetando o mercado espanhol de livros digitais?
Arantza Larrauri – A terrível pandemia da covid-19 e o consequente confinamento em que estamos imersos favoreceram naturalmente o consumo de entretenimento digital, bem como a leitura digital, tanto do ponto de vista da demanda quanto da oferta.
Do ponto de vista da demanda nessas semanas de confinamento, detectamos um crescimento nas vendas de livros digitais de mais de 130% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Entradas em bibliotecas digitais e empréstimos digitais também se multiplicaram. Houve também um aumento significativo no número de novos usuários, em algumas dessas plataformas o número de usuários cresceu cinco vezes e o tempo que os leitores passam lendo nessas plataformas também aumentou.
Do ponto de vista da oferta, detectamos um interesse crescente em dar o salto digital por parte dos editores que não tinham ainda começado a digitalizar seus catálogos e por aquelas livrarias que ainda não estavam oferecendo a seus clientes a possibilidade de adquirir conteúdo em formato digital a partir do seu e-commerce.
PNES – O livro digital em espanhol, de acordo com o seu relatório, cresce 12%, mas podemos saber se esse crescimento se deve a um aumento na compra daqueles que já leem digitalmente ou se o livro digital está alcançando mais leitores todos os dias?
AL – Muito provavelmente, esse crescimento de 12,5% em 2019 é devido a uma mistura de ambos os efeitos. A proporção exata de um e outro efeito é conhecida pelas plataformas que prestam o serviço ao usuário final (a plataforma de vendas, a assinatura ou a biblioteca digital), pois sabem quantos novos leitores se registram e começam a ler digitalmente em suas plataformas.
Infelizmente, a Libranda não tem essa informação. Entretanto, podemos dizer que acreditamos que o crescimento é uma consequência de ambos os efeitos, porque as próprias plataformas de bibliotecas digitais, de vendas e de assinaturas nos falam de uma constante evolução ascendente no número de leitores que registram e ativam seus serviços. Um exemplo disso é o aumento no número de usuários ativos do serviço de empréstimo digital eBiblio em 2019 vs. 2018 que o Ministério da Cultura [da Espanha] tornou público, que foi de 36%.
PNES – Qual é o peso desse aumento no grande número de ofertas dos editores na compra desses livros em formato digital durante esse período?
AL – Como em qualquer mercado, as políticas de estímulo à oferta e à demanda são recompensadas, dando frutos. De fato, no mundo dos livros digitais, ofertas e promoções de preços são feitas naturalmente todos os dias, e se em tempos de confinamento houve mais dessa modalidade de oferta, me parece uma resposta lógica, porque em circunstâncias excepcionais é compreensível que também haja respostas excepcionais.
De qualquer forma, não creio que essa tenha sido a principal razão pela qual estamos experimentando um crescimento tão extraordinário nessas semanas.
Penso que o principal motivo foi a situação de confinamento em nossas casas, que teve o duplo efeito de tornar impossível a compra de livros de outras maneiras e de aumentar o tempo disponível para a leitura de muitas pessoas.
Uma pista do que aponto no ponto anterior é dada pelo fato de os registros terem sido multiplicados por cinco em algumas plataformas de assinatura de livros (sem ter alterado a taxa de assinatura) e os registros em bibliotecas públicas digitais terem se multiplicado. Nesses casos, a alta não implica em nenhum custo associado, nem agora no confinamento nem antes dele).
Estou confiante de que muitas das pessoas que descobriram a leitura digital como resultado da situação extraordinária que estamos enfrentando tiveram uma experiência agradável de leitura e decidem continuar gostando no futuro.
PNES – Como você acha que isso afetará a atração de leitores para o mundo digital através de obras gratuitas ou com um desconto significativo? Estamos atraindo leitores para o formato digital ou pode ter um efeito negativo a longo prazo?
AL – Eu acho que – como em qualquer mercado que tem um comportamento racional -, os agentes que oferecem um produto sabem qual o preço que devem definir (neste caso, os livros) para serem competitivos no mercado, para poder satisfazer os clientes já por sua vez, sejam sustentáveis como empresas.
Com base nessa crença no comportamento racional, as ações que estão sendo tomadas para atrair novos leitores para o mundo digital parecem legítimas e corretas para mim, e não acho que elas tenham algum efeito negativo.
PNES – Onde está o futuro do livro digital: plataformas de assinatura, empréstimos para bibliotecas ou vendas individuais?
AL – Bem, também nesse sentido, acho que no futuro prevalecerá a diversidade de maneiras de acessar o livro digital. E quando falo sobre o futuro, falo um ou dois anos, porque hoje, em um ambiente tão imprevisível e mutável quanto aquele em que vivemos, um ou dois anos é um longo prazo!
Em nosso relatório, refletimos o peso de cada um desses canais e modelos de negócios em 2019 em todo o mundo e por território. No ano passado, o maior peso foi detido pelas vendas unitárias com 89,9%, seguido pela assinatura com 5,8% e pelas bibliotecas públicas com 4,3%.
É possível que essa tendência continue nos próximos anos, mas, sem dúvidas, o crescimento será muito relevante na assinatura e também no empréstimo digital.
De fato, em países como o nosso, Espanha, ambos os modelos de negócios têm um peso acima da média. A assinatura teve uma participação de 8,5% na Espanha em 2019 (com um crescimento de 20%) e o empréstimo digital uma participação de 5,1% (com um crescimento de 34%).
PNES – O que você acha que o coronavírus significa para o mercado de livros digitais?
AL – Será uma oportunidade para mais pessoas descobrirem, apreciarem e apreciarem suas virtudes.
PNES – Como o vírus afetou sua vida profissional até agora?
AL – Para mim, ajudou a confirmar mais uma vez que a equipe humana que constitui a empresa em que trabalho é extraordinária: sempre demonstrou maturidade, coragem, unidade e capacidade de agir para enfrentar circunstâncias difíceis.
Por outro lado, em um nível prático, a tarefa de combinar o ambiente de trabalho com a esfera doméstica e familiar é pelo menos curiosa: videoconferências de trabalho, videoconferências das aulas da escola de minhas filhas, recepção de pacotes, passeios com o cachorro, passeios ao supermercado, etc. Tudo ao mesmo tempo e no mesmo espaço. De uma maneira ou de outra, estamos todos aprendendo a ser malabaristas hoje em dia!
Projeto gráfico é da premiada designer Raquel Matsushita; ilustrações são de artistas do Brasil, de Portugal e da ArgentinaA SESI-SP Editora lança a Coleção Monteiro Lobato com exclusividade na versão em e-book. Os primeiros títulos que chegam ao mercado, por meio de uma parceria com a Amazon Brasil, e que já estão em pré-venda, são: Aventuras de Hans Staden, O poço do Visconde, A reforma da natureza, Reinações de Narizinho (vol.1 e vol.2), Viagem ao céu, O saci e Dom Quixote das crianças.
Além disso, multiplicidade de leituras possíveis e tratamento estético são os diferenciais da Coleção Monteiro Lobato preparada pela SESI-SP Editora. Para tanto, o projeto gráfico foi desenvolvido pela premiada e experiente designer Raquel Matsushita. Outro ponto de destaque são as ilustrações feitas por grandes artistas, que contribuem para a leitura infantojuvenil e que apresentam um novo olhar para personagens que continuam a encantar e surpreender os leitores brasileiros de diversas gerações.
Além de ilustradores brasileiros, como Psonha e Eloar Guazzelli, esta coleção tem a participação de ilustradores de Portugal e da Argentina, os quais proporcionam um novo olhar sobre a obra de Monteiro Lobato, já que não haviam sido expostos anteriormente ao imaginário do autor.
Entretanto, Jorge Mateus, José Saraiva, David Penela e Cátia Vidinhas são os ilustradores portugueses que dão vida às obras O poço do Visconde, A reforma da Natureza, Viagem no céu e O saci, respectivamente. Já Anabella López, ilustradora argentina, do título Aventuras de Hans Staden.
Nos 49 primeiros dias de isolamento, a Bookwire distribuiu 9,5 milhões de unidades de livros digitais. Isso é quase 80% de tudo o que foi distribuído em 2019.
Muitos apostaram no crescimento das vendas de livros digitais nesse momento de pandemia, em que as lojas físicas estão fechadas. E ele veio. Em entrevista exclusiva ao PublishNews, Marcelo Gioia, CEO da Bookwire no Brasil, declarou que entre os dias 9 de março e 26 de abril, a distribuidora entregou a clientes finais 9,5 milhões de unidades de livros digitais. “Para se poder fazer uma comparação, em 2019 – o melhor ano em performance da Bookwire, que apresentou crescimento de 57% em faturamento em relação a 2018 – distribuímos um pouco menos que 12 milhões de unidades de e-books no ano inteiro. Cerca de 25 a 30 mil unidades todo dia. E nessa crise, em 49 ou 50 dias, foram distribuídos esses 9,5 milhões, 190 mil unidades de e-books todo dia nesse período”, disse.
PublishNews – O Painel do Varejo de Livros feito pela Nielsen e pelo SNEL publicado na semana passada mostrou que a venda de livros físicos em livrarias caiu quase 50% desde o fechamento das lojas de tijolo e argamassa. Com a dificuldade de acessar as livrarias, o leitor brasileiro buscou os livros digitais?
Marcelo Gioia – Sim, o leitor brasileiro reagiu de forma bastante imediata e passou a consumir muito mais livro digital. A Bookwire representa uma importante fatia do mercado. Atualmente servimos cerca de 550 editoras na distribuição de e-books e audiobooks. Isto para dizer que enxergamos um corte significativo do mercado digital, uma fotografia bastante completa da situação de todo o mercado. Desde que começamos a vivenciar mais de perto essa crise da covid-19, passamos a monitorar as curvas de unidades distribuídas (gratuitas e pagas) e receita semanalmente e o crescimento de ambas foi e está sendo muito vigoroso.
PN – Você consegue quantificar esse aumento?
MG – Do início do isolamento na maioria das cidades até final de abril – de 09 de março a 26 de abril para ser mais preciso – a Bookwire distribuiu 9,5 milhões de unidades de e-books, entre gratuitos e pagos. Para se poder fazer uma comparação, em 2019 – o melhor ano em performance da Bookwire, que apresentou crescimento de 57% em faturamento em relação a 2018 – distribuímos um pouco menos que 12 milhões de unidades de e-books no ano inteiro. Cerca de 25 a 30 mil unidades todo dia. E nessa crise, em 49 ou 50 dias, foram distribuídos esses 9,5 milhões, 190 mil unidades de e-books todo dia nesse período.
PN – A que você credita esse aumento?
MG – Algumas razões: a primeira, a mais óbvia, uma limitação de acesso ao livro físico. Mesmo com iniciativas belíssimas de livreiros independentes com atendimento proativo e entregas criativas e um agudo crescimento no e-commerce, o digital foi o porto mais seguro e mais imediato de leitores que queriam se precaver e se abastecer para o período da quarentena. A segunda razão foi uma reação ágil, qualidade inerente ao digital, e super engenhosa de muitas editoras que já nos primeiros dias criaram ações promocionais, muitas com entrega de livros a custo zero e outras com descontos muito agressivos com o claro objetivo de servir aos leitores que passariam a viver confinados e precisavam de cultura e conteúdo para ser consumido. A terceira é o crescimento consolidado e consistente do formato digital com espaço ainda para crescer por aqui.
PN – O leitor de livros digitais brasileiros busca algum gênero específico?
MG – Um busca por conteúdo religioso, filosofia, desenvolvimento pessoal, um retorno interessante à literatura clássica e em um segundo momento ficção.
PN – O ano passado foi muito importante para os audiolivros no Brasil, uma vez que aportaram aqui mais duas plataformas internacionais (Storytel e Kobo) e uma nacional nasceu para brigar por esse consumidor. Você consegue fazer um panorama de como esse formato tem se comportado desde então, apontando não só o crescimento nas vendas, mas também na disponibilidade de catálogo?
MG – Ótima pergunta. O audiobook está em franco crescimento e também obteve crescimento durante as semanas da crise, mas exatamente por não ter, ainda, um catálogo de tamanho comparativo aos de e-books e de livros impressos, apresentou curvas mais modestas, mas já apresenta um crescimento de 160% em vendas no modelo à la carte, ao menos na nossa experiência.
PN – O leitor-ouvinte brasileiro procura por um gênero específico quando quer ouvir um audiolivro?
MG – Negócios, desenvolvimento pessoal, religiosos … não nessa ordem.
PN – E quando ele vai buscar um audiolivro, qual o modelo é o preferido? O modelo de subscrição ou o a la carte?
MG – À la carte na maior parte dos casos, assinatura na sequência. Mas o que apresenta maior crescimento são os audiolivros distribuídos nas plataformas de streaming como Spotify, Deeezer e outras.
PN – Você acredita que esse aumento nas vendas se sustentará ao longo do tempo, passada a pandemia? Em outras palavras, é um crescimento circunstancial ou ele veio para se manter, mesmo depois de suspensas as medidas de isolamento social?
MG – Essa é a grande questão. Não sei o que o futuro trará, mas os sinais são alvissareiros. Nas semanas seguintes do pico do isolamento, entre o final de abril e os primeiros dias de maio, as promoções encolheram. Há menos desconto agressivos e menor quantidade de e-books e audiobooks a custo zero. Isso diminuiu bastante o número de unidade distribuídas diariamente para cerca de 140 mil unidades vendidas todos os dias, mas as métricas de unidades pagas e receita parecem estar encontrando um novo platô de curva. Hoje claramente existem mais leitores digitais do que tínhamos em fevereiro, por exemplo, e os leitores que já eram digitais ou multiformato passaram a consumir mais digital. Temos visto uma consolidação de um pouco mais de quatro vezes em termos de unidades distribuídas e 2,7 vezes o faturamento das últimas quatro semanas (semanas 16 a 19), ou seja um aumento em receita de 174% quando comparamos as mesmas semanas de 2019. Pessoalmente creio que mudaremos sim de platô, talvez em números um pouco mais acomodados quando a referência são números tão surreais quanto vimos acontecer no pico do isolamento, mas tudo dependerá do impacto macroeconômico da crise que se avizinha e do poder e criatividade do mundo editorial de continuar servindo e produzindo conteúdo a seus leitores.
A Editora reforça sua missão de ampliar o acesso ao conhecimento científico
Em meio à pandemia do novo coronavírus, os temas e dúvidas ligados à saúde e à ciência estão na ordem do dia. Como foram as epidemias do passado? Qual é a importância do SUS nesse cenário? Como se dão as pesquisas clínicas para vacinas e medicamentos? E o papel da OMS e da saúde global? Assuntos que não saem da cabeça de pesquisadores, autoridades, estudantes, gestores, jornalistas e da população em geral diante da maior emergência sanitária dos últimos tempos.
Essas e muitas outras informações científicas podem ser acessadas de forma fácil e sem custos. A Editora Fiocruz disponibiliza, para download gratuito, cerca de 180 livros em duas importantes plataformas de publicação online de livros e pesquisas acadêmicas: a Rede SciELO Livros e o Arca, repositório institucional da Fiocruz.
No SciELO Livros, a Editora Fiocruz conta atualmente com 285 títulos disponíveis, sendo 182 em acesso aberto. Os outros 103, que estão em modalidade comercial, têm preços bem abaixo do valor do exemplar impresso: 40% de desconto. A aquisição desses livros pela plataforma pode ser feita nas lojas Amazon, Google Play e Kobo Books. Já as obras livres podem ser baixadas em PDF ou em EPUB, formato específico para livros digitais.
Dessa forma, a Editora Fiocruz reforça sua missão de divulgar e ampliar o acesso ao conhecimento científico produzido nas diversas áreas da saúde. Dos cerca de 480 títulos de seu catálogo, mais da metade está disponível no SciELO Livros. A plataforma maximiza a visibilidade, a acessibilidade, o uso e o impacto dessas obras. Os textos em formato digital são legíveis nos leitores de e-books, em tablets, smartphones e nas telas de computador, amplificando o acesso à leitura em diversas plataformas.
A jornada do autor até chegar à publicação de um livro eletrônico pode ser permeada de questionamentos e dúvidas. Para satisfazer a necessidade de informações da comunidade científica acerca do assunto, a Elsevier preparou um seminário virtual com diversas reflexões, sugestões e orientações. No dia 7 de maio, às 15h, a editora de conteúdo Mariana Kühll e o editor de aquisições Rafael Teixeira farão uma apresentação com riqueza de detalhes nessa temática para os interessados em publicar livros científicos.
Entre os pontos que serão abordados, os usuários vão encontrar: introdução ao processo de publicação; por que publicar um livro; como publicar um livro; assessoria em redação e compilação de propostas; fundamentos da preparação do manuscrito; e ideias para promover o trabalho. Além disso, haverá ainda um tópico para falar sobre apoio a autores proporcionado pela Elsevier.
O webinar foi elaborado pela própria editora e não faz parte da agenda de treinamentos do Portal de Periódicos CAPES. Dessa forma, é preciso se registrar neste link e aguardar a confirmação no e-mail cadastrado. Recomenda-se que os inscritos preparem suas perguntas para participar ativamente do momento direcionado a discussões.
A comunidade acadêmico-científica brasileira tem acesso a diversos conteúdos da Elsevier Pelo Portal de Periódicos CAPES. Para visualizar as coleções disponíveis, é necessário entrar no link buscar base e pesquisar o nome da editora. Na opção buscar periódico é possível localizar as revistas científicas da Elsevier, inserindo no campo de consulta o nome da publicação, o código ISSN ou selecionando o editor/fornecedor “Elsevier ScienceDirect”.
Articular o conhecimento, a prática e o desenvolvimento da redação de textos do mercado editorial, com ênfase na escrita criativa. Entre os temas abordados estão os textos que compõem a capa de um livro: título, quarta capa, biografia e orelhas. Além disso, serão trabalhados os textos produzidos sobre o livro para sites, livrarias on-line, divulgação e imprensa. Esses textos são a sinopse, a ficha técnica, a seleção de palavras-chave e o release. Ao longo do curso o aluno poderá acompanhar diversos estudos de caso apresentados por diretores editoriais, comerciais, de arte e de marketing, editores e designers do mercado editorial.
Público-alvo
Todos os interessados no mercado editorial (iniciantes e profissionais em busca de atualização): editores; assistentes editoriais; jornalistas; estudantes de comunicação, editoração, jornalismo e letras; profissionais e futuros profissionais de editoras, assim como qualquer pessoa que queira aprimorar sua comunicação e sua escrita.
Metodologia
O curso é desenvolvido em um Ambiente Virtual de Aprendizagem, no qual serão disponibilizados textos, videoaulas, exercícios e material complementar (quando houver).
Como em outros momentos, o mercado editorial de quadrinhos se vê sacudido por contextos externos que fogem do seu controle. Já investigamos no blog Splash Pages a fundo a crise editorial que se abateu sobre o Brasil desde o começo desta década. Agora, vamos traçar alguns pensamentos sobre a atual situação que se encontra o nosso mercado doméstico de comics, com a Panini e o mercado internacional de comics, com a Marvel, DC Comics, e outras empresas que dependem do sistema de mercado direto. Neste primeiro texto, vamos falar um pouco sobre o mercado brasileiro e, em outra oportunidade, nos estenderemos em outros textos sobre o norte-americano e outras situações.
Esta coluna, como sempre, reflete as dúvidas, anseios e poucas certezas daquele que a escreve, e pouco tem a ver com as orientações, missão e valores do site que a veicula.
Sem dúvida é um momento para estas editoras, domésticas ou internacionais, repensarem as formas de vendas com que trabalham. Aqui no Brasil é bem verdade, a Panini Comics já sofria atrasos com a distribuição feita pela TOTAL, empresa da falida Editora Abril. Agora que conta com distribuição localizada feita por diversos pontos de vendas ao redor do Brasil, a Panini Comics teve a oportunidade de redistribuir muitos números que estavam atrasados. Ou seja, aumentou a circulação de seus títulos periódicos em circuitos de bancas de revistas e comics shops. A distribuição, apesar de continuar de certa forma setorizada, parece ter dado uma estabilizada em relação aos meses marcados nas capas das revistas e as datas em que estão presentes nas bancas.
Abrindo-se essa janela de respiro nas pautas de distribuição a serem resolvidas pela Panini Comics, em meio a pandemia do Novo Coronavírus abriu-se uma chaga que pouco era discutida pela empresa e pelos leitores da mesma: a disponibilidade de títulos digitais em português. Não muito tempo atrás, a Panini Comics abriu uma cruzada contra sites que divulgavam e disponibilizavam os famigerados scans de quadrinhos. Mais recentemente, foi alvo de polêmica em que ameaçava o site Guia dos Quadrinhos, um bastião da informação sobre publicações em quadrinhos no Brasil, de fazer uso indevido das capas publicadas pela editora.
O calcanhar de Aquiles, da Panini Comics, mais que distribuição e divulgação (comunicação) é, com certeza, o oferecimento de material digital. A diferença é que, para os leitores, pouca diferença faz a disponibilização destes títulos em vias virtuais, o que conta para o tipo de consumidor de perfil brasileiro é ter a revista. O brasileiro é um leitor muito mais colecionador do que conteudista. Muitas vezes o que importa mais é quantidade do que a qualidade.
Essa é mais uma das razões porque até hoje a Panini Brasil nunca havia se preocupado em ter um setor de comercialização digital próprio ou afiliado com outros aplicativos de exibição de quadrinhos virtuais, como o SocialComics ou o ComiXology, em português brasileiro. Contudo, num momento inesperado por todos como a crise da pandemia do COVID-19, a editora de origem italiana acabou disponibilizando alguns PDFs de publicações suas gratuitamente. Seria isso o indício da abertura do mercado de quadrinhos digitais de grande títulos e grandes personagens?
Outro indício foi que com os decretos governamentais impedindo o comércio de bancas, comic shops e livrarias, estabelecendo material impresso como material de segunda ordem e importância, a editora Panini Comics tirou do ar a sessão “checklist” e sua programação prévia que mal tinha completado um ano de vida. Ao mesmo tempo, seu sistema de pré-venda se encontra a todo vapor. Mesmo sem poder vender fisicamente seus produtos, a Panini Comics continua lucrando. A primeira edição de X-Men de Jonathan Hickman, por exemplo, já está esgotada, assim como muitas outras edições.
O que comprova, mais uma vez, a corda-bamba que é gerir um empresa com tantas publicações e possibilidades de publicações, como por exemplo a dimensão virtual. Caso a Panini tivesse resolvido suas publicações digitais antes do caos da Pandemia, hoje, estaria lucrando ainda mais com os seus “scans legais”, até porque muita gente reclama também das republicações de muitos materiais já esgotados nas bancas.
Como vamos ver na próxima coluna, falando sobre a situação dos Estados Unidos, aquele país já viu tempos ruins em que teve de suspender a distribuição. A saída, foi diminuir drasticamente as vendas e a distribuição. O Brasil, por mais que já tenha vivido inflações estratosféricas nos anos 1970 e 1980, nunca deixou de colocar publicações nas bancas por dois meses correntes como a situação me que vivemos agora. A solução para o Brasil, cada vez mais parece ser um fortíssimo – em distribuição e comunicação – acertado e azeitado sistema com entregas corretas, plano mix de assinaturas, brindes e vales-compra, fidelizando o comprador de forma parecida com o que faz a Amazon.com. Aliado a isso, um sistema de pré-vendas com impressão sob demanda, algo já testado anteriormente pela Panini, mas talvez com uma celeridade fora do contexto da época.
Eu bato mais uma vez na tecla de que a Panini deveria usar os personagens que dispõe a seu favor, para atrair seus clientes e não afastá-los. Criar uma comunicação forte que faça com que o leitor queira fazer parte da Panini como quer fazer da Marvel e da DC Comics por exemplo. É algo interessante para se parar para pensar que os leitores amem tanto Batman, Darth Vader, Conan, Wolverine, mas dêem de ombros ou se invoquem quando vêem o logo retangular amarelo. Tempo de pandemia é um tempo ótimo para que Panini reveja suas táticas e estratégias de marketing. Esse é meu pensamento.
Para auxiliar no enfrentamento da crise do coronavírus no setor editorial e livreiro, o senador Jean Paul Prates (PT-RN) apresentou nesta quinta-feira (23), Dia Mundial do Livro, um projeto de lei que estabelece medidas para ajudar as micros, pequenas e médias empresas do setor editorial no período de calamidade pública do país.
O PL 2.148/2020 acrescenta dispositivo na Política Nacional do Livro no Brasil (Lei nº 10.753, de 2003) para que instituições financeiras e agências de fomento públicas realizem abertura de linhas de crédito para empresas do setor editorial e livreiro, como refinanciamento de empréstimos existentes com instituições públicas ou privadas, flexibilização dos requisitos de análise de crédito e período de carência equivalente ao da duração do estado de calamidade.
A proposta determina que as linhas de financiamento terão juros, taxas de administração e outros encargos financeiros abaixo do padrão para o segmento, além de disponibilização de financiamentos de baixo valor. Ficará permitida a dispensa ou flexibilização da exigência de garantias, de forma a assegurar que sejam aceitas garantias de segundo grau e incidentes sobre estoques e recebíveis das editoras.
Os recursos recebidos pelas empresas servirão para financiamento da atividade empresarial editorial e livreira nas suas diversas dimensões, podendo ser utilizados para investimentos e para capital de giro isolado e associado, sendo vedada a sua destinação para distribuição de lucros e dividendos entre sócios.
Livrarias e escritores
O projeto de lei garante que, em período de calamidade pública, serão criados programas para manutenção e ampliação do número de livrarias, sebos e pontos de venda no país, ouvidas as administrações estaduais e municipais competentes, com medidas que assegurem a redução do custo fixo desses pontos. As editoras deverão garantir aos autores o devido direito autoral já estabelecido em contrato entre as partes sobre o preço de capa dos livros comercializados ou produzidos no período de crise.
A proposta determina ainda que deverá ser criada linha de crédito específica para pequenas e médias livrarias e sebos, para aquisição de estoques de livros que visem a manutenção da oferta nos pontos de venda, até o limite de um milhão de reais; e linha de crédito específica para informatização de inventário e elaboração de estrutura para comercialização digital, até o limite de cem mil reais.
O senador declara que crise alcança o setor editorial em um momento delicado, sobretudo para pequenas e médias editoras e livrarias do país. Ele afirma que o setor editorial e livreiro faz muito pela cultura e contribuem para o debate intelectual brasileiro, mesmo dispondo de poucos recursos.
“São essas editoras, por exemplo, que mais lançam e divulgam os novos autores brasileiros e obras estrangeiras de alto valor literário e pouco apelo de mercado. São essas livrarias que disseminam esse conhecimento na sociedade, apresentando e fazendo o livro chegar na casa de milhões de brasileiros”, ressalta.
Jean Paul lembra que o mercado editorial já vinha sentindo os efeitos da desaceleração econômica e a quase estagnação do PIB nacional nos últimos anos. Ele citou o fato de grandes redes de livrarias e distribuidoras entrarem em recuperação judicial e fecharem suas portas, ocasionando centenas de demissões. Para ele, o coronavírus representa desafio nas práticas sociais e comerciais visando mitigar riscos sanitários e garantia da sustentabilidade econômica e desenvolvimento social.
“O projeto e a sua implementação visa manter vivo e fortalecer um campo essencial da existência humana — o acesso à cultura, ao passo que salvaguarda um setor econômico e a saúde de todos”, justifica o senador e presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Livro, da Leitura e da Biblioteca.
Terceiro episódio especial do PublishNews Entrevista reúne editores e pessoas-chave para falar sobre essa função. Entre eles, Luiz Alves Júnior, Alfredo Weiszflog, Gita Guinsburg e Jiro Takahashi.
No terceiro episódio especial do PublishNews Entrevista, programa da PublishNewsTV que registra histórias e pensamentos de quem é parte do mercado editorial brasileiro, André Argolo fez uma seleção diferente. Depois compilar os objetos recebidos no Museu de Tudo e as entrevistas dos livreiros que já passaram pelo programa, chegou a vez dos editores. No vídeo desta semana estão depoimentos de pessoas-chave no mercado editorial que deram seus pontos de vista, experiências e opiniões sobre essa função essencial para o mercado: a edição de livros.
Participam do episódio o escritor e editor Alberto Martins, que começou sua carreira em 1998, na Cosac Naify; Luiz Alves Júnior, fundador da Global Editora; José Xavier Cortez, fundador da livraria e Editora Cortez; Alfredo Weiszflog, da Melhoramentos; Fernanda Diamant, editora e curadora da Flip; Henderson Fürst, editor do GEN; Jiro Takahashi, editor; Mariana Rolier, da Storytel; Isa Pessoa, da Editora Foz; Eduardo Lacerda, da Patuá; Gita Guinsburg, da Perspectiva; João Scortecci, livreiro e fundador da editora Scortecci; Pedro Almeida, da Faro; Sandra Espilotro, da e-galáxia; Raquel Menezes, da Oficina Raquel; Roseli Boschini, da Gente; Flavia Lago; Daniel Lameira, da Antofágica; Ricardo Costa, da Metabooks; Lu Magalhães, da Primavera Editorial; Fernando Nuno; João Paulo Ribeiro, da Edições Sesc; Marife Boix-Garcia, da Feira de Frankfurt; Cassia Carrenho, da LabPub; Florencia Ferrari, da Ubu; e Felipe Brandão, da Planeta.
O PublishNews Entrevista é um oferecimento do #coisadelivreiro, consultoria em marketing e inteligência de negócios para o mercado editorial.
Além de estar disponível no canal do PublishNews no YouTube, este episódio está disponível em áudio também pelas plataformas digitais: Spotify, iTunes, Google Podcasts e Overcast.
O manifesto é assinado pelas principais organizações internacionais que representam a cadeia do livro. Por aqui, empresários do setor relatam dificuldades de acesso às linhas de créditos emergenciais.
Entidades internacionais do livro aproveitaram o Dia Mundial do Livro, celebrado nesta quinta-feira (23), para se unirem em torno de uma causa comum: a defesa econômica da indústria do livro neste momento de crise provocada pela pandemia do novo coronavírus.
O documento é assinado conjuntamente pela International Publishers Association (IPA), European International Booksellers Federation (EIFB), International Authors Forum, International Association of STM Publishers e International Federation of Reproduction Rights Organisations (IFRRO). “Os livros precisam de autores para escrevê-los e ilustrá-los, editores para investir neles, livreiros para levá-los aos leitores e organizações de gestão coletiva para proteger seus direitos autorais. Esta cadeia, tão vital para a sociedade, está sob ameaça iminente”, diz a carta.
Diante desse cenário, as entidades signatárias fazem um apelo a governos para que criem e adotem pacotes de estímulo econômico para sustentarem seus respectivos setores editoriais. “Em muitos países, nossa indústria já está lutando por oxigênio. Devemos encontrar formas de garantir o futuro para autores, editores, editores, designers, distribuidores, livreiros e aqueles que trabalham na gestão coletiva, para que a indústria do livro possa se recuperar assim que essa pandemia for superada. Um mundo sem novos livros seria um lugar triste e pobre. Estamos trabalhando duro para superar essa crise, mas precisamos de ajuda para sobreviver. Precisamos que os governos nos ajudem a superar isso juntos.”, conclui o documento.
No Brasil
Por aqui, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) apoiam o manifesto e tentam sensibilizar parlamentares e membros do Poder Executivo com os pleitos levantados pelas entidades internacionais. O documento enviado pela CBL ressalta os “efeitos devastadores” causados pelo fechamento das livrarias no Brasil e faz um novo apelo: “As ações de auxílio divulgadas recentemente, embora positivas, não alcançam as pequenas e médias empresas. O acesso às linhas de crédito é um exemplo nesse sentido. Na maioria dos casos, a exigência de garantias reais e outras questões burocráticas torna inviável o acesso da grande maioria das empresas”. O documento “abrasileirado” pede ainda a manutenção dos programas governamentais de compras de livros e o cumprimento de pagamentos das vendas já realizadas.
O argumento da Câmara encontra ressonância no mundo real. Empresários do setor relatam dificuldades em acessar estes financiamentos. Em sua coluna desta quarta-feira, Ancelmo Gois relatou que livrarias que pediram linhas de créditos em bancos receberão não. “A explicação – inclusive na Caixa – que já se ouviu é que o setor ‘está acabando’ e que, dessa forma, seria arriscado liberar empréstimos agora”, diz o jornalista.
Elisa Ventura, da Blooks, se manifestou sobre o ocorrido: “Nesse momento de crise, estamos nos reinventando diariamente. Por isso tudo, é inaceitável esse tratamento dos bancos com um negócio que gera empregos, movimenta uma enorme cadeia produtiva e já demostrou inúmeras vezes a capacidade de se manter. Acordem, bancos! Não queiram nos matar. Livros, livreiros e livrarias queremos e vamos viver!”.
Também à coluna de Ancelmo Gois, Marcos da Veiga Pereira, presidente da Sextante e do SNEL, também rebateu a tese de que o setor está morrendo: “Hoje é o Dia Mundial do Livro, um momento importante para mostrarmos a importância da leitura em nossas vidas, especialmente em momentos difíceis como este”. Rui Campos, da Livraria da Travessa, também foi ouvido pelo “coleguinha”: “Toda vez em que me falam em morte do livro, me lembro daquela expressão antiga, ‘ainda vou mijar em sua cova’, para dizer que muita gente vai morrer antes”.
O PublishNews procurou a Caixa, mas até o fechamento desta edição, não obteve retorno.
Leia aqui a íntegra do manifesto das entidades internacionais e aqui a carta da CBL enviada a parlamentares e membros do Poder Executivo.
O diretor-geral da Livraria da Travessa, Rui Campos, afirmou que a prioridade absoluta é manter o quadro de livreiros e evitar demissões durante a pandemia. Participaram da conversa também o editor da Revista Quatro Cinco Um, Paulo Werneck, e a diretora-geral da editora UBU, Florencia Ferrari.
En el documental que emitió La2 sobre Jorge Herralde, editor de Anagrama, Juan Villoro decía de él que «desayunaba editorial, comía editorial y cenaba editorial». ¿En qué momento desconecta un editor? El propio Herralde reconoce en ese mismo reportaje que cuando un autor abandona la editorial deja de leerlo. No por despecho, sino porque no puede dedicar tanto tiempo a autores de otro sello.
No en clave memorialística pero sí como repaso a lo que se ha leído y ha dejado poso, el también editor Javier Castro Flórez mandaba a la imprenta de Newcastle Ediciones su ‘Lo que lee un editor’. Una recopilación de las entradas que semanalmente enviaba a ‘La Opinión de Murcia’ y que, por su valor literario y prescriptor, merecían una segunda vida. Castro Flórez, que también ha sido galerista y ensayista de arte, se dedica a la industria editorial con una implicación relativa, lo que le permite no perder del todo su condición de lector-lector, algo a lo que no está dispuesto a renunciar. Tanto es así que no abandona sus fetichismos librescos, como atesorar hasta 156 títulos de Azorín o 77 de Andrés Trapiello, que guarda en su biblioteca «como un tesoro».
Pero, ¿es posible leer como un lector en cuanto uno se mete a editor? «Leyendo soy muy primitivo, como los antiguos casetes que si pulsabas el play más o menos funcionaban, pero dar al botón de ir más rápido o hacia atrás enredaba la cinta y jodía todo. Siempre leo como un simple lector», comenta Castro Flórez. Nacido en Plasencia en 1966, vive en Murcia desde hace años, donde se le reconoce por ser uno de los pocos paseantes que transita con un libro en las manos. «A veces, los que se cruzan conmigo me regañan porque dicen que no hay que dejar todo para última hora, que hay que estudiar antes. Se imaginan que voy camino de un examen porque no conciben que uno vaya embelesado con un libro por placer, por decisión propia», señala el editor de autores como José Luis García Martín o Hilario J. Rodríguez.
Tiempos de lectura
Si bien el autor de ‘Qué lee un editor’ se reconoce lector antes que nada, Alberto Marcos, editor en Penguin Random House y también escritor, considera que «es sano separar el tiempo de lectura por entretenimiento y el de lectura por trabajo». En su caso, prefiere leer manuscritos en horario laboral y entregarse a una lectura sin parámetros, únicamente «por placer», en su tiempo de ocio. «Es la mejor manera de no perder perspectiva analítica durante la lectura profesional y, a la vez, de relajarme cuando leo por gusto».
Su circunstancia, en tanto que también escritor, es más complicada si cabe, como él mismo reconoce. «Me cuesta mucho más separar al lector-lector del lector-autor porque creo que, como escritores, estamos asimilando -la mayoría de las veces sin darnos cuenta- lo que leemos y eso influye de una manera o de otra en lo que escribimos», comenta Marcos, que en marzo presentó ‘Hombres de verdad’, su segundo libro de relatos, editado por Páginas de Espuma. Lectura en el trabajo, fuera de él, escritura, reescritura, correcciones… ¿Cómo relajar la mente tras tanta actividad del hemisferio izquierdo? Marcos no se complica: «Comer, beber, ver películas o series en la tele y, sobre todo, dormir».
Para Sol Salama, responsable editorial de libros como ‘Las madres no’ (Katixa Agirre) o ‘Quiltras’ (Arelis Uribe), el asunto no es tan sencillo. Confiesa que desde que se ha convertido en la editora de Tránsito ya no lee con la despreocupación y los placenteros rituales de antes. «Echo de menos leer sin prisa. Añoro leer como ‘no editora’, sin pensar en lo que ha habido y hay detrás, en cuánto ‘editing’ o cuán poco se habrá hecho al texto, sin marcar correcciones a un lado, sin empezar a indagar en otros libros a los que me lleva el que estoy leyendo». Para despejar la mente, Sol Salama recurre a placeres tan sencillos como el sexo, el mar, ver una serie tipo ‘thriller’ o simplemente bajar a la calle a dar un paseo.
Abordar el manuscrito
El editor, en el ejercicio de su oficio, lee libros inéditos. Textos que aún no cuentan con el adorno del paratexto (prólogos, textos de cubierta, epílogos) ni con la garantía que aporta el hecho de que alguien con criterio haya decidido que ese texto es bueno (y, por tanto, merece ser publicado). Ramiro Domínguez es responsable del sello Sílex, una editorial que ha superado el medio siglo de vida especializada en historia, arte y música, aunque abierta a textos más personales, como el próximo ‘Todo es verdad’, de Recaredo Veredas, integrado por distintos relatos reales de superación personal. Lo que más teme este editor madrileño al enfrentarse a un nuevo manuscrito es que en las páginas centrales surjan «territorios vacíos» y se resienta la intensidad narradora. «Un exceso de información sin narración puede tumbar el texto, su vitalidad», apunta Domínguez, que reconoce que suele acercarse a estos textos de lado, con entusiasmo moderado, para dejarse sorprender conforme se despliega la obra.
El editor también debe tener olfato para intuir perlas en lo que al principio puede resultar un páramo. «Cuando llevo veinte páginas y no hay nada, paro. También cuando en las dos primeras páginas solo hay exceso de retórica», señala un Ramiro Domínguez que para relajarse se conecta a Bach o a los Beatles. Para Sol Salama, es un proceso en general «difícil», sobre todo por la soledad con que se encara, sin un equipo al que poder comentar las dudas. Aunque también hay corazonadas previas que se confirman en la lectura. En cualquier caso, concluye Salama, a todos estos textos se acerca «con ilusión y respeto». O Castro Flórez, que entiende la edición con humildad pero parecida devoción literaria: «Cuando publico un texto siempre es desde el entusiasmo, desde el convencimiento de que al planeta le faltaba ese libro que yo voy a sacar para estar completo y ser un lugar perfecto».
¿Qué es un editor? El caso Jaime Salinas
Tusquets acaba de publicar la correspondencia que mantuvo durante años el hijo del poeta Pedro Salinas con el escritor islandés Gudbergur Bergsson en un voluminoso tomo titulado ‘Cuando editar era una fiesta’.
Salinas se había propuesto hacer una «revolución» del libro como objeto físico, dotarlo de una encuadernación atractiva, con una tipografía «limpia y agradable y unas cubiertas decentes». Abogaría también por las notas al pie «imprescindibles», en contraste con lo que hacían otras editoriales como Espasa. Pero, ¿qué es un editor? «Un intermediario entre el escritor y el lector», diría Jaime Salinas.
Edição especial do PublishNews Entrevista relembra todos os objetos deixados no ‘Museu de Tudo’, brincadeira criada por André Argolo que pede para que cada entrevistado traga um objeto que ‘conte uma história’
Os encontros que resultam no PublishNews Entrevista, programa da PublishNewsTV que tem criado um arquivo da memória do mercado editorial brasileiro, foram suspensos por conta das medidas de isolamento social. Mas o programa está mais vivo do que nunca.No episódio de hoje, André Argolo reuniu histórias ligadas ao “Museu de Tudo”. Evocando a obra de João Cabral de Melo Neto, o entrevistador pede para que cada um dos perfilados tragam um objeto de conte uma história para deixar no “museu”.
Reunimos ao longo de 52 programas preciosidades como a caderneta usada para anotações do imortal Ignácio de Loyola Brandão; ferramentas do editor Jiro Takahashi; a primeira nota fiscal emitida pela Superpedido trazida por Gerson Ramos; um abridor de garrafas “aposentado”, que já cumpriu tudo o que tinha que cumprir brindado pelo jornalista Rodrigo Casarin; o diploma de datilografia de José Xavier Cortez, e um quebra-cabeças de dona Gita Guinsburg.
“[O museu] é um símbolo da complexidade e da riqueza disso de que somos parte, como leitores que seja, a ponta fundamental no fim. Divirta-se. Um dia bolaremos uma exposição desse museu, com um profissional de museologia, claro, porque memória não é brincadeira”, resume Argolo.
Em novo artigo, Ricardo Costa dá dicas de como enriquecer os metadados. ‘É a qualidade da informação sobre o seu título que vai fazer com que ele tenha uma posição melhor nos resultados de busca’
Várias pessoas já me ouviram comentar que alemão tem duas neuras: qualidade e segurança. Reza a lenda que a Mercedes-Benz empregava colaboradores com deficiência visual porque o sentido do tato é mais aguçado e próprio para tatear a pintura e identificar possíveis falhas, imperceptíveis a olho nu.
Lenda ou fato, a preocupação com a qualidade é um forte dos serviços e produtos alemães. Dentre as marcas de automóveis de luxo mais reconhecidas, estão as germânicas, não é mesmo? Mas chega de falar de carro, né?
O que isso tem a ver com metadados e qualidade?
São os detalhes que fazem a diferença entre o básico e o especial. É a qualidade da informação sobre o seu título que vai fazer com que ele tenha uma posição melhor nos resultados de busca. Do que estou falando?
Melhores práticas e maior número de informações possíveis, pra começar.
O que dizem as práticas internacionais? Primeiro: os dados devem ser informados exatamente como aparecem na capa do livro. É isso que está na mente, na memória, do leitor-comprador. Especial atenção, neste caso, a títulos e nomes de autores e colaboradores em geral – sim!, é importante incluir tradutor, ilustrador, coordenador, organizador… e outros. E esses dados devem ser entregues com antecedência. As orientações no Reino Unido indicam que o ideal são, pelo menos, 120 dias.
O que mais? No mundo globalizado em que vivemos, com “todo mundo” ligado nas redes sociais, os títulos originais (no caso das traduções, claro) são uma informação também muito importante. Muitos leitores ficam sabendo sobre o livro original e vão procurar se já existe a versão nacional. Se o título original estiver nos seus metadados, vai ser mais fácil de ele aparecer. Ele vai ganhar relevância. Além do título, idioma original (incluindo o país), editora original e outras informações relacionadas ao lançamento original de determinada obra.
Então, como enriquecer ainda mais seus metadados? Fale também sobre público-alvo e faixa etária. Em tempos de prisão domiciliar, pais estão procurando atividades para os filhos, pequenos e não tão pequenos assim, e livros são sempre uma alternativa. Você pode relacionar sua obra até mesmo com os diferentes níveis escolares brasileiros (fundamental, 1º ano, 3º ano, médio…). Você pode informar ainda Público-alvo e Capacidade leitora… Muita informação nessa área que é de grande ajuda no momento das buscas on-line, a melhor alternativa que temos atualmente.
Outra seção que merece também mais atenção, é sobre cada colaborador, em especial o próprio autor, tradutor e ilustrador. Data de nascimento (e falecimento se houver), profissão e dados biográficos. Aqui sugiro, inclusive, que você pense nestes dados biográficos de forma única. É possível que um aspecto da vida do autor seja mais relevante do que outro, dependendo da obra publicada.
Quero, ainda, chamar sua atenção para mais um grupo de informações bem importante: referências ou relacionamentos (aquela sessão do tipo “quem comprou este, também procurou este”, nas lojas on-line). Este título X, em formato brochura, também está disponível em capa dura, em e-book e em audiolivro. Também existem estes títulos, A, B e C, que tratam do mesmo assunto. O mesmo autor também escreveu as obras Y e Z. Você ainda pode informar que o leitor também pode encontrar tal e tal livro que se enquadram na mesma categoria…
Estes relacionamentos, desde que bem construídos, são importantes para dar relevância às suas obras. Aqui também incluo a informação se tal obra pertence a uma série ou coleção.
Encerro apenas mencionando outro importante metadado, que merece um texto só pra ele, mas que você já pode ir trabalhando com isto: palavra-chave. Também conhecida como tag ou keyword, é um dos primeiros metadados a influenciar nos resultados de busca. Mas não adianta colocar qualquer coisa ou repetir informação que já está em outros campos. Falaremos mais no próximo texto.
Livraria Lello, do Porto (Portugal), que aliviar a pandemia com livros clássicos Imagem: Ivo Rainha
Texto por Rafael Tonon
Para uma livraria com 144 ininterruptos anos em funcionamento, a Lello, no Porto, é mesmo bastante inovadora.
Foi a primeira do mundo a cobrar pela entrada de seus visitantes — o valor, de 5 euros, foi uma forma de organizar (e arrecadar com) a ininterrupta horda de turistas que passaram a fazer filas para ocupar seus pequenos corredores. Agora, quer entrar para a história como a primeira a ter um “drive thru” de livros.
Com as portas voluntariamente fechadas desde o dia 13 de março para incentivar o distanciamento social proposto pelo governo português em tempos do avanço da pandemia do coronavírus, a livraria decidiu criar o serviço de entrega gratuita de livros aos seus clientes para cumprir o que, em seu comunicado sobre a iniciativa, chama de manter a sua missão de “pôr o mundo inteiro a ler, sempre que haja mundo, leitores e o que ler”.
Literatura como refúgio
A depender da Lello, aberta no longínquo ano de 1906, o trio necessário para fazer com que as histórias impressas continuem a encantar os leitores deve perpetuar até mesmo nos tempos mais difíceis. Algo que já se tornou de certa forma até comum na trajetória de um negócio familiar que passou por guerras mundiais, pelo menos uma outra grande epidemia (a Gripe Espanhola) e até mesmo um período de ditadura.
Na circunstância em que os portugueses estão em quarentena desde que o governo local decretou Estado de Emergência há duas semanas, a livraria quer ocupar o tempo livre dos habitantes do Porto (o distrito com mais casos da covid-19 no país) com boa literatura. A partir de hoje, e por tempo indeterminado, um diferente título será entregue (gratuitamente) por dia.
Coleção da Livraria Lello é um dos muitos atrativos do Porto (Portugal) Imagem: Ivo Rainha
A iniciativa começa com “Mensagem”, de Fernando Pessoa, e segue com títulos para adultos, jovens e crianças, de grandes clássicos portugueses e estrangeiros, como “Os Maias”, de Eça de Queiroz, “Moby Dick”, de Herman Melville, “Peter Pan”, de J. M. Berrie, entre outros, todos editados pela própria Lello.
Para ter acesso aos livros, os leitores interessados devem enviar os seus dados pessoais previamente, através de um email, e no dia agendado, seguir de carro até a livraria (das 10h às 12h) para receber o volume das mãos — devidamente desinfetadas — de um colaborador diretamente pelo vidro, “para não haver nenhum contato”, como pontua o comunicado.
“Queremos poder seguir encantando as pessoas com a leitura, até quando tivermos condições financeiras e de pessoal para isso”, explica Andreia Ferreira, diretora de marketing e comunicação da Livraria Lello. A expectativa é atender cerca de 120 pessoas por dia. Um número muito inferior aos mais de 3 mil visitantes que passam diariamente pela histórica livraria.
Ponto turístico
Mais do que um dos pontos turísticos mais visitados do Porto, a Lello se tornou talvez a mais famosa livraria do mundo por alimentar um folclore local que a ajuda a atrair milhares de pessoas que formam intermináveis filas na histórica Rua das Carmelitas.
A icônica escadaria da Livraria Lello Imagem: Livraria Lello
Teria sido seus pináculos, a fachada em estilo neogótico, o bem trabalhado vitral e, claro, a escada crimson vermelha em duplo caracol que serviram de uma das principais inspirações da escritora J. K. Rowling para escrever “Harry Potter”, uma das sagas literárias mais populares do século 20. A autora morou no Porto no início dos anos 1990 quando dava aulas de inglês na cidade. Ainda há funcionários antigos de casa que lembram-se de Rowling como uma assídua cliente.
Mas se é a fama do universo potteriano que atrai muita gente, é provavelmente a beleza da livraria — e algumas obras da literatura portuguesa, com muitas edições raras — que fazem os turistas ficaram de boca aberta ao entrar ali. Não à toa, a Lello passou a se intitular espertamente como “a mais bela livraria do mundo”.
Inspiração para a saga “Harry Potter”, a livraria atrai milhares de turistas. Hoje, se encontra fechada devido à covid-19 Imagem: redcharlie/Unsplash.
Construída no começo do século passado, ela foi mesmo desenhada a pedido dos irmãos Lello, os seus fundadores, para ser uma obra arquitetônica extraordinária, uma “catedral para as artes e as letras”, como bem definiu José Manuel Lello, terceira geração da família, que segue como um dos administradores, ainda que com menor participação societária.
Hoje, adentrar a livraria se tornou uma tarefa custosa: filas, empurrões, disputas degrau a degrau para muitas selfies tiradas frente à escada que remonta a escola de Hogwarts. A Lello, com sua estrutura estreita e fascinante, ficou essencialmente pequena para sua fama. Nem mesmo a cobrança de entrada intimida os muitos turistas, que pouco aproveitam os 5 euros pagos que podem ser revertidos em descontos em alguns dos mais exclusivos volumes impressos em Portugal.
“Bens de primeira necessidade”
Os milhares de livros, infelizmente, perderam o protagonismo nessa pequena livraria que começou como uma editora, herdada a partir do espólio de Ernesto Chardon. Ele, um livreiro francês que se mudou para o Porto no final no século 19 e que, após ganhar na loteria, usou seu dinheiro para editar autores nacionais, como Eça de Queiroz e Camilo Castelo Branco e, assim, se tornar um dos maiores editores do seu tempo — foi Chardon quem lançou a primeira edição de “Os Maias”.
Quando os irmãos Lello construíram o espaço onde até hoje se mantém a livraria, na Baixa do Porto, a ideia era promover o legado de Chardon (cujo nome ainda está estampado na vitrine) e fazer de sua paixão pelos livros uma parte da identidade cultural da cidade.
Com o recente fechamento do comércio face aos novos tempos que impõem o isolamento das pessoas em casa, a iniciativa da Lello, chamada de “verdadeiro ato de ‘Amor nos Tempos da Cólera'” pela livraria, surgiu depois de uma afirmação da Ministra da Cultura de Portugal que as livrarias poderiam seguir funcionando (desde que de forma limitada e sem contato direto), porque os livros são bens de primeira necessidade.
Hoje, com suas portas fechadas pela primeira vez em toda a sua história, a Lello quer continuar seu propósito de “levar o melhor da literatura aos leitores de todos os tipos, de todas as idades”, como explica Andreia Ferreira. Nem que seja através da fresta aberta na janela de um carro.
Podcast do PublishNews conversou com os responsáveis pela Feira do Livro da Unesp, do Flipoços, do Fliaraxá e da Flip para saber os impactos da pandemia do novo coronavírus nestes eventos
No mundo do livro, um dos efeitos da escalada do coronavírus foi a suspensão de eventos literários. Eles foram caindo como uma fileira de dominós: primeiro a Feira de Bolonha, depois o Salão do Livro de Paris, até a Feira do Livro de Londres, talvez a mais importante do primeiro semestre. Desde a confirmação do primeiro caso da covid-19, no fim de fevereiro, organizadores das nossas feiras e festas literárias também tiveram que ficar atentos e não tardou para que elas também fossem sendo adiadas.
Como foram os bastidores dessas decisões? Que impactos isso pode ter nesses eventos e no calendário, uma vez que quase todos os festivais foram transferidos para o segundo semestre? A programação? Terá que ser alterada?
Para tentar responder a essas perguntas, o Podcast do PublishNews dessa semana conversou com responsáveis pela Feira do Livro da Unesp, do Flipoços, do Fliaraxá e da Flip.
Jézio Gutierre, da Feira do Livro da Unesp, disse que procurou a ajuda de especialistas antes de bater o martelo sobre o adiamento do evento. “Nós falamos com pessoas muito bem localizadas no Ministério da Saúde, na Secretaria da Saúde de São Paulo e chegamos à conclusão que até pela indicação e aconselhamentos com esses profissionais, que a melhor decisão a tomar seria justamente o adiamento, simplesmente para proteger todas as pessoas e não ser um vetor a mais para a disseminação da epidemia”, disse.
Mauro Munhoz, diretor artístico da Flip, frisou que não foi uma decisão fácil de se tomar. “O nosso programa principal já estava em boa parte definido […] Começamos agora, o delicado trabalho de comunicar a decisão a toda a cadeia de produção envolvida, convidados, parceiros, apoiadores, fornecedores e a equipe. Estamos nos reorganizando para seguir trabalhando remotamente para realizar a Flip em novembro”, contou.
Sobre o impacto econômico, os curadores ouvidos pelo PN acreditam que não será relevante, já que todos confiam que patrocinadores, parceiros e expositores continuarão remando no mesmo barco. “Felizmente, os nossos parceiros e patrocinadores estão conosco, não tivemos nenhuma baixa de patrocínio, nem de apoio. Todos continuam conosco”, adiantou Gisele Ferreira, curadora do Flipoços. “Com relação a orçamento, o Fliaraxá, como tantos outros projetos são de lei federal de incentivo à cultura, impacta pouco, porque basta transferir de uma data para outra e fazer a execução orçamentária conforme o previsto”, completou Afonso Borges, curador do Festival Literário de Araxá.
O acúmulo de eventos no segundo semestre preocupa os organizadores. Mas mais do que isso, essa concentração pode afetar a participação de expositores por exemplo, ou de frequentadores, que tenderão a viajar menos. O podcast desta semana ouviu o que cada um pensa sobre a questão e tratou de saber também, como ficará a programação de cada um deles.
O Podcast do PublishNews é um oferecimento da Metabooks, a mais completa e moderna plataforma de metadados para o mercado editorial brasileiro, da UmLivro, novo modelo de negócios para o mercado editorial: mais livros e mais vendas, e da Auti Books, dê ouvidos a sua imaginação, escute Audiobooks. Você também pode ouvir o programa pelo Spotify, iTunes, Google Podcasts, Overcast e YouTube.
O mercado editorial brasileiro já está resistindo a uma crise há alguns anos, com o fechamento de grandes livrarias, como a rede Fnac, e a dificuldade de grupos que antes eram líderes nas bancas, a exemplo da Editora Abril. A alta do dólar e as dificuldades de distribuição já vinham dificultando a vida de vários comerciantes e agora, com a pandemia global do coronavírus, como fica a venda de quadrinhos no Brasil?
Embora o e-commerce desses produtos já exista há anos, a coisa ficou complicada para os donos de negócios menores porque esse serviço não é considerado essencial — e bem, grande parte dos clientes mais fieis apreciam a convivência com os proprietários e a comunidade de leitores e jogadores de cardgames e Role Playing Games.
Imagem: Divulgação/Itiban Comic Shop
A Itiban Comic Shop, em Curitiba, por exemplo, tem recorrido a kits de produtos com desconto para os nichos de consumidores. Conjuntos de cardgames ou livros para crianças são encomendados via redes sociais e WhatsApp e entregues nas casas dos consumidores com uma taxa mínima de entrega — tudo muito bem higienizado, o que é muito importante neste momento.
Aliás, a tecnologia tem sido importante neste momento de distanciamento social. O encontro semanal do clube de leitura da loja, o ItiClub, em vez de ser realizado presencialmente, aconteceu por meio da gravação de cada participante comentando suas impressões sobre A Mão do Pintor, da argentina Maria Luque.
A Comix Book Shop, em São Paulo, também aposta em descontos expressivos, de até 50%, e frete grátis para tentar manter as vendas enquanto as pessoas estão no isolamento.
Editoras refazem planejamento
A situação na impressão e envio do material também ficou mais complicada, obrigando as grandes editoras a repensarem o cronograma da temporada. A Panini Comics precisou ajustar o lançamento de títulos atrelados às estreias de filmes, a exemplo de Novos Mutantes, Viúva Negra e Mulher-Maravilha. Para contribuir com a corrente de solidariedade que oferece conteúdo grátis para quem tem que ficar em casa, a companhia disponibilizou alguns quadrinhos da Marvel e mangás na faixa para leitura em plataformas digitais.
A Mythos Editora anunciou que vai paralisar as atividades em abril, maio e junho e muitas entregas só vão acontecer no segundo semestre. O grupo também deve recorrer à tecnologia para se manter próximo aos lojistas e leitores, com links de compra, resenhas, entre outras ações. Uma dessas frentes é o uso do Issuu, que permite a visualização online de trechos ou histórias completas — você pode ler Guerra Total, de Judge Dredd, por completo, por exemplo.
Imagem: Divulgação/Devir Livraria
A Devir e a Mino, que estão com novos volume de A Liga Extraordinária e Estranhos no Paraíso e seis livros do projeto Narrativas Periféricas, respectivamente, ficam na dependência do funcionamento das gráficas, distribuidoras e, principalmente, das comic shops — afinal, se não há onde expor, fica mais difícil chegar até os consumidores.
Quadrinhos na Cia., Nemo, Veneta, DarkSide Books, Planeta DeAgostini, Comix Zone, Pipoca & Nanquim, entre outras também decidiram interromper seus lançamentos e remessas pelo menos até maio. Todo o cronograma foi afetado e só deveremos ver a retomada do calendário de maneira mais uniforme no segundo semestre.
Segundo episódio do ColabPublishNews, série de ‘lives’ que apresenta soluções para minimizar os efeitos da crise do coronavírus no setor editorial, recebe Camila Cabete. Conversa vai ao ar nesta terça, às 14h. #MomentoHomeÓcio
O PublishNews estreou, na última sexta-feira (27) o ColabPublishNews – Momento Home Ócio, uma série de lives que quer apresentar soluções que possam minimizar os efeitos da pandemia de covid-19 na indústria do livro. O primeiro episódio recebeu Luciana Borges, diretora comercial da Companhia das Letras, e Wendel Isler, gerente comercial da Catavento. Eles apresentaram soluções criadas pelas empresas que visam ajudar pequenos e médios livreiros a enfrentar a crise. A CiaLogEntregas, serviço criado pela Companhia das Letras, faz a entrega de livros publicados pela editora e vendidos pelos livreiros cadastrados. A editora arca com o custo de frete. Já a solução da Catavento permite que livreiros criem uma página na internet e comecem a vender livros por ali. A distribuidora se responsabiliza pelo envio dos livros. A live está disponível na página do PublishNews no Facebook. Um novo episódio do ColabPublishNews – Momento Home Ócio vai ao ar nesta terça-feira (31) e quem estará conosco é Camila Cabete, country manager da Kobo no Brasil. Ela vai falar sobre como a empresa nipo-canadense tem se organizado para dar apoio a editores nesse momento e criar campanhas que levem o leitor a consumir livros digitais. O episódio vai ar às 14h e será transmitido ao vivo pelo Facebook.
O mercado editorial digital continua avançando, ainda que em velocidade mais lenta do que outras mídias, como música e audiovisual. Novas tecnologias, a exemplo dos tablets e smartphones, têm sido importantes, mas editoras e leitores ainda esbarram em problemas para a opção ser mais difundida.
Países como o Brasil, com dimensões continentais e uma rede tecnológica deficitária, enfrentam um obstáculo a mais. Nos Estados Unidos, as editoras de quadrinhos, como Marvel, DC, Image, Dark Horse e outras, disponibilizam todos as suas publicações no formato digital em serviços próprios ou terceirizados, ainda que as vendas jamais tenham alcançado o mesmo número do impresso.
Ou seja, no mercado norte-americano, a conta ainda não fecha para quem produz.
Por outro lado, no Japão, um dos mercados com mais consumidores e leitores do mundo, as vendas do digital superaram o impresso pelo segundo ano consecutivo, em 2019.
Se por um lado o digital facilita e simplifica etapas da produção (como a distribuição, o principal problema por aqui) e do consumo, por outro exige características que nem sempre estão disponíveis em âmbito nacional com a mesma eficácia: uma rede de internet fixa e móvel estáveis, computadores e notebooks.
A leitura dos quadrinhos (virada de página, zoom e outros recursos próprios, como leitura guiada) é feita com o uso do mouse ou do teclado.
Aparelhos como tabletsSamsung ou iPad com telas de 10 polegadas também podem ser ótimas saídas, por simularem uma experiência bem próxima de revistas tradicionais.
A leitura digital aparece como uma opção viável e rápida em momentos como o que o mundo está vivendo agora, com a pandemia do coronavírus e o pedido de autoridades para as pessoas permanecerem em suas casas. Não é por acaso que vários autores independentes e editoras como Panini, Europa, Marsupial, Mythos, Jambô, MSP, Comix Zone e outras estão disponibilizando conteúdo gratuito pelo meio digital, uma vez que a facilidade, rapidez e alcance são justamente os seus grandes benefícios.
Plataformas de streaming de filmes e séries são as mais utilizadas, já que as opções para leitura são mais limitadas.
O mercado editorial brasileiro, como um todo, enfrenta uma crise há alguns anos. Gigantes do meio, como a Editora Abril e diversas livrarias passam por dificuldades. Se as vendas tradicionais sofrem esses problemas, um campo novo, ainda em formação, também vivencia essa realidade.
No Brasil, há algumas opções disponíveis para leitores lerem quadrinhos digitalmente.
A Amazon, com o serviço Kindle, tem vários títulos disponíveis.
O Social Comics é um streaming que disponibiliza lançamentos de algumas editoras nacionais, independentes e licencia materiais diretamente para a sua plataforma, como os super-heróis da Valiant Entertainment (Bloodshot, X-O Manowar, Ninjak e outros), Abstract Studios (Estranhos no Paraíso e Rachel Rising) e Hasbro (Transformers).
O Digital Comics oferece quadrinhos independentes e algumas obras da Oni Press e IDW.
O Super Comics é ainda mais uma opção para leitura via streaming., com quadrinhos nacionais, Rick and Morty, Turma do Pernalonga e outros.
O digital é um mercado com muito potencial a ser explorado, mas ainda está começando. Plataformas, editoras e autores estudam como ele se desenvolve e as opções que oferece, mas é fato que chegou para ficar.
Afinal, oferece facilidade para ler, comprar e armazenar.
O digital e o físico não são concorrentes, mas sim complementos do mesmo negócio. A quebra de paradigma de um modelo tradicional para outro que oferece mais alternativas é o que estamos vivendo neste momento.
Talvez daqui a alguns anos este texto não faça sentido. É o que se espera, pois significaria que quadrinhos estarão chegando a mais pessoas, sem precisarem da deficitária distribuição física e, especialmente, remunerando os autores de forma justa e correta, pelo trabalho que realizam.
Mapa colaborativo criado por Beatriz Alves ajuda livrarias a mostrarem que estão ativas durante a quarentena e aos leitores a acharem os livros que estão mais próximos de suas casas
Em momentos de crise, ideias são sempre bem-vindas. Pensando em ajudar as livrarias físicas que estão com as portas fechadas, mas ainda vendendo seus livros, Beatriz Alves, gerente de vendas internacionais da HarperCollins Publishers e uma das criadoras do podcast As desqualificadas, criou um mapa colaborativo em que é possível cadastrar estes estabelecimentos.
A ideia é que as livrarias se mostrem e que o leitor consiga encontrar qual loja perto de casa está entregando. “Pelas redes sociais, tenho visto o tremendo esforço de livrarias como a Livraria Simples, de São Paulo, e a Realejo, de Santos, que se arriscam pelas ruas para entregar livros a seus leitores. Por outro lado, estou farta de ler tantas notícias ruins sobre o setor. O grande trabalho de pequenas e médias livrarias, quando aparecem, ficam relegados a pequenas notas de canto de página nos jornais. Se todos contribuírem com o mapa, ninguém vai ficar sem uma livraria próxima que possa entregar um livro pra te fazer companhia”, defendeu a idealizadora.
Clicando aqui, você pode adicionar uma livraria que oferece o serviço e também saber se a loja perto de você está trabalhando para deixar sua quarentena menos entediante.
O agravamento da crise provocada pela pandemia de coronavírus levou entidades do livro a unirem forças para fazer chegar ao Ministério da Economia e ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) algumas pautas que visam minimizar os impactos no setor editorial. Os esforços são empreendidos pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), pela Associação Brasileira de Editores e Produtores de Conteúdo e Tecnologia Educacional (Abrelivros) e pela Associação Nacional de Livrarias (ANL).Juntas, as entidades enviaram um ofício ao ministro Paulo Guedes solicitando a prorrogação em 180 dias dos recolhimentos do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e INSS; a redução das taxas de juros; a abertura das linhas de capital de giro para o setor no Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES e incentivo a oferta de crédito em bancos privados e a manutenção dos programas governamentais de aquisição de livros no Ministério da Educação/FNDE.
Um outro ofício foi expedido a Gustavo Montezano, presidente do BNDES, propondo a manutenção e fortalecimento do Cartão BNDES, principal produto das linhas de crédito utilizado pelo setor do livro, e atuação junto aos bancos operadores do cartão para que mantenham sua disponibilidade e facilitem a análise de crédito nos próximos meses. Entre as reivindicações das entidades está a ampliação dos itens para financiamento, passando a incluir, por exemplo, a folha de pagamento e o capital de giro. As entidades pedem ainda carência de 24 meses para a contratação de novos empréstimos e a retirada de exigências de garantias ou a aceitação de estoques como garantia real.
Para ler a íntegra de cada um dos ofícios, clique nos links acima.
A pandemia do coronavírus é um grande risco à saúde da população, mas a doença atingiu também um alvo que outras não conseguiram em tempos modernos: a economia.
Com o pedido de quarentena da população para minimizar a fácil transmissão, comércios foram fechados e diversas áreas estão sendo afetadas.
As editoras de quadrinhos, que já vinham enfrentando uma grave crise, que incluiu falência da gigante Editora Abril, fechamentos e pedidos de recuperação judicial de livrarias e caos na distribuição, agora se veem de olho na alta do dólar (contratos com empresas estrangeiras e o preço do papel nas gráficas são cotados na moeda norte-americana) e mercados mundiais sendo paralisados.
O Brasil foi um dos últimos países a ser atingido pelo coronavírus, que começou na China e se espalhou pela Europa.
Agora, as editoras enfrentam o dilema de reestruturar sua grade de publicações para 2020, ainda sem ter um claro panorama da situação ou por quanto tempo ela vai durar.
O Universo HQ entrou em contato com algumas editoras de quadrinhos para saber como elas estão vendo a situação. Culturama, Eaglemoss e JBC não responderam.
Panini Comics
De acordo com Marcelo Adriano da Silva, gerente de marketing da Panini Brasil, a editora possui um amplo portfólio de títulos que são ideais para entreter as crianças, jovens e adultos. Por isso, estão em constante atenção em relação aos lançamentos e, até o momento, os ajustes são de títulos que acompanhariam filmes que foram adiados, como Novos Mutantes, Viúva Negra e Mulher-Maravilha.
“A Panini preza pela saúde e o bem-estar de seus funcionários. Por conta disso, a empresa buscou formas adequadas de manter as operações, bem como as distribuições, que continuam com equipes responsáveis para manter o mercado abastecido”, explica Marcelo. “Para o canal de bancas, a Panini está expedindo material para todos os distribuidores, exceto para aqueles que estão com bancas fechadas por determinação dos governos municipais ou estaduais. Esses nos solicitaram a suspensão das remessas.”
Quanto aos produtos de livrarias, eles continuarão na loja online oficial da editora e também nos e-commerces parceiros que garantem a entrega para os clientes.
A Panini também disponibilizou uma seleção de quadrinhos da Marvel e mangás gratuitamente em plataformas digitais (saiba mais aqui).
Mythos Editora
O calendário foi reduzido e os lançamentos dos meses de abril, maio e junho foram, por ora, congelados. Mas as edições com distribuição em banca para o mês de março e primeira semana de abril foram mantidas. Os demais títulos e publicações do selos Prime, Gold e Silver Edition foram postergados para o segundo semestre.
“Tudo será afetado. É impossível pensar em normalidade no quadro atual de saúde mundial e de medidas de restrição, ainda mais com o decreto de quarentena”, enfatiza Joana Russo, diretora de marketing da Mythos. “Ao contrário do que muitos imaginam, a musculatura da Mythos não é equivalente à da Panini, por exemplo. Por isso, nossas medidas devem ser prudentes, para que não haja problemas de maior ordem num futuro próximo.”
Entretanto, a editora irá reforçar seu trabalho de marketing junto a lojistas e leitores. “Links de compra, disponibilidade do serviço, resenhas… faremos tudo que está ao nosso alcance. E o mesmo vale para nossos parceiros de divulgação: retomamos o compartilhamento direto, o que torna mais pessoal e intimista a análise, fazendo com que o potencial consumidor sinta-se livre para tecer sua convicção de compra, de acordo com as opiniões e avaliações de cada um, mas centralizando tudo isso em nossas redes sociais”, explica. “Nosso consumidor não é idiota e tratá-lo diferente desta conclusão é um risco de perda irreversível de uma unidade pagante.”
Para tentar quebrar um pouco esse problema, a editora está investindo no acesso à plataforma Issuu, com um catálogo permanente de prévias, além de permitir o acesso a alguns dos títulos de forma integral para a leitura. Dentre eles, histórias curtas e selecionadas de Hellboy, Sombra e Juiz Dredd (clique aqui para conferir).
O objetivo é tornar a plataforma um auxiliar permanente da criação de demanda de consumo.
Por fim, Joana faz um apelo: “Clientes, amigos e leitores, por favor, não sejam individualistas em momentos assim. Continuem espalhando doses de recomendação, indicação, de sabedoria e de consideração ao próximo. Não importa se o que você pode fazer é pouco ou muito. Não importa a quantidade, mas a ação daquilo que se faz. Continue apoiando os pequenos, siga espalhando conhecimento sobre as publicações que gosta. Gere futuro interesse”.
“Mesmo que você não possa comprar no momento, não tem problema. Contamos com o interesse, seja mediato ou imediato. Sabemos que as entregas estão sujeitas a atrasos (ainda mais considerando os novos prazos de entrega dos Correios), mas não depreciem aquilo que gostam. Se acharem por bem não mais se relacionar com a editora x, y ou z, não se relacionem. Mas não deixem de apoiar aqueles que sempre operaram por você: os lojistas”, finaliza.
Devir
Por enquanto, a pandemia teve pouco impacto na produção da editora, mas ela está na dependência das gráficas. “Elas já sinalizaram que devemos nos preparar para algum atraso. Apesar disso, continuamos a programação para março e abril”, esclareceu Paulo Roberto, gerente editorial.
Os lançamentos listados no checklist de março sairão como programados. Em abril e maio, chegarão The Boys – Volume 5 (reimpressão), Dead Letters– Volume 3, Dias Gigantes– Volume 3, Astra Lost in Space– Volume 1, Imperdoável– Volume 4, The Boys– Volume 9, The Ancient Magus Bride– Volume 8 e Estranhos no Paraíso– Volume 4.
O principal ponto para Paulo Roberto é a situação dos lojistas. “Mas estou mesmo preocupado com o impacto sobre as lojas especializadas (comic shops e hobby stores), que só agora estavam começando a se recuperar dos tumultuados últimos dois anos. Especialmente aquelas que não têm venda online. Gostaria de ver alguém falando mais sobre isso por aqui”.
Mino
A editora ainda está se reorganizando e a programação é incerta, pois tudo estava atrelado ao evento Mino Day, que aconteceria nopróximo 1º de maio e precisou ser cancelado.
“Vários de nossos lançamentos e anúncios giravam em torno desse evento, e tivemos que adiá-lo. Isso acabou criando um enorme imprevisto para lidarmos. Nossos títulos já agendados para o ano seguem em pé. Porém, eles devem sair mais espaçados, por causa da ausência do evento e das outras dificuldades relacionadas ao Covid-19”, explicou o editor e quadrinhista Pedro Cobiaco.
“Uma das duas gráficas com as quais estávamos trabalhando acabou de anunciar que fecha por tempo indeterminado durante a quarentena. Então, estamos mesmo tentando reorganizar o cronograma”, revelou.
“Heavy Liquid, do Paul Pope; Tetris, do Box Brown e outro internacional que ainda não anunciamos também vêm logo”, assegurou Cobiaco. “Mas é isso, ainda estamos reequilibrando os pratos e torcendo pela chegada de um momento mais estável.”
Quadrinhos na Cia.
A editora divulgou para a imprensa que não lançará livros em abril. Todos os envios de obras estão sendo organizados por livrarias locais e, por enquanto, não há previsão de volta e normalização de lançamentos e entregas.
Nemo
“A chegada do coronavírus ao Brasil, sem dúvida, afetará não só o mercado editorial, mas a economia como um todo. Ainda não sabemos qual será a extensão de tudo o que está acontecendo. Por isso, estamos avaliando cuidadosamente todos os nossos movimentos”, afirmou a editora, via assessoria de imprensa.
A odisseia de Hakim, primeiro volume da trilogia de Fabien Toulmé, está confirmado para abril, mas a editora aguardará o desenrolar da situação para se manifestar em relação aos demais lançamentos previstos para o primeiro semestre.
Veneta
Acontecerão mudanças no cronograma de lançamentos, mas novos prazos ainda estão sendo estudados. A editora deve dar mais detalhes sobre a nova programação, em breve.
DarkSide Books
A editora, que aposta em livros de alta qualidade gráfica voltados para livrarias, confirmou que os lançamentos estão todos postergados por conta da pandemia. Semblant – Blood Chronicles, Antologia Dark e O Silêncio da Casa Fria, que seriam os próximos da lista, foram reprogramados para 20 de maio.
Planeta DeAgostini
De maneira geral, a editora suspenderá a distribuição de todas as coleções em bancas, retornando-as assim que possível. As assinaturas seguem normalmente até o presente momento.
Atualmente, as coleções de quadrinhos distribuídas pela Planeta são: Príncipe Valente e A Lenda do Batman. Entretanto, há também colecionáveis de outros produtos, como miniaturas e figuras, modelismo e livros.
NewPop
Os lançamentos de março ocorreram normalmente, mas a partir de agora a editora analisará o cenário. “Teremos alterações e reduções na quantidades de lançamentos, levando em conta que haverá diminuição dos canais de vendas e mudanças em todos os serviços utilizados pela editora, como transportadoras, gráficas e outros”, explicou o diretor Júnior Fonseca.
Comix Zone
Uma das editoras mais novas do mercado, com três publicações em 2019. O quarto título, Sherlock Time – por Héctor Germán Oesterheld e Alberto Breccia – já está pronto para ir para a gráfica e teria o início da pré-venda no final de março, mas tudo está adiado para, pelo menos, até o início de maio.
Pipoca & Nanquim
Os dois livros programados para o final de março sofrerão um pequeno atraso devido à redução de pessoal das gráficas e transportadoras. Maxwell – O gato mágico chegará em 10 de abril, enquanto O Máskara sairá no dia 13 do mesmo mês.
Ainda em abril, aconteceriam mais três lançamentos, mas agora apenas um deles sairá (o título será revelado nos próximos dias). Os outros dois serão reprogramados no calendário. A ideia inicial era lançar entre 28 e 30 títulos em 2020, mas isso foi reduzido para 25 ou 26, considerando o cenário atual, com esse número podendo ser revisto dependendo da gravidade da situação nas próximas semanas ou meses.
Bancas
A distribuição de bancas é feita pela Dinap, que pertence ao Grupo Abril, e foi atingida com a crise que causou a derrubada da empresa em 2018. Muitas cidades pararam com o comércio e, apesar de bancas de revistas estarem listadas como estabelecimentos que podem continuar em funcionamento, muitos decidiram fechar temporariamente.
O número de bancas cai a cada ano, e neste período ficará ainda menor. De acordo com previsões, pelo menos 30% delas não abrirão.
A Dinap já informou a fornecedores que haverá uma queda na quantidade de produtos que serão distribuídos.
Livrarias
O fechamento obrigatório das livrarias por conta da suspensão do comércio em diversas cidades é outro impacto grande, e as vendas ficarão restritas às respectivas lojas virtuais. A Livraria Cultura já comunicou que isso impedirá que honre seus compromissos com fornecedores.
“Diante das incertezas impostas pelo momento atual e da falta de clareza quanto aos desafios que enfrentaremos, suspendemos temporariamente a maioria das nossas atividades nas lojas físicas e estamos tomando todas as precauções para evitarmos contatos pessoais e a disseminação do coronavírus. Além disso, tivemos que tomar a drástica atitude de suspender momentaneamente os pagamentos a prestadores de serviços, fornecedores e parceiros. São medidas duras, mas absolutamente necessárias para garantir a sobrevivência da Livraria Cultura nesse momento crítico”, afirma o comunicado.
”Voltaremos a cumprir regularmente as nossas obrigações de pagamento tão logo haja a retomada sustentável das atividades do varejo, com a liberação pelas autoridades da circulação de pessoas em locais públicos e a superação dessa crise de saúde pública”, garante.
Vale lembrar que a Cultura, assim como a Saraiva, está em recuperação judicial, o que a obrigaria a manter os pagamentos em dia sob pena de fechamento por falência.
Correios
O serviço dos Correios é amplamente utilizado por editoras e, principalmente, autores para entregas de vendas online. A empresa já anunciou mudanças nos serviços de entrega, com novas práticas e aumento do prazo. Inclusive, chegou a anunciar que uma das modalidades mais comuns para envios de livro, o impresso com registro módico, que tem um custo mais baixo, seria suspenso por tempo indeterminado. Mas os Correios revogaram a decisão.
Caso a suspensão fosse mantida, as opções de envios seriam PAC e Sedex. O custo maior deste, principalmente em algumas regiões fora do Sudeste, encareceria o produto para leitores e poderia ocasionar possível queda de vendas para as editoras.
Os principais atingidos seriam pequenas editoras, lojistas, livreiros e autores independentes (no Catarse, por exemplo, o envio dos livros é feito nessa modalidade). Além, claro, dos leitores.
Com as vendas inevitavelmente migrando do físico para o digital, Ricardo Costa dá dicas a editores de como otimizar os metadados de seus livros
Lojas fechadas, população em “autoquarentena”, autoridades de saúde lutando para derrotar a pandemia no mundo todo. Triste, mas a realidade é que não temos uma perspectiva imediata de volta à normalidade (seja lá o que isso signifique para cada um).
Neste momento, todos sabemos que as compras – de qualquer produto – estão migrando forte e rapidamente para a internet. Os e-commerces, mais do que nunca, são o negócio da vez.
E, em tempos de busca on-line, a Otimização de Serviço de Busca (em inglês SEO) é o que faz a diferença para que seu produto apareça no topo da lista de resultados ou lá pra baixo. O que é fundamental nesses serviços de busca? Metadados.
Metadados otimizados e padronizados aumentam radicalmente a relevância do seu produto nas buscas. Já é amplamente conhecido que a grande maioria das pessoas não passa da segunda página de resultados, quando faz qualquer tipo de busca na internet. Imagine agora quando se está usando ainda mais este serviço; a “paciência” de ficar “paginando” os resultados de busca fica ainda menor.
Seus metadados vão fazer grande diferença para que seu livro tenha melhores resultados de vendas.
Na Alemanha, a Metabooks fez um teste prático, já há algum tempo, com um livro sobre animais de estimação e seus donos, e a convivência deles com a comunidade. Antes de padronizar e melhorar os metadados, o livro estava na posição 1.410 nas vendas gerais da Amazon no país. Depois de trabalhar os metadados, o mesmo título subiu, em três meses, para a posição 71 no ranking geral, e para o primeiro lugar nas categorias específicas.
No Brasil, fizemos também um teste, com um livro de ficção. Estava abaixo da posição oito mil no geral da Amazon brasileira antes de trabalhar os metadados. Um mês depois da organização, padronização e melhoria dos metadados, o livro já estava próximo à posição 100 nas vendas gerais. Outras comparações têm sido feitas por outro grande varejista do mercado e os resultados são sempre positivos.
Editor, antes de mais nada, mantenha seus dados atualizados. Preços, status de disponibilidade, promoções… Capriche nas classificações Bisac ou Thema. Mas além disso, incremente os metadados: subtítulo, informação completa sobre o idioma original quando tradução – cada vez mais o leitor tem informações sobre o lançamento original e busca encontrar a tradução para o “brasileiro”; inclua informações mais detalhadas sobre o autor e outros colaboradores (tradutores, organizadores, ilustradores…) – biografia dos colaboradores é um metadado valioso, por exemplo –, sobre prêmios que ele ou o título (ou os dois) recebeu, façam relacionamento entre formatos, livros do mesmo autor, do mesmo tema… as opções e oportunidades são muitas.
Varejista e atacadista – on-line ou físico – tire o maior proveito das informações disponíveis. Quanto mais você abastecer seu sistema, quanto mais informação você disponibilizar para o seu cliente, maior a chance de ele efetivar a compra. Existem, por exemplo, vários arquivos de suporte, como amostra do livro, imagens internas, gráficos… alguns book traillers e entrevistas com autores também estão disponíveis. Utilize bem as referências entre produtos que cada editor indica. Coloque seus produtos “na cara” do leitor.
Editores, livreiros e entidades que representam o mercado editorial comentam sobre os impactos da pandemia
O surto de coronavírus começou na China, mas hoje já atinge 159 países em todos os continentes do mundo. Tornou-se um grande problema global. Mais de 200 mil pessoas já foram contaminadas e este número cresce a cada dia. O poder de transmissão do vírus que causa problemas respiratórios graves e pode levar à morte é tamanho que levou a Organização Mundial da Saúde a declarar, no último dia 11 uma pandemia, ou seja, que a doença já se alastrou por todo o mundo.
Além das consequências à saúde pública, o coronavírus tem produzido efeitos na economia mundial. Numa escala que vai de zero a dez, onde zero significa “está tudo bem, vai passar rapidinho” e dez é “o mundo inteiro tem condições para entrar em recessão”, o efeito do corona da economia está em cinco. Essa escala foi criada pela Bain Macro Trends, consultoria que busca identificar tendências que podem afetar a economia global. A recomendação, no estágio cinco, é: “ativar procedimentos de contingenciamento”.
Esta mesma consultoria avalia que o impacto no PIB mundial seja de – 4%, podendo chegar até -23%. Ela estima ainda que os EUA têm 53% de chance de entrar em recessão.
As indústrias mais afetadas a curto prazo são as de alimentação e entretenimento, por razões óbvias: a recomendação é que as pessoas fiquem em casa. Ficando em casa, as pessoas não circulam. Se elas não circulam, elas não vão a restaurantes, teatros, cinema. Não consomem como consumiriam em situações normais.
Por outro lado, estabelecimentos comerciais também precisam proteger a sua força de trabalho e aí começa o espiral. Gigantes como Nike e Apple já tomaram a decisão de fechar suas lojas pelo mundo.
Por aqui, Rio de Janeiro, Goiás e, mais recentemente, São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina já decidiram e fecharam seus shopping. E a partir de sexta-feira (20), todo o comércio será obrigado a ser fechado na cidade de São Paulo e a medida começa a ser copiada por outros estados.
O impacto nas vendas deve ser enorme e isso afeta diretamente a indústria do livro.
Por isso, nossa equipe foi virtualmente às ruas para ouvir editores, livreiros e analistas que, juntos, conseguem dar um panorama do cenário atual e ainda fazer previsões para o que pode vir por aí.
Reunimos todas estas entrevistas numa edição especial do Podcast.
A economista Mariana Bueno, que há mais de uma década acompanha a evolução do mercado brasileiro, fez uma análise do que poderá acontecer com a economia do livro neste ano. Trouxe informações preliminares de outros mercados, como o italiano e o espanhol. Estima-se que, nas duas semanas de lockdown, a Itália já perdeu 75% das suas vendas de livros. Na Espanha, onde também já foi adotado o protocolo de isolamento total, o mercado também já registrou queda. “
Apesar dos números super catastróficos, e desses resultados muito ruins, é da Espanha que vem uma informação bem interessante e, do meu ponto de vista, muito importante: houve um crescimento da venda de livros no canal supermercado. Estima-se que esse crescimento tenha sido, na média, de 35%. Essa informação é importante. É uma alternativa para o mercado brasileiro. Podemos pensar que o sujeito está em casa de quarentena, sai pouco, não circula, mas vai ao supermercado e dá de cara com uma prateleira de livros e pode levar um, dois, três, por que não mais? Eu acho que, apesar da situação ser bem incerta, de um pessimismo generalizado, a gente pode encontrar algumas alternativas, que obviamente não vão repor as vendas ou fazer que o mercado cresça, mas que talvez a gente consiga conter essa queda”, analisou.
Nossa equipe procurou ouvir editores também. Quisemos saber como as empresas estão colocando em prática seus planos de contingenciamento, o que inclui mudanças nas jornadas de trabalho, mas também a busca por soluções para as quedas nas vendas que virão inevitavelmente. Roberta Machado, vice-presidente do Grupo Editorial Record, por exemplo, disse que a empresa vai adiar lançamentos, suspender ações de marketing e já cancelou todos os eventos. “São dois focos de preocupação. Um é garantir a segurança dos funcionários e ter essa responsabilidade social para conter o contágio. A outra preocupação é econômica. Estamos muito preocupados. As livrarias estão reportando quedas expressivas dia a dia. O que fizemos de imediato foi adiar por volta de 40 lançamentos previstos para o final de março e abril. Deslocamos para maio. Vamos guardar os principais livros para depois dessa confusão toda. A gente entende que precisamos dar as mesmas oportunidades para todos os nossos clientes. Não faz sentido a gente ter lançamentos que vão funcionar só nos canais on-line e não vão ter a chance de performar bem nas livrarias físicas. A gente vai segurar”, disse. “O esforço vai ser trabalhar a retomada depois. Vamos precisar atrair público para as livrarias e reaquecer rapidamente o mercado para tentar recompensar o sufoco que vamos viver nos próximos meses”, completou.
Da HarperCollins, Daniela Kfuri, diretora comercial e de marketing da empresa, reconhece que o impacto será muito grande. “A sociedade nunc a se deparou com uma situação como a que estamos vivendo hoje. As livrarias vão sofrer bastante. Você imagina ficar semanas sem receber pessoas nas suas lojas? O impacto vai ser muito relevante. Aqui vamos viver um dia de cada vez. Nós temos algumas informações do que está acontecendo lá fora. Estamos duas ou três semanas à frente, acompanhando o que está acontecendo na Europa e nos EUA e aí a gente está fazendo alguns movimentos para tentar amenizar um pouco o que dá pra amenizar. Uma preocupação grande da gente agora é dar conforto às pessoas. Conforto através da leitura, do conhecimento, e que a gente conscientize as pessoas que elas devem ficar em casa, uns pelos outros, e que a gente possa formar uma comunidade de leitores, ajudá-los a encontrar, no livro, um conforto. Esse é o foco da HarperCollins nesse momento que é difícil para todo mundo, mas que nós vamos passar por ele. Todos nós”, disse.
O podcast trouxe ainda áudio de Daniel Lameira, da Aleph e da Antofágica. “A gente está preocupado com o lado humano da coisa. É um momento que inspira uma preocupação e a gente tem que estar atento e dar o exemplo. Acho que ambas editoras também têm uma certa tranquilidade nesse momento de ter um share on-line muito grande e uma participação em marketing digital muito forte. Acredito que esse momento seja um pouco mais prejudicial para as editoras que não tenham isso”, avaliou.
Bernardo Gurbanov, presidente da Associação Nacional das Livrarias (ANL) também participou do programa. Ele declarou que a entidade está atenta aos anúncios do governo federal e dos governos estaduais e municipais e concluiu: “Estamos chamando a atenção para o fato de que, nessas circunstâncias, a sobrevida de pequenas empresas, de pequenas livrarias, nesse caso, têm os dias contados se não houver mecanismos de apoio efetivo para que essas empresas possam recuperar seus capitais de giro”.
Já Vitor Tavares, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL) disse que a entidade já está em ação e encaminhou ofícios ao ministro Paulo Guedes, ao presidente da Caixa Econômica Federal e à secretária Regina Duarte, da Cultura. “É um momento bastante complicado. Estamos trabalhando muito forte para encontrar caminhos e levar sugestões a todas as esferas de governo e fazer com que a gente sofra um pouco menos em face a esse período difícil”, disse.
Ouvimos também alguns livreiros. Um deles foi Marcus Telles, da Leitura. Ele disse que já registra queda de 40% nas vendas e isso deve piorar nos próximos dias. “Possivelmente em abril, todas as lojas estarão fechadas. A Leitura mantém uma reserva financeira. Caso o isolamento dure mais de 60 dias, teremos que nos preparar financeiramente para enfrentar essa crise que deve durar até junho. Vamos renegociar os aluguéis, fazer bancos de horas, renegociar alguns prazos, diminuir despesas e compras e algumas lojas novas podem atrasar. Podemos até adiantar cartão de crédito. Nossa prioridade é manter nossa equipe e as contas em ordem”, disse.
Ouvimos também Daniel Lousada, da Leonardo DaVinvi. Ele contou que criou o Cartão Quarentena, um cartão presente nos valores de R$ 150, R$ 300 e R$ 500, que podem ser utilizados por tempo indeterminado. A livraria também se prepara, oferecendo entregas em domicílio ou por Correios, caso o cliente esteja fora do Rio de Janeiro.
O programa trouxe ainda áudios de Otávio Costa, da Companhia das Letras, Fabiano Curi, da Carambaia e Paulo Lima, da L&PM. O Podcast do PublishNews é um oferecimento da Metabooks, a mais completa e moderna plataforma de metadados para o mercado editorial brasileiro, da UmLivro, novo modelo de negócios para o mercado editorial: mais livros e mais vendas, e da Auti Books, dê ouvidos a sua imaginação, escute Audiobooks. Você também pode ouvir o programa pelo Spotify, iTunes, Google Podcasts, Overcast e YouTube.
O livreiro José Xavier Cortez é o convidado desta semana do PublishNews Entrevista, programa da PublishNewsTV que quer criar um arquivo da memória do mercado editorial brasileiro
No seu programa de número 50, o PublishNews Entrevista, programa da PublishNewsTV que tem criado um arquivo da memória do mercado editorial brasileiro, trouxe outro nome de peso: José Xavier Cortez.
Cortez largou o cabo da enxada, foi trabalhar em motores de navios da Marinha, sofreu o golpe do Golpe de 64, assistiu à morte dos companheiros de mar e muito longe de seu Rio Grande do Norte, ancorado na Zona Oeste de São Paulo, tornou-se um dos livreiros e editores mais admirados do país. Em sua conversa com André Argolo, ele contou a história de sua vida e começou a conversa com uma frase que define sua trajetória. “Naquele tempo eu cultivava a terra que produzia alimentos que nutriam o nosso corpo, hoje eu produzo livros que cultivam a nossa mente e a nossa alma e nos faz viver melhor. […] O livro, para mim, é o alimento da alma”, contou.
Cortez começou como livreiro e tornou-se editor, muito por conta da sua vontade de aprender novas coisas e enfrentar a censura. “Eu fui motivado por muitos professores […] Teve toda uma questão política que foi muito importante, eu vivi este tempo”, lembrou, comentando que até hoje busca se atualizar. “Hoje, nessa idade que estou, estou fazendo o curso Universidade Aberta à Maturidade, é maravilhoso”, disse orgulhoso.
Há 40 anos no mercado editorial, Cortez tem muitas histórias para contar e conselhos para dar. Ao ser perguntado que conselho daria para alguém que pensa em abrir uma livraria, ele foi enfático. “Eu acho que abrir uma livraria é mais do que um conselho, é uma benção. Porque você vai trabalhar com o produto que é o livro e você sabe que as pessoas que leem se apropriam daquele conhecimento e daquele significado. […] Entre vender um gole de cachaça para alguém, ou uma garrafa, ou um litro, ou seja lá o que for, e vender um livro, o que você acha que vai causar mais benefício à pessoa? Claro que é o livro!”, concluiu.
Na conversa, Cortez assumiu o seu lado otimista e falou ainda sobre sua vida, sua luta contra a censura, a importância de incentivar a leitura e as dificuldades enfrentadas pelo mercado editorial.
O PublishNews Entrevista é um oferecimento do #coisadelivreiro, consultoria em marketing e inteligência de negócios para o mercado editorial.
Ao alcançar 50 programas, reunimos todos em um só vídeo que celebra essa marca. Para assisti-lo, clique aqui.
Além de estar disponível no canal do PublishNews no YouTube, a entrevista com José Xavier Cortez está disponível em áudio também pelas plataformas digitais: Spotify, iTunes, Google Podcasts e Overcast.
O objetivo é analisar o que as editoras estão produzindo e comercializando de forma digital, ou seja, pesquisa irá cobrir tanto e-books quanto audiolivros e suas diferentes formas de comercialização
A pesquisa tem por missão analisar anualmente os números registrados pelo mercado, dando um panorama dos livros físicos produzidos e comercializados no País. O que a pesquisa mostra é o PIB do livro impresso no Brasil, dando uma cifra que demonstra o tamanho desse mercado.
A notícia de agora é que o instituto de pesquisa vai ampliar a já consagrada Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro e criar um segundo estudo: a Pesquisa Conteúdo Digital do Setor Editorial Brasileiro.
Em 2017, ainda sob a batuta da Fipe, foi realizado o Censo do Livro Digital, que buscou responder a pergunta: “qual a importância dos livros digitais no setor editorial brasileiro?”. O estudo apontou na época que dois terços das editoras não investiam em livros digitais e que esse formato perfazia apenas 1,09% do faturamento total do setor. Esse número apresentado pela Fipe na época era bem menor do que a estimativa mais pessimista do mercado.
Agora, o novo estudo, que deverá ter periodicidade anual e tem como base os dados de 2019, prevê ampliar um pouco o seu escopo, indo além dos e-books vendidos de forma mais tradicional. Segundo a Nielsen, o objetivo agora é analisar o que as editoras estão produzindo e comercializando de forma digital, ou seja, a pesquisa irá cobrir tanto e-books quanto audiolivros e suas diferentes formas de comercialização.
O questionário entrou no ar nesta quinta-feira (12) e a Nielsen enviará um link exclusivo para cada editora. Basta clicar para abrir e começar o preenchimento. Cabe destacar que o questionário não precisa ser respondido de uma única vez, os dados já inseridos são salvos automaticamente e o usuário pode retomar de onde parou. O prazo para responder o questionário vai até o dia 31 de março.
Para mais informações, o editor pode escrever para Mariana Bueno pelo e-mail producao.vendas@nielsen.com. Os dois estudos – tanto a dos livros físicos quanto dos conteúdos digitais – serão realizadas pela Nielsen a pedido da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).
A Editora da Unicamp já vendeu inúmeros livros e, atualmente, mantém em seu catálogo 500 títulos disponíveis para compra. Porém, muito mais do que comercializar obras, ela tem como objetivo principal compartilhar conhecimento e incentivar a leitura em todos os espaços. Por esse motivo, lançou a campanha de doação de livros para instituições do Estado de São Paulo, que tem como propósito difundir produções intelectuais de qualidade, tornando obras de cunho técnico, artístico e científico acessíveis a públicos diversos.
De acordo com a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, realizada pelo Instituto Pró Livro (2016), a média anual de livros lidos pelos brasileiros entre 2011 e 2015 foi de apenas 4,96 e, destes, somente 2,43 foram lidos do começo ao fim. Além disso, os dados mostraram que 44% da população ainda não possuía o hábito de leitura e 30% nunca havia comprado um livro. Tais números não só evidenciaram a necessidade de ações de estímulo à leitura, como também revelaram a importância de disponibilizar para a população um acervo com conteúdo atrativo e útil, sem a necessidade de gastar dinheiro.
Pensando nisso, foi criada a campanha de doação da Editora da Unicamp. A fim de entregar para cada público títulos que abordem assuntos relacionados aos seus interesses, foram organizados três lotes. O lote A, destinado a bibliotecas de escolas de Ensino Médio, traz títulos como O demônio familiar, de José de Alencar e O futuro, de Machado de Assis. O lote B, reservado a bibliotecas não especializadas, contém obras como Gramática do português falado, de Ataliba Castilho e Saúde reprodutiva na esfera pública e política, de Maria Coleta Oliveira. O lote C indicado para bibliotecas universitárias é composto por livros como Por uma arquitetura dos espaços abertos, de Flávia Brito Garboggini, e Tópicos em termodinâmica estatística e processos dissipativos, de Roberto Luzzi.
Outro aspecto que destaca a ação promovida pela Editora é a escolha das instituições que poderão receber a doação dos livros: bibliotecas públicas municipais, de escolas, de universidades, de presídios, de organizações não governamentais sem fins lucrativos, exclusivamente do estado de São Paulo.
Bibliotecas públicas
Por serem um ambiente fundamental na trajetória de qualquer cidadão, ações para a promoção das bibliotecas são sempre bem-vindas, especialmente quando as tornam um espaço mais atrativo para as pessoas.
ONGs
Por desenvolverem projetos que estimulam a leitura, principalmente, para grupos socialmente desfavorecidos, tais instituições merecem todo apoio.
Presídios
Além de contribuir para a diminuição da pena dos detentos, o programa de incentivo à leitura, desenvolvido dentro das penitenciárias, dá oportunidade para o indivíduo enxergar sua situação e seu futuro na sociedade a partir de uma nova perspectiva. A qualidade e o conteúdo dos livros adotados são fatores fundamentais para o êxito do projeto.
Ficou interessado na campanha? Confira o edital completo, conheça todas as informações e a relação de títulos designados para cada lote. E atenção: as solicitações serão recebidas somente até 16 de maio de 2020.
Agência Literária Casa Poética será inaugurada neste sábado (07) e já nasce agenciando nomes como Rodrigo Ciríaco, Dinha e Mariana Felix
No próximo sábado (07), o escritor Rodrigo Ciríaco comanda a inauguração da Casa Poética (Rua Miguel Rachid, 611), um espaço cultural erguido em Ermelino Matarazzo, na Zona Leste de capital paulista. O espaço quer ser um centro de referência para o livro, leitura, literatura e poesia na região e vai abrigar uma biblioteca e será palco de cursos, saraus, slams e encontros literários.
Mas mais do que isso. É sob esse teto que será erguida a Agência Literária Casa Poética, voltada exclusivamente para autores periféricos. A proposta é fortalecer o trabalho destes artistas que muitas vezes não encontram reverberação de seu trabalho em consultorias e agências existentes. Além de Rodrigo (na foto ao lado), outros 15 artistas farão parte do casting da agência. Entre eles estão: Dinha, Lucas Afonso, Mariana Felix, Cleyton Mendes e Jô Freitas.
Rodrigo explicou ao PublishNews que, nesse primeiro momento, a Agência vai funcionar como uma consultoria comercial e produtora executiva e artística dos autores, ajudando na divulgação. “São pessoas que tem um trabalho artístico já consolidado, mas têm dificuldades, por exemplo, em manter um portfólio atualizado ou em ter uma boa foto de divulgação. Queremos ajudar nesse aspecto”, explicou ao PublishNews. O meio de campo com editoras comerciais também está no horizonte da Casa Poética, adiantou Ciríaco. “Vamos sempre respeitar o interesse de cada agenciado. Vamos ver qual é a demanda de cada um. Se for por uma editora mais comercial, vamos fazer a ponte. Se não, vamos ajudar para que eles possam ter livros mais bem-finalizados”, disse.
Para marcar a inauguração da Casa Poética no sábado, a partir das 15h, acontece o bate-papo Literatura e Direitos Humanos, que reunirá Ferréz, Marcelino Freire, Bel Santos Mayer, Binho e Suzi, José Castilho e Márcio Black. As 17h tem início o Sarau dos Mesquiteiros, conduzido por jovens e adolescentes do território, encerrando as 18h com show poético-musical com Mariana Felix, Lika Rosa e Patrícia Meira.
Em seu artigo, Nando Tavares explica como os sistemas automatizados podem ajudar os editores e como utilizá-los da melhor maneira possível
Texto por Fernando Tavares
Não se engane. Inteligência Artificial (IA) não é apenas mais um buzz word. Ela chegou para ficar e está transformando o modo como nos relacionamos com as informações. Textos e falas são fontes de dados e o mundo editorial precisa entender como utilizar esta tecnologia.
Como você está se preparando para isto?
Talvez o título correto deste post deveria ser: o que os editores podem fazer com a Inteligência Artificial. Isto porque ela não é um monstro e nem uma entidade que vive por si só (ao contrário do que a literatura de ficção nos ensinou!) mas é sim, uma ferramenta tecnológica, como tantas que já possuímos e outras que irão surgir. O diferencial é que ela pode nos ajudar com aquelas tarefas, chatas e repetitivas, que roubam nosso tempo e criatividade. Ela facilita nossas vidas e é capaz de trazer insights úteis analisando uma quantidade imensa de dados (o tal big data). Estas informações nos ajudam a entender tendências, comportamentos, organizar dados e entender melhor o mundo ao redor de nós de uma forma que não conseguiríamos fazer sem ela.
Então, Inteligência Artificial não é um botão mágico que resolve tudo. É uma área de estudo; um software; um programa; uma ferramenta que nos ajuda a trabalhar melhor.
Mas afinal, o que entendo por inteligência artificial? Existem muitas definições, mas a minha preferida é a que afirma que a Inteligência Artificial é a teoria que estuda e desenvolve sistemas computadorizados, capazes de executar tarefas que normalmente requerem uma inteligência humana, como por exemplo percepção visual, reconhecimento de fala, tradução, decisões e compreensão de texto.
Outra definição bem semelhante é a de Richard Bellman que em 1978, definia a Inteligência artificial como: Automatização de atividades que associamos ao pensamento humano, como a tomada de decisões, a resolução de problemas, o aprendizado. (Bellman, 1978)
Em geral é fácil confundir Inteligência Artificial com Aprendizagem de Máquina (Machine Learn). Esta última é na realidade uma sub-área da Inteligência Artificial, e se caracteriza por ser o estudo de algoritmos e modelos estatísticos que sistemas computadorizados utilizam para realizar uma tarefa específica sem instruções explícitas, baseando-se em padrões.
O tema é bem amplo, mas vou simplificar focando em apenas uma área da Inteligência Artificial (IA) que pode impactar muito o mercado editorial: a NLP (Natural Language Processing) ou em português Processamento de linguagem Natural (PLN).
Esta é a área da IA que estuda sobre a habilidade do computador de entender, analisar, manipular e potencialmente criar linguagem humana. Portanto, tem tudo a ver a com manipulação, análise, compreensão e criação de livros.
Sei que para um editor/autor a primeira coisa que vem em mente é a ideia de que o computador irá substituir o autor, ou algo assim, mas não é este o foco principal do Processamento de Linguagem Natural (NLP). Como já falei, ele é um modo de extrair informações de texto, manipular formatos, e sim, até criar informações textuais que nos ajudem em tarefas práticas.
Chatbots
O Processamento de Linguagem Natural pode ser utilizado para criar chatbots “inteligentes” que ajudam no atendimento, 24 horas por dia, das demandas dos clientes/leitores. É uma tecnologia utilizada por muitas empresas, quem nunca recebeu um telefonema de um robozinho cobrando ou pedindo informações?
Estes softwares (ao menos os mais sofisticados), utilizam o Processamento de Linguagem Natural para analisar as frases e encontrar as respostas mais adequadas. É um campo em constante desenvolvimento e que irá fazer ainda muitos progressos. Existem muitas pesquisas na área, como por exemplo, algumas dedicadas a ensinar o computador a entender ironia em textos. Apesar dos progressos, a linguagem humana é muito complexa e ainda os resultados não são dos mais brilhantes.
Porém, quando bem construídos os resultados de um chatbot são muito bons: a título de exemplo basta citar o Alexa, ou o Google Assistant.
Um chatbot pode, por exemplo, ajudar no marketing da editora. Na realidade esta é a área onde são mais utilizados atualmente. Não faltam sites que ajudam você a criar o seu próprio chatbot sem conhecer linguagem de programação.
Um bom chatbot pode interagir com os fãs de um livro ou de um autor, levando informações úteis e inteligentes em tempo real. É possível inclusive criar chatbots que permitam conversar diretamente com os personagens de uma série, de um livro ou criar uma narrativa interativa como a proposta pelo Authorbot. Enfim, são ferramentas úteis no trabalho de divulgação e engajamento com o público leitor.
Obvio, não existe milagre, portanto estes chatbots precisam ser bem construídos, com um bom planejamento, dedicação e tempo.
Metadados e análise de textos
A chave para que um livro seja descoberto no mundo on-line, são os metadados e todo editor sabe o quanto é importante manter atualizadas estas informações. Sabemos também da dificuldade em fazer isto, data necessidade de empresas especializadas, como a Metabooks e outras.
Neste âmbito um algoritmo de inteligência artificial pode analisar o texto e gerar automaticamente as melhores tags, ou aquelas que melhor atingem a audiência desejada. Inclusive é possível fazer com que o computador classifique automaticamente o texto e te ajude a encontrar a melhor categoria BISAC ou Thema para o livro.
A análise de texto, em especial a chamada análise de sentimentos, pode ser aplicada na classificação dos reviews dos livros, nos comentários deixados pelos leitores ou nos tweets postados, trazendo assim dados sobre os temas mais comentados no momento, ou sobre os sentimentos que estão sendo suscitados por um título/livro/temática. A análise destes comentários pode ser feita em minutos enquanto a leitura por um humano levaria muito, muito mais tempo (e paciência).
Ainda dentro da área de classificação de textos, grandes editoras recebem continuamente manuscritos de autores novos e a maioria deles não são lidos. Um sistema de Inteligência Artificial pode analisar estes manuscritos e descartar logo de início os que tenham plágio, sejam mal escritos (tecnicamente falando) ou não correspondam à linha editorial da editora. É possível comparar os textos com as tendências do momento indicando os que tem mais chances de ter sucesso nas vendas.
No setor de transformação de texto em fala, e portanto relacionada a livros acessíveis e audiobook, não podemos deixar de observar o quanto a Inteligência Artificial tem feito. Hoje utilizando um serviço como o Amazon Polly ou o Google Voice é possível ter a leitura de modo quase perfeito. Ah, uma curiosidade sobre chatbot que falam: quando você conversa com o teu assistente Google (ou Alexa, ou Siri), o computador transforma a tua voz em texto, analisa o texto e devolve a resposta em texto, que por sua vez é convertida em voz novamente.
Produção e automação
Esta é área pela qual mais me interesso. Neste campo a IA pode realmente fazer a diferença, sobretudo melhorando a qualidade técnica da produção dos livros.
A maior parte do processo de diagramação de um livro impresso ou de conversão para livros digitais, pode ser automatizada de modo eficiente, deixando para o diagramador somente o trabalho criativo. Quem nunca se deparou com o imenso trabalho repetitivo, de ter que importar para o InDesign um documento Word e aplicar manualmente a formação para depois ter que recomeçar o trabalho por algum erro ou troca de arquivo por parte do editor/autor? E se este processo tedioso fosse feito de modo automático, deixando para o diagramador/designer apenas o trabalho de criar um design significativo?
Melhorar o fluxo de produção é uma tarefa importante neste mercado, sempre mais competitivo e que está mudando rapidamente. É muito custoso produzir livros sem um fluxo de produção claro e eficiente. Editores, designers, diagramadores e autores: vamos trabalhar nisso.
Precisamos desfrutar as ferramentas que já possuímos e criar novas que utilizem os novos recursos tecnológicos para otimizar o trabalho editorial. Empresas estão investindo com iniciativas neste sentido não apenas na questão da produção, mas também na inovação que o mercado editorial pode oferecer utilizando os recursos de Inteligência Artificial.
A utilização de Machine Learn e de Inteligência Artificial na produção de livros digitais e/ou no processo editorial como um todo é uma tendência que vem crescendo no exterior. Inclusive alguns eventos estão abordando o tema como o Tech Forum, o EDRLAb, a Feira de Frankfurt.
O que tenho observado aqui no Brasil é que neste percurso de utilização de sistemas mais automatizados precisamos antes de mais nada criar e implantar uma cultura de processo de produção e uma cultura mais colaborativa entre as equipes, porque ao contrário do que todo mundo imagina, a Inteligência Artificial não vai roubar empregos. Existe uma grande falta de mão de obra qualificada e, em muitos casos as empresas não conseguem qualificar as próprias equipes. Mas este é tema para outra conversa.
Seja no lugar de escritor, ou do leitor, nomes locais e nacionais observam os rumos e a adaptação ao suporte literário
Texto por Felipe Gurgel
O Kindle, da Amazon, é uma das tecnologias difundidas no Brasil para a leitura no suporte digital
O romance “A Sombra de um outro Mundo” (ficção científica), e-book da escritora cearense Mylena Araújo (28), já alcançou mais de 30 mil visualizações. Desde que começou a publicar nas plataformas digitais há quatro anos, ela comemora a possibilidade de interagir com os leitores em tempo real. Na sequência dessa publicação, surgiram o miniconto “Tereza” e a série de contos macabros “Lugar Nenhum”.
Habituada à plataforma de autopublicação doWattpad, Mylena, contudo, não tem, como leitora, preferência entre livros digitais e físicos. Para a autora, existe uma complementariedade de ambos os formatos. “Não há uma versão melhor que a outra. Cada uma oferece aquilo de que o leitor necessita”, identifica.
A exemplo de Mylena, o autor L.M Ariviello (nome artístico do cearense Manoel Oliveira) costuma publicar seus textos no Wattpad. O segundo livro, “A Herdeira de Hélzius”, está disponível em versão impressa e digital. Com o e-book, Ariviello admite que a recepção da obra ainda é tímida. “Apesar de muita gente ler no formato digital hoje em dia, eu percebo certa resistência. Muitos leitores são tradicionais e preferem o livro físico mesmo”, destaca ele.
Legenda: Mylena Araújo conquistou seu público leitor pela ferramenta digital de autopublicação do Wattpad Foto: Foto: Alexandre de Almeida
Segundo Alexandre Munhoz, gerente de Kindle no Brasil, os leitores passam a ler mais, quando adotam o livro digital. “E não necessariamente trocam um suporte pelo outro. Não vemos uma disputa (entre digital e impresso)”, reflete.
Vencedora do 4º Prêmio Kindle de Literatura com a obra “Dias Vazios”, a psicóloga e escritora carioca Bárbara Nonato acrescenta que muitos leitores ainda veem os livros digitais como “aperitivos” da versão impressa. Além de R$ 30 mil pelo prêmio da Amazon, ela ganhou a oportunidade de publicar seu novo livro no papel, por meio da Editora Nova Fronteira.
“Quando comecei a escrever, meu primeiro livro saiu impresso. Depois publiquei outros só no digital, e alguns leitores falavam ‘ah, quando sair impresso eu compro’. Hoje, vejo que tudo está mais amplo nesse sentido. Muita gente tem se adaptado à leitura digital”, observa a autora.
Grandeza
Para Angela Gutierrez, presidente da Academia Cearense de Letras, a grandeza de uma obra literária não se perde à medida que o leitor troca de suporte. “Machado de Assis continuará a ser um escritor extraordinário se sua obra for lida em um e-book. Mas leio pouco em suporte digital. Desde criança, me afeiçoei ao livro de papel. O prazer da leitura vem, claro, da qualidade intrínseca da obra, mas, algumas vezes, pode ser intensificado por certos paratextos que a apresentam”, conta a escritora.
Vencedor do prêmio Jabuti de Literatura em duas categorias, em 2018, o cearense Mailson Furtado chama atenção para a predominância de um “nicho” formado por leitores jovens no ambiente digital.
Segundo o autor de “À Cidade”, esse público “lê principalmente prosa, em sua grande maioria títulos categorizados como ‘young adults’, em suas diversas vertentes: fantasia, ficção científica, terror”, detalha. Mailson enfatiza que disponibilizar sua obra no formato digital ajudou-lhe a alcançar um público distinto do leitor do livro impresso.
Em 2011, a escritora cearense Julie Oliveira publicou uma “versão animada” de seu livro infantil, “Brincando com Matemática”, pela Conhecimento Editora, empresa na qual trabalhou como sócio-editora. A publicação saiu nos primórdios do livro digital no Brasil e, tanto sua concepção, como a recepção dos leitores, ganhou ares de experimentação.
Legenda: A escritora cearense Julie Oliveira teve experiência de produzir um e-book ainda antes da chegada da Amazon no mercado brasileiro Foto: Foto: Isanelle Nascimento
“Além disso, a editora não tinha muitos conhecimentos sobre esse mercado, tampouco recursos de investimento/marketing em torno desses suportes. Lembro que, curiosamente, os retornos de leitores que recebemos foram todos de pessoas sediadas em outros países. Pra mim, representou na época uma possibilidade de expandir as fronteiras a partir desses ‘novos formatos’”, reflete Julie.
Distinção
Os autores são unânimes em sinalizar como o livro impresso tem seu espaço consolidado no mercado livreiro (apesar da atual crise das livrarias) e apelos bem distintos em relação ao e-book. Sobre os pontos a favor da aquisição do suporte de leitura digital, dois dos itens mais sensíveis são a portabilidade e a questão do impacto ambiental.
“A vantagem principal seria a portabilidade, em um mundo cada vez mais fluído em tempo-espaço, isso conta demais. Entre outras, citaria, a depender dos dispositivos, a interação que se tem com o próprio texto, os hiperlinks, e por vezes até o contato direto com o autor”, elenca Mailson.
Ariviello se diz do “time que defende os e-books”, mesmo sem ter tido uma boa experiência quanto à formação de leitores via suporte digital. “Acho que eles são o futuro. É uma forma mais politicamente correta, não destrói o meio ambiente para criar papel. No Wattpad, você pode ter contato com outras pessoas que estão lendo aquele mesmo livro”, conta o autor cearense.
Legenda: L.M Ariviello observa como boa parte dos leitores ainda é muito fiel ao livro impresso Foto: Foto: Isanelle Nascimento
Rapidez
Julie Oliveira destaca como o e-book favorece a pesquisa de trechos específicos da obra, a interação com o acesso ao significado das palavras e links similares. E reforça a praticidade de armazenamento das obras e para carregar consigo os dispositivos.
“Esse é um ponto extraordinário, nesses tempos de malas que ‘tem que ser leves’. Além da quantidade de ‘autores independentes’ que tem se autopublicado e utilizado esses mecanismos para distribuição de suas obras”, acrescenta a escritora.
Legenda: Mailson Furtado destaca a presença de leitores jovens no “nicho” dos suportes de leitura digital Foto: Foto: Helene Santos
Mailson Furtado complementa como a acolhida de todos os formatos é um caminho espontâneo para o autor encontrar seus leitores. “Creio que o escritor deve estar onde existam leitores, não podemos negar qualquer que seja o formato. Afinal, a literatura ali está”, observa.
Hace ya más de diez años que el libro electrónico llegó al mercado y, sin embargo, su tasa de penetración sigue siendo muy reducida. Por alguna razón, no acabamos de aceptar desprendernos del tacto del papel y de la lectura a través de un objeto físico, con sus páginas y su portada.
Diversas son las razones para esto. Una encuesta a lectores realizada por We are testers, arrojó como principales factores de rechazo a los soportes digitales la costumbre y la inercia que tenemos de leer en medios tradicionales. Casi la mitad de los encuestados que prefieren el papel afirman que así disfrutan más del libro, y más de la quinta parte de los mismos, reconoce que les resulta difícil cambiar sus usos y costumbres de lectura.
Otro trabajo de campo realizado por la Universidad de Arizona, citado por la revista Futurity, aporta más luz sobre este tema. Un resultado muy curioso que aflora de él es que los participantes de los focus groups afirman no tener la sensación de propiedad completa sobre un libro digital, por ejemplo, al no poder copiar el archivo para poder leerlo en distintos dispositivos. A diferencia del libro publicado en papel, el electrónico no se puede prestar, regalar o revender, factores que limitan su valor, a juicio de los encuestados.
Un aspecto interesante que plantea es la relación sentimental que establecemos con el libro físico, que a menudo nos ayuda a expresar nuestra identidad. Los libros presentes en las estanterías de las casas dicen mucho sobre la personalidad y las inclinaciones del morador.
El formato papel nos llega a más sentidos que la vista. El olor de la tinta de un libro nuevo o el tacto de las páginas, establecen una experiencia sensorial que va más allá del mero texto, y esto es algo que el soporte digital no aporta.
Muchos de los participantes en el estudio afirmaron que al adquirir un ebook tienen la sensación de estar alquilándolo más que comprándolo. No genera sensación de propiedad.
Posiblemente, las cifras de ventas de lectores para libros electrónicos hayan crecido más llevadas por el impulso caprichoso de tener el último grito en tecnología, que por una necesidad real de los usuarios. Una de las principales críticas del sector editorial a este soporte es que no aporta prácticamente nada nuevo a la experiencia lectora; sus ventajas se reducen a que los títulos digitales son más baratos que los físicos y que se pueden almacenar muchos libros dentro del espacio reducido del dispositivo. Pero poco más.
Uno de los caminos que tiene el sector editorial para adaptarse al mundo digital es seguir los pasos de la música y el audiovisual, y crear plataformas de streaming de libros. De esta forma, igual que ocurre en Spotify y Netflix, el usuario paga una tarifa plana y tiene acceso a un voluminoso catálogo de títulos, que puede leer, pero no poseer.
Ya existen experiencias de bibliotecas digitales en este sentido, como Nubico, 24Symbols, Kindle Unlimited, o la que ha creado la startup española Odilo. Y, sin embargo, el mundo del libro presenta rasgos específicos que obstaculizan, de alguna forma, la posibilidad de ofrecer las obras como un servicio streaming.
Por una parte, resultaría muy difícil establecer un servicio gratuito sostenido con publicidad, como tiene Spotify. Aunque el consumidor de música acepta las interrupciones publicitarias como algo inevitable para poder disfrutar la gratuidad, sería impensable para muchos lectores el aceptar ser interpelados por anuncios durante la lectura.
El otro factor es que la industria editorial resiste y no ha vendido todavía sus catálogos en masa a las plataformas de streaming, a diferencia de las empresas de audiovisual, que han claudicado hace tiempo.
Em sua coluna, Mike Shatzkin analisa e fenômeno e conclui que, nos EUA, livrarias independentes estão substituindo a parte restante da demanda que costumava ser fornecida pelas grandes redes de lojas
Meu primeiro trabalho de verdade foi em uma livraria, na área de vendas do novíssimo departamento de paperbacks na Brentano, que ficava na 5ª Avenida, em Nova York, no verão de 1962. Adorava aquele lugar; adorava aquele trabalho; e sempre fui apaixonado por livrarias. Mas, deixando de lado o romantismo, a verdade é que os livros são um produto que é melhor comprar on-line do que em uma loja. Por muitas razões.Primeiro de tudo, você precisa encontrar o que quer. Uma livraria on-line pode oferecer 15 milhões de títulos aproximadamente. Uma livraria física oferece não mais do que 0,5% desse universo (que seriam 75 mil títulos) e a maioria possui muito menos que isso. Quando a Amazon começou, havia mais de meio milhão de títulos possíveis e muitas super livrarias tinham 20% a 30% deles (mais de 100 mil títulos). E mesmo assim, antes que os números tivessem mudado tanto, Jeff Bezos viu que os livros eram o melhor lugar para começar para um varejista de Internet.
Assim, as chances de encontrar qualquer livro em particular em uma loja mudaram de razoável para minúscula. Além disso, os livros são pesados; portanto, se você for a algum lugar depois da livraria, carregar uma compra pode ser incômodo. E quantas vezes você “precisa” do próximo livro agora, em vez de poder esperar por um ou dois dias? (Se você precisar agora, é melhor ter muita sorte no que está procurando e na loja que está indo).
A questão é que a compra de livros, pelo menos para leitura pessoal (livros para presentes e livros com muita ilustração são diferentes, mas representam uma fatia menor do total de vendas) foram transferidas das livrarias físicas para as on-line por razões convincentes, e não há razão para achar que isso não vai continuar. É difícil ver a venda física de livros como um negócio em crescimento.
Mas de fato, nos EUA, o número de livrarias independentes vem crescendo na última década. Esta tem sido uma verdadeira causa de comemoração em muitos setores. As editoras certamente estão felizes por ver alguns pontos adicionais de estoque surgindo.
Por que isso acontece? O professor da Harvard Business School Ryan Raffaelli formulou uma resposta baseando-se em seus “3 Cs”: “Comunidade”, “Curadoria” e “Convocação”. Com isso, ele quer dizer que as livrarias possuem uma função de “comunidade”, seus proprietários realizam um serviço de “curadoria” ao selecionar a seleção de livros, e oferecem a oportunidade de pessoas com ideias semelhantes se reunirem em torno de uma busca de informações ou um objetivo. Ele chama tudo isso de “identidade coletiva”. E diz para não olharmos para a lucratividade dessas lojas; o fato de estarem crescendo em termos de números, ele acredita, constitui o indicador importante.
Mais alguém vê uma congruência notável entre essa visão das livrarias e a que sempre foi a função das bibliotecas?
Não sou acadêmico e não tenho muito a oferecer, a não ser observações para justificar qualquer análise apresentada. E posso concordar que os “3 Cs” são boas bases para qualquer proprietário de livraria ter em mente na criação de seus negócios. Mas não posso concordar que esta seja a explicação para o número crescente de livrarias.
Meu candidato à “razão mais importante para as livrarias independentes crescerem em número” é um “F”. É “Fechamento”. Com isso, quero dizer o “fechamento” da rede Borders em 2009, quase exatamente o ano em que começou o ressurgimento das independentes, rastreado pelo número de lojas ativas.
Quando várias centenas de lojas da Borders fecharam ao mesmo tempo, a redução do espaço nas prateleiras ficou acima da demanda em declínio por livrarias. Mesmo no mercado de livrarias de 2010, reduzido como estava por duas décadas de Amazon e e-books, havia muitas pessoas atendidas pelas Borders que ainda não tinham feito a mudança completa de comprar todos os seus livros on-line. Isso pode ter significado o fim de 30% ou mais do espaço existente nas prateleiras das livrarias. A Borders não representava 30% das lojas, mas todas eram muito grandes.
Assim, as independentes aproveitaram uma oportunidade. Alguém mais esperto do que eu deveria olhar para onde estão as independentes e onde estavam as Borders e aposto que verão uma correlação. Se também pudessem sobrepor as lojas fechadas da Barnes & Noble e as que tiveram seu estoque de livros reduzido drasticamente, provavelmente encontrariam mais exemplos de substituição. Livrarias independentes estão substituindo a parte restante da demanda que costumava ser fornecida pelas grandes redes de lojas.
Provavelmente, também existe um outro fator em jogo – e não é novo – por trás do recente aumento no número de independentes. Para ser consistente, vamos rotular este de “compromisso”. Todas essas livrarias independentes são criadas e administradas por empreendedores que, provavelmente, tinham uma carreira fazendo outra coisa antes de começarem sua livraria. Vou adivinhar, sem dados de apoio, que muitos desses proprietários de livrarias poderiam estar ganhando mais dinheiro fazendo outra coisa. Mas as recompensas psíquicas de possuir e administrar uma livraria, incluindo a atração de gerenciar os 3 primeiros “C”, são suficientes para atrair pessoas capazes de se comprometer em possuir e administrar uma, em vez de gastar o tempo fazendo algo em que poderiam ganhar mais dinheiro.
Sempre foi verdade que vender livros é um trabalho de amor para muitas pessoas. Atualmente, porém, a rede de varejo de livros depende mais do que anos atrás dessa motivação para manter seu acesso físico aos consumidores de livros.
A pesquisa usou como parâmetro de análise do mercado editorial brasileiro a publicação de livros por parte dos youtubers
Texto por Redação com UFMS
Livros de youtubers expostos na livraria – Foto: Reprodução/Internet
Há muito, a internet assumiu forte papel influenciador em diversas áreas do conhecimento e comportamentais e não está sendo diferente com relação ao hábito de leitura das crianças e adolescentes.
Uma das questões levantadas é com relação à influência dos youtubers no hábito de leitura desse público infanto-juvenil, principalmente os receptores de seus vídeos e posteriores consumidores de suas obras editoriais.
No Campus do Pantanal (Cpan), a professora do curso de Letras, Carina Marques Duarte coordena a pesquisa “A massificação da literatura infantil concomitante ao avanço das mídias digitais, avanços e retrocessos”, da qual participa a acadêmica Emília Souza Arrua, idealizadora do projeto de iniciação científica.
“O projeto surgiu a partir uma grande reflexão realizada após a leitura do livro “A aventura do livro do leitor ao navegador” (1998), de Roger Chartier. Desde a publicação desta obra o cenário global passou por inúmeras mudanças, nem sempre positivas. Em um mundo “conectado”, a facilidade de acesso à informação e à diversidade de conteúdos disponíveis não avaliza a qualidade dos referidos conteúdos”, explica Carina.
Iniciada em agosto de 2019, a pesquisa baseou-se na aplicação de questionários a 20 crianças de uma escola pública e 20 crianças de uma escola particular de Corumbá. O projeto teve o apoio das coordenações pedagógicas das escolas.
A proposta é que os questionamentos apontem se as crianças têm o hábito da leitura, que obras costumam ler e se acessam os conteúdos digitais, especialmente aqueles produzidos por youtubers. Atualmente, a pesquisa está na fase de observação dos dados obtidos nos questionários e elaboração do database.
“Já é possível a constatação de alguns resultados, que, por sua vez, acarretaram grandes surpresas após a análise dos questionários. Em suma, foi constatado que os alunos da rede estadual leem mais livros clássicos que os alunos da rede privada, além de demonstrarem maior interesse pela leitura”, expõe a coordenadora.
Livros
A pesquisa usou como parâmetro de análise do mercado editorial brasileiro a publicação de livros por parte dos youtubers, que, cada vez mais, ocupam o cenário literário, segundo a pesquisadora. Diante da grande quantidade de youtubers, a pesquisa focou o escritor Luccas Neto.
“Primeiramente, devemos pontuar que a influência dos youtubers sobre os jovens leitores é imensa. Uma criança de três anos (e este é apenas um exemplo), hoje, se coloca diante da televisão e quer assistir ao Luccas Neto. Em seguida, o seu objeto de desejo será o boneco do Luccas Neto. Por fim, o alvo do seu interesse será, também, o livro do youtuber. Portanto, os pequenos acabam se tornando consumidores das obras produzidas pelos youtubers”, aponta Carina.
A problemática levanta-se quanto à relevância desses livros, segundo a pesquisadora. “Se por um lado, apresentam jogos, passatempos e conteúdo educativo, por outro, não propiciam aos jovens leitores o contato qualificado com o universo fabulado, contato que, segundo Antonio Candido, é imprescindível. A experiência estética – decorrente da imersão nos textos de Andersen, dos Irmãos Grimm, de Marina Colassant e Ruth Rocha, por exemplo – está ausente da leitura dessas obras editoriais massificadas”, afirma.
Carina pontua que as obras produzidas por youtubers são sucessos de vendas, o que, entretanto, não significa que tenham sobre os leitores um efeito equivalente ao de um bom texto literário.
“Oportunamente, me vem à memória o escritor Mario Vargas Llosa, que, em 2010, ao receber o prêmio Nobel, afirmou que “um mundo sem literatura se transformaria num mundo sem desejos, sem ideais, sem desobediência, um mundo de autômatos privados daquilo que torna humano um ser humano: a capacidade de sair de si mesmo e de se transformar em outro, em outros, modelados pela argila dos nossos sonhos”. A literatura tem um alto potencial transformador, uma vez que aperfeiçoa a condição humana”, completa.
Quanto à influência de youreaders – que comentam sobre obras literárias diversas – a sua atuação será válida sempre que suscitar nos jovens o interesse pela boa literatura, acredita Carina.
“A leitura de um texto literário (que não é experimentada pela maioria das pessoas) nos “sequestra” do nosso mundo cotidiano, ao qual, em seguida, retornamos, mas de uma maneira inteiramente nova, enriquecidos pela experiência estética. A esta experiência, lembrando Antonio Candido, todos os indivíduos têm direito, e o nosso desafio, enquanto profissionais da área de Letras, é contribuir para que o acesso ao universo da leitura ocorra de forma qualificada e prolífica”, finaliza.
Cuando la escritora y librera Petra Hartlieb (Múnich, 1967) escribió estas líneas, ya era consciente de lo difícil que le resultada discernir entre su vida y su librería, entre ella y uno de los libros que vendía: “Una obsesión que solo se puede entender cuando una misma está poseída por ella”. En su libro Mi maravillosa librería, publicado por Periférica hace tres años, hay una librera que, cuando descansa, lee; que, cuando pasea, piensa en sus lecturas; que, con sus amigos, habla de libros. Es decir, una librera también es su librería. Y una librería es un desafío, como lo es pasar de los sueños a la realidad: entusiasmo, confianza, sacrificio, dedicación y tormento. “Trabajo, trabajo y más trabajo”, cuenta Hartlieb, escritora, lectora, librera, madre y pareja sobre su experiencia en “una librería [la suya, bautizada con su propio apellido, Hartlieb] pequeña, tradicional y de barrio que se convirtió en el núcleo indispensable de la vida en comunidad de una ciudad europea en el siglo XXI”.
El futuro de las librerías está en manos de las libreras, ¿por qué? Las mujeres representan casi el 60% de los empleados fijos del sector de las librerías. Así lo descubre por primera vez el estudio de la Confederación Española de Gremios y Asociaciones de Libreros (CEGAL), que ahonda sobre la salud de estos comercios. Este dato es llamativo comparado con los de empleo cultural en España, donde los porcentajes son inversos a los arrojados ahora: en 2018, el 39,1% de los trabajadores culturales fueron mujeres (casi 270.000 personas), y hombres, el 60,9% (420.000 personas).
Hay más libreras que libreros, porque hay más lectoras que lectores. El 67,2% de la población femenina española lee, frente al 56,2% de la población masculina. En total, hay once puntos porcentuales de diferencia entre ambos géneros. La diferencia se acentúa en el tramo de edad comprendido entre los 25 y 34 años, con 16 puntos de distancia: en esas edades ellas se reconocen lectoras en un 69,5% y ellos en un 53,6%. Y la distancia perdura hasta los 44 años. “Ellas no abandonan nunca la lectura. No es un dato anecdótico, es un problema grave. Que los hombres no lean en pleno avance de la misoginia es un problema”, asegura Miren Elorduy, dueña de la librería Mujeres y Compañía (Madrid).
“Ellas se piensan y se leen más que los hombres porque buscan su propia historia”, dice la librera Miren Elorduy
La brecha lectora entre los hombres y las mujeres es muy profunda en la adolescencia y siguientes años. ¿Alguna razón para ello? “Vivir en un sistema patriarcal te hace darte cuenta de las injusticias antes que los hombres”, apunta Elorduy. Las mujeres, dice, se piensan y se leen más que los hombres porque buscan su propia historia.
La lectura es “una actividad emocionante y estimulante”. Te hace “ser más feliz”. Eso es lo que piensan las lectoras y así lo refleja el último barómetro de la Federación de Gremios de Editores de España (FGEE). “Para tener cultura no hace falta leer libros”, esto es lo que piensan la mayoría de los hombres encuestados en el mismo estudio. “Hay otras actividades de ocio más entretenidas que leer”, insisten ellos en este informe.
Lo que no cuenta el estudio es que las mujeres han hecho de las librerías lugares de resistencia. Ahora son espacios de encuentro y conversación, de reflexión: “Estamos convencidas de que la lectura puede transformar”, cuenta la escritora Marta Sanz.
Durante años se ha considerado un territorio sin importancia, pero han sido las mujeres las que han hecho de estos espacios lugares dedicados al debate. Tanto Lola Larumbe (en Alberti, Madrid) como Alejandra de Diego (en Berbiriana, A Coruña) indican que han encontrado en los clubes de lectura un gusto por la conversación y el diálogo entre mujeres. Ellas son mayoría absoluta en estas actividades.
Un 67,2% de la población femenina española lee, frente a un 56,2% de ellos.
La nueva librería es un terreno colectivo abierto a las lógicas comunitarias propias de las mujeres. “Los hombres deberían aprender a crear estas redes de encuentro y solidaridad”, apunta Clara Ramas, filósofa y política —es integrante de la formación política Más Madrid—. Para ella es normal que haya más libreras, porque las mujeres son las que se han encargado del cuidado y de la transmisión del conocimiento a lo largo de la historia. Además, cree que en las librerías se trasciende el acto de compraventa. Un libro detiene el curso natural de los acontecimientos mercantiles.
“Estamos acostumbradas a inventarnos el mundo”, mantiene Pilar Eusamio. Esta facultad femenina de la que habla esta librera en Los Editores (Madrid) casa a la perfección con la habilidad de gestión de economías exiguas. En el estudio de CEGAL se especifica que la mitad de las librerías no alcanzan a facturar más de 90.000 euros anuales, lo cual las deja al límite de la supervivencia. En Madrid —segundo mercado nacional del libro tras Cataluña—, cada año cierran el doble de las que abren, según el recuento del Gremio de Libreros de la comunidad. El “sexo débil” tampoco existe en las librerías. Son espacios en los que toca mover cajas, escaparates, imaginar talleres, adaptarse a todas las labores… Y conciliar con la vida personal.
La de Petra Hartlieb es una vida de librera y escritora como las de Helene Hanff y Penelope Fitzgerald, que contaron en sus novelas 84 Charing Cross Road (Anagrama) y La librería (Impedimenta), respectivamente. Las tres escritoras retratan a mujeres soberanas, obsesionadas y apasionadas, protagonistas de historias con más esperanza que melancolía. Conchita Quirós, dueña del establecimiento Cervantes, en Oviedo, también lleva una librería dentro: “No me casé, pero la librería es mi novio, es mi amante y mi marido. Aquí he conocido a gente interesantísima”, asegura. Dice, orgullosa, que si volviera a nacer sería librera otra vez.
Las mujeres no solo leen más, sino que se forman más en lengua y literatura. Es el argumento que Consuelo Fociños, del equipo comercial de Planeta, exlibrera, aporta para explicar el gran número de mujeres en el sector. Las licenciadas en Filología son mayoría, “casi un 70%”. Una formación que puede culminar en una librería o en una carrera como autora.
Con todo, los datos que el ISBN ha mostrado por primera vez este año desvelan que las editoriales publican el doble de obras de hombres que de mujeres. En 2018 hubo 34.183 títulos de ellos frente a 17.801 de ellas. En la categoría de “creación literaria” (desde novela a poesía), ellos publicaron 9.370, y ellas, 5.227. Más lectoras y libreras que autoras.
Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil publica seu catálogo que reúne a produção de 65 criadores
Texto por Redação
A Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil (Aeilij) acaba de colocar à disposição a sétima edição do seu Anuário, referente à produção de 2019. Ao todo, o documento reúne capas, resenhas e informações gerais sobre 105 títulos produzidos por 65 criadores e publicados por 61 editoras. “É um material rico para pesquisa e referência da produção editorial da literatura infantil e juvenil brasileira, especialmente para educadores, livreiros, bibliotecas e centros culturais”, comentou Rosana Rios, presidente da Aeilij na apresentação do catálogo que ganhou ilustrações de Nireuda Longobardi. O volume traz ainda uma entrevista com Daniel Munduruku. Clique aqui para visualizar o catálogo ou aqui para imprimi-lo.
Ilustração do livro Onde Está Tomás?, de Micaela Chirif (Reprodução)
Quem circula por livrarias certamente já se deparou com livros para bebês. De plástico ou pano, eles normalmente se assemelham mais a um brinquedo ou são informativos: têm a função de apresentar animais, cores e números. Diferentemente do que acontece na Europa ou nos Estados Unidos, por aqui é difícil achar em meio às prateleiras literatura para esse público.
Daniela Padilha, fundadora da Editora Jujuba, percebeu a lacuna há cinco anos. Interessada em compreender o processo de mediação com leitores da chamada primeiríssima infância (0 a 3 anos), ela idealizou uma roda de leitura para pais e bebês. E, quando saiu em busca de livros literários, não encontrou. “Há muitos livros de pano, para banho, cartonado com barulho, textura, mas pouquíssima literatura, no sentido de ter história. Queria outra coisa. Acredito que esses outros assuntos podem aparecer, mas a narrativa tem de ser mais importante”, afirma Daniela.
A inquietação da editora deu origem à coleção Literatura de Colo que hoje tem cinco títulos. Do Reino Unido, Daniela trouxe Urso e Barco, de Cliff Wright; da Espanha, Azul, que tem roteiro de Meritxell Martí e ilustrações de Xavier Salomó; e do Chile, Onde Está Tomás?, escrito por Micaela Chirif e ilustrado por Leire Salaberria. Por ter um catálogo constituído prioritariamente por autores brasileiros, Daniela provocou escritores e ilustradores para que eles produzissem para esses novíssimos leitores. Da provocação nasceram O Que Tem Aí?, de Rosinha, e Bia e o Elefante, de Carolina Moreyra e Odilon Moraes.
Para formar a coleção, a editora se preocupou com a diversidade em múltiplos aspectos. Além de mesclar autores nacionais e estrangeiros, a coleção Literatura de Colo reúne texto em prosa e poesia, ilustrações com traços variados, livro imagem (em que a história é contada por meio de imagens) e livro ilustrado (em que texto verbal e imagens se relacionam na narrativa).
Todos são produzidos em papel cartão, mais resistente, têm bordas arredondadas e, claro, contam uma história. Para um leitor mais desavisado, O Que Tem Aí? pode ser um livro que simplesmente ensina os números. Mas é muito mais. Por meio de uma brincadeira de perguntas e respostas, Rosinha também apresenta, sem didatismo, animais e cores. O livro instiga o leitor a virar as páginas e desdobrá-las, descobrindo assim o próximo personagem, em um jogo poético de repetição.
Acostumada a levar a brincadeira para a literatura, Rosinha conta que nunca havia criado para leitores tão pequenos. Segundo a autora, o que mudou foi o tipo de pesquisa que desenvolveu para a criação, não a profundidade. “Procurei brincar mais para encontrar soluções ainda mais lúdicas, que foi o que eu pensei em especial para este livro.”
Assim como Rosinha, Odilon também nunca havia produzido para leitores tão pequenos. Para entender como se dá a comunicação, ele e Carolina resgataram e analisaram livros que gostam. “Foi um processo muito diferente. Do ponto de vista da ilustração, meus livros não têm personagens fortes – muitas vezes eles não têm nem rosto. Eles são quase a situação, o contexto. Desta vez pensei que precisava ser como a Eva Furnari, que cria personagens fortes.”
Os dois criaram a história da coelha Bia e seu amigo Elefante e, por meio deles, tecem jogos de opostos. Enquanto Bia é pequena e rápida, o Elefante é grande e lento. Na narrativa, a coelha funciona como o elemento adulto, mais racional, enquanto seu amigo faz as vezes da criança, que quer brincar mais, dorme mais cedo. “A coelha dá referências de civilização, é a voz dos pais; já o Elefante é selvagem. A criança vai se identificar com ele, mas terá um carinho por Bia”, diz Odilon.
A história estimula o mediador, seja pai, mãe, irmão mais velho ou professor, e ajuda no estabelecimento do vínculo afetivo. “É mais fácil para o adulto se envolver numa narrativa e, por meio da história, também conquistar o leitor bebê. É difícil mediar um livro quando só há elementos soltos”, diz Daniela.
Apesar de sucessivos revezes do mercado editorial brasileiro, há quem não enxergue crise. Otimistas do setor garantem que o Brasil nunca leu tanto, dando fôlego a inovações, como as autopublicações
Encontro de leitoras que assinam a TAG Inéditos, em 29 de junho, na Livraria do Comendador, em São Paulo.RODOLFO BORGES
Texto por Rodolfo Borges
O mercado editorial brasileiro lamentou neste ano um encolhimento de 25% desde 2006 ― e uma redução de faturamento de 4,5% em 2018, pelo quinto ano consecutivo. No ano passado, as editoras também registraram uma queda de 11% na produção de livros. O balanço reflete não apenas o resultado dacrise econômicapor que o país passou nos últimos anos, mas o ocaso das maiores redes de livrarias do país, cujos prejuízos se disseminaram pelas editoras. Em meio a demissões, fechamento de casas editoriais e pedidos de recuperação judicial de livrarias, contudo, ainda há quem trabalhe com livros no Brasil e garanta: não há crise nenhuma.
“O brasileiro nunca leu tanto”, assegura Ricardo Almeida, CEO do Clube de Autores, a maior plataforma de autopublicaçãoda América Latina. A empresa de apenas quatro funcionários cuida da publicação de cerca de 50.000 autores ― que são conectados por meio dessa plataforma com editores, revisores, designers, gráficas e livrarias ― e trabalha atualmente na elaboração de um algoritmo capaz de identificar potenciais best sellers antes mesmo da impressão. Para Almeida, a crise está no modelo de megastore, que levou Saraiva e Livraria Cultura a pedirem recuperação judicial em 2018 ― o Clube de Autores registrou crescimento de 30% em 2018.
Os dados do último Retratos da Leitura no Brasil corroboram a percepção de Almeida, que diz ver mais pessoas lendo na rua, no transporte público. A população leitora do país subiu de 50% para 56% entre 2011 e 2015, de acordo com o relatório mais recente (uma atualização do levantamento deve ser publicada em 2020), e a quantidade média de livros lidos por anos foi de 4 para 4,96. Os critérios para chegar a esses números, todavia, são frouxos. Para entrar na pesquisa, basta ter lido um trecho de um livro nos três meses anteriores à pesquisa; além disso, da média de 4,96, apenas 2,43 foram lidos até o fim, e 2,88 foram lidos por vontade própria.
De qualquer forma, o número de livros vendidos saltou de 318,6 milhões em 2006 para 352 milhões em 2018 (o preço médio dos livros caiu 34%). E se as grandes livrarias perdem espaço nas vendas ― a participação caiu de 53,11% em 2017 para 46,25% em 2018 ―, os clubes de leitura apareceram pela primeira vez na lista, com 1,08% do mercado no ano passado. O Brasil conta atualmente com dois milhões de assinantes de clubes de leitura, uma empreitada encabeçada pela TAG no país desde 2014. “A crise não é de leitor. É do mercado do livro”, diz Arthur Dambros, diretor de marketing da TAG, que fechou seu primeiro ano, em 2015, com apenas 100 assinantes e hoje conta com 45.000.
Clubes de leitura
Todo mês, cada uma dessas 45.000 pessoas, que pagam de 45,90 a 55,90 reais mensais. recebe uma caixa com livros, que pode conter um exemplar inédito, editado pela própria TAG, ou uma indicação de personalidades como Fernanda Montenegro ou o médico estrela Patch Adams, acompanhados de clássicos curtos e de um encarte com material para discussão. “Levamos um ano e meio até angariar os primeiros assinantes. O pessoal não entendia direito. Nunca tivemos investidor, ficamos um ano e meio dando prejuízo e com dificuldades para crescer, mas logo começamos a lucrar”, conta Dambros.
E o sucesso da TAG levou milhares de pessoas a se encontrar para debater textos literários. Ao descobrir que seus assinantes começaram a interagir, a empresa sediada em Porto Alegre desenvolveu um aplicativo para ajudar a promover os encontros. A gerente administrativa Carolina Bonfim, 31 anos, coordena um desses grupos em São Paulo e frequenta outro deles em Guarulhos. E mantém contato com assinantes de Campinas. É um perfil que se repete em quase todos os outros assinantes da TAG: participam de vários clubes de leitura ao mesmo tempo. “Eu lia quando criança. Recentemente percebi que estavam faltando palavras, eu estava defasada. Minha irmã assinava a TAG e me emprestou um livro. O capricho é muito grande. Assinei em novembro de 2017. Tem mês em que a gente lê cinco livros”, diz Carolina.
Assinantes do Clube de Leitura TAG Curadoria se reúnem em um café em São Paulo no dia 30 de junho de 2019.RODOLFO BORGES
No encontro promovido por ela em junho, em um Fran’s Café na região da avenida Paulista, o livro em pauta era Jude, o obscuro, de Thomas Hardy, indicado pela atriz Fernanda Montenegro. Doze assinantes da TAG se reuniram numa tarde de domingo, enquanto centenas de pessoas se mobilizavam do lado de fora do café em uma manifestação de apoio ao ministro da Justiça, Sergio Moro. Nem todos tinham conseguido terminar de ler o livro. Entre esses estava o professor Rogério Augusto Barbosa, 47 anos. Envolvido na mudança para um novo apartamento ― do qual reservaria um quarto apenas para guardar livros ―, o professor não se importou em engolir spoilers, porque queria rever os amigos.
Em comum entre os colegas, a expressiva média de 50 livros lidos por ano e o hábito de comprar livros em promoção, geralmente em feiras. Alguns dos participantes do encontro tinham acabado de chegar à capital paulista e buscavam novas amizades. Cada um se apresentou e expôs suas impressões sobre o livro em pauta, comparando com outras histórias já lidas e debatidas. A mesma dinâmica se repetiu no encontro promovido pela guia turística Patricia Smith, da TAG Inéditos, para discutir A rede de Alice, de Kate Quinn, na Livraria do Comendador, no bairro da Bela Vista, em São Paulo. Um grupo de 13 mulheres ― 70% dos assinantes da TAG são mulheres e mais da metade têm pós-graduação completa ou em execução ― tirou uma tarde de sábado para se reunir ao redor de livros.
Gestora da livraria, Carol Camargo diz que a loja, que divide um casarão tombado com um café, tem recebido 32 eventos por mês, entre debates literários e saraus. O estabelecimento não cobra aluguel, mas seus administradores sabem que 38% dos frequentadores desses eventos saem da livraria com pelo menos um livro comprado. “O investimento ainda não se pagou, mas crescemos 25% acima do esperado no nosso primeiro ano”, celebra Camargo. Segundo ela, a projeção do resultado foi feita no auge da crise do mercado editorial, em outubro de 2018. “Mas as pessoas não pararam de consumir livros. Foi a má gestão dos grandes grupos que impediu que a verba voltasse para as editoras”, analisa a gestora, para quem o atendimento individualizado das livrarias independentes ganhou força.
Internet
É a mesma impressão do presidente da Câmara Brasileira do Livro, Vitor Tavares. “O mercado vai se ajustando. Num primeiro momento, todo mundo ficou muito preocupado. Mas percebemos que funcionários que deixaram grandes empresas abriram pequenos negócios, novas livrarias surgiram. A figura do livreiro como consultor literário retornou”, analisa. Tavares chama a atenção ainda para o aumento das vendas pela internet ― as livrarias exclusivamente virtuais elevaram de 2,91% para 4,24% sua participação nas vendas.
A Estante Virtual, por exemplo, registrou um crescimento de 18% nas vendas no primeiro trimestre do ano em relação a 2018. O site, que deu alcance nacional aos sebos, intermediou a venda de 23,8 milhões de livros desde 2005. Erica Cardoso, gerente de marketing da Estante Virtual, identifica uma série de movimentos simultâneos no mercado livreiro: a migração das compras para a internet (o comércio eletrônico tem crescido em média 12,4% ao ano no Brasil) e a tendência a poupar, por conta da crise econômica, são alguns deles. “Temos ainda o reuso e o consumo consciente, que vieram para ficar. Por fim, há essa remodelagem das relações entre editoras, distribuidoras e livrarias”, avalia. Tudo isso explicaria por que a Estante Virtual virou o maior marketplace dedicados a livros do país.
A Desculpe a Poeira é um sebo que se beneficia das vendas in loco e no ambiente digital. “Uma loja do tamanho da minha, de 18 metros quadrados, não seria sustentável sem a internet”, constata o jornalista Ricardo Lombardi, que abandonou as redações em 2014 para abrir o sebo no garagem da casa de sua mãe, no bairro de Pinheiros, em São Paulo. “Quando falo internet me refiro a uma plataforma de vendas forte como a Estante Virtual, mas também a redes sociais como Instagram, Facebook e Twitter. Essas redes amplificam a minha presença no mercado”. Segundo o dono do Desculpe a Poeira, a venda na loja é mais expressiva que a virtual, “mas sem a receita da internet a conta não fecharia”. Parte da experiência de “achar um livro que você não procurava”, o grande ativo de uma livraria, é contemplada na internet pelo Instagram, de acordo com o livreiro.
Se os rumos apontam para o virtual, a grande aposta do momento são os audiolivros. O Brasil ganhou em junho sua terceira empresa dedicada ao assunto. A Auti Books se uniu à Ubook e à Tocalivros, que desbravam um mercado novo por aqui, mas já consolidado em países como Estados Unidos e Alemanha. O Google Play também oferece audiolivros e ainda são aguardadas as chegadas de plataformas estrangeiras, como Audible, da Amazon, e Storytel. “Nosso grande competidor hoje é o Fortnite. A competição é por tempo”, diz Claudio Gandelman, CEO da Auti Books.
Já para Eduardo Albano, sócio fundador e diretor de conteúdo do Ubook, o desafio é acostumar o público brasileiro a ouvir livros. “Com a quantidade de pessoas que a gente vê andando de fone de ouvido na rua, parece que é uma questão de mostrar que o audiobook existe”, diz. Como estratégia para atrair o público nacional, a Ubook, que iniciou neste ano uma expansão para países da América Latina, criou uma área com notícias lidas em tempo real. Já a Tocalivros se esmera em produzir conteúdos mais elaborados, em produções que envolvem até 30 narradores, como no caso de Guerra dos tronos. Para superar a defasagem do mercado brasileiro, a empresa tenta manter o fluxo de 25 novas produções por mês. Sem tempo para crise.
Tecnologia permite que os autores tenham mais autonomia e independência na hora de ver seu texto se tornar uma obra literária
Egle Cisterna
Com a tecnologia, autores ganham autonomia para ver seus livros publicados (Reprodução / Pixabay)
Se, há dez anos, publicar um livro exigia toda uma peregrinação de escritores às editoras, muitas vezes não bem-sucedida, hoje, a tecnologia permite que os autores tenham mais autonomia e independência na hora de ver seu texto se tornar uma obra literária.
Para isso, existem diversas plataformas diferentes que possibilitam que, de forma prática, intuitiva e gratuita, a pessoa possa realizar o desejo de ter um livro e chegar aos leitores.
Uma das mais antigas no País é a do Clube dos Autores. A empresa conta com mais de 70 mil livros publicados e tem 40 obras novas por dia em sua plataforma.
“Hoje, o cenário é o melhor possível, por conta da crise no mercado editorial, que forçou as editoras a se repensarem. Antes, tínhamos editoras com grande controle e querendo cobrar dos autores. Isso não se sustentou e abriu espaço para a autopublicação”, explica Ricardo Almeida, fundador e CEO do Clube de Autores.
Apesar de toda a facilidade, Almeida afirma que não basta apenas conseguir publicar. É importante também que o livro chegue aos leitores. Para isso, o escritor tem que pensar além da história. “É preciso encarar o livro como um produto que vai para o mercado. É preciso revisar o texto, fazer uma capa bonita que desperte atenção e uma sinopse atrativa. Não é difícil, mas exige trabalho”, ensina.
Sucesso
No Clube dos Autores, o paulistano Thiago Fantinatti conseguiu colocar nas páginas de um livro o relato da viagem que fez de bicicleta, entre setembro de 2008 e novembro de 2009, passando por seis países da América do Sul. A aventura deu origem a Trilhando Sonhos, um dos títulos mais vendidos pela plataforma de autopublicação.
“Quando terminei de escrever o livro, não enviei o manuscrito e nem cogitei editoras tradicionais. Pesquisei pela internet e me interessei pelo modelo”, conta Fantinatti, que aponta como uma das vantagens não ter necessidade de se envolver com a operação logística do pagamento e da entrega do livro. “Já sobe o livro e sai vendendo”.
Ainda no Clube dos Autores, há a possibilidade do leitor comprar o livro digital ou a versão impressa, que é feita de acordo com a demanda do público.
Mais vendidos
A Amazon também tem sua ferramenta de publicação, a Kindle Direct Publishing (KDP), a plataforma mais popular no mundo. Entre os 100 livros mais vendidos pela multinacional, 30 deles vêm da autopublicação.
“Um autor autopublicável é, muitas vezes, um empreendedor. Uma dica que a gente dá é de ajudar na comunicação”, diz o gerente geral da Kindle Amazon Brasil, Alexandre Munhoz. Dependendo do tipo escolhido para publicação, a empresa paga até 70% dos royalties para o autor.
Hoje, a Amazon conta com mais de 100 mil títulos vindos do KDP. De acordo com Munhoz, um dos fatores que fez o número de obras aumentar foi a criação do Prêmio Kindle, que já está na quarta edição.
A vontade de publicar livros é tão grande que já existem mais de 40 plataformas e aplicativos com esta finalidade. Alguns, inclusive de editoras tradicionais, como o Escrytos, da Leya.
Depois do anúncio feito na quarta-feira, 18, pela Agência Internacional do ISBN, de que a Câmara Brasileira do Livro assumiria a emissão do ISBN no Brasil em março de 2020, a Fundação Biblioteca Nacional lamentou a não renovação de seu contrato, vigente há 41 anos. Ela fazia esse serviço por meio da Fundação Miguel de Cervantes de Apoio à Pesquisa e à Leitura da Biblioteca Nacional, com sede na própria Biblioteca Nacional. O ISBN é o código que identifica um livro (título, autor, país, editora, formato). Custa R$ 22 para fazer um.
Em nota, afirmou que a interrupção da parceria da Biblioteca Nacional com a Fundação Miguel de Cervantes acarretará a descontinuidade do apoio para a realização de projetos culturais. “São recursos extras ao orçamento, que foram até hoje importantes à instituição.” Mais adiante na mesma nota, disse que o calendário será mantido – que estão buscando parcerias, mas que o orçamento anual para essas ações está garantido. Ainda segundo a nota, os valores arrecadados anualmente com o serviço são da ordem de R$ 4 milhões.
A Fundação Biblioteca Nacional questiona a capacidade da CBL, entidade privada que reúne editoras, livrarias e distribuidoras, de realizar o serviço, o risco para a qualidade do atendimento e o aumento no preço. “Não há garantia da excelência operacional da prestação do serviço por terceiros tecnicamente desconhecidos, já que nenhuma outra instituição ou empresa operou antes o ISBN no Brasil”, diz.
Quem vai prestar esse serviço para a CBL, como a Fundação Miguel de Cervantes fazia para a Biblioteca Nacional, será a Metabooks, uma empresa alemã ligada à Feira do Livro de Frankfurt que já está presente no Brasil, depois de firmar uma parceria com a própria Câmara Brasileira do Livro, com sua plataforma de gerenciamento de metadados. Na Alemanha, ela é a responsável pela emissão do ISBN, além de oferecer o mesmo serviço de metadados.
Sobre a qualidade do serviço que vem sendo oferecido pela Biblioteca Nacional, o mercado diz que anda tudo bem. Mas anos atrás, por causa de uma greve de servidores, os editores tiveram que esperar cerca de 60 dias pelo ISBN – coisa que, às vezes, leva horas para emitir.
A mudança foi anunciada agora, mas já vem sendo tratada há muito tempo. A CBL afirma que manifestou seu interesse à Agência Internacional de ISBN em setembro de 2018. Desde o início do ano, a Biblioteca Nacional, que tem um novo presidente, Rafael Nogueira, desde o dia 6, sabia do risco de não ter o contrato renovado e vinha tentando contornar a situação. Também em nota, a CBL garantiu que o preço será mantido para todos os usuários do serviço, associados ou não à entidade e que está “focada em desenvolver e implantar uma solução que ofereça as melhores soluções e serviços relacionados ao ISBN”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Felipe Lindoso resgata a história do ISBN para analisar a mudança da operação do ISBN, que deve acontecer em março próximo
Texto por Felipe Lindoso
A Câmara Brasileira do Livro (CBL) anunciou recentemente a assinatura de convênio com a Fundação Biblioteca Nacional e a Agência Internacional do ISBN, para assumir o papel de Agência Nacional do ISBN – International Standard Boook Number, o identificador unívoco de cada edição comercial de livros.
O que deveria ser visto e entendido como um aperfeiçoamento do processo de comercialização de livros – pois é disso que trata o ISBN – foi entendido por alguns como uma “perda financeira” para a FBN, que teria abdicado de uma fonte importante de renda para seu funcionamento.
Devo dizer que há anos, quando trabalhei na CBL (entre o final dos anos 1980 e 2002), sempre defendi e busquei achar modo de que a CBL (ou o SNEL, ou uma associação entre as duas entidades) passasse a ser a Agência Nacional do ISBN, o que sempre foi recusado, inclusive com a justificativa dos ganhos financeiros que a emissão do registro proporcionava.
A questão de fundo, porém, nunca foi exatamente essa. A posição dos então dirigentes da FBN se encorava, no meu entender, em um equívoco básico. Percebiam o ISBN como um instrumento anexo à catalogação e ao depósito legal. Ou seja, como informação bibliográfica. Como responsáveis legais pela publicação do catálogo bibliográfico – o que não é feito há décadas, aliás – e pelo depósito legal, consideravam o ISBN, no fundo, como um suplemento para suprir as deficiências na execução dessas duas funções. Infelizmente existem editoras (de vários portes, aliás) que não cumprem a exigência do Depósito Legal, e ainda assim, pelo que transpira, a catalogação dos livros recebidos esteve muitas vezes em descompasso com os livros amontoados sem catalogação e registro. Do mesmo modo, o repasse de informações sobre o acervo bibliográfico para instituições internacionais esteve quase sempre em atraso.
Um dos fatos que testemunhei foi o atraso no envio de informações sobre obras traduzidas para o português, que deveriam ser anualmente enviadas à Unesco, para consolidação do Index Translationum. Em 2015, quando estive em Paris para o Salon du Livre e pretendia visitar a Unesco, verifiquei que o envio de informações pela BN estava atrasado vários anos, e pedi que atualizassem os dados, o que fizeram. Infelizmente a Unesco, em crise financeira, descontinuou esse projeto que ocupava três pessoas e era um inestimável mapa do movimento internacional de traduções.
Mas esses são detalhes.
Para chegar às raízes do ISBN, vale um pouco de história, inclusive de como a BN virou Agência Brasileira do ISBN.
Há décadas se constatava um problema radicado basicamente no comércio de livros. A identificação unívoca de uma determinada edição se tornava cada vez problemática. Cada editora, importadora, distribuidora e livraria usava códigos próprios, totalmente arbitrários, para identificar os livros em seus estoques ou de sua edição.
Em 1965, um grupo de livreiros e distribuidores da Grã-Bretanha, liderados pela rede WHSmith encomendou a elaboração de um sistema comum. O professor de estatística Gordon Foster bolou então um sistema de nove dígitos, o SBN – Standard Book Number que, no ano seguinte, evoluiu para ISBN por iniciativa do editor, importador e distribuidor David Whitaker, o “pai do ISBN”.
No ano seguinte a R.R. Bowker, dos EUA, adotou o sistema. Em 1970, a International Standard Organization (ISO), também adotou o sistema e organizou a Agência Internacional do ISBN (assumida pela Alemanha), que passou a atribuir os prefixos para as Agências Nacionais. Em 2007 o ISBN passou a ter 13 dígitos para se adaptar à estrutura do código de barras da AEAN.
A difusão do ISBN, impulsionada pelos mercados do EUA e da Grã-Bretanha, se expandiu de forma rápida pela Europa, mas demorou muito a ser adotada nos demais continentes. No final dos anos 1970, o Centro Regional para o Livro na América Latina e Caribe (Cerlalc), órgão da Unesco, tomou a iniciativa da difusão e usou como tática convencer as bibliotecas nacionais dos respectivos países a se tornarem Agências Nacionais.
Foi assim que, de iniciativa nascida e destinada ao âmbito da comercialização de livros o ISBN acabou parando nas mãos da BN no Brasil e em outras bibliotecas nacionais dos países da região.
O ISBN, como identificador das edições comerciais é atribuído a cada edição e variação de um título (salvo reimpressões). Assim, edições de capa dura, capa mole, livros de bolso, edições eletrônicas, etc, recebem diferentes ISBNs.
Entram os metadados
Os livros têm outras informações que facilitam sua identificação, como o título, o nome do autor e os dados da catalogação feitos pelas bibliotecas nacionais. Mas o conceito de metadado, que se desenvolve com mais vigor a partir da ampliação do comércio eletrônico, sistematiza e amplia os processos de identificação e busca dos livros em um número que cresce geometricamente, inclusive com o surgimento e crescimento das auto publicações. É o caso dos códigos Bisac e os padrões de identificação estabelecidos com o Onix e, mais recentemente, com o Thema.
A integração desses dados – que dependem, aliás, dos editores entenderem sua importância e desenvolverem identificadores amplos e corretos – sempre foi e continua sendo um empreendimento diretamente vinculado ao comércio de livros. Preso dentro de uma estrutura burocrática como a da Biblioteca Nacional, sempre foi difícil ter a agilidade necessária para que essas informações prestem serviços a editores, livreiros e, em última instância, aos leitores.
Isso tudo tem custo, e não é pequeno. Dizer que a BN perdeu “x” milhões de reais é uma falácia. Aliás, muito comum quando se fala em orçamentos e gastos de órgãos públicos. O “bolso” da entrada é considerado e se esquecem dos vários “bolsos” de saída, que vão desde os salários até os sistemas, passando pelas atualizações tecnológicas, protocolos de integração, etc. Dizer que a BN até hoje não tem sistemas que permitam o diálogo da catalogação com outras bibliotecas, nacionais e universitárias, que possibilitem sistemas de catalogação cooperativa é uma boa síntese do problema.
Por isso mesmo, a transferência das responsabilidades do ISBN para a CBL e para o braço operacional Metabooks é uma excelente notícia para editores, livreiros, distribuidores e leitores e também para a BN, que deixa de estar obrigada a uma tarefa que não era a sua. Esperemos que cumpram essa expectativa. E que, em algum momento, a administração pública proporcione não apenas à Biblioteca Nacional como aos demais órgãos da cultura em nosso país os recursos para que cumpram com as respectivas missões. O que, diante da política de desmonte, terraplanismo, ignorância e obscurantismo que estamos sofrendo, vai depender de muito esforço de todos os setores culturais.
A sensação de que o preço do livro é alto deriva não de um aumento real do preço do produto, que se tornou mais barato num momento de aumento de renda dos mais pobres. Ou seja, havia um duplo movimento que favoreceria a percepção do barateamento do livro. Essa percepção não se materializa por uma pressão contrária: nos últimos anos o capitalismo não apenas nos tomou tempo de lazer para transformá-lo em trabalho, mas tomou também tempo de descanso para transformá-lo, por meios digitais, em consumo.
Afinal, o livro é caro ou barato? O que determina a percepção de preço e de valor do livro no mercado brasileiro? A questão frequentemente é tratada de modo impressionista ou excessivamente objetiva, sem espaço para dimensões outras que as avaliadas quantitativamente. Uma reportagem recente do jornal gaúcho Zero Hora, sem apresentar esses dados, no entanto, não hesitou em afirmar em seu lide: “Há um consenso entre os leitores: o preço do livro deveria ser mais baixo”.
O gráfico abaixo apresenta a variação do preço real do livro, em comparação com os preços de mercado, segundo a mais longeva pesquisa sobre o mercado editorial brasileiro, realizada pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) para as duas mais representativas entidades do setor, a Câmara Brasileira do Livro e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros. O levantamento é feito reunindo dados fornecidos por editores de livros do país. A partir de um questionário anual, a pesquisa chega a dados sobre o tamanho do mercado e sua divisão (governo, livrarias, vendas diretas etc.). Um dos dados que vêm sendo acompanhados desde 2006 é justamente o do preço médio dos livros. Como sugere o gráfico, o mercado identifica uma queda no preço real (descontada a inflação) da ordem de 35% desde 2006. De 2015 em diante há uma estabilização do preço real, ainda que o preço nominal do livro tenha crescido pouco menos de 30% nesses 12 anos.
Fonte: Pesquisa Fipe-CBL-SNEL, 2018. <http://pesquisaeditoras.fipe.org.br/Home/Relatorio/1>. Acesso em 15/12/2019.
Dados isolados podem corroborar essa tese. Um exemplo concreto: em abril de 2004, foi lançado o livro A Revolução dos Cravos (ed. Alameda), de Lincoln Secco, um livro de 296 páginas em formato 14 x 21 (o mais tradicional formato de livro no país) por R$ 38,60. Corrigido pelo IGP/M até novembro de 2019, o livro custaria R$ 94,93; pelo IPCA, R$ 89,41[1]. Atualmente, um livro semelhante, escrito como uma tese ou dissertação por um professor universitário, custaria bem menos. Fale com eles, de Daisy de Camargo, da mesma editora, lançado em 2019 com um tamanho 9,5% menor (268 páginas, mesmo formato), tem o preço de capa de R$ 50,00[2], um decréscimo, em termos reais, evidente. Sugiro também aos economistas que nos leem a verificação do preço do livro comparado à gasolina, à pizza e à entrada de cinema – entre outros. Quase que certamente, o livro viveu uma deflação que não se verificará, em igual proporção, com a maioria dos preços de produtos presentes no mercado, sejam eles essenciais ou não, duráveis ou não, do mercado de cultura ou não.
Além de a curva apontar para a redução do preço real do livro, há um fator que, em tese, jogaria a favor da percepção contrária. O livro de papel permanece sendo uma mercadoria não efêmera. Talvez seja um dos objetos do dia a dia cuja “vida útil” se imagina para além da própria vida do primeiro leitor. As bibliotecas ainda são herdadas, até mais do que móveis da casa. As pessoas compram livros imaginando que poderão ser lidos pelos filhos, sobrinhos, netos ou amigos. Em Da dificuldade de ser cão[3], pensando filosoficamente a questão dos animais domésticos, Roger Grenier afirma que eles são animais para sofrer, uma vez que o dono de um cão ou gato imagina, em geral, que os animais morrerão antes dele. Num certo sentido, podemos pensar o oposto dos livros: são objetos da esperança, uma expressão da humanidade do leitor que continuará viva após sua morte. Não à toa, as bibliotecas de grandes pensadores são preservadas, às vezes com requintes fetichistas: a biblioteca de Florestan Fernandes, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), por exemplo, foi “recomposta” mantendo a organização deixada pelo pensador – simbolicamente, preservando sua forma organizar as ideias.
Eventualmente, contrariando a maré da opinião pública, representantes do setor editorial expressam o que é discutido nos bastidores: em setembro de 2016, a diretora do grupo Record, Sonia Jardim, foi entrevistada pelo jornal Folha de S.Paulo e declarou que as editoras estavam “desde 2004 sem subir preços de acordo com a inflação. Criou-se na cabeça do consumidor as faixas de preço de R$ 19,90, R$ 29,90…”. O título da matéria era ainda mais explícito: “Preço do livro precisa subir, diz Sonia Jardim, presidente do grupo Record”. Em 2014, o editor Ivan Pinheiro Machado, proprietário da LP&M, afirmou à Zero Hora, categoricamente, que o livro no Brasil “é muito barato. Principalmente se for comparado à Europa e aos EUA”, defendendo, também a redução na prática de pagamento de direitos autorais, o que evidentemente provocou forte reação de autores:
Olha aqui (pega ao acaso um livro francês na estante): este livro de bolso custa 15 euros, cerca de R$ 50. Dias atrás, estava em Ouro Preto e
um autor reclamou que os livros eram caros. Respondi: "Caro é o direito autoral, se baixar o direito autoral para 5% vai baratear".
É 10% do preço de capa. Quando vendo um livro de R$ 60 para uma grande rede de livrarias a R$ 30, R$ 6 ficam com o autor.
Então o autor é dono de 20% da editora, ninguém ganha 20% nesse ciclo, nem a gráfica, nem os editores[4].
Os dados e as declarações, no entanto, contrastam com a percepção corrente, expressa em afirmações como “o livro é caro no Brasil”, “o brasileiro lê pouco”, “o brasileiro não tem dinheiro para comprar livros”. De onde, então, partiria essa percepção generalizada? Por que uma dúzia de anos de queda nos preços não é capaz de mudar o senso comum sobre o livro e o mercado editorial?
Como estamos no campo das ideias e opiniões, não é possível afirmar com certeza. Parto, neste texto, do princípio de que a razão da ideia recorrente do “livro caro” está ligada à especificidade da mercadoria livro. Essa especificidade faz com que o livro seja percebido, no mercado do consumo, como uma mercadoria especial, carregada de valores simbólicos, alguns deles não mensuráveis em dinheiro ou com correspondente valor de troca. Compreender essas especificidades ajuda a pensar melhor o mercado editorial, que considero estruturante para a economia e para a democracia, permitindo traçar estratégias e políticas públicas que superem a meta, talvez menos significativa do que se imagina, de baixar o preço do livro novo.
Denis Diderot, ainda no século 18, ao escrever sobre as especificidades do livro, escreveu um pequeno texto com um longo título: “Carta histórica e política endereçada a um magistrado sobre o comércio do livro, sua condição antiga e presente, seus regimentos, seus privilégios, as permissões tácitas, os censores, os vendedores ambulantes, a travessia das pontes do sena e outros temas relativos à política literária”. Como o título gigante mostra, a cadeia econômica do livro constitui uma questão complexa e como tal deve ser tratada[5].
O primeiro fator a se registrar é que o livro é uma das mais antigas mercadorias do capitalismo, essencial na sua construção não apenas ideológica, mas também na organização como mercado. Como mercadoria, o livro, no entanto, não entra completamente na lógica das chamadas “leis de mercado”: um livro não concorre diretamente com outro livro. Os livros podem se parecer uns com os outros materialmente, mas são diferentes em sua essência, que está no conteúdo, e é esse conteúdo que define o valor de uso único, para cada leitor, da mercadoria livro. Duas marcas de pneus disputam o consumidor que precisa de pneus: o valor de uso das duas marcas é semelhante, ainda que uma possa ser melhor ou mais barata que a outra. No livro, não: um consumidor que precisa de um livro não precisa, necessariamente, do outro.
Essa característica única do livro faz com que sua feitura seja, simultaneamente, artesanal e industrial: a primeira fase da produção de um livro, sua escritura, tradução e, parcialmente, sua diagramação, responde a feituras únicas, para cada obra, não inteiramente reprodutíveis ou reaproveitáveis de uma edição para a outra. Após essa fase, há outra, que responde a critérios industriais e de distribuição física (e, atualmente, digital) muito mais associadas à modernidade: a impressão em gráficas e a comercialização por diversos meios, seja a banca de jornal, a livraria, seja a venda pela internet e, mais contemporaneamente, a difusão por redes de computador.
Todas as mudanças que aceleraram a produção e a reprodução do livro e, em boa medida, colaboraram na redução do preço do livro nos últimos anos, não mudam substancialmente, no entanto, um aspecto fundamental da economia do livro: seu consumo. O tempo de leitura não muda radicalmente com a impressão sob demanda ou com a difusão digital. Para usar o linguajar matemático e econômico, podemos dizer que o tempo e o volume de consumo é praticamente fixo quando o tema é o livro. A leitura de uma página, pelo mesmo leitor, independentemente de ela ser feita em papel ou no meio digital, durará um tempo semelhante. Mais imaterial ainda é a contabilização do tempo para a compreensão do que foi lido, o que fica aqui apenas como sugestão.
Otempo, acreditamos, portanto, é chave para compreender a percepção do preço do livro como alto. Ainda que tal contabilização não entre diretamente no “cálculo” do preço do livro pelo editor e pelo livreiro, esse tempo e o valor deste tempo estão presentes na cabeça do leitor. Essa relevância do tempo se expressa de muitos modos, e uma das formas contemporâneas é o meme: abaixo, segue uma reprodução da página de resultados do Google para imagens que utiliza a frase, em inglês, “So many books, so little time”:
Resultado da busca pela frase “So Many Books, So Little Time”, no Google . Acesso em 15/12/2019.
O tempo para ler o livro que vai adquirir é um fator fundamental para o leitor. Um clube de leitura bem sucedido mantém, em sua página na internet, o que chamou de “calculadora literária”[6], uma ferramenta para os assinantes atuais ou futuros calcularem quanto tempo precisam para concluir uma leitura. Como se trata de um plano de compra recorrente, do tipo “clube do livro”, ou seja, o assinante receberá a cada período pré-determinado um novo livro, é central para a empresa estimular o leitor a controlar o ritmo da leitura das obras que recebe – se o leitor deixar de ler o livro enviado por algumas vezes, ele torna-se um sério candidato a deixar de assinar o serviço. Assim, a pergunta que a calculadora faz é bastante objetiva: “Quanto preciso ler por dia para ler 1 livro por mês?”
Essa questão não é nova para os editores, que intuitivamente ou às vezes com discursos aparentemente ingênuos se rebelam contra “as modernidades” que roubariam tempo de leitura. O surgimento do livro de bolso, ainda no século 19, na Inglaterra, foi resultado não apenas da evolução da capacidade produtiva e do uso do papel barato para as edições populares: para a classe operária urbana, ainda lutando por jornadas de trabalho mais razoáveis, o tempo de leitura era exíguo. Foi “criando tempo” para a leitura dos trabalhadores, a partir de 1848, que a Routledge, antes uma editora sem tanto sucesso entre tantas outras, ao lançar a coleção “The Railway Library” (Biblioteca da Ferrovia), tornou-se uma grande corporação e hoje é uma das principais publicadoras de obras acadêmicas do mundo[7]. O livro precisava caber no bolso para poder ser lido no tempo das viagens de trem. Os “pocket books”, sintomaticamente, se associavam assim a outro objeto que também viajava no bolso das pessoas e que estava diretamente ligado ao tempo: o relógio. O bolso do “livro de bolso” não é, portanto, uma metáfora apenas para o preço baixo e para a portabilidade, mas é também um indicador de controle do tempo de leitura.
E atualmente? Vivemos de fato um processo de aceleração do tempo? Ou temos, por outro lado, uma expansão do capitalismo sobre o tempo individual? Parece-nos desnecessário apontar que há uma sensação de falta de tempo generalizada pela população e uma pressão para a aceitação de trabalhos sem respeito à jornada constitucional – no Brasil, de 44 horas semanais.
Como pouco cabe mais dizer neste texto, gostaria de propor esse salto: a sensação de que o preço do livro é alto deriva não de um aumento real do preço do produto, que, como sugere a pesquisa da Fipe, se tornou mais barato num momento de aumento de renda dos mais pobres. Ou seja, havia um duplo movimento que favoreceria a percepção contrária, a do barateamento do livro. O movimento do mundo, no entanto, sugere que essa percepção não se materializa por uma pressão contrária: o capitalismo não apenas nos tomou, nos últimos anos, tempo de lazer para transformá-lo em trabalho, mas tomou também tempo de descanso para transformá-lo, por meios digitais, em consumo.
Num cenário como esse, dois movimentos simbólicos “encarecem” simbolicamente o livro e parecem ser mais fortes que os movimentos que chamaríamos de “concretos”. O tempo torna-se na prática mais escasso para o leitor, o que, associado à concorrência com outras formas de entretenimento e estudo, mais rentáveis para o capital, torna o custo do livro – posterior à sua compra – para o leitor muito mais alto.
Ampliar o tempo de repouso e limitar as abordagens de estímulo ao consumo: essa seria, hoje, a essência de um projeto que visasse a baratear, de fato, o preço da leitura.
[5] Uma tradução com o título resumido Carta sobre o Comércio do Livro foi publicada pela editora Casa da Palavra em 2002). Diderot, Denis. Carta sobre o comércio do livro. Tradução: Bruno Feitler. Rio de Janeiro/Cotia: Casa da Palavra/Ateliê, 2002.
Em nota oficial, a Agência Internacional do ISBN comunicou que a Câmara Brasileira do Livro passa a realizar os serviços de ISBN no Brasil a partir de 1º de março de 2020. Confira aqui o comunicado na íntegra.
A Fundação Biblioteca Nacional, a Fundação Miguel de Cervantes e a Câmara Brasileira do Livro estão trabalhando para garantir a continuidade dos serviços, incluindo o histórico, prestados durante o período de transição.
Até 28 de fevereiro de 2020, toda solicitação de ISBN será realizada por:
Agência Brasileira do ISBN Fundação Miguel de Cervantes
Rua México, 45 – 5º andar – Edifício Lumex
Centro
Rio de Janeiro – RJ
CEP 20031-144
Tel: (55 21) 2524 0276, (55 21) 2262 9724
Email: isbn@bn.gov.br
URL: http://www.isbn.bn.br
A partir de 1º de março de 2020, toda solicitação de ISBN deverá ser encaminhada para:
Câmara Brasileira do Livro
Rua Cristiano Viana, 91
São Paulo – SP
CEP 05411-000
Tel. (55 11) 3069-1300
E-mail: sac@isbn.org.br
URL: http://www.isbn.org.br (site em construção)
Las ventas físicas siguen representando el volumen principal de las ventas del mercado editorial, pero hace años que se observa una tendencia clara en alza hacia los formatos digitales.
¿Cuáles son los factores de crecimiento de un mercado editorial digital y del auge del audiolibro? Por encima de todo están los desarrollos tecnológicos que ya forman parte de nuestra vida cotidiana,como los ya indispensables smartphones, la creciente incorporaciónde altavoces inteligentes en nuestros hogares y de sistemas audio inteligentes en nuestros vehículos. Paralelamente, en los últimos años se ha producidounadiversificación interesante en el panorama comercialde los audiolibros que ha abierto una oferta muy variada para el cliente final: portales como Scribdo Storytelhan desarrollado opciones para usuarios muy activos con una suscripción de tarifa plana, mientras que otros como Google Play Bookso Kobohan incluido el audiolibro a su oferta de contenidos editoriales digitales con la opción de descarga unitaria.Según un estudio de Dosdoce, el valor estimado de las ventas de audiolibros en español puede pasar de aproximadamente 5 millones de dólares en 2018 a casi 9 millones de dólares en este 2019.A la creciente oferta de portales de contenidos se suman también portales de streamingde música,que están contribuyendo de forma significativa al crecimiento de los ingresos digitales.
No obstante, las editoriales mantienen todavía una actitud escéptica y cautelosa cuando se trata de la comercialización de sus contenidos en estos portales de streaming. Por eso,merece la pena detenerse para analizar datos concretos y desarrollos futuros: a finales de 2018, Spotifyregistró en todo el mundo207 millones de usuarios. Esto supone un enorme potencial de lectoresque podrán descubrir también los audiolibros disponibles en la plataforma. Actualmente los medios se consumen principalmente vía tableto smartphone, y según un estudio de la española AIMC (Asociación para la Investigación de Medios de Comunicación) un 7% de la población disponede un altavoz inteligente en su hogary un 11% afirma usar asistentes virtuales de voz. No cabe duda de que la industria se está moviendo hacia ese lugar: la interacción con la voz.
La respuesta a esta realidad solo puede consistir en aprovechar este potencial con las estrategias correctas y la tecnología adecuada. Actualmente apenas seestán utilizando aún los altavoces inteligentes para el consumo de audiolibros, en parte porque todavíano disponen de la posibilidad de guiar al usuario en la búsqueda de un audiolibro de su preferencia.Para ello,Bookwireha desarrollado un asistente de voz que se dedicaexactamente a eso: guiaral usuario en el mundo de los audiolibros para llevarle a recomendaciones de audiolibros que se correspondan con sus preferencias. De este tipo de soluciones tecnológicas se benefician tanto las editoriales como el usuario final.
Las editoriales también puedenaprovechar el mercado de consumoen streamingy su rapidísimo crecimiento con las estrategias apropiadas y soluciones técnicas inteligentes:los audiolibros pueden y deben estar optimizados para los portales de streaming, de manera que se puedan consumir como pistas de música ymonetizar de forma óptima los valiosos contenidos ofrecidos por los audiolibros. En este sentido, Bookwiredispone de la tecnología necesaria para adecuar la entrega de los contenidos a estas plataformas y facilita, además, una gestión flexible e inteligente de la explotación de un contenido en los diferentes modelos de negocio.
En definitiva, para las editoriales se trata de conseguir visibilidad para sus títulos y precisamente en aquellos lugares donde pueden conseguir nuevas audiencias y clientes. En la actualidad esto se produce sobre todo, aunque no de forma exclusiva, en los portales del mundo de la músicaque se están abriendo a la categoría del audiolibro y combinando la música con la palabra.
Debemos tener una mente abierta para los cambios y ser capaces de anticiparnos y aprovechar bien las tendencias globales, en lugar de esperar a que estas desaparezcan.
Abrir novos espaços para expressão literária, oportunizar talentos, motivar escritores, premiar os melhores textos, além de incentivar o hábito de escrever, estimular e divulgar a leitura foram e continuam sendo, os principais objetivos do trabalho da SemacTur, por meio da Biblioteca “Ricardo Ferraz de Arruda Pinto”, criando e preservando concursos literários que têm trazido excelentes resultados.
Este ano não foi diferente. Em apenas dois concursos, recebemos 1.515 inscrições vindas, literalmente, de todo o mundo. O Prêmio Escriba recebeu trabalhos em português vindos de todo o Brasil e também de outros países como Itália, Portugal, Inglaterra, França, Romênia, Japão, Estados Unidos, Itália, África do Sul, Alemanha, Angola, Canadá, Moçambique e Reino Unido, entre outros. Sua primeira edição em 1990, foi na modalidade Poesias. Em 1997, foi instituída a edição para Contos, e, a partir de então, os dois gêneros passaram a se alternar a cada ano. Em 2011, foi criado o Prêmio Escriba de Crônicas, completando o anseio de abarcar mais amplamente os gêneros literários. Na edição deste ano os cronistas bateram recorde em toda a história do prêmio, com 1.022 trabalhos concorrendo.
Desde 2011, o Concurso Microcontos de Humor, resultado de uma boa parceria entre o Centro Nacional de Documentação, Pesquisa e Divulgação de Humor – CEDHU e a Biblioteca Municipal, soma-se aos certames literários já existentes, integrando a programação do Salão Internacional de Humor. Pesquisando, observamos que as palavras “microconto”, “miniconto” ou “nanoconto”, referem-se a um texto muito pequeno, uma narrativa em pouco mais de uma linha, com contexto, que apresenta uma ação. No microconto é muito mais importante sugerir que mostrar, deixando ao leitor a tarefa de “preencher” as elipses narrativas e entender a história por trás da escrita. Com no máximo 140 caracteres, como no twitter, resume um desafio e tanto, à capacidade de síntese e criatividade dos escritores. A iniciativa tem sido muito bem-sucedida e este ano recebemos 493 inscrições.
Nestes concursos são distribuídos prêmios em dinheiro e troféus para primeiro, segundo e terceiros colocados, menções honrosas e destaque especial. Para chegar aos ganhadores, as obras recebidas são analisadas por um júri especializado, formado por intelectuais atuantes nas áreas da literatura e/ou jornalismo, e humor especificamente para o Microconto, todos indicados pela SemacTur. Ao final de cada concurso, as obras selecionadas juntamente com as premiadas, são impressas numa coletânea distribuída entre os autores, bibliotecas públicas e população. É mais uma forma que encontramos para aproximar o livro e a literatura de pessoas de todas as idades e classes sociais.
E na alternância anual entre poesia, conto, crônica e microcontos acreditamos cumprir nosso papel no mundo das letras, difundindo e levando o nome e o estilo de diferentes escritores para todos os cantos. Nesse sentido, vale lembrar que Lêdo Ivo, Fernando Sabino e Clarice Lispector que ainda muito jovens, começaram suas brilhantes carreiras em iniciativas como esta. Um brinde à literatura!
COM BEL SANTOS MEYER, HAROLDO CERAVOLO, JOSÉ CASTILHO E JULIANE SOUSA. MEDIAÇÃO: JULIANA SANTOS
Local: Sesc Bom Retiro
Data: 23/11, SAB
Horário: 14H ÀS 16H
Encontro que propõe a reflexão sobre a importância da bibliodiversidade em espaços como bibliotecas e salas de leitura.
Bel Santos Mayer é educadora social, mestranda do Programa de Pós-graduação em Lazer e Turismo (PPTur/EACH/USP). Desde 1988 atua em organizações não governamentais e facilita processos de criação de Bibliotecas Comunitárias gerenciadas por jovens. É empreendedora social da Ashoka. Coordena o Programa de Direitos Humanos do Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário – IBEAC. É membro do grupo gestor da Rede LiteraSampa/RNBC.
Haroldo Ceravolo é doutor em Letras pela USP, jornalista e editor da Alameda. Foi presidente da Libre – Liga Brasileira de Editoras de 2011 a 2015. É autor de Trinta e tantos livros sobre a mesa (Oficina Raquel).
José Castilho é doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo/USP, professor aposentado na Universidade Estadual Paulista/UNESP, pesquisador, conferencista, escritor, editor e publisher. Dirigiuinstituições culturais ligadas ao livro e à formação de leitores: Editora UNESP, Biblioteca Pública Mário de Andrade – São Paulo, Secretário Executivo do Plano Nacional do Livro e Leitura do Brasil. Presidiu em vários mandatos a Associação Brasileira e a Associação Latino-americana de Editoras Universitárias – ABEU e EULAC. A Lei da PNLE – Política Nacional de Leitura e Escrita do Brasil – é apelidada com seu nome em reconhecimento ao seu trabalho em prol do livro e da formação de leitores.
Juliane Sousa éformada em Letras/Espanhol pela Universidade Federal de São Paulo, jornalista, ambientalista, apresentadora de rádio e televisão, coordenadora de produção, roteirista e poeta. Faz parte dos coletivos “Mulheres Negras na Biblioteca”, “Conversa de Negras” e do Sarau “Carolinas e Firminas”. Atualmente, trabalha como apresentadora do programa Biosfera, na Boa Vontade TV, há 11 anos. Publicou: “Os médicos Cubanos e o Racismo no Brasil” (artigo que faz parte do livro “Mais amor, seu doutor! Os médicos cubanos entre nós).
Mediação: Juliana Santos, que é Assistente técnica da Gerência de Ação Cultural do Sesc SP. Formada em História e mestre em Educação pela Universidade de São Paulo.
Recentemente, a escritora Luisa Geisler foi desconvidada de uma feira no interior gaúcho sob a alegação de que o seu novo livro contém ‘linguagem inadequada’. Em sua coluna, Pedro Almeida faz reflexões sobre o caso.
Texto por Pedro Almeida
Desde que existe mercado editorial, há critérios rígidos para livros voltados para crianças e adolescentes em instituições educacionais: sendo o principal a orientação por faixa etária. E, pelo mercado, diferenciamos pelo meio principal de comercialização: se é livro cuja venda será feita em livrarias ou adotado por escolas e programas de governos. Há, nessas divisões, preceitos bastante ultrapassados e eles surgem e são mantidos especialmente pelas fontes oficiais, há décadas. Mas um caso ocorrido na semana passada, do desconvite de uma autora às vésperas de sua participação numa feira de literatura no Sul do país, reacendeu o debate sobre censura de livros em escolas. O que há de novo? Estamos diante de algum fenômeno novo? E o que podemos fazer a respeito?
Para falar sobre o assunto, primeiro preciso apresentar os diversos nichos do mercado de livros infantis e juvenis.
Você sabe qual é a diferença entre os romances para Jovens Adultos, conhecidos como YA (young adult), e os tradicionais livro juvenis?
Os bibliotecários no mundo e a maioria dos editores de livros dividem os livros de ficção em categorias de acordo com a idade. Os agrupamentos padrão para a maioria são:
Pré-leitor – do nascimento aos 5 anos
Infantil ou criança – de 5 a 12 anos
Juvenil ou midle grade – de 12 a 15 anos
Adolescente ou Young Adult (YA) ou Jovem adulto – de 15 a 20 anos.
Adulto jovem – de 20 a 30 anos
Adulto – mais de 30 anos
Esses critérios etários são baseados em vocabulário, interesses, tópicos, maturidade da linguagem e das experiências narradas. A diferença entre os livros juvenis e os jovens adultos (não confundir com adulto jovem!) estão nos temas, nos assuntos abordados, na linguagem e discussões mais explícitas, e também na abordagem sobre sexo, ou seja, no universo em que o leitor está inserido em seu dia a dia.
Enquanto nos Juvenis, via de regra, não deve haver menção ao uso de drogas, bebidas e temas fortes como morte, doença, suicídio, incesto e abusos, nos YA esses temas podem ser tratados e até é esperado que isso seja feito, pois fazem parte de seu cotidiano.
Há uma distinção clara também entre quem decide a compra de cada um
Os livros Juvenis, em geral, são comprados ou indicados por adultos, sejam pais (nas livrarias e pontos de varejo), professores e diretores (em escolas) ou técnicos e especialistas em pedagogia (em programas de governo). Já os livros YA são escolhidos e comprados pelos jovens, diretamente no varejo convencional, como livrarias.
A censura sobre livros YA nas escolas não começou hoje. Sempre ocorreu. Basta ver os critérios de escolhas dos programas públicos do livro, de leitura em sala de aula, etc. Para livros comprados com objetivos educacionais (em escolas, por professores, e em programas de governo, por técnicos), existe a necessidade de haver sempre um foco pedagógico, por exemplo, seguindo temas transversais orientados por cada faixa etária, como os editais públicos exigem.
Para simplificar, vamos lá:
Livros juvenis adotados em escolas e em programas públicos têm um caráter educativo. Há livros juvenis publicados especialmente para o varejo tradicional, sem objetivos de adoção pedagógica, mas no Brasil esse segmento ainda é muito restrito. Mas naqueles destinados especialmente às escolas, conter palavrões ou palavras chulas, cenas de sexo, doenças ou morte de forma realista é amplamente evitado desde sempre. Que professor quer ser acusado incitação ao ódio, violência ou exposição a palavras grosseiras, a cenas ou teor sexual ou dor ao oferecer uma leitura aos seus alunos?
Os livros YA já são completamente diferentes. A ideia não é ser pedagógico, mas sim realista, com uma linguagem mais informal para dialogar com o jovem, falar de coisas mais sérias, tristes também, de seu dia a dia, respeitando a maturidade do leitor dessa idade, que já pode lidar com esses temas sem a supervisão de um professor.
Vamos a exemplos de livros para jovens adultos:
A culpa é das estrelas (doença / câncer / morte), Jogos Vorazes (violência explícita / manipulação política), Se eu ficar (morte / perda), Juno (gravidez na adolescência), Os 13 porquês ( suicídio).
Agora vamos analisar uma lista de livros juvenis bem recomendados em escolas:
A coisa brutamontes – fala de morte, mas usando metáforas.
O cão e o curumin – traz uma história de amizade entre o cachorro e seu amigo.
O dia em que a minha vida mudou por causa de um pneu furado em Santa Rita do Passa Quatro – um livro que conta reflexões de uma menina sobre o crescer.
O menino que vendia palavras, de Ignácio de Loyola Brandão – uma história sobre o significado das palavras.
A menina que abraça o vento – conta a história de uma refugiada congolesa.
Tem sempre um diferente – história sobre o respeito à diversidade.
Diário de Pilar no Egito – livro de aventuras contemporâneo sobre viagens no estilo Julio Verne.
Com essa amostra, é possível ter uma medida do que acontece no mercado.
Decidi escrever isto depois da celeuma acerca da autora de YA ter sido desconvidada de última hora para uma feira de livros na cidade de Nova Hartz, no interior do Rio Grande do Sul. Acho ótimo o debate, mas precisamos dirigir a revolta para as causas reais. Não podemos transferir a responsabilidade do que aconteceu para o público, para as pessoas comuns, ou para a feira. Há uma engrenagem que decidiu isso muitas décadas atrás e continua decidindo o que crianças, sob o abrigo de uma escola, devem ler.
Outro dia publiquei um livro dirigido à faixa etária de 10 a 12 anos, e a profissional muito experiente, encarregada de fazer divulgação nas escolas, me disse que havia palavras lá que não poderiam constar em um livro adotado por escolas: cocô, pé no saco e uma outra bobagem.
Neste mês, um autor que publico e escreve thrillers de suspense, pôde ir a uma escola para falar na semana de literatura sobre ser escritor, mas não pôde sortear livros para as crianças. Os professores me explicaram que preferiram que os alunos interessados comprassem nas livrarias, com a concordância dos pais. Bastaria um pai de aluno incomodado por seu filho voltar para casa, com um livro que considerasse forte, para a direção da escola decidir acabar com a visita de autores semelhantes nas semanas de literatura.
O que podemos fazer?
Nós precisamos direcionar nossa indignação para os lugares certos: programas públicos de avaliação de obras, programas de incentivo à leitura, bibliotecas, professores, diretores de escolas e pais. Precisamos demonstrar aos pais que não é um livro com algumas palavras chulas que irá deformar o caráter de seus filhos, já que elas são ouvidas pelas crianças o tempo todo na TV e rádio, nos intervalos comerciais, no cinema, nas ruas, e na internet e redes sociais. Não seria especificamente no livro, que essas palavras, fariam o mal. E, mais importante, que livros apenas de “conto de fadas”, onde tudo é somente ou bom ou mal, sem muitos sobressaltos, não educam jovens para a maturidade. E talvez os tornem tolos, ingênuos e despreparados para o mundo real.
Mas somos nós, da imprensa, do mercado editorial, dos programas de bibliotecas e de livros paradidáticos, e de escolas privadas, que devemos dar o primeiro passo no sentido de mudar esse quadro. É arriscado, sabemos. Uma editora pioneira, ao fazer isso, pode ter seu livro rejeitado e sua edição trazer prejuízos; uma escola pode ser nomeada numa manchete negativa em um jornal; uma premiação de livro juvenil mais ousado pode sofrer ataques nas redes sociais, boicotes e até manifesto; uma feira do livro pode ser criticada. Sim, isso tudo pode acontecer. Na verdade, esse último caso acaba de acontecer. Só não podemos criticar um caso, como o da autora desconvidada da feira, sem compreender que o problema não é novo, porque não é justo. Cabe especialmente a quem tem informação fazer sua pequena parte para que isso mude. Já pararam para pensar que foram algumas pessoas ousadas que tentaram levar esse livro e essa autora ao evento e agora, todos nós, com a intenção de lutar pela liberdade, estamos justamente intimidando outras pessoas, curadores, professores a tentarem o mesmo feito? Criticar, apenas, não é o caminho.
Mas há outra questão me parece mais preocupante. Para um livro ser aceito com propósitos pedagógicos numa sala de aula, há tantos preceitos, recomendações sobre sutilezas, desde as imagens que se usa, paridade entre gêneros, raças, usos de vocabulários, lições educativas, etc. que uma questão muito relevante não é priorizada: estes livros agradam aos jovens em formação enquanto leitores? Ou não prendem a atenção deles, a ponto que raramente são recebidos com entusiasmo pelos jovens e apenas os alunos mais submissos, decoradores, obedientes, ou que entendem que, não importa sua opinião, sabem o que deve ser dito/respondido nas provas para serem aprovados. Se isso acontece é uma receita do fracasso: perdemos com a falta de interesse dos alunos pela leitura; perdemos por validar um processo que não é estimulante para a maioria dos alunos e perdemos por ensinar aos mais perspicazes que o cinismo é a boa aptidão para vencer no mundo. E continuaremos a culpar os motivos errados cada vez que um fato como este tornar a acontecer.
Escritor e ativista cultural Alessandro Buzo busca manter viva sua livraria ‘suburbana’
Texto por Gilberto Amendola
SÃO PAULO – Ninguém lê. Não é verdade. Ninguém compra livros. Também não é verdade. Mas toda vez que uma livraria fecha, ou está prestes a fechar, esse é o sentimento preponderante – e essas são afirmações tão absurdas quanto incontestáveis. Hoje, quem está às voltas com a falta de leitores/compradores é o escritor e ativista cultural Alessandro Buzo, de 47 anos.
Buzo é o dono da única livraria especializada em literatura marginal de São Paulo, a Suburbano Convicto. Mas dívidas de aluguel, que não somam mais de R$ 5 mil, e a falta de perspectiva conseguiram o que parecia impossível: minar suas forças. “Já tentamos vaquinha, mobilização online… Não estou com ânimo para fazer tudo isso de novo. Precisa acontecer alguma coisa pra que a livraria continue. Os R$ 5 mil só são irrisórios se você tem de onde tirar”, falou. “Ainda assim, ela não vai fechar porque o aluguel é caro. Ela pode fechar porque ninguém compra nada.”
A Suburbano Convicto fica na Rua 13 de Maio, na Bela Vista, no segundo andar de um prédio. Para ir à livraria é preciso tocar a campainha de número 3, se identificar e subir dois lances de escada. Além das obras do próprio Buzo, também é possível encontrar por lá livros de Ferréz, Sérgio Vaz, Paulo Lins, MV Bill e muitos outros. “Nós estamos tentando vender para especialistas, universidades… Claro, fechando ou não, vamos criar um site para continuar vendendo”, disse Buzo.
A história da livraria se confunde com a do seu idealizador. Há quase 13 anos, em 2007, Buzo andava pelas ruas do Itaim Paulista, na zona leste. A fase era difícil, ele estava desempregado, sem grana, e com poucas perspectivas de ver os livros chegando a qualquer leitor. No caminho para casa, viu um brechó que tinha acabado de fechar – e uma placa de aluga-se pendurada. “Bati palmas e conversei com uma velhinha que era dona. Ela pediu R$ 200 de aluguel e mais a conta de água, que tinha valor fixo de R$ 50”, disse. A proprietária só fez uma exigência: o lugar não podia se transformar em um bar.
Buzo considerou o valor bastante razoável, mas… “Eu não tinha nem essa grana”, confessou. Como morava nos fundos da casa da sogra, foi conversar com ela sobre os planos. “Ela conseguiu o dinheiro emprestado com o vizinho e eu montei a livraria no dia seguinte”, lembrou. “Todos os livros que estavam em bom estado e eram novos. Nunca quis um sebo.”
Foi assim que nasceu a Suburbano Convicto – também nome do segundo livro de Buzo. Por três anos, a livraria realizou conversas com autores, saraus e eventos de divulgação da literatura das periferias. “Um amigo com comércio patrocinava uma cerveja e um refrigerante grátis para os eventos. A gente não sabia se enchia pelo convidado ou pela cerveja.”
Apesar dos eventos e cervejas, foram três anos em que a livraria ficou no vermelho. Antes do carnaval de 2010, Buzo estava prestes a fechar. Naquele período, ele foi realizar uma trabalho em uma produtora de vídeo em um prédio na Treze de Maio. “As pessoas de outras quebradas não iam até o Itaim Paulista. Pensei que, se a livraria estivesse em uma região central, ela podia ser frequentada por gente de todas as regiões de São Paulo”, disse. Como o dono da produtora também era o dono do prédio, Buzo conseguiu negociar a ocupação de uma das salas por um aluguel camarada, abaixo do custo.
Começou então a segunda fase do Suburbano Convicto, no bairro do Bexiga. Por lá, já aconteceram saraus semanais com a participação de Ed Rock (Racionais), Emicida, Criolo, Leci Brandão e outros. No Bexiga, a livraria também teve altos e baixos, mas como, em boa parte do tempo Buzo estava empregado (na TV Cultura, no programa Manos e Minas; e no SPTV, da Globo), “o dinheiro que faltava de um lado era tirado de outro”.
Nos últimos tempos a situação apertou. Os leitores rarearam. E Buzo “deu uma desanimada”. Mas ele não quer fechar e encerrar uma história de 13 anos. Está tentando realizar vendas maiores (para universidades e pesquisadores) e esperando uma resposta dos leitores.
Trem. Buzo tem 14 livros escritos, dirigiu dois filmes e é uma figura ativa nas rodas culturais da periferia. A relação dele com a literatura começou de pequeno, quando a mãe, que trabalhava em um hospital público, comprava gibis da Mônica e alguns livros no caminho para casa.
O primeiro livro (O Trem – Baseado em Fatos Reais) nasceu da rotina das composições que tomava para sair da zona leste para o centro da cidade – onde trabalhava na zona cerealista. No começo, era um panfleto contando sobre os “perrengues” de quem precisava pegar o trem todos os dias. Tentou publicar o texto nos jornais, mas não teve resposta. Transformou o seu desabafo em um livro e, de forma independente, conseguiu lançá-lo no ano 2000.
Os livros seguintes seriam financiados pelos alimentos que vendia na zona cerealista. A partir do seu esforço, Buzo foi conquistando espaços, conheceu muita gente, promoveu muitos trabalhos e, desde que largou o “trampo” na zona cerealista, vive de fomentar a cultura. Ou seja, ele sempre deu um jeito. Quem sabe não é o caso de tentar dar um jeito de novo.
Série pretende mostrar bons exemplos de gente que transforma a cidade
“Guardiões das cidades invisíveis” é uma série de perfis quinzenais preparados pelo repórter Gilberto Amendola. A ideia é apresentar um conteúdo propositivo e que pretende ser inspirador a partir da vida de personagens que atuam ou atuaram para transformar a vida de comunidades carentes das principais cidades brasileiras. A proposta surgiu após convite de Tomas Alvim, cofundador do Arq.futuro e coordenador do Insper, para o Estado visitar o Jardim Colombo, um pedacinho da imensa “cidade” de Paraisópolis, na zona sul da capital, em uma sexta-feira pra lá de abafada do último outono paulistano. Alvim me levou até um terreno em aclive. Ele estava com mato crescente. Dali, a comunidade já havia tirado por volta de 50 caminhões de lixo – a ideia é transformar o que era um lixão em uma praça para a própria comunidade aproveitar nos momentos de folga. A série que começa neste domingo não foi, mas bem que poderia ter sido, inspirada no livro As Cidades Invisíveis, de Italo Calvino, quando a cidade se transforma de um conceito geográfico em algo que dialoga com a experiência humana. Daniel Fernandes, editor do núcleo de Metrópole.
A PublishNewsTV dessa semana entrevistou Eduardo Lacerda, publisher da Patuá
A PublishNewsTV dessa semana trouxe para as suas lentes Eduardo Lacerda, editor da Patuá. Há quase nove anos, Lacerda criou a editora que tornou a poesia possível no mercado editorial brasileiro a nomes não consagrados e poetas iniciantes e hoje é finalista dos mais importantes prêmios literários como o Oceanos, Jabuti, Prêmio São Paulo e Prêmio Rio de Literatura. “O trabalho é no dia a dia, o prêmio é uma consequência”, definiu. Na conversa que teve com André Argolo, Eduardo contou como construiu a editora que deve chegar ao fim do ano com 180 livros publicados, como ele teve que se adequar ao mercado e como enxerga o conceito de editora independente. “Eu ainda sou independente, tenho essa liberdade de criação, mas tenho muito mais responsabilidades e compromissos, dependo de gerenciar bem essa empresa e esse negócio”, contou explicando também sua política de não trabalhar com a maioria das livrarias. “O editor é um parceiro delas, elas não podem tratar como se fosse só um negócio. Não é só um negócio”, concluiu.
Como muitas vezes tudo tem que dar errado para dar certo, Lacerda contou também como o bordado ajudou a editora a encontrar seu caminho, os outros trabalhos que já passaram pela sua vida, como surgiu a ideia do Patuscada, bar da editora, a figura do poeta e os seus sonhos – para ele próprio e para o país –, também fizeram parte da conversa.
No nosso programa mais curto, Maju Alves e Leonardo Neto contam as primeiras novidades da Casa PublishNews 2020 e Talita Facchini resgata notícias do Prêmio Jabuti de dez anos atrás.
Evento trouxe 53 expositores, entre artistas plásticos, cosplayers, ilustradores, caricaturistas, quadrinistas e escritores no Parque da Uva
Literatura e mundo geek são as atrações da 1ª Festa Literária de Jundiaí (Foto: Reprodução/Prefeitura de Jundiaí)
Neste sábado (9), o Parque da Uva recebeu mais um evento da Festa Literária de Jundiaí (FLIJ), que começou no dia anterior e terá, até o dia 15, uma extensa programação gratuita pela cidade.
O objetivo do evento é incentivar o hábito da leitura entre crianças, jovens e adultos e é uma realização da Unidade de Gestão de Cultura (UGC) da Prefeitura e do Conselho Municipal de Política Cultural, por meio da Câmara Setorial de Literatura e apoio das demais Câmaras.
Esta edição da Festa tem como curadora Rosana Congílio e homenageia as escritoras Júlian Heimann e Mariazinha Congílio (está “in memorian”). O evento deste sábado se repete no domingo (10), também no Parque da Uva.
Neste fim de semana, a 13ª JundComics, que trouxe 53 expositores, entre artistas plásticos, cosplayers, ilustradores, caricaturistas, quadrinistas, entre outros, além de cerca de 30 autores literários que também estavam presentes para a realização da 1ª Festa Literária.
Responsável pela organização da JundComics, o ilustrador Ede Galileu contou que aguarda até este domingo a passagem de cerca de 5 mil pessoas pelo Parque da Uva, para prestigiar não só os expositores, como as demais atrações programadas para o evento.
“Entre nossas palestras, conseguimos trazer nomes como Marcio Antonio Cortez, que é ilustrador de literatura em quadrinhos; pockets shows como o do Harry Potter, e apresentação de bandas, como a Ryusei, que tem um repertório baseado em temas de séries, animes e videogames”, diz, lembrando que no domingo (10), às 14h, a palestra “Quadrinhos e Literatura Fantástica” será feita pelo quadrinista e escritor Tiago Zanetic.
Rosana Congílio, que assim como Ede Galileu integra o Conselho Municipal de Política Cultural de Jundiaí, contou estar empolgada com a realização da 1ª FLIJ. “Esta mistura de públicos é uma oportunidade de troca, de conhecimento, e de possibilidades de termos nomes como Júlia Heimann, que é uma das nossas homenageadas, Élvio Santiago, e tantos outros interagindo com autores mais jovens, com artistas do cenário de quadrinhos. Isso é muito positivo”, destacou.
Mistura de públicos
A estudante autodidata de desenhos, Giovanna Montrés, de 14 anos, pediu à mãe que a levasse ao Parque para participar da JundComics. “Adoro o universo geek e não queria perder a oportunidade”, disse.
O artista plástico, Elbert Alves da Cunha, 24 anos, llevou algumas de suas esculturas para a mostra e aproveitava o público presente para explicar um pouco de sua técnica de modelagem, realizada em massa clay. “Acho muito importante eventos como este, porque é uma forma do público conhecer o nosso trabalho.”
Já na parte literária, a romancista histórica Tuka Vilhena estava ansiosa para apresentar sua mais nova produção literária, o romance “Honra ou Traição”. “A história se passa na Escócia, em 1359, e vou lançar aqui na FLIJ, que é uma ótima oportunidade para que o público da cidade conheça os talentos daqui. Eu, por exemplo, sou aqui de Jundiaí, mas vendo muito mais meus livros pela internet”.
Para conferir toda a programação de eventos da 1ª FLIJ, clique aqui.
No dia 09/11, acontece a mesa-redonda sobre “A importância do Livro na Cultura Contemporânea”, com a participação de Edson Manoel de Oliveira Filho (É Realizações Editora), Hugo Langone (Quadrante e Petra), José Luiz Tahan (Realejo e Tarrafa Literária) e mediação de Diogo Chiuso (É Realizações Editora).
A Biblioteca Municipal “Dr. Júlio Prestes de Albuquerque”, em Itapetininga, é finalista na 4ª edição do Prêmio Instituto Pró Livro (IPL) – Retratos da Leitura, categoria Bibliotecas: Públicas, escolares e comunitárias.
O projeto inscrito foi o Clube do Livro, que é realizado mensalmente na Biblioteca, reunindo um público diversificado para leitura e debate de obras dos mais variados gêneros e estilos, com participação aberta e gratuita. O principal objetivo do Clube do Livro é formar leitores, expandir o universo da leitura e ter a biblioteca como um ponto de encontro comunitário.
A premiação será em São Paulo, no dia 4 de dezembro e contará com a presença do grande escritor brasileiro, Pedro Bandeira. A equipe da Biblioteca e a jornalista Fernanda Gehrke, que voluntariamente conduz o projeto, estarão presentes.
Sobre o Instituto Pró-Livro
O Instituto Pró- Livro – IPL é uma associação de caráter privado e sem fins lucrativos mantida com recursos constituídos, principalmente, por contribuições de entidades do mercado editorial, com o objetivo principal de fomento à leitura e à difusão do livro.
Foi criado em outubro de 2006, como resultado de estudos e conversação entre representantes do governo e entidades do livro, e constitui uma resposta institucional à preocupação de especialistas de diferentes segmentos – públicos e privados – das áreas da educação, cultura e de produção e distribuição do livro, pelos níveis de letramento e hábitos de leitura da população em geral e, em particular, dos jovens, significativamente inferiores à média dos países industrializados e em desenvolvimento.
A data instituída em homenagem à fundação da Biblioteca Nacional – na época Real Biblioteca -, instalada oficialmente no Rio de Janeiro em 29 de outubro de 1810
Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação / Governo do ES
Um mercado em transformação, com novos consumidores potenciais e a carência de estratégias para a formação de novos leitores é a descrição do mercado literário brasileiro, feita por escritores. O mercado reúne profissionais apaixonados pelo que fazem. No Dia Nacional do Livro, a Agência Brasil conversou com autores e editores.
“Nós todos que trabalhamos com escrita, com texto, com formas de abstração, somos todos sonhadores”, diz a autora e editora na Página Editora, de Belo Horizonte (MG), Cláudia Rezende. “Acredito muito na literatura, na força de formar um leitor fluente, na diferença que isso faz na vida das pessoas”, acrescenta.
Cláudia publicou o primeiro livro este ano, Poli Escolhe, que tem como tema o processo de escolha das crianças. O lançamento vem junto com um trabalho já conhecido de autores, de divulgação, de lançamento da obra, de distribuição e vendas.
“Há crise no mercado, temos editoras fechando, livrarias em dificuldade, mas, por outro lado, temos também uma facilidade maior de publicar. Na editora recebemos muita procura por publicação”, diz. Segundo ela, editoras pequenas, como a Página são as que “estão realizando sonhos. Antes, dependia-se de grandes editoras, agora não”, afirma.
Cláudia destaca, no entanto, que a concorrência editorial é alta, sobretudo com livros impressos em outros países, de baixo custo. “A gente nem visa a determinados públicos porque não há como concorrer com dois livros a R$ 10”, diz. A estratégia tem sido, então, segundo ela, recorrer à maior qualidade, à busca por obras que reflitam as ideias de cada autor.
Editais e vaquinhas
Além das editoras, editais públicos e vaquinhas aparecem como alternativa, sobretudo para novos autores. A escritora Sílvia Amélia de Araújo, de Cidade de Goiás (GO), recorreu às duas estratégias. Ela já tem livros publicados e outros ainda na gaveta, quase prontos para serem lançados.
Foi com recursos do edital de Literatura do Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás que Sílvia publicou o livro No meio do caminho. A obra, vendida a R$ 15, reúne histórias de pessoas que compartilharam com ela viagens em transportes públicos. De quem sentava ao lado e falava da vida. “Fiz o livro voltado para pessoas de baixa escolaridade, pessoas adultas que se alfabetizaram recentemente ou que têm pouco estudo, que não vão conseguir ler um livro denso de letra pequena, mas que também não se interessam por livros infantis”, conta.
O edital, segundo ela, tornou a obra mais acessível. “O brasileiros têm um hábito de leitura ainda muito baixo, mas valor da leitura é alto no país. As pessoas acham importante ler, acham valioso e esperam que seus filhos sejam leitores. Acho que existe campo para trabalhar e, nesse sentido, os editais são importantes porque permitem esse tipo de coisa que eu propus, distribuir os livros ou vender muito baratinho”, diz.
A estimativa é que 44% dos brasileiros sejam não leitores, o que significa que não leram nenhum livro nos últimos três meses, de acordo com a última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro.
A autora conseguiu ainda, por meio de uma vaquinha online, financiamento para lançar mais dois livros: Álbum de histórias e Guia Casar Bonito. Como está grávida, a contagem para o lançamento é também pelo tempo do bebê. Ela pretende lançar um livro antes do nascimento, previsto para fevereiro, e outro depois.
Apesar dos projetos em andamento, Sílvia diz: “é difícil viver só da literatura, só da venda de livros, é raríssimo encontrar alguém que viva só disso. Mas, é possível construir uma carreira em torno disso. Eu dou oficinas de escrita, é algo que me dá uma renda e tem relação com o que eu quero fazer”.
Cenário de transformações
Para a diretora executiva da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Fernanda Garcia, o livro no Brasil está passando por transformações. O Painel do Varejo de Livros no Brasil, pesquisa da Nielsen Brasil e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), mostra leve melhora de 0,96% das vendas de livros entre setembro e outubro de 2019, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Em 2018 foram vendidos 2,9 milhões de livros e, em 2019, 3 milhões entre o início de setembro e o início de outubro de cada ano. Em valores, o aumento foi de 3,74%, passando de R$ 112,7 milhões para R$ 116,9 milhões. “[A pesquisa] este ano mostrou, pela primeira vez, um crescimento, pequeno, mas a curva para cima. A gente está feliz com isso”, diz Fernanda. “Embora não seja uma recuperação, demonstra um cenário, uma curva de crescimento”.
Apesar do crescimento no mês, no acumulado do ano, de janeiro a outubro, 2019 ainda está abaixo de 2018. O volume de livros vendidos acumula até agora queda de 10,26% e o valor das vendas, queda de 9,53%.
Fernanda cita várias mudanças no consumo de obras literárias, como o surgimento de diversos clubes de leitura, o fortalecimento dos audiolivros e livros digitais, o avanço de livrarias independentes e de nicho, ao mesmo tempo que o enfraquecimento de grandes redes. “Paralelamente a isso, há uma geração que vem fazendo livro de forma diferente, mais conectada a um tipo específico de público”, diz.
A diretora defende que para que o hábito da leitura se perpetue e para que o mercado de livros se sustente, é preciso um trabalho, principalmente do Poder Público, na formação de leitores. Para isso, a CBL defende a regulamentação da Política Nacional de Leitura e Escrita (PNLE), sancionada em lei no ano passado.
Entre outros pontos, a política visa à universalização do direito ao acesso ao livro, à leitura, à escrita, à literatura e às bibliotecas e, para isso, prevê a formação de pessoal e o fortalecimento dos acervos. “A gente acredita muito no livro como elemento transformador da sociedade, da educação, do país”, defende.
Dia Nacional do Livro
O Dia Nacional do Livro foi instituído em homenagem à fundação da Biblioteca Nacional – na época Real Biblioteca -, instalada oficialmente no Rio de Janeiro em 29 de outubro de 1810.
Em sua coluna, Carlo Carrenho faz uma análise sobre o mercado de audiolivros e tenta responder a essa pergunta que é uma das grandes questões do momento
Texto por Calor Carrenho
No mundo todo, a Suécia se tornou famosa por muitas coisas: IKEA, excelentes almôndegas, carros seguros, ficção policial e, mais recentemente, a inspiradora ativista adolescente Greta Thunberg. Você pode adicionar outra coisa à lista: o mercado de assinaturas de audiolivros.
A pioneira empresa sueca Storytel demonstrou uma ambição estilo viking de espalhar pelo mundo suas assinaturas mensais de audiolivros sem restrições. E, por qualquer medida usada, podemos dizer que o modelo conquistou os consumidores. De acordo com um relatório recente, o Bokförsäljningsstatistiken, copublicado pela Swedish Publishers Association e pela Swedish Booksellers Association, as vendas nas plataformas de assinatura na Suécia saltaram para 19,8% no primeiro semestre deste ano, em comparação com 15,8% das vendas das editoras em 2018, com apenas 6,9% dessas vendas sendo de e-books. E a revista Svensk Bokhandel sobre o mercado editorial estima que até 30% da receita das editoras virá de plataformas de assinatura digital no próximo ano – com a liderança do áudio digital.
A Storytel não está sozinha – o Bookbeat do Bonnier Group, o Bokus Play do Akademibokhandel Group e o Nextory também estão competindo no mercado de assinaturas sueco. Mas a Storytel é de longe a líder de mercado na Suécia, com uma participação estimada em 77% em 2018. E a Storytel é o serviço mais global, agora presente em 19 territórios, incluindo o recente desembarque na Colômbia e no Brasil.
Como a chegada do modelo de assinatura digital afetou as editoras suecas? Em seu último relatório, a Swedish Publishers Association afirmou que o mercado geral de livros cresceu 5,1% em termos de unidades nos primeiros seis meses de 2018, com 24,3 milhões de cópias vendidas individualmente e por assinatura digital. Mas em termos de receita, o mercado diminuiu ligeiramente, cerca de 0,4%, para 1,96 bilhão de coroas suecas (200 milhões de dólares), com grandes diferenças entre os vários canais. Por exemplo, livrarias físicas, supermercados e varejistas on-line informaram que as vendas de livros impressos caíram 7,6% em termos de unidades e 5,2% em termos de receita. Enquanto isso, a assinatura digital cresceu 25,7% em unidades e 25,3% em receita.
A conclusão mais óbvia que se pode tirar desses números, é claro, é que as plataformas de assinatura digital estão canibalizando as vendas de livros das editoras. Será que isso é verdade?
Não necessariamente, diz o economista e pesquisador sueco Erik Wikberg, autor de um estudo recém-publicado chamado “Ljudboken: Hur den digitala logiken påverkar marknaden, konsumtionen och framtiden” (que pode ser traduzido como “O Audiolivro: Como a lógica digital influencia o mercado, o consumo e o futuro”). “Não devemos pensar automaticamente nisso como causa e efeito”, diz ele. “As vendas de livros impressos estavam em declínio antes do rápido crescimento das plataformas de assinatura. Há mais de um fator em jogo aqui. Não devemos esquecer que muitos ouvintes de audiolivros também leem livros impressos. No entanto, também não devemos descartar que as plataformas de assinatura podem ser uma substituição e não um complemento para livros impressos no futuro.”
Wikberg acredita que é cedo para tirar conclusões sobre o impacto geral das assinaturas de áudio digital no mercado de livros como um todo. “Esse ainda é um comportamento muito novo entre os consumidores”, adverte.
Patrik Övreby, diretor de compras da Akademisbokhandeln, a maior rede de livrarias da Suécia, concorda. “Como todos sabemos, os números podem variar bastante de ano para ano, dependendo dos títulos publicados”, diz Övebry, acrescentando que sua empresa apresentou um bom desempenho até agora neste ano. “Durante o primeiro semestre do ano, ao contrário do restante do mercado, nosso grupo aumentou as vendas de livros físicos e ganhou uma participação substancial no mercado”, ressalta. Isso, é claro, não significa que a canibalização não esteja acontecendo. Mas serve para lembrar, como sugere Wikberg, que a pergunta não é simples.
Enquanto isso, surge outra pergunta: por que a Suécia foi o país onde se desenvolveu um mercado de assinaturas de audiolivros tão robusto e florescente? A Storytel tem muito a ver com isso.
“É justo dizer que a Storytel é o ator que mais mudou o mercado sueco de livros nas últimas décadas”, diz Wikberg. Mas, ele acrescenta, essa mudança não aconteceu da noite para o dia. “Eles tiveram anos difíceis no começo e mostraram muita persistência”, diz Wikberg. “A Storytel estava à frente do seu tempo. Mas a penetração dos smartphones e o crescimento de modelos de assinatura para TV, cinema e música tiveram um papel crucial no sucesso da empresa.”
O que o resto do mundo pode aprender com a experiência sueca de assinaturas de áudio digital? Em primeiro lugar, apesar de serem populares entre os consumidores e mostrarem um rápido crescimento, há questões sobre sustentabilidade.
“Primeiro, nenhum dos serviços de assinatura é realmente lucrativo e a empresa prioriza estrategicamente o crescimento antes da lucratividade. É muito intensivo em capital. E ainda não sabemos até que ponto esse mercado será lucrativo”, diz Wikberg. “E o modelo de remuneração para as editoras é um assunto muito delicado. Há um grande debate sobre se as plataformas de assinatura devem ter um modelo de divisão de receita ou pagar uma remuneração fixa sobre cada item consumido.”
Tudo isso significa que há um risco associado à adoção dessas novas plataformas e modelos. Wikberg, no entanto, sugere que as editoras suecas deveriam se preocupar principalmente com um assunto mais urgente, já que é cada vez maior o conteúdo digital competindo agora pela atenção do consumidor.
“Se eu tivesse que escolher, focaria principalmente nas ameaças relacionadas com a forma como o consumo de mídia está indo dos livros para outros produtos”, diz Wikberg. “A parcela de jovens suecos de 18 anos que lê todos os dias caiu de 27% para 11% em apenas seis anos e, no lugar, eles estão consumindo outros tipos de mídia digital. Esta é a minha maior preocupação agora. Não apenas para os atores do mercado editorial, mas para a nossa sociedade como um todo.”
Observados sob esse prisma, quaisquer que sejam os desafios que os negócios de assinatura de áudio digital apresentem ao mercado editorial existente, essas plataformas ainda podem ser mais uma solução do que um problema. Afinal, como aponta Wikberg, com uma nota esperançosa, os dados mostram que os audiolivros digitais estão expandindo a audiência das editoras.
“Em volume, as pessoas estão consumindo mais livros do que nunca”, diz Wikberg, mesmo que estejam escolhendo ouvi-los, em vez de lê-los. “Isso indica que ainda há uma demanda subjacente e um forte interesse pela literatura.”
Cinco editoras sediadas na Cidade Universitária têm trajetórias de conquistas, lutas e dificuldade
Por Maria Laura López
Livraria João Alexandre Barbosa, Edusp – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Seja pelo nome que remete à Universidade de São Paulo ou pelos quase 4.000 títulos publicados por ela, a Editora da USP (Edusp) é a editora da universidade mais conhecida dentro e fora do ambiente acadêmico. No entanto, existem no mínimo outras quatro sediadas na USP – Publicações BBM, Com-Arte, Humanitas e Discurso Editorial -, que também publicaram importantes obras ao longo de sua história e fazem parte, cada uma a seu modo, do concorrido mercado editorial universitário.A Edusp atualmente publica trabalhos de todos os institutos da USP. Desde a área de exatas, como o livro Números – Uma Introdução à Matemática (2013), de César Polcino Milies e Sônia Pitta Coelho, que ganhou o 41° Prêmio Jabuti, levando o 3° lugar em Ciências Exatas, Tecnologia e Informática, até a área de artes, como a obra A Erótica Japonesa na Pintura & na Escritura dos Séculos XVII a XIX, de Madalena Natsuko Hashimoto Cordaro, ganhadora de quatro prêmios: 4° Prêmio Abeu (Projeto Gráfico), 4° Prêmio Abeu (Linguística, Letras e Artes), Icas Book Prize e Prêmio Mário de Andrade.
“Acredito que o grande diferencial da Edusp está na qualidade de suas publicações, não só em relação ao conteúdo, mas também quanto ao trabalho gráfico que realiza”, afirma o presidente da Edusp, Lucas Antonio Moscato. Ainda segundo ele, essa boa atuação rendeu a ela o reconhecimento como editora mais premiada do País, em 2018.
A Edusp, criada em 1962, começou a publicar títulos próprios em 1988 e, até hoje, já tem quase 4.000 obras em catálogo. “Acho que, além da qualidade das publicações, nosso interesse maior é disponibilizar aquele conteúdo e torná-lo acessível a quem precisa dele”, conta também Bruno Tenan, diretor de marketing da Edusp.
A Publicações BBM aparece como nova promessa. “Aqui nós estamos iniciando uma editora, já temos uma meia dúzia de títulos publicados, e temos como projeto publicar coisas um pouco mais ligadas ao mundo do livro”, conta o professor Plinio Martins Filho, editor do setor de publicações da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin.
As obras da editora da biblioteca visam a atender às pesquisas ali desenvolvidas e o acervo de obras raras que contém. Dentre os recentes títulos publicados está O Bibliófilo Aprendiz, de Rubens Borba de Moraes, que é “referência para colecionadores”, como afirma Martins Filho. O professor, que trabalha com editoras desde 1971 e ficou cerca de três décadas na Edusp, agora, além de trabalhar na BBM, também coordena o projeto laboratório do curso de Editoração da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, a Com-Arte.
A editora da ECA também é orientada pelos professores Marisa Midori e Thiago Mio Salla. Para Marisa, a principal preocupação da Com-Arte é formar os alunos para o mercado de trabalho. “O laboratório é dividido em três semestres para que os estudantes possam aprender todas as fases do desenvolvimento de um livro, desde a escolha dos originais até sua impressão.”
Criada praticamente junto com o curso de Editoração, em 1972, a editora já tem mais de 400 publicações e recebeu no ano passado o Prêmio Jabuti pelo livro Design de Capas do Livro Didático, de Didier Dias de Moraes. “A qualidade das nossas publicações está diretamente ligada à formação dos nossos alunos. Queremos que eles entendam que a identidade da editora é o editor”, afirma Marisa.
Crise do mercado afeta duas editoras
Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Dessa forma, Edusp, Publicações BBM e Com-Arte apontam para o futuro do mercado editorial ligado à Universidade de São Paulo. E principalmente, se mostram como as principais plataformas de divulgação da cultura do conhecimento produzido na USP. Mas, se essas três editoras têm o que comemorar, outras duas – também ligadas à Universidade – passam por percalços. A Editora Humanitas e a Discurso Editorial, ambas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, por outro lado, não têm conseguido escapar da crise atual e vêm sofrendo com a queda nas vendas do mercado livreiro.
A Humanitas foi criada há 15 anos por um grupo de professores da FFLCH com intuito de divulgar os trabalhos dos próprios docentes e dos alunos da faculdade. Durante esses anos chegou a publicar cerca de 500 livros, tornando-se muito reconhecida no ambiente acadêmico. “Apesar disso, em vista de diversos problemas, nós estamos tendo que fechar”, diz a professora Ieda Maria Alves, coordenadora da Humanitas, que não quis se aprofundar a respeito dos motivos do fechamento da editora.
Já o professor do Departamento de Filosofia Milton Meira do Nascimento foi mais aberto ao falar sobre o encerramento das atividades da Discurso Editorial, que foi criada em 1993 e que ele coordena sozinho atualmente. “Nós sobrevivíamos com a venda dos livros, mas, com a drástica queda no consumo dos últimos anos, tivemos que dispensar as poucas funcionárias que tínhamos.” Assim os recursos para a produção de novas obras e divulgação das que ainda existem foram ficando cada vez mais escassos.
Dentre as cerca de 120 publicações da Discurso está o livro Descartes Segundo a Ordem das Razões (2016), de Martial Gueroult, que teve seus dois volumes condensados e traduzidos do francês para o português, num trabalho que durou cinco anos. Outra produção que marcou a história da editora foi o Jornal de Resenhas, que de 1995 a 2004 foi encartado no jornal Folha de S. Paulo, e contou com textos de intelectuais como Antonio Candido e Marilena Chauí.
3ª Feira Literária do Sertão (Felis), em Arcoverde, leva a cineasta Kátia Mesel e o roteirista Nélson Caldas Filho para dialogar com o público, dia 26 de outubro, às 18h30, na Praça Winston Siqueira
Audiovisual e literatura sempre trocaram figurinhas. Mas nem tudo é preto no branco: as palavras contidas em um livro não vão para a telona de forma literal. Afinal, como resumir uma obra de 500 páginas em duas horas? Esse, porém, não é apenas o único dilema. “Muita gente assiste a um filme baseado em um livro e comenta ‘gostei mais do filme’ ou ‘o livro é melhor’. Não dá para fazer esse tipo de comparação pois são linguagens diferentes”, explica o roteirista Nelson Caldas. Ele estará ao lado da cineasta Kátia Mesel, dentro da programação da 3ª edição da Feira Literária do Sertão (Felis), na Praça Winston Siqueira. O evento é uma co-realização da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) com o Coletivo Cultural de Arcoverde (Cocar). O Diálogo Alimentação e Identidade, dia 26 de outubro, às 17h30, ocorre na Praça Winston Siqueira.
O cinema é uma das muitas linguagens que dialoga com a literatura dentro da Felis (ver programação ao final da matéria). Realizada em Arcoverde de 24 a 27 de outubro, nesta edição a Felis aborda o tema
Literatura, Preservação e Memória. “O atual momento político do Brasil e do mundo reflete uma tendência ao revisionismo da história e a literatura pode ser um grande antídoto à tentativa de se apagar o passado. Há também uma discussão local que a Felis propõem uma reflexão geral: estamos cuidando da nossa memória patrimonial?”, destacou Kleber Araújo. É o primeiro evento a ser realizado dentro do Circuito Cultural de Pernambuco, que reúne ações da Cepe, Secretaria de Cultura de Pernambuco e Fundarpe nas diversas linguagens artísticas. Serão mais de 40 horas e quase 60 atividades dentro de uma programação totalmente gratuita, que abrirá espaço para lançamentos de livros de autores locais e convidados, palestras, rodas de conversas, debates, apresentações musicais, oficinas, teatro, dança e gastronomia.
A cineasta recifense Kátia Mesel enxerga a proximidade entre audiovisual e literatura a partir do roteiro. “No início de um filme tudo é escrito: primeiro o argumento, depois o roteiro. O cinema já nasce com a palavra escrita”, observa Kátia. Mas como nasce o roteiro? “De uma fofoca sai um mito, depois um livro, a seguir um filme. Essas trajetórias fazem parte da humanidade”, acredita Nélson. O pernambucano é roteirista da TV Globo e já adaptou 20 novelas da emissora para DVD. “A novela possui a linguagem de ganchos. Por isso acabo contando a minha novela dentro de outra novela. Conto minha história como acho que deve ser contada”, explica.
Premiada internacionalmente, Kátia é reconhecida como a primeira diretora pernambucana, e já realizou mais de 300 filmes, desde a década de 1960. Mas dessa gama apenas três foram inspiradas em obras literárias, o que não exime o realizador de inevitavelmente produzir literatura ao escrever o roteiro. “Cacá Diegues, por exemplo, é membro da Academia Brasileira de Letras por causa dos seus roteiros”, ressalta.
Isso, claro, para quem realiza filmes da maneira formal, como Kátia ressalta. “Sem esquecer de todas as licenças poéticas para uma ideia na cabeça e uma câmera na mão. Para resguardar a autoralidade da obra cinematográfica é preciso registrar por escrito”. Dentre os filmes inspirados em literatura, Kátia destaca seu premiado documentário Recife de dentro pra fora (1997), inspirado no poema Cão sem Plumas (1940-1950), de João Cabral de Melo Neto. “Basear-se em uma obra escrita por outra pessoa é desvendar seu conceito. Fiz grandes transtornos na obra poética. Mudei o sentido do rio, troquei estrofes de lugar. São olhares reversos”, explica a cineasta, que depois se encontrou pessoalmente com o autor e ele disse: ‘A obra de arte é como um filho. Depois que você coloca no mundo não é mais sua’”.
Kátia também fez outras duas obras inspiradas em literatura. Rosana (2008) é baseada no livro de poemas de Cida Pedrosa, As filhas de Lilith (2008). Já Oh de Casa (1985) é baseado em textos de Gilberto Freyre, e traz imagens do escritor.
Apesar de íntimas, para Nélson literatura e audiovisual são duas narrativas totalmente diferentes. “O importante é não haver preconceito entre as linguagens. É uma linguagem em cima de outra linguagem”, diz. O filme Através da Sombra (2016), dirigido por Walter Lima Jr. e com roteiro de Nélson Caldas Filho, é inspirado no clássico livro A volta do parafuso (1898), do inglês Henry James. “O desafio foi transportar para outra época”. No momento, o roteirista está adaptando o conto A queda da casa de Usher, do escritor americano Edgar Allan Poe. “Trago ele para o litoral recifense do começo do século 20”, adianta o roteirista, para quem a maioria dos filmes que assistimos são baseados em livros. “Só que são títulos desconhecidos, portanto ninguém se dá conta”.
Além da exposição dos livros, os visitantes poderão participar de palestras sobre o mercado literário Carla Menezes
Mais de 180 editoras independentes nacionais e internacionais participarão da sexta edição da Feira Miolo(s), que acontecerá no fim de semana dos dias 2 e 3 de novembro. Desde 2014, o evento é realizado na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo.
Além da exposição dos livros, o evento contará com o ciclo de palestras curtas Fala Miolo(s). Os temas vão desde produção impressa e arte gráfica até a circulação dos produtos.
A feira acontece das 17h às 20h nos dois dias de evento (sábado e domingo) e a entrada é gratuita.
Confira a programação de palestras:
SÁBADO, 3 DE NOVEMBRO
12h Um panorama da produção de arte impressa, com JOÃO VARELLA e CECILIA ARBOLAVE
13h Estratégias para amenizar a invisibilidade da produção gráfica-literária fora dos centros, com LARISSA MUNDIM
14h Livro objeto na Argentina, com GUSTAVO DARÍO LOPEZ
15h A tradição reinventada: editar livros hoje, com PAULO VERANO
16h Ateliê de impressão como projeto social, com LUIZ LIRA
17h Um puñado de literatura latino-americana, com LAURA DEL REY
18h Processos, colagens e narrativas, com RICARDO RODRIGUES
19h Eu nunca leio, só vejo figuras: livro de artista para crianças, com AMIR BRITO CADOR
DOMINGO, 4 DE NOVEMBRO
13h Transcriação: da fala pro papel e vice-versa, com DANIEL MINCHONI
14h Publicações de artista como cartografia de territórios possíveis, com VANIA MEDEIROS
15h Novas vozes na literatura nas suas primeiras publicações, com EDUARDO LACERDA
16h Caminhos de livrarias e editoras independentes na Colômbia, com ALEJANDRA ALGORTA e ANDREA TRIANA
17h Histórias em quadrinhos: gênero e representação, com GABRIELA BORGES
18h As quatro décadas dos Cadernos Negros, com ESMERALDA RIBEIRO e MÁRCIO BARBOSA
19h Criação coletiva e experimental de arte gráfica, com DANIEL BUENO
Kelly Luegenbiehl, vice-presidente da Netflix, foi a sabatinada desse ano no CEO Talk da Feira do Livro de Frankfurt
Já há alguns anos, os principais veículos de comunicação especializados na cobertura do mercado editorial no mundo aproveitam a Feira do Livro de Frankfurt para entrevistar personalidades fundamentais da indústria global do livro. Já passaram pelo CEO Talk nomes como Markus Dohle (Penguin Random House), Brian Murray (HarperCollins), John Sargent (Macmillan) e Jacob Dalborg (Bonnier).
Mas, nesse ano, os organizadores — Bookdao (China), buchreport (Alemanha), Livres Hebdo (França), PublishNews (Brasil) e Publishers Weekly (EUA) — resolveram chamar a representante de uma outra indústria do entretenimento e a convidada foi Kelly Luegenbiehl, vice-presidente de conteúdos originais da Netflix.
Durante a entrevista que ocupou o Frankfurt Pavilion numa tarde chuvosa, Kelly repetiu por diversas vezes que não vê os editores como concorrentes. “São parceiros. Não estamos em competição para saber quem faz mais rápido ou melhor. Estamos simplesmente tentando dar aos livros uma nova oportunidade, uma nova vida”, disse. “Não somos capazes de estar em todos os lugares e conhecer todos os livros, por isso, os editores e agentes são fundamentais no nosso trabalho. Eles nos ajudam a achar a próxima grande história. Quanto mais colaboração, melhor”, continuou.
Responsável pela aquisição de conteúdos em idiomas que não o inglês, Kelly reforçou também que o que interessa à Netflix são boas histórias. “Não precisa ser necessariamente um best-seller, mas uma história com personagens capazes de enriquecer os episódios de uma série”, disse. “Precisamos de histórias únicas”, completou.
A íntegra da entrevista está disponível no YouTube da Feira.
Para iniciar, complementaria esta pergunta com outra pergunta: O que tem sido feito pela população negra para a redução das desigualdades? Esta alteração da pergunta se dá, pois a maior parte das iniciativas, dentro ou fora da biblioteconomia, voltadas para a equidade racial, é fruto dos movimentos negros, ou de pessoas negras, que individualmente lutam para pôr um fim na disparidade racial das condições de vida e de oportunidades entre negros e brancos no Brasil.
A ousadia de propor mais uma pergunta para este tema ganha maior entendimento se pensarmos em iniciativas pioneiras de profissionais da informação nas tentativas de fazer uso dos instrumentos que a nossa profissão nos oferece para, por meio de processamento, tratamento, mediação e disseminação da informação — além da produção de artigos, ensaios curtos e organização de publicações —, formularmos um pensamento negro dentro da ciência da informação.
Em breve análise da produção científica sobre os temas bibliotecas e desigualdades raciais e relações étnico-raciais na ciência da informação, alguns resultados ficam evidentes; é a partir da década de 2010 que começa a surgir uma produção científica mais significativa e de fácil recuperação sobre estes temas dentro destas áreas.
Vou destacar alguns trabalhos que apresentam uma reflexão mais robusta sobre o tema: “O negro na biblioteca”, de Francilene Cardoso (2015); “Afrocentricidade: discutindo as relações étnico-raciais na biblioteca”, de Elisângela Gomes (2016); “Africanidades e relações raciais: insumos para políticas públicas na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil” (FCP, 2014), da escritora e pesquisadora Cidinha da Silva (um livro mais abrangente, que estabelece reflexões dentro e fora da área da biblioteconomia). “A biblioteca pública na (re)construção da identidade negra” (2011), de Francilene Cardoso; “As temáticas africana e afro-brasileira em biblioteconomia e ciência da informação” (2017), de Franciele Garcês; “Diversidade étnica na biblioteca e a aplicação da lei 10.639” (2017), de Andreia Sousa da Silva e Sandra Regina Fontes e, por fim, o livro “Epistemologias negras: relações raciais na biblioteconomia”, com diversos organizadores, alguns já aqui citados.
Cabe aqui também citar a produção da bibliotecária Dandara Baçã, que, entre outras produções, tem um texto de grande importância, chamado Desculpa eu não te vi, publicado aqui mesmo na Biblioo, e que me traz à luz a escrita da grande intelectual Lélia Gonzalez.
Outra evidência é que a bibliografia destes textos não cita obras de outros bibliotecários pesquisadores sobre o tema africanidades, relações raciais e bibliotecas, que sejam anteriores a 2010, o que me estimula a trabalhar nesta apresentação com a hipótese de que esta temática até o fim da década de 2000 e início da década de 2010 não era suscitada pela área, não se apresentava como um objeto de pesquisa e não encontrava nos professores-orientadores desejo e preparo para enfrentá-la.
Neste sentido, colocamos para nós, profissionais da informação e pesquisadores, um questionamento ético: podemos nos apoderar da identidade “profissionais da informação” se não contemplamos em nossos interesses profissionais e como pesquisadores questões tão pertinentes às relações do profissional da informação e do usuário, tais como diversidade, identidade e relações raciais no Brasil? Podemos nós, profissionais da informação, marginalizar determinados temas? Como manter uma postura profissional para a democratização da informação incluindo temas que se querem democratizados?
Olhando para o lado cheio do copo da situação apresentada, ao reunir nesta reflexão estes profissionais que vêm se dedicando a explorar estas temáticas, apontar o que eles pesquisam e informar que eles estão se referenciando a partir de conteúdos de diversas outras áreas, textos da educação, das ciências sociais, da filosofia e dos estudos culturais, por exemplo — e sendo a interdisciplinaridade um fundamento da ciência da informação —, eu também afirmo, e esta é minha segunda hipótese, que este grupo de pesquisadores pode vir a fundar um novo conceito dentro da ciência da informação, ou ao menos afetar os conceitos já existentes, impregnando-os de negritude.
E, talvez, seja esta a grande força desses pensadores negros bibliotecários, lançar luz sobre este objeto de estudo, descrevê-lo, traduzi-lo e, por fim, democratizá-lo. Esta mesa no painel principal do CBBD (Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação) [ocorrido entre os dias 1 e 4 de outubro deste ano em Vitória, ES] “Bibliotecas e a redução das desigualdades: o que tem sido feito para a população negra? Como avançar?”, é uma comprovação de que o trabalho que vem sendo feito já apresenta alguns bons resultados.
O RACISMO É INSTITUCIONAL E ESTRUTURAL
Cabe também refletir sobre qual é o cenário que nos leva a promover determinados temas em detrimento de outros. Atualmente caminhamos para um consenso de que o Brasil é um país onde se reproduzem cotidianamente práticas racistas. Algumas pesquisas são famosas por nos informar que mais de 90% dos entrevistados não se consideram racistas, mas conhecem alguém muito próximo que tem atitudes de discriminação racial. Ou seja, o mal existe, ele só não é reconhecido por quem o aplica.
Saindo de uma percepção sobre indivíduos, que pode ser pouco produtiva para nossa reflexão, cabe atentarmos para o fato de que o racismo é também institucional e estrutural. Institucional porque, como afirma Sílvio Almeida em “O que é racismo estrutural” (2018), as instituições concedem privilégios a determinados grupos de acordo com a raça. As instituições estabelecem e regulamentam as normas e os padrões que devem conduzir às práticas dos sujeitos, conformando seus comportamentos, seus modos de pensar, suas concepções e preferências.
Para Sílvio Almeida, o racismo é estrutural por ser uma decorrência da estrutura da sociedade que normaliza e concebe como verdade padrões e regras baseadas em princípios discriminatórios de raça. O autor ainda enfatiza que o racismo é parte de um processo social, histórico e político que elabora mecanismos para que pessoas ou grupos sejam discriminados de maneira sistemática.
Ora, se o racismo é institucional e estrutural, é possível entender que as universidades, os cursos de biblioteconomia e ciência da informação, os programas de pós-graduação, os grupos de pesquisa, todo o universo acadêmico está contaminado por esta mediação que o racismo estabelece nas relações entre as pessoas, em que “os princípios discriminatórios são produzidos e difundidos de maneira poderosa, naturalizando essa hegemonização e eliminando o debate sobre as desigualdades raciais e de gênero que compõem as instituições[2].”
Esta conformação da academia, e, aqui, falo mais especificamente dos cursos de biblioteconomia e ciência da informação, que deixou submersos temas afro-brasileiros nos programas dos seus cursos, dialoga com a noção que Sueli Carneiro elabora para epistemicídio. Para a filósofa, o epistemicídio é um processo persistente de produção da indigência cultural: pela negação ao acesso à educação, sobretudo de qualidade; pela produção da inferiorização intelectual; pelos diferentes mecanismos de deslegitimação do negro como portador e produtor de conhecimento e de rebaixamento da capacidade cognitiva pela carência material e/ou pelo comprometimento da autoestima pelos processos de discriminação correntes no processo educativo.[3]
Se, por um lado, o racismo institucional afetou a produção acadêmica sobre esta temática, por outro, a própria estruturação na forma de se produzir conhecimento na academia também interfere nas possibilidades de fazer emergir novos temas. E, neste sentido, reflito junto com Raul Antelo, em “A pesquisa como desejo de vazio”[4], quando ele questiona: Como pertencer com diferença? Ele afirma que o confronto pertence essencialmente à comunidade acadêmica.
Como a universalidade não é um pressuposto estático, e não é mesmo um a priori dado, ela deveria ser entendida, e, portanto, como um processo que nos exige, antes de mais nada, emancipar-nos da essência, desamarrar-nos de vínculos tradicionais, corriqueiros, testados. É essa a liberdade de pesquisa, uma liberdade de existência, mas, em última análise, também de êxtase, se por êxtase entendemos um ir para além de si mesmo.
SISTEMA E CAMPO LITERÁRIO E O MERCADO EDITORIAL
A afirmação de Antelo acrescenta para esta análise sobre a emergência temática da negritude na biblioteconomia que se, por um lado a universidade é mantenedora do racismo institucional, por outro, ela, por sua natureza, é também o espaço privilegiado para este debate, e, justamente dela, surge a maioria dos trabalhos que citei no início desta fala. Dito isto, apresento outros mecanismos importantes que fortalecem a manutenção dos efeitos do racismo estrutural na literatura, o que afeta práticas biblioteconômicas como seleção e aquisição de acervo, disseminação seletiva da informação, mediação da leitura literária e até a indexação de documentos.
Cito o sistema literário, o campo literário e o mercado editorial. Para esta reflexão, faço uso da noção de sistema literário de Antonio Candido. Para Candido, um sistema de obras ligadas por denominadores comuns, que permitem reconhecer as notas dominantes de uma fase. Estes denominadores são, além das características internas (língua, temas, imagens), certos elementos de natureza social e psíquica, embora literariamente organizados, que se manifestam historicamente e fazem da literatura aspecto orgânico da civilização.
Entre eles se distinguem: a existência de um conjunto de produtores literários, mais ou menos conscientes do seu papel; um conjunto de receptores, formando diferentes tipos de público, sem os quais a obra não vive; um mecanismo transmissor (de modo geral, uma linguagem, traduzida em estilos), que liga uns aos outros. O conjunto dos três elementos dá lugar a um tipo de comunicação inter-humana, a literatura, que aparece sob este ângulo como sistema simbólico.[5]
“Epistemologias negras”, “O negro na biblioteca” e “Africanidades e relações raciais” são algumas das obras publicadas recentemente sobre o tema no Brasil. Imagens: divulgação
Gosto sempre de destacar nesta conceituação de Antonio Candido a afirmação de que sem um conjunto de receptores a obra não vive. A noção de campo literário também se aproxima desta reflexão, pois o conceito de campo literário é uma possibilidade de entendimento da engrenagem que envolve a produção, a circulação e o consumo do material artístico.[6] A noção de campo literário nos conduz a pensar na noção de cânone literário, que são obras selecionadas como exemplares de qualidade de uma determinada época.
Para Boaventura de Sousa Santos, em “A gramática do tempo”, entende-se por cânone literário na cultura ocidental o conjunto de obras literárias que, num determinado momento histórico, os intelectuais e as instituições dominantes ou hegemônicos consideram ser os mais representativos e os de maior valor e autoridade numa dada cultura oficial. Para Boaventura, durante muito tempo não foi preciso falar sobre cânone literário, pois os autores considerados representativos eram consensuais. É a partir da metade do século XX, na Europa e nos Estados Unidos que a estabilidade do cânone começa a ser confrontrada.
Posições feministas, étnicas e multiculturais passaram a questionar quais os autores que são publicados por grandes editoras, as obras que merecem as resenhas críticas nos jornais e revistas mais respeitados e influentes, os títulos que entram nos programas escolares e os autores que são citados pelos intelectuais.[7] Neste ponto desta reflexão, precisamos pensar no mercado editorial e em como o mercado também mantém um perfil bem específico de escritores que têm suas obras mais valorizadas, promovidas e incentivadas.
O mercado editorial é formado por editoras, livrarias, escritores, autores, eventos literários; influencia diretamente nas cadeias criativa, produtiva, distributiva e mediadora do livro. Pesquisas[8] informam que o mercado editorial, direcionado pelas grandes editoras, valorizam um determinado perfil de autor em detrimento de toda a diversidade editorial brasileira. Em relação à presença da autoria negra nestes romances, uma pesquisa do Grupo de estudos em literatura brasileira contemporânea – vinculado ao programa de pós-graduação da Universidade de Brasília (UNB), coordenada pela pesquisadora Regina Dalcastagnè revela que, entre 2005 e 2014, apenas 2,5% dos livros publicados no Brasil foram escritos por não brancos e que, nesse mesmo período, apenas 6,3% dos personagens que aparecem nesses livros são negros.
Para Regina, “quando as grandes editoras publicam livros que tratam sempre dos mesmos temas e trazem um perfil de autor muito parecido, estão dizendo ao leitor o que é considerado literatura e quem pode ser chamado de escritor no Brasil”.[9] Segundo outra pesquisa, muito importante, realizada pelo Grupo Interdisciplinar de Estudos do Campo Editorial, sediado no CEFET-MG, ocorreu a publicação de apenas 88 livros autorais de contos afro-brasileiros, publicados entre 1839 e 2016; estes parcos 88 livros são de autoria de apenas 42 escritores.[10]
Os números dessas pesquisam revelam como o racismo estrutural afeta a produção literária, afeta o sistema literário e conduz para uma determinação das obras que serão publicadas, divulgadas, lidas e canonizadas. Afeta, também, as condições de vida de escritores e escritoras que não fazem parte do grupo privilegiado pelo mercado e que precisam envidar muitos esforços para continuar escrevendo e publicando; esforços que não são exigidos do grupo mais privilegiado. Afeta a percepção dos nossos usuários (usuários de bibliotecas) sobre o que é a literatura brasileira, qual seu repertório, quais temas mais abordados, quais estilos, quais narrativas compõem o perfil literário brasileiro; afeta a formulação de necessidades de informação neste campo e afeta os interesses de leitura.
Sabemos que a literatura é o espaço para se vivenciar, a partir do texto literário, experiências que estão distantes das vivências pessoais, mas a literatura também age com grande força quando provoca uma identificação mais imediata, os leitores querem conhecer o outro quando leem, mas também querem se ver representados, de forma que a identificação com o personagem contribua na condução para a fruição literária, para a viagem. A literatura pode também fornecer modelos, referências que são importantes na construção das identidades de crianças e jovens.
POR UMA POSTURA ANTIRRACISTA NA BIBLIOTECONOMIA
Diante do apresentado até aqui, proponho que tenhamos uma postura antirracista na prática biblioteconômica, com destaque para os seguintes pontos: seleção e aquisição (considerar na aquisição a literatura de autores negros, fazer avaliação do acervo pensando se a diversidade da literatura está sendo contemplada); desenvolvimento de coleções (realizar o desenvolvimento da coleção considerando a produção literária das minorias sociais, promovendo a diversidade no acervo); disseminação seletiva da informação (avaliar se nos serviços informacionais há uma preocupação em buscar também a produção de pesquisadoras, de pesquisadores(a)s negro(a)s).
Na mediação da leitura, quais títulos são selecionados para a realização das mediações? Como é feita essa seleção? Existe a predominância de algum tipo de autor(a)?; Nos estudos de usuário procuro saber qual a identificação racial do meu usuário; Já nos eventos (rodas de leitura, clubes de leitura, exposições), os autores que promovo nestas ações fazem parte de que grupo da sociedade? São escritores ou escritoras? Brancos, negros, indígenas? Sinalizações e material de divulgação: quem represento nas sinalizações e nos materiais de divulgação da biblioteca em que trabalho?
Na classificação e na indexação, faço uma classificação exaustiva de forma a destacar determinados temas afro-brasileiros? Faço uso do meu vocabulário controlado para fazer emergir termos da afro-brasilidade ou os invisibilizo dentro de termos mais genéricos? Nos treinamento de usuários e de equipe, abordo questões sobre as relações étnico-raciais?
Minha proposição de uma postura antirracista também se estende para os cursos de biblioteconomia e da ciência da informação, na análise dos currículos e da bibliografia, no estímulo à pesquisa de temas e na produção de eventos científicos. Talvez, a pergunta que possa englobar todos estes pontos e servir de medida para uma postura mais coerente e ética de um profissional da informação é: como eu posso ser antirracista na minha tarefa cotidiana?
Não poderia encerrar esta reflexão sem destacar a atuação da bibliotecária Ketty Valencio, que criou a Livraria e o Clube de Assinaturas Africanidades, empreendimentos especializados em literatura negra escrita por mulheres.
Agora retorno à pergunta inicial desta comunicação e me questiono sobre o que tenho feito para a redução dessas desigualdades. Em 2015, ainda atuando como bibliotecário, fundei a Editora Malê, voltada para a ampliação da visibilidade dos autores negros na cena literária. A Malê foi idealizada após a minha prática como bibliotecário, pelo fato de eu ter encontrado dificuldade de montar um acervo vasto de autoria negra da literatura brasileira contemporânea (nota para esta publicação: já discorri sobre este tema em outros textos para a Biblioo).
Em três anos de atuação, a Editora Malê vai terminar este ano de tantos ataques à cultura, às artes, ao conhecimento científico e à diversidade com 60 títulos em seu catálogo, entre livros infantis, juvenis e adultos. Entre livros individuais e coletivos, a editora já publicou cerca de 100 autores. Não proponho com isso que bibliotecários abram editoras, mas que reflitam sobre suas posturas e se engajem nas lutas que são essenciais para a manutenção da democracia na sociedade brasileira e a luta antirracista é uma delas. No horizonte democrático destas lutas estão a justiça social e a equidade em todas as áreas, uma luta que deveria ser de todos.
O que posso trazer como uma reflexão final desta fala é que o compromisso com a promoção do pensamento de intelectuais negros é um compromisso de todos, o Brasil é um país de diversidades, e será muito importante que possamos amadurecer nossa democracia entendendo que só avançaremos em direção a nossa vocação para ser uma potência — embora esta já seja uma ideia bastante desgastada, pois o futuro chegou e ele não é o que era — se considerarmos a inclusão de todos os grupos, em todas as estruturas e em todas as práticas, inclusive na biblioteconomia.*Esta é uma versão revisada do comunicação apresentada originalmente no Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação em Vitória, ES, no dia 03 de outubro de 2019.
[1] ASSUMPÇÃO, Carlos. Protesto-poemas. São Paulo: Edição do Autor, 1982
[2] ALMEIDA, Sílvio. O que é racismo estrutural. Pólen: São Paulo, 2018.
[3] CARNEIRO, Sueli. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. Tese (Doutorado em Filosofia da Educação). São Paulo: Universidade de São Paulo: FEUSP, 2005.
[4] ANTELO, Raul. Conferência de abertura – “A pesquisa como desejo de vazio”. ANAIS ELETRÔNICOS [ANAIS] / I SEMINÁRIO DOS ALUNOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LITERATURA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – FLORIANÓPOLIS / SC. 2011
[5] CANDIDO, Antonio Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 6. ed., Belo Horizonte: Itatiaia, 1981.
[6] COUTINHO, Fernanda Maria Abreu. “Pierre Bourdieu e a gênese do campo literário”. Rev. de Letras ̶ No . 25 ̶ Vol. 1/2 ̶ jan/dez. 2003
[7] SANTOS, Boaventura de Souza. A gramática do tempo. São Paulo: Cortez, 2006.
[9] MASSUELA, Amanda. “Quem é e sobre o que escreve o autor brasileiro”. Cult, São Paulo. 5. fev. 2018.
[10] OLIVEIRA, Luiz Henrique Silva de; RODRIGUES, Fabiane Cristine. “Panorama editorial da literatura afro-brasileira através dos gêneros romance e conto”. Em Tese, Belo Horizonte. V. 22, N. 3, 2016.
Imperatriz da Paulicéia participa da Festa Literária da Penha (Flipenha). Foto: SRzd
A segunda edição da Festa Literária da Penha (Flipenha), que tem como objetivo incentivar a leitura e a formação de leitores autônomos e críticos através de diversas formas de linguagens e expressões artísticas, teve como atrativo o Carnaval.
No último domingo (13), o Centro Cultural da Penha, na Zona Leste de São Paulo, foi palco da oficina “Desvendando os Mistérios de uma Escola de Samba”. Coordenada por Renato Machado e Rafael Machado, a ação, realizada em duas etapas, contou com a participação de integrantes da escola de samba Imperatriz da Paulicéia.
Na biblioteca, o carnavalesco Pedro Alexandre, o Magoo, fez uma explanação aos presentes sobre o funcionamento de uma agremiação carnavalesca destacando sua importância histórica social e cultural. O artista contou detalhes da construção de um projeto de Carnaval, desde a escolha do enredo, passando pela composição do samba-enredo, confecção de fantasias e alegorias, ensaios e desfile oficial.
Imperatriz da Paulicéia participa da Festa Literária da Penha (Flipenha). Foto: SRzd
Durante a atividade, que também contou com a exposição de fantasias e maquetes de carros alegóricos, os inscritos participaram da criação de um samba-enredo em homenagem ao poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta brasileiro José Paulo Paes, patrono da biblioteca municipal do bairro. A obra foi apresentada ao público presente no término do evento, que contou com a exibição dos ritmistas da bateria da Imperatriz na parte externa do Centro Cultural.
“As escolas de samba são grandes contadoras de história. Vamos à Avenida muito mais para ouvir as histórias que lá serão contadas do que pelo desfile propriamente dito. A Imperatriz da Paulicéia foi grande parceira na medida em que nos presenteou contando a história da formação de uma agremiação. O samba-enredo ‘Tributo à José Paulo Paes’, sobre o artista cuja obra verificamos nos vários braços das artes, nos deu a exata noção da grandiosidade do poeta que se tornou enredo de escola de samba. Não há realmente separação entre o samba e a literatura. A literatura se traduz em melodia e o samba põe a literatura para dançar”, declarou Luciana Campos, auxiliar da Biblioteca José Paulo Paes.
Assista ao vídeo:
Carnaval 2020
No Carnaval de 2020 a Imperatriz da Paulicéia será a segunda escola a desfilar na segunda-feira, 24 de fevereiro, pelo Grupo de Acesso de Bairros 1 da União das Escolas de Samba Paulistanas (Uesp).
A trilha sonora do enredo “Sua Majestade a Coroa” é assinada por J.Velloso, Cláudio Russo, Marquinho Beija-Flor e Júlio do Cavaco. Clique aqui para ouvir.
Com o mercado editorial em queda no Brasil, editoras e autores pensam em novas estratégias para conquistar os pequenos leitores
Texto por Daniel Medeiros
Werika Júlia, de 13 anos, é apaixonada por livros Foto: Jose Britto/Folha de Pernambuco
O Dia das Crianças já chegou e com ele a dúvida sobre o que dar de presente para filhos, sobrinhos, netos ou afilhados. Brinquedo? Celular? Por que não um livro? Afinal de contas, na mesma data também é celebrado o Dia Nacional da Leitura, oportunidade de introduzir os pequenos ao universo da literatura. Especialistas em educação não cansam de defender a importância de cultivar o hábito de ler desde a infância, mas ao analisar o mercado editorial no país a constatação é de que os livros infantis ainda representam uma porção muito pequena do quantitativo de obras vendidas por ano. Correndo atrás do prejuízo, escritores e editoras lançam mão de múltiplas estratégias para atrair o leitor mirim, aliando novas tecnologias e uma dose de criatividade.
Para que se torne uma prática cotidiana entre meninos e meninas, o ato de ler um livro precisa ser visto como prazer e não uma obrigação. É o que defende a pedagoga Cristiane Soares, técnica do Programa Manuel Bandeira de Formação de Leitores, da Prefeitura do Recife, que trabalha a mediação de leitura por meio das bibliotecas. “A leitura é fundamental para a criação do imaginário. Por isso, o ideal é que a criança seja inserida nesse processo pelo viés do encantamento. O livro não deve ser encarado como apenas uma ferramenta para ela aprender algo, pois ele por si só tem um papel muito importante na formação das identidades”, defende.
Se o objetivo é despertar o fascínio no pequeno leitor, vale a pena estimular o lado lúdico que a literatura proporciona. Nesse sentido, uma das ferramentas mais antigas que a humanidade dispõe é a contação de histórias. Essa tradição milenar vem sendo resgatada nos últimos anos, seja em escolas, livrarias, feiras literárias, festivais ou centros culturais. Mas nem é preciso ser um profissional da educação para replicar o método. Um exemplo é Renato Oliveira, bacharel em ciências da computação e morador do estado de Goiás. A paixão por contar histórias para as duas filhas – uma de 6 e outra 4 anos de idade – fez com que ele criasse um aplicativo voltado para isso.
Disponível de forma gratuita, o “Contatória” oferece 14 contos narrados pelo próprio criador. “A minha proposta sempre foi criar uma ferramenta de auxílio para pais e mães. Gostava de criar histórias e contá-las para as minhas filhas na hora de dormir. Mas como todo mundo tem seu limite, às vezes eu ficava cansado. Comecei a gravar tudo e colocar os áudios para elas ouvirem. Deu muito certo comigo e achei que poderia dar com outras pessoas também”, relembra. “Comprar livros, lê-los para os filhos, sugerir que eles próprios contem histórias, mostrar as coisas que você descobriu com um livro: tudo isso motiva muito as crianças”, declara Renato.
Incentivar o gosto pela leitura é uma preocupação partilhada pela profissional autônoma Maria José. Na última quinta-feira, ela visitou a Bienal do Livro de Pernambuco, que está instalada do Centro de Convenções, ao lado do filho José Paulo, de 12 anos. “Desde quando ele tinha dois ou três anos de idade, eu já comprava coleções de fábulas e contos de fadas. Ele tem gavetas e mais gavetas cheias dessas obras em casa”, diz. Já a balconista Adriana da Silva, que também prestigiou o evento, nem precisou fazer muito esforço para convencer a filha, Werika Julia, 13, de que ler é bom. “Ela gosta muito de livros, desde que aprendeu a ler. É uma coisa que vem dela. Eu só tento incentivar e observar sempre o conteúdo do que ela está vendo”, conta. O pequeno João Miguel, 8, já é um leitor voraz, principalmente de gibis. “Foi ele que convenceu a família toda a vir para a Bienal”, confessa a mãe, Wedna Gomes.
Mercado em queda
Ainda que os leitores mirins não estejam extintos, o momento não é dos melhores para quem produz e comercializa livros para esse público. Refletindo a crise no mercado editorial, as vendas de obras de literatura infantil caíram nos últimos anos. Segundo a pesquisa anual divulgada pela Associação Nacional de Livrarias, o faturamento ligado às vendas de livros infantojuvenis em 2018 teve uma queda de 7% em relação ao ano interior. Ainda assim, o segmento representou 14,2% do faturamento total do setor livreiro.
Tentando driblar os desafios do mercado, editora de todo o país têm investido em soluções criativas para atrair não só as crianças, mas também seus pais. Uma iniciativa que está na moda é a dos livros personalizados. Empresas como a Sweet Books, do Rio de Janeiro, e a Dentro da História de São Paulo, trabalham com versões customizáveis de clássicos infantis e personagens que fazem sucesso com a criançada. Meninos e meninas são transformados em personagens de livros, como “O pequeno príncipe”, “Branca de Neve” e “Turma da Mônica”, através de um avatar que combina as características físicas do pequeno leitor ao traço original da obra escolhida. Tudo isso é feito por meio da internet e o exemplar é entregue na casa do cliente. Os clubes de assinatura representam outra inovação a qual os pais costumam recorrer. Por um preço fixo, os assinantes recebem kits com diferentes livros, além de outros brindes. A Taba, Leiturinha e Doce Leitura são exemplos de clubes que fornecem esse tipo de serviço.
A crise também não espantou os pernambucanos da Viu Cine, produtora responsável por animações como “Além da lenda” e “Pedrinho e a chuteira da sorte”. Através da criação de uma agência de licenciamento, a Viu Marcas, a empresa vem investindo em transportar os personagens conhecidos na TV e na internet para os livros. Até agora, já foram lançados cinco títulos da série “Além da lenda” e, até o próximo ano, esse número só deve aumentar.
“Eu não acredito nessa visão de que criança não gosta de ler. Estamos passando por um momento muito complicado e vemos como as pessoas da nossa geração têm dificuldade na interpretação de texto. Foi esse problema que deu margem às fake news, por exemplo. As pessoas não conseguem entender o que é dito e nem filtrar nada. Nós, como produtores de conteúdo, temos que incentivar as crianças a questionar, aprender e, a partir daí, surgir um cidadão melhor”, defende Bruno Antônio, coautor das obras. O “Além da lenda” surgiu como série de TV e deve ganhar um longa-metragem em agosto de 2020.
Para que os livros consigam prender a atenção do público tanto quanto a animação, os criadores apostam numa linguagem mais interativa. “Quando lançamos o primeiro título, decidimos colocar algumas brincadeiras para incentivar a criança. A cada capítulo, o leitor tem que resolver um pequeno desafio, que dá a ele algumas pistas para desvendar o caso no final da história. Isso também instiga a criança a querer ler cada vez mais”, explica Bruno, que ressalta a responsabilidade de escrever para quem ainda está em desenvolvimento. “Nós trabalhamos com o folclore brasileiro e algumas dessas lendas têm um conteúdo um pouco pesado. Tomamos todo o cuidado para que as histórias não sejam interpretadas de maneira negativa. Não devemos renegar nossas histórias do passado, mas podemos apresentá-las de um modo mais leve”, afirma.
Em seu artigo, Fernanda fala sobre o crescimento e as vantagens dos clubes de assinaturas de livros
Em tempos de insegurança no mercado, qualquer novo empreendimento é cercado de certa desconfiança quando entra em cena. Presentes há tempo considerável, mas certamente jovens em relação ao negócio que integram, clubes de assinatura têm encontrado seu espaço não tanto entre as editoras, mas ao lado delas.
Se, cinco anos atrás, o modelo de clubes de assinatura era encarado com cinismo, o movimento agora é o inverso: as caixinhas de livro se tornaram um mercado milionário e as empresas que as enviam, parceiras desejáveis. Os contingentes de leitura atendidas por clubes como TAG e Leiturinha cresceram e vicejam, muito a despeito dos pífios números de leitura no Brasil.
Mas o que os clubes de livros têm a oferecer para as editoras? O aporte financeiro é uma das vantagens óbvias – sem o risco que se corre com consignação, a renda de cada projeto tem data certa para entrar. O lucro não é tudo, entretanto. Diria que clubes de livros atuam também como scouts com um índice de 100% de sucesso: apresentam novos títulos às editoras enquanto já garantem uma edição inteira, muitas vezes superando os 20 mil exemplares, esgotada na pré-venda. O sucesso de tal edição, depois disso, pode se transformar em argumento de venda para o comercial.
O conhecimento de público é outro ponto de contato entre clubes e editoras. É sabido que muitos dos clubes contam com grupos de discussão – estejam eles em aplicativos, redes sociais ou, como nos velhos tempos, em reuniões presenciais. Essa inteligência, que engloba a visão do usuário a respeito não só da história que o livro conta, mas de sua edição e de seu design, é traduzida em números e pode ser grande amiga da editora na hora de posicionar seu produto em comunicação digital e também nas livrarias. A pulverização do público que frequenta pontos de venda físicos acaba sendo menos dificultosa quando se está municiado de informações certeiras a respeito do consumidor que se procura.
Por último – e talvez mais interessante -, o negócio dos clubes é democrático. Qualquer editora, grande ou pequena, pode ser parceira. Basta ter tino para o público e vontade de trabalhar.
Quem diria que um hábito tão particular e solitário como o consumo de literatura poderia passar por uma revolução tão intensa? Há cinco anos, arrisco que ninguém. Mas hoje… aposto que seus olhos estão à frente, perguntando-se o que vem por aí.
Após inovar com a primeira livraria especializada em literatura feita por mulheres negras no país, a bibliotecária e empresária Ketty Valencio lança, neste mês de outubro, o Clube de Assinatura Africanidades, também o primeiro do país especializado também em literatura negra, sendo majoritariamente com livros escritos por mulheres negras. O clube Africanidades será trimestral e os assinantes receberão o primeiro kit a partir de novembro. A temática escolhida é “Resistência Negra” e a curadora desta primeira edição é a escritora Jarid Arraes. O livro escolhido será sempre uma surpresa para os assinantes.
Proposta da Africanidades é enviar, através de curadoria especializada, livros escritos por mulheres negras e produtos feitos por afro-empreendedores
“Nosso clube tem a intenção de ser uma ferramenta de estímulo a leitura por meio do protagonismo de pessoas negras e principalmente da valorização das narrativas realizadas pelas mulheres negras. Somos uma vanguarda cultural e queremos presentear nossos leitores com o que há de melhor e mais exclusivo na literatura, bem como no setor de afro-empreendedorismo. Trazemos a literatura protagonizada somente por mulheres, desde sua concepção até mesmo o design, a programação, a curadoria, a autoria e a gestão”, contou Ketty Valencio, que desde que surgiu a ideia, passou um ano trabalhando para colocar tirar a ideia do papel e colocá-la em prática.
Vale destacar que os assinantes recebem, trimestralmente, um equivalente a oito produtos, contendo um kit temário surpresa, com o livro escolhido pela curadora especial, marcador de páginas e outros produtos de marcas e grifes de afro-empreendedores, principalmente de empresas compostas por mulheres negras.
Curadoras escolhidas
Conforme explica Ketty Valencio, a escolha das curadoras se deu a partir da vivência de cada uma delas – todas mulheres negras nesta primeira etapa – e da ligação que elas possuem com os temas propostos.
O primeiro livro será escolhido por Jarid Arraes. Jarid é nascida em Juazieor do Norte, na região do Cariri (CE) em 12 de fevereiro de 1991. Escritora, cordelista, poeta e autora dos livros “Redemoinho em dia quente”, “Um buraco com meu nome”, “As lendas de Dandara” e “Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis”, além de mais de 70 títulos publicados em literatura de cordel. É curadora do selo literário Ferina. Atualmente vive em São Paulo, onde criou o Clube da Escrita para Mulheres.
As outras curadoras são a poeta Ryane Leão, a jornalista Bianca Santana e a escritora e jornalista Esmeralda Ribeiro.
Sobre a Livraria Africanidades
Criada em 2015, a Livraria Africanidades ganhou uma sede física em 2017, quando a empreendedora Ketty Valencio sentiu a necessidade de organizar o acervo e de promover encontros.
Formada em biblioteconomia, Ketty é também pesquisadora, pós-graduada em gênero e diversidade sexual na Unifesp e MBA-Bens Culturais: Cultura, Gestão e Economia na FGV faz curso de especialistas de Cultura, educação e relações étnico-raciais na USP e após sete anos trabalhando em bibliotecas, investiu no próprio negócio e conta com um viés inédito: o protagonismo das mulheres negras na literatura mundial. Um breve passeio pelo site e é possível encontrar livros de autoras como Alice Walker, Angela Davis, Jarid Arraes, Maria Firmino, Noémia de Sousa, entre outras.
Além da livraria física, Ketty possui também um site, com o acervo da livraria, que permite a compra virtual e também o pagamento parcelado e traz títulos que dificilmente são encontrados nos grandes magazines ou livrarias online, fazendo, mais uma vez um recorte que preza pela inclusão de autores independentes, pouco conhecidos e/ou acessados.
A livraria possui estantes como feminismo, ficção, não ficção, poesia, religião, nacionais, ciências sociais, entre outras, mas tudo voltado à cultura negra. Além do site, Ketty também percorre eventos e festivais literários, evidenciando o formato que se propõe a ser acessível e viável.
Espaço também contará com uma área para debates e um café-restaurante, assinado pela chef Bel Coelho
Texto por Tatiane de Assis
Copan: livraria ocupará uma das lojas do térreo do prédio (Reprodução/Veja SP)
O espaço onde funcionava o restaurante mexicano La Central, no edifício Copan, vai abrigar uma livraria com previsão de abertura para os primeiros meses do ano que vem. O empreendimento, que se chamará Megafauna, contará com uma área de 216 metros quadrados. Tocam a iniciativa cinco sócios: a editora Maria Emilia Bender, a arquiteta Anna Ferrari, o empresário Arthur Mello, Fernanda Diamant, jornalista e curadora em 2020 da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), e seu pai, o médico veterinário Thiago Salles Gomes.
O acervo da futura livraria contará com gêneros variados, que vão desde romances e publicações sobre teatro e poesia até títulos de divulgação científica. A amplidão, contudo, passará pela curadoria dos empreendedores e de convidados, que em sintonia com os rearranjos do mercado editorial, não vão mirar um público com interesses genéricos. “Minha impressão é que as pessoas querem um lugar em que possam confiar nas indicações que recebem e nas pessoas que ali trabalham”, afirma Fernanda.
O projeto arquitetônico do espaço da Megafauna, assinado por Anna Ferrari, também contempla uma área para eventos e um café-restaurante, com cardápio assinado pela chef Bel Coelho. O trio “debates, gastronomia e livros” virá a somar na vizinhança, que abriga o Instituto Pivô e o restaurante Orfeu. “Uma de nossas apostas é na região central da cidade, que cada vez mais atrai moradores e empreendimentos interessantes”, explica Fernanda.
A concentração do mercado editorial não é apenas econômica, mas também simbólica
Cristina Zahar, Luiz Schwarcz, Mariana Zahar e Lilia Moritz Schwarcz comemoram a compra da Zahar pela Companhia das Letras Foto: Antonio Scorza / Agência O Globo
No começo da noite da quarta-feira 3, foi anunciado que o Grupo Companhia das Letras comprou a Zahar, editora fundada em 1956 que, ao longo do tempo, depurou um catálogo de respeito, com Jacques Lacan.
Manuel Castells, Zygmunt Bauman e outros destacados pensadores das ciências humanas. Foi a Zahar quem publicou, no ano passado, Como as democracias morrem, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, que alcançou a lista de mais vendidos na esteira da eleição de Jair Bolsonaro. Mas o que significa a compra da Zahar pela Companhia das Letras? Tem a ver com a crise sem fim que há anos castiga o mercado editorial brasileiro e ficou ainda pior no ano passado, quando Saraiva e Cultura, as duas principais redes de livrarias do país, distribuíram calotes e pediram recuperação judicial? O mercado editorial brasileiro, que nunca foi lá muito pujante, vai ficar mais concentrado? Difícil dizer, mas podemos esboçar algumas respostas.
A formação de grandes conglomerados empresariais é rotina capitalista. E não só no mercado editorial: pense em bancos, cervejarias, frigoríferos, fábricas de aviões. Os monopólios e oligopólios sempre disputaram a alma do capitalismo com a crença na livre concorrência. Em vez de competir livremente na selva do mercado, às vezes compensa mais abocanhar uma fatia mais farta, comprando seus concorrentes. As fusões, aquisições e integrações também aparecem como soluções possíveis para driblar alguns dos desafios dos mercados globalizados, como a necessidade de investir pesado em novas tecnologias, marketing e logística e reduzir custos para não ficar para trás. Empresas médias e pequenas têm menos recursos para esses investimentos e chances menores de disputar consumidores com companhias mais parrudas num mercado cada vez mais imprevisível e atravessado por mudanças a todo tempo. Se você não pode vencê-las, por que não se juntar a elas?
A própria Companhia das Letras é um exemplo dessa tendência de formação de conglomerados. A editora foi fundada em 1986 pela família Schwarcz. Três anos depois, os Moreira Salles — do Unibanco, fundido com o Itaú em 2008 — passaram a controlar 33% da editora. Em 2011, a Penguin, grupo editorial inglês, comprou 45% da Companhia das Letras. No ano seguinte, foi a vez da Penguin enfrentar uma fusão com a concorrente Random House, controlada pelo gigantesco grupo alemão Bertelsmann. A fusão resultou a Penguin Random House, o maior conglomerado editorial do mundo. No ano passado, a Penguin Random House assumiu 70% da Companhia das Letras — os 30% restantes são da família Schwarcz; os Moreira Salles não têm mais participação na editora.
No meio caminho, houve outras fusões, aquisições e integrações. Em 2015, a Companhia das Letras adquiriu 55% da editora Objetiva. Desde 2014, a Objetiva estava sob o controle… da Penguin. Os ingleses controlavam a Objetiva porque haviam comprado alguns selos do grupo editorial espanhol Santillana, como a Alfaguara, e desde 2005 os espanhóis tinham 76% da Objetiva. Outros grupos editorais brasileiros também se formaram comprando editoras menores ou editoras que passaram a enfrentar dificuldades com o passar dos anos. A Ediouro Publicações comprou editoras como Agir, fundada por Alceu Amoroso Lima em 1944, e Nova Fronteira, criada por Carlos Lacerda em 1965. O Grupo Editorial Record também cresceu comprando casas editoriais menores, porém prestigiosas, como Paz e Terra, Civilização Brasileira e José Olympio. Aliás, em 1966, a José Olympio já havia comprado a Sabiá, editora criada por Rubem Braga e Fernando Sabino.
Mas e a crise, teve algo a ver com a compra da Zahar? Na quinta-feira 4, quando as entrevistei, Ana Cristina e Mariana Zahar informaram (e Luiz Schwarcz confirmou) que a editora enfrentou “com galhardia” a crise e continuou rentável apesar do calote das livrarias. Mas Ana Cristina também contou que a decisão de vender a Zahar foi acertada depois da vitória de Jair Bolsonaro nas eleições do ano passado, quando “os sonhos desabaram”. Ela disse ter concluído que, no novo governo, ficaria mais difícil tocar uma editora como a Zahar, de tamanho médio, dedicada às humanidades e com um respeitável catálogo infantojuvenil. Essa afirmação revela não só o temor de que foi acometido quase todo o mercado cultural depois da eleição de um governo que alia um extremado discurso liberalizante na economia a ataques ao conhecimento produzido pelas ciências humanas e ameaças censórias. Revela também a percepção de que o novo governo não ajudaria as editoras a superar a crise. Além da recessão e da recuperação judicial das livrarias, o que aprofundou ainda mais crise do mercado de livros foi a diminuição das compras governamentais — o setor, como tantos outros da economia brasileira, depende bastante do governo.
Vale lembrar que as editoras médias, como a Zahar, foram as que mais sofreram com o calote das livrarias. As editoras pequenas continuam bem, cada vez mais vigorosas, porque conquistaram um público cativo e aprenderam a escoar seus livros por canais alternativos, dependendo pouco ou nada da Saraiva e da Cultura. A interrupção dos pagamentos das livraras também balançou as grandes editoras, mas, além de melhores possibilidades de obter financiamento, elas são credoras prioritários da Saraiva e da Cultura, ou seja, vão receber (parte) do que lhes é devido antes das médias e pequenas.
No fim, o mercado editorial brasileiro fica menor depois da venda da Zahar? Se formos olhar os números, não exatamente. A Companhia das Letras domina 6% do mercado editorial brasileiro (o dado foi fornecido pela própria editora). Parece pouco, não? É porque as editoras mais rentáveis do Brasil são as que publicam livros didáticos, que vemos menos nas livrarias e nunca nos suplementos culturais. Com a compra da Zahar, o marketshare da Companhia das Letras vai aumentar bem pouco. A Zahar é uma editora bem menor. Enquanto a Companhia tem quase 180 funcionários e, até o fim do ano, publicará 240 livros, a Zahar conta com 27 funcionários e 30 títulos nas livrarias até dezembro.
No entanto, a concentração vai parecer bem maior do que, no contar dos números, é. Isso porque a Companhia das Letras vai aliar o prestígio da Zahar ao seu. Diferentemente de outras editoras que cresceram com aquisições de casas menores, a Companhia das Letras nunca ganhou o rótulo de editora comercial que publica best-sellers. Graças aos livros cabeçudos que lançou nos primeiros anos e a catálogo cheio de Nobéis e autores da moda, a casa conseguiu um prestígio sem igual no mercado brasileiro, que se reflete não só nas vendas, no marketshare, mas na ocupação de espaços “simbólicos” muito valiosos, como nas páginas da imprensa especializada e na atenção dos resenhistas.
Se, na vastidão no mercado, a Companhia das Letras tem muitos concorrentes, nesses espaços simbólicos a competição é menor. Os competidores não são outros grandes grupos editorias brasileiros, que acabaram descaracterizados depois tantas aquisições, mas editoras menores, donas de catálogos sólidos, capazes de disputar com a Companhia a caneta dos resenhistas — como a Zahar. Por isso, a concentração vai parecer maior do que é se levarmos em conta apenas os números. Se, no fim, concentração econômica é problema de agência governamentais, essa concentração “simbólica” deve interessar à imprensa e aos resenhistas, que são desafiados a contorná-la com criatividade e sem preguiça. Como? Abrindo espaço para outras editoras e autores interessantes que acabam passando despercebidos, aqueles que precisamos procurar um pouco mais para encontrar. Um dos problemas provocados pela concentração econômica é falta de diversidade. No mercado editorial, felizmente, essa diversidade já existe, mas de que adianta se não dermos espaço a ela?
É natural pensar, num primeiro momento, que gravar um audiolivro é simples; saiba como é o processo de produção
Por Melissa Cruz Cossetti
O Audiolivro está ganhando a atenção dos leitores — ou seriam ouvintes — no Brasil. Prova disso é a quantidade de aplicativos voltados para audiobooks, com obras em português. Ouvir livros é um benefício tanto para quem tem deficiência visual (ou para pessoas com a visão comprometida em diferentes níveis), quanto para quem passa muito tempo no transporte público, de pé, sem nenhum conforto para ler um livro.
É natural pensar, num primeiro momento, que gravar um audiolivro é simples: bastaria ler em voz alta e gravar o resultado. Contudo, não é tão fácil. Assim como a produção de podcasts, gravar audiolivros requer cuidado nas áreas técnicas e de produção.
“Grande parte das pessoas acredita que gravar um audiobook é simplesmente entrar em um estúdio ou utilizar um computador potente e sair lendo um livro que o mesmo se transforma em audiobook. Mas, como os microfones são extremamente sensíveis, qualquer ruído é captado, desde a respiração até roupas com tecidos sintéticos, fazendo diferença na gravação e sujando o áudio”, explica Claudio Gandelman, que é CEO do app Auti Books, um aplicativo que oferece livros falados de vários gêneros.
Como é gravado um audiolivro no estúdio
Isso acontece porque os microfones usados nas gravações, geralmente, são do tipo cardióide, que captam tudo que está logo à frente do microfone e rejeitam apenas o que está na parte de trás. Os microfones são conectados a pré-amplificadores para que sejam feitos ajustes nos níveis de áudio e, nos computadores, a ferramenta usada quase sempre é o Pro Tools (instalado em Macs capazes de processar horas de áudio).
São horas e horas de gravação…
Para um audiobook de 300 páginas, ainda de acordo com Gandelman, leva-se em média 25 horas de gravação em estúdio, além de mais algumas horas extras de mixagem, finalização e equalização. “No final, o tempo de duração de um audiobook soma em torno de 10 a 15 horas”, disse. Mas, isso varia de acordo com o tamanho do livro.
Todo o material gravado sempre passa por edição. Frequentemente são feitos retakes das gravações até a perfeição e todo esse processo leva em média de 45 a 60 dias para audiobooks de 300 páginas. Normalmente, o cálculo dessa previsão é feito por laudas.
Silêncio, gravando!
Um curiosidade importante de mencionar é a rotina dos próprios locutores que precisam controlar até os músculos utilizados na sua fala, quando narram um audiobook. Os músculos estomacais por exemplo, são acionados e produzem uma série de sons estranhos e engraçados durante a gravação. Já é bastante comum ver os narradores usando travesseiros sobre a barriga para isolar esses sons do microfone.
Sidney Ferreira, locutor de rádio e narrador
Além disso, os narradores não costumam gravar mais do que três ou quatro horas diárias. Após o período, a voz se torna cansada e acaba transparecendo no áudio.
Os narradores citam a importância de ler toda a obra antes de gravar, para entenderem melhor cada personagem e pensarem, com antecedência, que voz dar a cada um deles.
O rádio, o cinema e o audiobook
Narrar um audiolivro é uma forma de conectar o livro à pessoa por meio do som e dar voz a inúmeros personagens. É preciso dominar o desafio de produzir algo de qualidade, que transmita emoção e fique na memória de quem ouviu. Não basta narrar, é preciso interpretar e é comum contratar, além de locutores, atores e dubladores.
Adriano Pellegrini, ator e narrador
O ator Adriano Pellegrini, com 51 audiolivros narrados no currículo, conta que esse é um processo intenso e que cada contratante (plataforma e editoras) trabalha com a sua própria metodologia. “Há uma direção por trás do trabalho de narração. Você pode repetir se errar e isso torna o processo mais flexível e com qualidade”, explica. Como já trabalhou como dublador, Pellegrini aponta que há diferenças na forma de usar a voz.
“Com a dublagem existe a preocupação do texto acompanhar a boca do personagem que está sendo dublado. Ao narrar um audiobook, a preocupação é com o timbre da voz e como adequá-la para cada um dos personagens. Observo que os dubladores não necessariamente se adaptam ao audiolivro e vice-versa, justamente por serem trabalhos bem diferentes”, completou Pellegrini, que narrou “A coragem de não agradar“, uma obra com um debate transformador entre um jovem e um filósofo.
Já a atriz e cronista Isabel Guéron, acredita que o mercado de audiobooks é uma oportunidade de carreira e para espalhar a literatura. “Acho muito interessante fazer outros personagens usando apenas a voz, principalmente quando o assunto é ficção. Incorporo o trabalho de atriz e acredito que a interpretação ajuda bastante”, contou.
Como locutor, Sidney Ferreira conta que narrar um audiobook é bem diferente do que usar a voz na rádio. “Eu tenho que me ater ao que o escritor quer passar por meio do livro. Se for um título espírita, minha voz precisa transmitir paz, se for uma biografia, um livro mais jornalístico, minha voz tem que ter um tom mais linear, que transmita informação. Sem contar que tenho que ser imparcial e ler com integridade”, diz.
Há casos em que — quando o autor do livro também tem experiência em teatro e narração — você vai encontrar o livro narrado pelo autor. “Na minha pele”, do ator Lázaro Ramos, é um ótimo exemplo. A sensação de proximidade de ouvir, do próprio escritor, a interpretação da suas experiências, é maior. Quase como uma conversa.
Audiolivro é para todo mundo
Embora nem todos os livros estejam disponíveis no formato de audiobook, o benefício de ver esse formato crescer é o de que os livros possam atingir vários indivíduos de mais diferentes perfis. Todos aqueles que não leem por falta de tempo ou por algum motivo específico como déficit de atenção, idosos que já possuem dificuldade para ler e também os deficientes visuais. Seja comprando por título ou no modelo de assinatura mensal, investir em uma estante virtual de livros falados pode ser muito interessante.
Cinco dicas para curtir um audiobook
Escolha bons fones de ouvido (evite aqueles que vazam sons externos);
Veja o tempo de duração e calcule quantos dias vai levar para ouvir;
Registre onde você parou para não se perder ao voltar ao ouvir;
Há audiolivros em outros idiomas, aproveite para treinar outras línguas;
Gostou de uma voz? Procure mais livros do mesmo narrador;
Mateus Santana, à frente da Bienal do Livro da Quebrada, fala sobre o impacto da leitura na vida das pessoas; veja como ajudar
POR PAULA JACOB | FOTOS DIVULGAÇÃO
Apesar de o Brasil ser um país com uma pluralidade de histórias e contadores, o mercado editorial ainda está restrito aos escritores homens. Segundo dados levantados pelo Centro de Pesquisa da Universidade de Brasília (UnB), 70% dos livros publicados entre 1965 e 2014 eram de homens. Destes, 90% eram de homens, brancos, de classe média alta, nascidos no eixo Rio-São Paulo – algo longe de ser a realidade da maioria da população brasileira. O acesso à literatura, portanto, também se fecha nesta “bolha intelectual”, afastando interessados e possíveis leitores de novas histórias. Insatisfeito com este cenário, Mateus Santana desenvolveu a Bienal do Livro da Quebrada, um evento pensado para democratizar o acesso à literatura nas periferias do país.
“A literatura já é um espaço de pouco acesso. Na periferia, ela ainda chega de forma agressiva, em uma linguagem que a gente não entende, porque viemos de uma formação educacional ruim”, explica Mateus em entrevista à Casa Vogue. O evento ainda está em fase de pré-produção e captação de recursos, mas possui diretrizes bem estabelecidas. Além da fomentação da leitura na periferia, Mateus quer trazer apresentações de slam, shows e oficinas de escrita para inspirar outros jovens. Nascido na Ceilândia, cidade satélite do Distrito Federal, e crescido na Samambaia, ele conta o quanto a literatura foi importante no seu processo de autoconhecimento e no crescimento profissional. “O acesso aos livros me ajudou a escrever melhor, me inspirou a cursar faculdade [ele é formado em Publicidade e Propaganda] e a me tornar um escritor profissional”, pontua ele, que é autor de O amor ao próximo é legalizado. Abaixo, confira o bate papo sobre a proposta da Bienal do Livro da Quebrada, a importância dos livros na periferia e como você pode ajudar:
Como surgiu a ideia da Bienal do Livro da Quebrada?
A ideia do projeto veio de uma inquietação minha. Eu sou autor também e, como negro, escritor, morador de periferia, notava o quanto o mercado literário é muito excludente. Ele ainda publica, em sua grande maioria, o perfil do homem branco, rico e de determinadas cidades do país. Consequentemente, os eventos literários reproduzem isso, já que são essas pessoas que estão sendo vistas no mercado literário. Eu, por exemplo, enfrentei muitas dificuldades para publicar meu primeiro livro. Acabei assinando com uma editora depois de três anos negociando. E mesmo depois de publicar, não tive qualquer suporte deles. Enfim, foi muito estressante. Foi vendo esses eventos literários em grandes centros urbanos, com a mesma gama de artistas, de forma extremamente excludente, que decidi que queria criar um evento literário na periferia, com a linguagem da periferia e com as pessoas da periferia que saíram de lá. A gente não tem acesso e mesmo que a gente vá nesses eventos literários, o sentimento é de não pertencimento e não de inclusão.
O idealizador do projeto e escritor Mateus Santana
Qual a importância da literatura nas periferias?
Ela é extremamente importante, falo isso por experiência própria. O acesso à educação que a gente tem é muito precário. Eu me formei no Ensino Médio muito cedo e mesmo assim enfrentei diversas dificuldades, porque o ensino que tive na escola não era suficiente para outras coisas. Inclusive, meu português era extremamente ruim, tinha dificuldades para escrever. Minha vontade de ler despertou daí: eu queria aprender a escrever melhor, e nada melhor do que ler. E depois de ter acesso à leitura, o mundo expandiu para mim. Foi a partir daí que tive interesse em fazer faculdade, escrever profissionalmente e buscar saber mais sobre as várias questões sociais que me atravessam sem eu nem saber porquê. O acesso à literatura abre o nosso olhar para o mundo. Quem vem da periferia só consegue ver aquilo que o cotidiano mostra; não temos essa visão de mundo ampla. Os livros têm esse peso.
Saindo do campo pessoal, conseguimos ver o impacto dela na realidade de outras pessoas por meio dos relatos que nos mandam nas redes sociais. A literatura tem uma importância enorme, e, justamente por isso, eu vejo que ela é negada a muitos. Não há nada mais forte que o conhecimento. E se você nega o conhecimento para uma grande parte da população, dificilmente essa parcela vai entender como a sociedade funciona. Logo, o poder continua na mão de poucas pessoas.
Por que criar um evento da comunidade, para a comunidade, na comunidade?
O evento é algo que impacta muito mais do que a palavra, é muito mais forte. Recentemente, participei da Bienal Brasil do Livro e da Leitura, no Distrito Federal, e, depois de dar uma palestra, fui assistir outros no evento. Muitas das coisas ditas por pessoas nesses lugares é extremamente utópico para a gente. Um deles, bem famoso, disse que não tinha vontade de mudar o mundo, porque queria apenas escrever e ser reconhecido por isso. Isso chegou a mim de uma maneira muito negativa, porque quando você não quer mudar o mundo, você está satisfeito como ele está. E isso para mim é muito chocante. O mundo é totalmente desigual, ele beneficia pessoas em detrimento de outras. Para mim não existe essa lógica de não querer mudar o mundo. Eu quero mudar o mundo o tempo inteiro, eu quero que as coisas sejam mais iguais o tempo inteiro.
Portanto, para nós que nascemos na periferia, ver alguém que passou pelas mesmas coisas é muito mais motivador. Não temos aquele discurso utópico de: “Ah é só você acreditar nos seus sonhos, é só você sonhar que você vai conseguir, todo mundo tem as mesmas oportunidades”. A gente sabe que não é todo mundo que tem as mesmas chances. Muita gente não tem nem chance de sonhar, porque passa muito tempo acordado para levar o dinheiro para casa. O nosso discurso é muito mais pé no chão, o que, consequentemente, traz mais inspiração. Vemos maneiras práticas de passar a mensagem para o jovem adolescente que ele pode chegar a algum lugar – e não se restringe à literatura, também se aplica em outras áreas.
Como está sendo o processo de desenvolvimento deste projeto? Você já tem um lugar definido?
A Bienal em si ainda está sendo construída. Fazer um evento desse porte é extremamente difícil. Estamos falando sobre dar acesso à literatura e ao ensino, e todas vezes que você faz algo que tem como missão a democratização do acesso a qualquer coisa, você sempre passa por empecilhos. Não temos o costume de querer igualar as coisas para todo mundo – e mesmo que fale que tenha e apoie na internet, é muito difícil levar para frente. Falta incentivo financeiro para construir algo como a Bienal.
Eu quero que ela aconteça em cidades brasileiras fugindo ao máximo do eixo Rio-São Paulo. Existe esse estigma de que para alguma coisa acontecer, um projeto sair do papel, você precisa estar em um desses dois lugares. Claro que, em algum momento, eu quero chegar nesse pólo, mas queria construir tudo isso em outro lugar primeiro. Penso em alguma cidade no Nordeste, que não seja Salvador. Além disso, independente do lugar, a minha meta com o evento é empoderar as pessoas das periferias de maneira econômica. Sabendo que a Bienal vai acontecer em novembro na favela X, meses antes eu quero oferecer cursos gratuitos de formação e treinamento em fotografia, audiovisual, produção executiva… para que essas pessoas trabalhem no evento de forma remunerada. É uma forma do dinheiro sair de lá e voltar para lá.
Em paralelo a isso, estamos tocando um projeto de arrecadação e doação de livros. Foi a forma que encontrei de consolidar a ideia da Bienal de alguma forma. Senão, íamos ficar só no campo da ideia: “Um dia vai ter uma Bienal, um dia, um dia…”. Então criei esse braço, no qual a Bienal é uma ponte.
“Não temos aquele discurso utópico de: “Ah é só você acreditar nos seus sonhos, é só você sonhar que você vai conseguir, todo mundo tem as mesmas oportunidades”. A gente sabe que não é todo mundo que tem as mesmas chances. Muita gente não tem nem chance de sonhar, porque passa muito tempo acordado para levar o dinheiro para casa.”
Mateus Santana
E como funciona a doação de livros?
A Bienal está com 38 voluntários espalhados pelo Brasil realizando ações de arrecadação de livros. Além disso, muitas pessoas entram em contato pelas redes sociais com interesse de fazer essa doação. Como ainda não temos verba para centralizar todos esses títulos aqui no Distrito Federal, os voluntários estão estocando os títulos nas respectivas casas. Fizemos um mapeamento para destinar corretamente os livros de acordo com a necessidade do local, público alvo e tudo mais. Hoje temos mais de quatro mil livros arrecadados e 26 projetos cadastrados, além da participação da Bienal nas doações de livros para bibliotecas públicas. Eu queria muito poder centralizar essa logística, para enviarmos tudo de uma forma mais bonita, com cartão, recadinho, uma caixa. Mas, infelizmente, não temos dinheiro para essas coisas.
Bienal do Livro da Quebrada
Para doar livros e/ou auxiliar de alguma forma o evento: bienaldaquebrada@gmail.com
Instagram: @bienaldaquebrada
Twitter: @bienalquebrada
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Gráfica e editora Impressões de Minas, de BH, mantém técnicas tradicionais como offset, tipografia e xilogravura, em meio ao avanço cada vez maior de e-books e outras formas de produção e de leitura virtuais
Passaporte para universos reais e imaginários ao alcance de todos. A textura, o cheiro, a companhia do livro comprovam: essa tecnologia não está superada e tampouco a experiência de ler em impresso pode ser substituída pela versão digital. Velho, antigo, do século 15, o livro ainda seduz pessoas de todas as idades, até jovens que nasceram depois de o mundo se conectar pela Web. Concebido como objeto, o livro está no centro da produção da editora e gráfica Impressões de Minas, no Bairro Floresta, na Região Leste de Belo Horizonte. O artista plástico e geógrafo Wallison Gontijo e a mestre em literatura Elza Silveira deram continuidade à gráfica criada pelo sogro de Wallison, Osvaldo da Silveira, no Bairro Planalto. Em 2010, os sócios compraram uma offset monocolor, a única da pequena gráfica, e uma guilhotina semi-industrial. Levaram o maquinário para o Floresta para escrever o próximo capítulo da Impressões de Minas. Investiram em maquinário que permitia cortes especiais e relevos tipográficos diversos. Entenderam que a artesania era o caminho.
E foram além. Com o propósito de valorizar o fazer gráfico foi criado o Espaço Impressões. “Muitos parceiros nossos diziam que gostariam muito de ir ver a produção do livro, enquanto está rodando. Vem, vê, filma. Vai ter impressão em tipografia, um corte, um relevo ou a própria impressão tipográfica, como é isso? Adoram ver. Isso traz um retorno ao ofício gráfico, ao fazer livro”, diz Wallison. A editora se abre para quem quer acompanhar os processos de impressão. Em outubro, serão realizados dois cursos – Xilogravura popular e introdução à literatura de cordel, com Olegário Alfredo, e Poesia Visual e experimentações, do multiartista Binho Barreto, parceiro da editora.
”O autor senta junto, traz o texto, vamos entender o trabalho dele, entender como se encaixa na nossa produção editorial. Trabalha do texto à impressão final do produto, à distribuição. O ciclo de vida do livro a gente faz”
Wallison Gontijo, artista plástico e geólogo, sócio da editora e gráfica Impressões de Minas
Wallison e Elza perceberam que para lutar contra a crise no mercado editorial a melhor tática é apostar no que o livro tem de único. Voltar no tempo para resgatar jeitos de fazer e mostrar a mágica de tornar pensamento, sentimento, história, desenho em papel. Resgataram diferentes técnicas de impressão: offset, tipografia, xilogravura, impressão digital.
Numa rua tranquila do Bairro Floresta, o som da tipografia apura o ouvido de quem chega. A editora pulsa em diferentes ritmos, a depender do conceito pensado para a publicação. Pode estar a pleno vapor, com a máquina offset, ou mais silenciosa na xilogravura. O certo é que o coração da editora não para numa produção orgânica dos títulos.
Como que protegido por um útero para a vida que se forma, o livro é nutrido para nascer forte e cumprir o ciclo de vida. Cada título tem uma história: a concepção, a gestação, cada etapa do planejamento visual, a impressão da capa e do miolo, as estratégias para chegar às mãos dos leitores e se instalar, de vez, no terreno das memórias. Tudo é cuidado como se cuida de uma vida; afinal, os escritores costumam confirmar: o livro é mesmo um filho. “O autor senta junto, traz o texto, vamos entender o trabalho dele, entender como se encaixa na nossa produção editorial. Trabalha do texto à impressão final do produto, à distribuição. O ciclo de vida do livro a gente faz”, conta Wallison. A capa pode ser em xilogravura e o miolo impresso em offset em uma cor pantone ou ele pode ser todo impresso com tipos móveis.
Wallison tem uma equipe que participa de todo o processo artesanal do livro. No dia do aniversário de 30 anos, na última quarta-feira, Camila Gonçalves Gomes estava concentrada na tarefa de dobrar as páginas uma a uma da publicação do artista Sérgio Kall e Monica Toledo. “Tenho que prestar muita atenção. Uma folha virada traz erro para o livro todo.” Ela finalizava a montagem do livro Avencas, com dobra e costura artesanal. “Queríamos que o objeto escrito e o objeto livro andassem juntos. Queremos livros que conversem com o que está lá dentro”, diz Wallison. Um exemplo é o livro Dicionários de imprecisões, de Ana Elisa Ribeiro: só há uma orelha destacável, que pode ser usada como marcador de páginas, no miolo papel vegetal. Enfim, o projeto gráfico pensado a partir da ideia de imprecisão.
‘VALORIZAR O OFÍCIO DE GRÁFICO’
O processo de produção: maquinário permite cortes especiais e relevos tipográficos diversos, mostrando que o livro tem de ser único e diferenciado(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press )
Colocar o livro no centro é também valorizar o ofício de gráfico, um trabalho que tem perdido espaço frente ao advento da impressão digital. “Valorizar o ofício do fazer livro, da impressão, ofício da gráfica. Ofício lindo, o gráfico.” Os livros também recebem o tratamento de Gilson Zeferino, de 70 anos, gráfico há cinco décadas. “Comecei como chapista”, recorda-se do início numa tipografia em Caratinga, onde trabalhava com o tio. “Imprimir é transformar a matéria-prima bruta. É muito mágico. Corre no sangue.” Quando vê o livro impresso o sentimento se confirma: “Dei vida ao que o artista produziu”. O tempo de estrada fez com que ele tenha vivido a evolução de cada uma das técnicas. “Comecei na tipografia. Tudo muito artesanal. A mão de tintca não secava bem.”
A distribuição é parte importante do ciclo de vida do livro. Wallison e outros editores entenderam que é preciso fazer com que as publicações cheguem aos leitores. Os livros são expostos em livrarias, mas vão literalmente para a rua. A editora participa das feiras Textura, realizada quatro vezes ao ano em parceria com o Agosto Butiquim; Urucum, feita em parceria com a designer Rita Davis na Casa Guaja, no Bairro Funcionários, semestralmente. Em parceria com o multiartista Binho Barreto está sendo planejada a Feira Curupira, apenas com títulos infantis, que será realizada em 5 de outubro n’A Central, na Praça da Estação. A feira dedicada às crianças está cheia de novidades: o Duelinho de MCs, um sarauzinho, contação de história e muita música com o Tremelengue. “As editoras têm que criar meios para que os livros cheguem às pessoas”, diz.
Outro trunfo da editora é a qualidade dos autores, com artistas de vários campos: escritores, músicos, poetas, artistas plásticos. As publicações saem pelo selo Jubarte, para livros infantis; Leme, de poesia e prosa; e Impressões de Minas. Ainda há uma parceria com Monica Toledo, que criou o selo Bloop para livros de arte. Na cartela de produtos, a Impressões de Minas conta com livros como Carlos Viaja, de Tulipa Ruiz, com ilustração de China; Perímetro urbano, de Binho Barreto; Gratifica-se quem me encontrar, de Marília Pires e Rita Davis. Em geral, a tiragem é de 200 a 300 exemplares. Uma publicação de Otto está no forno.
Das técnicas mais antigas, a tipografia se caracteriza pela criação e impressão de tipos. Offset também é uma técnica de impressão utilizada desde a segunda metade do século 20, que conjuga alta qualidade e tiragens maiores. Trata-se de um processo analógico em que é preciso fazer os fotolitos, com a mancha a ser impressa, que depois se transformam em chapas de alumínio, que imprimem na blanqueta, que imprime no papel. A impressão é indireta e o papel passa pelo cilindro de borracha. Na xilogravura, os moldes recebem a tinta e são delimitados por fios e ramas. Uma bobina pressiona o papel contra a superfície com a tinta. É uma técnica que se assemelha ao carimbo.
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
CURSOS
Xilogravura popular e introdução à literatura de cordel, com Olegário Alfredo
1º, 8, 22 e 29 de outubro.
Inscrições até 27 de setembro: (31) 3492-2383
Poesia visual e experimentações, com Binho Barreto
Shakespeare and Company, às margens do Sena, uma das atrações de Paris
Há uma livraria em Paris, vizinha da catedral de Notre Dame, que é verbete em muitos guias turísticos. Com justiça. Está há 68 anos no número 37 da rue du Bûcherie, num prédio que data do século 16 e que já abrigou um mosteiro. Mas sua história é mais antiga: remonta há exatos 100 anos, pois abriu suas portas pela primeira vez em 11 de novembro de 1919, em outro lugar da capital francesa, numa transversal da rue de l’Odéon, sob o comando de uma norte-americana de Princeton, Nova Jersey, mas criada em Baltimore, Maryland, ousada e competente, chamada Sylvia Beach. Voltarei a ela depois de falar da obra do homem que ressuscitou a livraria em novo endereço e a transformou, de novo, em um ícone parisiense: George Wittman.
Rue de l’Odèon, no 6º arrondissement: ao fundo, o famoso teatro Odéon
Ingressar na livraria através de uma de suas portas estreitas é como se transformar em passageiro de uma máquina do tempo, esgueirando-se pelas salas e corredores repletos de livros, um labirinto que vai envolvendo o visitante admirado ante uma raríssima coleção de primeiras edições, livros novos (predominantemente em inglês, como a original), esculturas, velhas máquinas de escrever distribuídas sobre as mesas nos diversos espaços, fotos de escritores famosos, como Hemingway, Joice, Scott Fitzgerald, herdadas da primeira fase, o piano à disposição de quem souber tocar. Um poço de luz é habitado por uma gata feroz, como informa o aviso. Aliás, gatos sempre se incluíram entre os “inquilinos” de George.
No primeiro andar, além das obras raras, está a biblioteca e o sebo, com seu acervo de livros usados que já passaram por mãos famosas e entretiveram gerações. George morava num apartamento acima da livraria, mas a própria livraria acabou, ao longo de décadas, se transformando no pouso seguro de escritores iniciantes e estudantes que não tinham recursos para pagar um hotel ou alojamento. Havia camas por toda parte, nem sempre confortáveis, entre as estantes. Sua única exigência era que cada um lesse um livro por dia. E ajudasse em tarefas corriqueiras, como limpeza, arrumação das estantes e até no caixa.
Notre Dame (aqui, depois do incêndio): Wittman dizia que a livraria era um anexo da catedral
Wittman era um sujeito exótico, nascido também em Nova Jersey, como a antecessora Sylvia, mas na cidade de Orange; seu pai foi professor, escritor de livros didáticos e dono de jornal. George, sempre irrequieto, marxista convicto, acabou se transformando num aventureiro, correu mundo, trabalhou em navios cargueiros, foi ajudante de garçom, entre tantas outras coisas, aprendeu idiomas, certa vez foi preso e depois de servir o Exército criou sua primeira livraria, em Massachussets (EUA). Seu lema sempre foi “Não ler é pior do que não saber ler”, como revela o jornalista e escritor norte-americano Jeremy Mercer, que morou na livraria durante quatro meses, em seu “Um livro por dia” (Editora Casa da Palavra, 2007).
Já residindo em Paris, Wittman decidiu fundar uma livraria num espaço privilegiado às margens do Sena à qual deu o nome de Le Mistral, inaugurada em agosto de 1951. E ali instalou uma cama para receber amigos que precisassem de um lugar para dormir; depois criou o hábito de servir sopa gratuita a estudantes sem recursos, uma tradição que se perpetuou ao longo dos anos. Consta que chegou a abrigar 40 mil pessoas. Era extremamente econômico nas despesas mas mão aberta com os jovens que ali tinham também um lugar para produzir seus escritos. Nas noites de domingo, havia a tradição do chá, preparado em panelões. A livraria ficou também famosa pelos saraus literários. Logo à entrada, mandou pintar a frase “Seja gentil com os estranhos, pois eles podem ser anjos disfarçados”. George dizia que a casa era uma utopia socialista camuflada em livraria.
Wittman decidiu mudar o nome de Le Mistral para Shakespeare and Company em 1964, ano do quarto centenário de nascimento de William Shakespeare, o famoso dramaturgo inglês de Strattford upon Avon. Consta que havia recebido, anteriormente, autorização da própria Sylvia Beach, que havia fechado a livraria em 1941, em função da ocupação nazista de Paris. Wittman também teria herdado, ou adquirido, boa parte do acervo do endereço da rua de l’Odéon.
Por tudo de bom que proporcionou aos jovens escritores carentes ao longo de décadas – morreu aos 98 anos em 15 de dezembro de 2011 -, George, ateu, costumava dizer que a livraria era um anexo da catedral de Notre Dame, situada do outro lado da ponte.
Hoje, a Shakespeare and Company é dirigida pela filha dele, Sylvia, cujo nome é homenagem à fundadora da casa original, Sylvia Beach. É uma visita obrigatória para quem vai a Paris e gosta de livros. Recentemente, Sylvia abriu um café ao lado com o mesmo nome da livraria.
Sylvia Beach e a rue de l’Odéon
Sílvia Beach e James Joyce, diante da antiga Shakespeare/foto: reprodução
É impossível dissociar a atual Shakespeare and Company de seu endereço ancestral, o número 12 de rue de l”Odeón, no 6º arrondissement de Paris, na “rive gauche”. Sylvia Beach, como ela mesma conta em seu livro “Shakespeare and Company – Uma livraria na Paris do entre-guerras” (Editora Casa da Palavra, 2004), aportou na Cidade-Luz no final dos anos 1910 e ali conheceu a livraria “La Maison des Amis des Livres” (a casa dos amigos dos livros), no 7, rue de l’Odéon, da jovem Adrienne Monnier, que viria a ser sua companheira pelo resto da vida.
Inicialmente, Sylvia pensou em abrir uma filial da “La Maison des amis…” em Nova Iorque, mas descobriu que era muito caro. Mais fácil e mais barato seria fundar em Paris uma livraria especializada em autores de língua inglesa, no que foi ajudada por Adrienne. O primeiro endereço foi uma transversal da l’Odéon, a rue Dupuytren, 8, inaugurado em 19 de novembro de 1919. Começou emprestando livros, depois partiu para a venda. Os escritores André Gide e André Maurois foram seus primeiros visitantes. No verão europeu de 1921, mudou para a rua de l’Odéon, 12, em frente à livraria de Monnier, onde ficou por quase 20 anos.
A rue de l”Odéon é uma via estreita, curta, que começa no Carrefour Odéon, próximo da avenida Saint Germain de Près, e termina na place de l’Odeon, onde está o famoso teatro do mesmo nome. Hoje, aquela quadra única é povoada de livrarias, cafés, bares, galerias de arte, antiquários, um consultório de oftalmologia, editora, butique de roupas, residências e uma loja especializada em caviar. Mas, tirando os carros estacionados, parece manter a mesma atmosfera de décadas passadas.
O número 12 ficou famoso pelos seus frequentadores, como Ernest Hemingway, James Joyce, Gertrude Stein. Scott Fitzgerald, Ezra Pound, Man Ray, Ford Madox Ford, Léon-Paul Fargue.
Em seu livro de crônicas “Paris é uma festa” (A Moveable Feast), Hemingway descreve o lugar: “Naquele tempo não havia dinheiro para comprar livros. Eu os obtinha no departamento de aluguel da Shakespeare and Company, que era ao mesmo tempo biblioteca e livraria de Sylvia Beach, na rue de l’Odéon nº 12. Nessa rua fria, varrida pelo vento, a Shakespeare and Company era um lugar acolhedor e alegre, com um grande fogão aceso no inverno, mesas e estantes de livros, novidades na vitrina e, nas paredes, fotografias de famosos escritores vivos e mortos”.
E fala de Sylvia: “O rosto de Sylvia era animado, de linhas marcantes, com olhos castanhos tão vivos como os de um pequeno animal e tão alegres como os de uma menina; seus cabelos, castanhos e ondulados, ela os usava penteados para trás de sua bela testa e cortados abaixo das orelhas, na altura da gola do blusão de veludo castanho que costumava usar. Tinha belas pernas, era amável, alegre e participante, e gostava de fazer brincadeiras e contar mexericos. Jamais conheci alguém que tenha sido mais gentil comigo”.
Sylvia foi a primeira editora de “Ulisses”, a famosa obra do irlandês James Joyce, que levou anos para concluí-la e vivia refazendo os textos. Considerado na época “pornográfico”, o livro era contrabandeado de diversas formas para os Estados Unidos, onde havia sido proibido.
A livraria foi sempre um sucesso até os nazistas ocuparem Paris. Num determinado dia de 1941, um oficial alemão viu na vitrina um exemplar de “Finnegans Wake”, de Joyce, e, diante da recusa de Sylvia em vendê-lo, ameaçou fechar a loja. No mesmo dia, Sylvia fechou a livraria, com a ajuda de amigos escondeu todo o estoque, removeu os móveis, a decoração e deixou o lugar totalmente vazio. Como não havia mais nada, os alemães levaram a proprietária, que passou seis meses num campo de concentração.
Em 1944, embora a Shakespeare não mais existisse, Hemingway foi até lá com um grupo de soldados, travou um tiroteio com o inimigo, e simbolicamente libertou a livraria e a rue de l’Odéon. Depois, como conta Sylvia no livro, “Hemingway e seus homens partiram em seus jipes ‘para libertar’, disse-nos, ‘a adega do Hotel Ritz’”. Sylvia morreu em 5 de outubro de 1962, em Paris, aos 75 anos.
Em julho passado, fui conhecer a livraria da rue Bûcherie. Para marcar, comprei um exemplar de “A Moviable Fest”, de Hemingway (11 euros, 55 reais, depois da conversão euro/dólar/real). Ganhei o tradicional carimbo com a efígie de Shakespeare, como um atestado de procedência. O livro, agora, faz companhia a uma edição de 1991 de “Paris é uma festa”, editada pela Civilização Brasileira. (JZ)
A advogada Iolanda Wilhelm, de Agudo, lançou o Clube da Gurizadinha. Ela quer divulgar mais a cultura do Estado entre os pequenos FOTO: /CLUBE DA GURIZADINHA/DIVULGAÇÃO/JC
Crianças, gestores de negócios ou religiosos. Há uma modalidade para cada perfil de assinante
Texto por Giana Milani
O segmento editorial tem se reinventado para não sucumbir ao digital. Uma das apostas são os clubes de assinaturas de livros, que entregam mensalmente obras selecionadas e brindes personalizados. Tri, baita e vereda são alguns dos termos gaúchos que formam o diferencial do Clube da Gurizadinha, negócio com o objetivo de introduzir a cultura do Rio Grande do Sul para o público infantil.
Idealizado por Iolanda Wilhelm, de 32 anos, o projeto nasceu em Agudo e foi lançado no Clube de Tradições Gaúchas (CTG) local em 2018. Depois de trabalhar como advogada, ela fechou o escritório para se dedicar integralmente à empreitada.
“Não estava contente com a minha profissão. Admiro bastante o nosso bairrismo e tem poucas obras sobre o assunto para crianças. As que têm são com a linguagem mais séria, pesada”, explica. Ela aponta que a iniciativa também ajuda a divulgar os costumes gaudérios para outros estados do Brasil.
O empreendimento foi inspirado, ainda, em Otávio, de 2 anos e 9 meses, filho de Iolanda. “Fui buscar alguma leitura para ele, com interatividade e pensei que seria uma boa alternativa criar algo assim”, relata.
O Clube da Gurizadinha custa R$43,90 mensais, mais o frete, com valor único, a R$ 10,00. Iolanda contabiliza, atualmente, 70 assinantes. “Tem gente de Porto Alegre, Gravataí, Caxias do Sul, da Fronteira, é uma grande mistura”, diz.
A clientela recebe em casa um livro, escolhido por uma psicopedagoga, de acordo com o nível de leitura da criança. Ele vai acompanhado de um resumo da obra, dicas e curiosidades para auxiliar na contação da história, além de brindes que resgatam a essência gaúcha.
“Pensamos nos brindes com bastante carinho. Há alguns meses foi o jogo de cinco marias, produzido artesanalmente. Em julho, no mês das avós, foi uma receita de cuca, com fantoche. Em setembro, um vira mate e em outubro será um peão”, elenca a empreendedora. “Buscamos fazer a ligação com a tradição”, complementa.
A parte contábil é terceirizada, assim como a diagramação e impressão do material, que é realizada por uma agência de marketing. No entanto, Iolanda garante que ela é a cabeça da criação. “Sinto-me realizada com o clube. Essa é uma área que gosto e me trouxe um outro jeito de ver as coisas”, justifica.
Apesar de distribuir livros de autores não-gaúchos, um dos planos futuros da empreendedora é ter no portfólio algumas obras de autoria dela. Dessa forma, levará os personagens que já compõe os kits, como o “guri” Cícero e a “guria” Catarina, para viverem suas próprias histórias.
Crescimento na demanda: Leiturinha salta de 18 assinantes para 170 mil
Guilherme Martins fundou o Leiturinha com um sócio em 2014 FOTO: /LEITURINHA/DIVULGAÇÃO/JC
Os pacotes dos produtos do clube de assinatura Leiturinhasão encaminhados, mensalmente, a mais de 5 mil cidades brasileiras. O número de adeptos, que em maio de 2014, no início do negócio, totalizava 18, hoje bate quase 170 mil. O empreendimento apresenta um expressivo crescimento, talvez não tão planejado em outubro de 2013, quando os amigos Rodolfo Reis e Guilherme Martins, ambos pais, resolveram criar algo para crianças.
“Começamos a pensar no negócio com muito carinho. A proposta era que nossos filhos fossem os primeiros a olharem o produto”, recorda Guilherme. Paralelamente, eles dividiram o empreendedorismo com outros empregos. Até que tiveram que se dedicar integralmente ao Leiturinha. “Rapidamente, estávamos no azul e a empresa já se pagava”, argumenta.
Nesse momento, foi preciso decidir qual rumo seguir. “Estávamos entre ter uma empresa legal, para ter uma renda ou se corríamos atrás de fazer algo muito grande. Escolhemos o segundo caminho”, relata.
Guilherme pontua que a Playkids (líder global em conteúdo educativo infantil) entrou no clube como investidora para possibilitar a expansão. Em pouco tempo, eram mil assinantes. Em 2015, 10 mil. Em 2016, 30 mil. E agora caminha para 200 mil.
O Leiturinha tem três opções de planos: mini, uni, duni. O mini foi lançado em janeiro e oferece um livro e um brinde a R$ 29,90 mensais. O uni (R$ 44,90) tem livro, brinde, material de dicas aos pais, surpresas especiais para estimular o desenvolvimento e descontos exclusivos na Loja Leiturinha. Já o duni (R$ 64,90) tem os mesmos itens do anterior, só que com dois livros mensais. Em qualquer modalidade, é possível assinar com, no mínimo, seis meses de adesão.
O sócio comenta que o processo de curadoria é uma das maiores preocupações do clube. “Eu e o Rodolfo não somos do mercado editorial, não teríamos a percepção para escolher os livros. Uma pedagoga escolhia com base em catálogos. Esse processo mudou um pouco. Agora, temos curadoria da Playkids, uma equipe com 30 pessoas”, detalha.
O Leiturinha teve que se firmar ainda com as editoras. “Compramos 2,5 milhões de livros por ano. Isso permite que tenhamos algumas especificações. Temos títulos exclusivos”, assinala.
Segundo ele, o modelo de negócio é diferente do e-commerce tradicional porque há uma previsibilidade de receita. “Você tem relacionamento a longo prazo com seu cliente. Escutamos muito os nossos consumidores, o feedback”, acrescenta. O empreendedor sente-se orgulhoso do negócio. Além de Valentina, com nove anos, ele é pai de Pedro, de cinco, que nasceu quase com o Leiturinha. “Uma coisa muito bonita que aconteceu foi ver meus filhos crescerem com os livros e perceber o quanto eles gostam, o quanto associam às coisas boas”, diz.
A vantagem da assinatura, destaca, é que ela cria o hábito da leitura. “O pacote é como um presente, é uma experiência. Tem uma coisa que eu falo para todo mundo: o livro infantil não vai morrer”, garante. De acordo com Guilherme, as obras, pelos olhos da criança, se tornam um brinquedo.
Empreendedores criam serviço para católicos no Rio Grande do Sul
Matheus Bazzo é sócio do clube de assinatura Minha Biblioteca Católica. FOTO: /EQUIPE MINHA BIBLIOTECA CATÓLICA/DIVULGAÇÃO/JC
Mensalmente, os cerca de 15 mil assinantes do clubeMinha Biblioteca Católicarecebem em casa um box com um livro e outros itens ligados à religião, como imagens de devoção e marca-páginas, por exemplo. O negócio gaúcho foi criado por três amigos católicos em dezembro de 2017 e o primeiro envio foi realizado em janeiro de 2018. A modalidade tem o custo de R$ 59,90.
De acordo com um dos sócios, Matheus Bazzo, uma das características do clube é a alta qualidade dos títulos. “Procuramos o melhor tratamento editorial tanto na área gráfica quanto na de tradução”, descreve. “Temos um time dentro da empresa que escolhe as obras, baseadas em livros consolidados da tradição. São livros que todos os católicos gostam e outros que consideramos tesouros escondidos, que são muito bonitos e importantes na história”, explica.
O empreendimento conta com 25 colaboradores. A equipe criativa trabalha em Porto Alegre e a parte de expedição e atendimento ao cliente é localizada em Dois Irmãos. Conforme Matheus, a ideia surgiu da oportunidade no meio. “Tínhamos o interesse em comum em empreender na área. Notamos que isso faz falta no meio católico. No Brasil é mais raro, mas em outros países é popular”, expõe.
“A Minha Biblioteca Católica é o clube que gostaríamos de assinar”, sublinha, acrescentando que são enviadas biografias também. De acordo com ele, a faixa etária dos associados do clube de assinatura de livros surpreende. “É um público bem jovem. A maioria tem entre 20 e 40 anos. Nas bordas sempre tem gente mais nova, e também mais idosa. O mais velho tem 92 anos”, revela. “Às vezes, as pessoas relacionam o catolicismo aos mais velhos, mas uma identidade comum nos fiéis nos últimos anos é tentar voltar a descobrir as belezas do mundo cristão”, diz Matheus.
A iniciativa ganhou elogios de religiosos, dentre eles o Padre Paulo Ricardo, que contabiliza quase um milhão e meio de seguidores no Facebook. Devido ao sucesso, Matheus tem expandido a atuação empreendedora na religião. Em agosto, juntamente com outro grupo de investidores, fundou a Lumine, plataforma de streaming com catálogo de produtos audiovisuais para religiosos.
Clube aposta em livros de gestão
Bruno Andrade, CEO da Blueprintt FOTO: BLUEPRINTT/DIVULGAÇÃO/JC
Voltado para executivos e profissionais com interesse em gestão de negócios, o Blueprintt Boxcompletou um ano em junho de 2019. Os planos custam entre R$ 79,00 (para quem adere anualmente) e R$ 97,00 (assinatura mensal). “O clube começou após percebemos que a leitura de bons livros é uma característica unânime entre os homens de sucesso que alcançam o topo dos negócios”, conta Bruno Andrade, CEO da empresa.
Segundo ele, a equipe de curadoria escolhe conteúdos que produzirão as habilidades e conhecimento necessários para alcançar o sucesso. A assinatura, explica, melhora o hábito de ler. “Eles são conscientes de que precisam ler. Quando compram, na maioria das vezes, não passam do primeiro capítulo e o livro se torna mais um item na decoração das estantes”, aponta Bruno.
O assinante recebe uma obra, um resumo executivo com as principais sacadas do livro (para relembrar conceitos já lidos) e plano de leitura para finalizar em 25 dias. A entrega é feita para todo o país, mas São Paulo é o estado com o maior número de assinantes, concentrando 35% da base total de membros.
A Blueprinttnão nasceu como box. O empreendimento, com sede na cidade paulista de Barueri, existe há mais de dez anos e é focado no desenvolvimento da gestão, promovendo eventos e cursos.
Está em fase de preparação uma feira de livros que vai integrar a Semana da Generosidade, a ser realizada entre os dias 22 e 25 de outubro
Texto por Carlos Andrei Siquara
Foto: Pixabay
A primeira antologia de textos que contemplam personagens homossexuais foi organizada por Gasparino Damata em 1967. Com o título “Histórias do Amor Maldito”, a obra apresentou escritos de Dalton Trevisan, Alcides Pinto, Dinah Silveira de Queiroz e Nélida Piñon, entre muitos outros autores. De lá para cá, surgiram mais iniciativas semelhantes, como “Poesia Gay Brasileira” (2017), organizada por Marina Moura e Amanda Machado, e “Orgulho de Ser” (2018), editada por Thati Machado. As duas últimas diferem-se da primeira por contemplarem também autores novos, entre eles lésbicas, gays e transexuais, cujo olhares conquistam espaço atualmente em editoras e eventos literários.
“Orgulho de Ser”, por exemplo, foi lançado durante a Bienal Internacional do Livro de São Paulo e surgiu a partir de um concurso que superou a expectativa inicial do número de inscritos. “Nós esperávamos algo em torno de 200 textos e recebemos mais de 800”, conta Thati, que é escritora e editora. No fim deste ano, ela antecipa: vai haver um nova chamada, desta vez para uma antologia a ser publicada em 2020. “Nós queremos contemplar novos autores da cena literária LGTBQI+ e, assim, abrir mais oportunidades para eles”, completa a editora.
Marina, a convite do Sesc Santo Amaro, em São Paulo, também está em fase de preparação de uma feira de livros que vai integrar a Semana da Generosidade, a ser realizada entre os dias 22 e 25 de outubro. Sua missão tem sido encontrar autores e editoras cujos trabalhos propõem dar visibilidade para esses grupos tidos como minoritários. Desde a feitura de “Poesia Gay Brasileira”, a jornalista, escritora e diretora nota uma expansão dessas perspectivas no cenário literário.
“Não só eu percebo que estão entrando mais autores e autoras que têm criado suas obras de forma independente, como têm surgido também pequenas editoras com foco segmentado, como a Padê Editorial, a Brejeira Malagueta e a Vira Letras, que publicam autoras lésbicas”, lista.
Nívea Sabino, que é poeta e uma das curadoras do Festival Literário Internacional de BH (Fli-BH) – a ser realizado a partir do dia 25 –, teve seu trabalho contemplado no volume “Poesia Gay Brasileira” e identifica nesse movimento o interesse de criar um espaço de trocas. “É uma forma de nos colocar em conexão e de criar a possibilidade de construção para além do mercado editorial oficial. Nesse sentido, essas iniciativas nada mais são do que o interesse de essas pessoas conceberem seus próprios espaços, criando elas mesmas um mercado em que essas novas narrativas possam circular e ser fomentadas. Para os LGBT, essa é uma forma, inclusive, de eles conseguirem existir sem terem que esperar para que as editoras façam o convite para essas publicações serem lançadas”, completa ela.
A escritora, professora, especialista em literatura e travesti Amara Moira é outro nome que vem tendo maior projeção desde o lançamento do livro “E Se Eu Fosse Puta” (2016), que se tornou emblemático da presença dessas vozes no ambiente literário. “O meu livro foi um dos primeiros a entrar nas grandes livrarias e causou um bafafá, apesar do título. Nós estamos pensando, inclusive, em mudar o nome, por conta dessa tensão toda, para que ele possa entrar cada vez mais em outros espaços. Se nossos corpos não chegam a determinados lugares, eu espero que ao menos nossas palavras cheguem e comecem a abrir espaço e, assim, consigam preparar o público e a sociedade para aprenderem a conviver conosco”, pontua Amara, que, atualmente, está pesquisando as obras publicadas por autores trans desde os anos 70.
Fique atento
A feira de livros centrada em obras de escritores LGBT, a ser realizada durante a Semana da Generosidade, no Sesc Santo Amaro, em São Paulo, ainda pode receber inscrições de editoras e autores interessados em participar do evento. Contato abaixo: editorial@amarelograo.com.br
“Festival Mário de Andrade – A Virada do Livro”, acontece de 4 a 6 de outubro com mais de 150 atividades gratuitas realizadas em onze pontos da cidade
A cidade de São Paulo vai ganhar, pela primeira vez, uma festa de rua dedicada ao livro e à leitura: o Festival Mário de Andrade – A Virada do Livro. Parte do calendário integrado da cidade, o Agendão, do programa São Paulo Capital da Cultura, da Secretaria Municipal de Cultura (SMC), o festival será realizado entre os dias 4 e 6 de outubro. Serão mais de 150 atividades, todas gratuitas, entre conversas com autores, oficinas, espetáculos de rua, duelo de cordel, sarau, teatro, dança e música, realizadas em onze pontos da cidade. Clique aqui e acesse a programação completa, com os endereços.
“Esse tipo de política cultural tem o lado importante para a formação dos cidadãos. Quando falamos em ampliação da leitura, difusão dos livros, estamos falando da formação da consciência, da cultura crítica, do conhecimento do mundo e, portanto, da formação dos paulistanos. Fomentar o livro é fomentar uma sociedade mais crítica e mais consciente do seu papel”, disse o prefeito Bruno Covas
O evento promove a ocupação cultural da cidade em um grande encontro inspirado na cultura do livro, reunindo autores, editores, leitores, bibliotecários, livreiros, coletivos e públicos de todas as idades e de todo o Brasil. O projeto, que se propõe a contribuir para a importantíssima formação de leitores no país, celebra a arte literária, o conhecimento em humanidades e a pesquisa científica.
“Nós temos várias ações no sentido da difusão literária, com o objetivo de melhorar os índices de leitura na cidade. Esta ação vai a esse encontro, com um evento de grande porte que chega para aprimorar ainda mais o calendário de eventos da cidade. Uma ocupação cultural e um grande encontro inspirado na cultura do livro, como acontece em várias cidades no mundo todo”, disse o secretário municipal de Cultura, Alê Youssef.
Batizado Corredor do Livro, o trajeto entre a Biblioteca Mário de Andrade e a Praça das Artes, passando pela Rua Coronel Xavier de Toledo e pelo Theatro Municipal, é o eixo central do evento, que se espalha ainda por pontos como os centros culturais Tendal da Lapa e Cidade Tiradentes, Centro de Culturas Negras e Centro Cultural da Juventude.
A área ao ar livre ocupada pelo festival compreende cerca de um quilômetro e meio, considerando o entorno dos três equipamentos centrais. Neste trecho, cem tendas abrigam as principais editoras, livrarias, bancas e coletivos do país.
Nomes como Companhia das Letras, Record, Todavia, Planeta, Editora 34, Ubu, Zahar, Saraiva, Banca Tatuí, Malê, Libre, Editora da Unesp, Imprensa Oficial, Edições Sesc SP, Senac, Giostri, Leia Mulheres, Flima (Festa Literária Internacional da Mantiqueira), Quilombhoje, Poetas do Tietê, Coletivos Ponte Cultural, Nômade, Perifatividade e Fantasistas, Livraria do Comendador e Território Geek, entre muitos outros, marcam presença no trajeto.
“Este evento representa a valorização da leitura, trazendo o livro como um componente indispensável para o desenvolvimento da sociedade. Essa base do conhecimento, com a leitura oferecida por este projeto me parece algo fundamental”, destacou o diretor do Sesc SP, Danilo Miranda.
No espaço, estão representadas iniciativas editoriais voltadas para a diversidade LGBTQIA+, a questão racial e o feminismo. Os expositores aderiram massivamente ao chamamento público lançado pela Secretaria Municipal de Cultura num movimento que posiciona o festival, já em sua estreia, como um novo incentivo em meio à crise do mercado editorial.
Programação
O Festival valoriza e promove a leitura e a literatura em todas as suas manifestações, ampliando o reconhecimento e o fortalecimento de tradições e também de expressões e tecnologias literárias contemporâneas. Em três dias de programação intensa e integrada, o evento consolida o trabalho de formação de leitores; a potência cultural de novas linguagens, saraus e slams; e a circulação de escritores, livros e ideias. Além de conversas com autores, a programação inclui música, teatro, dança, oficinas e tendas de coletivos, editoras e livrarias, sempre com artistas e espetáculos em diálogo com a literatura.
A abertura do evento, dia 04 de outubro, às 19h, na Praça das Artes, é marcada pela apresentação compacta de “Yebo”, espetáculo no estilo gumboot dance (dança de botas de borracha), criado pelos trabalhadores das minas de ouro e carvão da África do Sul, no século XIX. A coreografia aborda a exploração tanto dos minérios como dos sete povos que os extraíam, assim como a espera das mulheres por seus maridos mineiros.
Após a apresentação, o Festival recebe o autor moçambicano Mia Couto, laureado com o Camões, mais importante prêmio de literatura da língua portuguesa. Em conversa com a jornalista, escritora e atriz Bianca Ramoneda, serão abordadas questões como as relações do homem com seus pares e o planeta, analisadas sob uma perspectiva africana e literária. Na ocasião, o ator Silvio Restiffe lê trechos da obra do autor.
No sábado (05), as ruas são ocupadas com o espetáculo “Um Quilômetro de Baile”, comandado pelo grupo Bolo de Rolo, que faz o trajeto da Biblioteca Mário de Andrade para a Praça das Artes. A tradição das festas populares brasileiras comemorada em uma performance com cerca de 40 artistas.
No Theatro Municipal, a atriz Fernanda Montenegro, indicada ao Oscar por “Central do Brasil”, lança o seu livro de memórias “Prólogo, Ato, Epílogo” no domingo (06), relembrando sua trajetória em conversa com a jornalista Marta Góes, colaboradora do livro.
Já a programação da Praça das Artes reúne debates, bate-papos e intervenções. Entre os destaques, o encontro da moçambicana Isabela Figueiredo, autora de “Caderno de Memórias Coloniais”, com Milton Hatoum, autor de “Dois Irmãos” (05); o espetáculo “Goitá”, que reúne a companhia de dança Cisne Negro e a companhia de teatro de bonecos Pia Fraus (06); a conversa sobre natureza, ação predatória do homem e criação artística entre o líder indígena, ambientalista e escritor Ailton Krenak e a artista visual da região amazônica Berna Reale (05); e o bate-papo da autora gaúcha Angélica Freitas com a escritora portuguesa Alexandra Lucas Coelho sobre arte, criação, feminismo e o lugar do escritor nos debates das grandes questões do mundo.
Na Biblioteca Mário de Andrade, oficinas, teatro e música compõem a programação. Entre os destaques está a peça “Amar, Verbo Intransitivo”, texto de Mário de Andrade. Com direção de Dagoberto Feliz, o espetáculo tem apresentações sexta (04), sábado (05) e domingo (06). Na programação infantojuvenil, duas peças da Cia. das Cores: “Chiquinha Gonzaga, a Menina Faceira” (05) e “Tico-Tico” (06). A programação musical da Mário fica por conta dos shows Dueto, voz e violão com Livia & Arthur Nestrovski (06); e “La Commedia é Finita” (05), com Rômulo Fróes, Clima, Rodrigo Campos, Kiko Dinucci, Juliana Perdigão, Richard Ribeiro e Fábio Sá, num show com canções compostas por Clima e Nuno Ramos.
Entre as oficinas ministradas na Biblioteca Mário de Andrade, destaque para temas como poesia, com Angélica Freitas (05 e 06); performance, com Ricardo Aleixo (05 e 06); romance, com Assis Brasil (06); e contos, com Socorro Acioli (05 e 06). Uma programação especial do Centro de Pesquisa e Formação – Sesc SP oferece oficinas como as de conservação em acervos, com Fernanda Kelly Silva de Brito (05); e estudos de palavras, com André do Amaral (06).
O palco da praça Dom José Gaspar recebe uma programação focada em manifestações poéticas e populares, com cordel e slam de poesias. Entre os destaques, a homenagem “Um Sarau Para Mário” (05), da qual participam os poetas Binho, Sacolinha e Luiza Romão e o ator Paschoal da Conceição, interpretando o homenageado; e Peleja de Cordel: Encontro de Seis Cordelistas, com artistas de cinco estados brasileiros que recitam versos de várias épocas, seguindo a tradição do gênero literário.
No domingo, a Dom José Gaspar é palco do debate “Escritos na Rede”, que propõe uma conversa sobre redes sociais, literatura e comportamento. O bate-papo conta com a presença do ilustrador Aureliano Medeiros, autor de “Madame Xanadu”; da youtuber Liliane Prata, autora de “O Mundo Que Habita em Nós”; e da poeta Ryane Leão, autora de “Tudo Nela Brilha e Queima”. O palco também recebe “Coro de Vozes Comuns – Voco”, uma intervenção comandada pelo performer Ricardo Aleixo.
Parceiro da primeira edição do Festival Mário de Andrade, o Sesc São Paulo apresenta, entre os dias 4 e 6, uma programação especial na unidade 24 de Maio e no Centro de Pesquisa e Formação. Entre os destaques, a Feira de Publicações das Edições e Selo Sesc, com livros, CDs e DVDs; bate-papos sobre conservação de acervos e cultura negra; contações de histórias; duas apresentações da Orquestra Modesta, com repertório do álbum “Canções para Pequenos Ouvidos”; a coreografia “Mar: Uma Dança com o Vento”, de Marina Guzzo; e o show com contação de causos do violeiro Levi Ramiro.
Nos palcos descentralizados, os destaques são a conversa com o artista angolano Kalaf Epalanga (05), no Centro de Culturas Negras; e o encontro do moçambicano Mia Couto com Milton Hatoum (06), no Tendal da Lapa.
Na Praça das Artes, a neta de Nelson Mandela, Zamaswazi Dlamini-Mandela e Sam Venther, organizadora das cartas da prisão, encerram o Festival com um tributo a Mandela, ganhador do Nobel da Paz. A conversa é mediada pela historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz e o ator Felipe Soares fará leituras das cartas de Mandala.
Transmissão ao vivo pela Spcine Play
Parte da programação da primeira edição do Festival Mário de Andrade – A Virada do Livro será transmitida ao vivo para todo o Brasil pela Spcine Play. O público poderá acompanhar grandes momentos da maratona literária na única plataforma pública de streaming do país, pelo site www.spcineplay.com.br
A transmissão da programação ao vivo pela plataforma começa na sexta (04), com bate-papo com o escritor moçambicano Mia Couto. Intitulada “uma casa chamada terra”, a conversa será guiada pela jornalista, escritora e atriz Bianca Ramoneda e traz uma perspectiva africana e literária para a relação dos seres humanos com o planeta. O painel vai ao ar às 19h30, direto da Praça das Artes.
Já no domingo (06), para fechar a programação ao vivo, às 19h, Zamaswazi Dlamini, neta de Nelson Mandela, e Sahm Venter, responsável pela reunião de sua correspondência, relembram o legado humanista do líder africano, ganhador do Nobel da Paz.
A ação faz parte da estratégia da Spcine Play de exibir a efervescência cultural da cidade, incluindo shows e espetáculos realizados pela Secretaria Municipal de Cultura.
Em maio, a plataforma transmitiu 4 horas de programação da Virada Cultural. A curadoria da plataforma inclui ainda mostras digitais simultâneas aos principais festivais de cinema do país (como a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o Festival In-Edit de Documentários Musicais e o É Tudo Verdade) e um catálogo de clássicos do cinema brasileiro.
Livrarias são negócios em extinção. Foi-se o tempo no qual passávamos horas folheando passagens, namorando capas, fazendo contas do que poderíamos levar, levando. Livros que muitas vezes nunca lemos, e talvez nunca leremos, mas que precisamos que estejam perto, bem pertinho. Inevitável a pergunta de quem nunca leu, ou não gosta de ler, ao fitar uma biblioteca gorda: você já leu todos esses livros?
As livrarias, assim como os cinemas, transformaram-se em meganegócios de shoppings. São livrarias do tipo cheesecake, nas quais toma-se um café caríssimo, contemplam-se gôndolas cheias de best-sellers, de autoajuda (se fossem bons, não haveria tantos) e de receitas para todos os tipos de concurso, de carcereiro até auditor de qualquer auditoria. Vendem-se também moleskines. São lindos cadernos de capa dura, decorados, estão em moda, e foram popularizados porque um escritor inglês de livros de viagem, Bruce Chatwin (1949-1989) os utilizava. Essas livrarias também caminham para o fim. O kindle, que aliás é muito eficiente, toma espaços, sem ocupar espaços.
Sobram os sebos. Também em extinção. A estante virtual, um inegável s.o.s. bibliográfico, no caso, não conta. Falo dos sebos de verdade, cujo nome deriva dos livros antigos e gordurosos, porque lidos pela noite, ao lado das velas. Ilustro a angústia com uma deliciosa crônica de Carlos Drummond de Andrade, O Sebo[1], na qual esse incomparável escritor mineiro captou todas as nuances que definem os sebos como espaços decididamente democráticos.
Segundo Drummond os sebos foram “cedendo lugar a lojas sofisticadas, onde o livro é exposto como artigo de moda, e há volumes mais chamativos do que as mais doidas gravatas, antes objeto de decoração de interior, do que de leitura”. No sebo, de acordo com Drummond, realizamos operações de resgate, encontrando livros que um dia presenteamos, que nunca encontramos, que perdemos, ou que esquecemos em algum lugar. Para Drummond, esse resgate é uma operação de ternura: vem para minha a estante!
Sebos, segue o autor, devem ser agradavelmente desarrumados, “como convém ao gênero de comércio, para deixar o freguês à vontade”. Os fregueses não se conhecem uns aos outros, mas “são todos conhecidos como frequentadores crônicos de sebo”. De acordo com o escritor mineiro, frequentadores de sebo usam roupas escuras, falam baixo e andam devagar. Sebo não é lugar de gritaria. Amantes de sebo formam uma confraria silenciosa. Para Drummond, procurar aquele livro, mesmo não achando, é ótimo. Segundo o escritor, em sua casa não havia lugar nem para as contas de luz, mas os livros continuavam a chegar. A mulher, zangada, exclama: trouxe mais uma porcaria para casa! O comprador compulsivo de livros lembra que não se trata de uma porcaria, o livro tem um verso ou uma passagem que um dia comoveu o casal. Foi antes do cotidiano cruel, que não souberam, ou não conseguiram domar. Faltou livro, para um dos dois.
Para Drummond os sebos são promíscuos. Convivem em prateleiras cheias de pó autores distintos, distantes e diversos, que nunca se entenderiam. Tem de tudo, Dante, Mandrake, Tolstoi, o próprio Drummond, Constituição de 1988 (edição de 1991), todo tipo de Machado de Assis e até aquele Júlio Verne que você leu em 1975, e agora pode dar para o filho adolescente.
Principalmente, para Drummond, “o sebo é a verdadeira democracia, para não dizer: uma igreja de todos os santos, inclusive os demônios, confraternizados e humildes”. Segundo esse sensível autor, saímos dos sebos com um “pacote de novidades velhas”, a sensação de que se visitou, “não um cemitério de papel, mas o território livre do espírito, contra o qual não prevalecerá nenhuma forma de opressão”.
Enquanto existirem sebos, e esses maravilhosos livros que constroem nossas almas, não triunfará o obscurantismo do twitter e dos zaps rápidos. No twitter, não se escreve. No twitter se gorjeia. Essa é a explicação da ferramenta: pia-se, como uma ave. Por isso, o símbolo é um pássaro. Repararam?
Por outro lado, o sebo, assim inspira Drummond, pode ser também um alinhamento de estacas que serve de barreira defensiva contra aqueles que querem refundar a astronomia, sem estuda-la, remodelando os astros, na forma e na essência, tornando-os planos e não gravitacionais. O sebo é um garimpo, no qual a pedra preciosa é a própria alma do frequentador. Nos livros usados, encontramos marcas, bilhetes, fotos, contas de água, anotações, sonhos em formas de páginas amareladas.
Essa crônica de Drummond, O Sebo, é receita impecável para uma leitura com voz carinhosa, para a pessoa amada, como forma de explicação, ou de justificação. Também não se pode esquecer que aquele verso ou aquela passagem que um dia empolgaram podem voltar a qualquer momento. É justamente essa lembrança que pode separar o que é sólido do que é efêmero. Porque aquele livro esquecido e reencontrado pode ser o pacto fundante do amor incondicional.
[1] Carlos Drummond de Andrade, O poder ultrajovem, Rio de Janeiro e Record, 2011, pp. 177 e ss.
Os paulistanos receberão minilivros com trechos de obras brasileiras conhecidas
Texto por Ana Carolina Soares
Carol Megale (à esq.), o comendador Laurinho e Talita Camargo: expansão do negócio (Alexandre Battibugli/Veja SP)
Em 4 de outubro, preste atenção ao encontrar um homem com roupa de época andando na Avenida Paulista ou nas estações da Linha Verde do metrô. Caracterizado como comendador, o ator Edson Vitoir vai distribuir minilivros com trechos de clássicos da literatura brasileira. Além de promover saraus na Paulista aos domingos até novembro, a ação celebrará o primeiro ano da Livraria do Comendador, empreendimento de José Lauro Megale, 63.
Conhecido no mercado de cavalos como Comendador Laurinho, o empresário alugou e reformou o casarão tombado do Instituto de Física Teórica, na Bela Vista, em um investimento de 3 milhões de reais. O negócio e o Zel Café (que fica no andar de cima do imóvel) são tocados pela filha, Carol Megale, 32, e por Talita Camargo, 34, herdeira de Ivo Camargo, livreiro renomado. “Vendi a empresa da família em 2015 e, para não ‘enferrujar’, investi em uma livraria independente, para oferecer qualidade”, diz o empresário. Em 2020, Megale pretende abrir mais uma unidade do seu “combo café com livros” nos Jardins.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 25 de setembro de 2019, edição nº 2653.
A cultura perdeu o protagonismo no Brasil no início do ano, com a extinção do Ministério da Cultura, criado há 37 anos. Após esse episódio, o quase fechamento da Ancine, o combate à livre expressão e a proliferação de ideias conservadoras passaram a travar o desenvolvimento artístico no país. Em função da crise, o Brasil também se depara com um colapso no mercado editorial e mudanças propostas na Lei de Incentivo à Cultura. Para debater esse panorama, o Bate-papo FGV recebe Marieta de Moraes Ferreira, diretora da FGV Editora. Assista em #BatepapoFGV
A história de Frei Veloso, missionário, tipógrafo e cientista, é contada em novo livro da Editora da USP
Texto por LeilaKiyomura
Gravura em água forte de João José Jorge no livro impresso pela Tipografia do Arco do Cego, dirigida por Frei Veloso – Reprodução/livro Frei Veloso e a Tipografia do Arco do Cego
A importância do naturalista e franciscano José Mariano da Conceição Veloso na história luso-brasileira e das suas múltiplas funções no campo dos estudos científicos e editoriais em prol do estudo da botânica está no livro Frei Veloso e a Tipografia do Arco do Cego, lançamento da Editora da USP (Edusp). Organizado por Ermelinda Moutinho Pataca e Fernando José Luna, leva o leitor a conhecer as reflexões e o trabalho do mineiro de São João del-Rei, que nasceu em 1742. Passados 208 anos de sua morte, o leitor se depara com um pesquisador dos tempos de hoje, que transita por várias áreas do conhecimento para defender a conservação das “matas brasílicas” em um recado para o rei dom João VI.
“Frei José Mariano da Conceição Veloso é bastante conhecido por seus estudos botânicos, especialmente pela elaboração da Flora Fluminense e, nos últimos anos, também como diretor da Tipografia do Arco do Cego, em Lisboa”, explicam os organizadores Ermelinda e Luna na introdução do livro. “Além dessas funções, o frade franciscano exerceu diversas atividades a serviço do Estado, que revelam suas múltiplas habilidades e o importante papel político que exerceu junto à Corte de Lisboa.”
O projeto do livro surgiu de dois seminários e uma exposição, em 2011, para homenagear Frei Veloso nos 200 anos de sua morte. Uma programação que foi elaborada por grupos de pesquisadores do Rio de Janeiro e São Paulo na Pinacoteca do Estado de São Paulo e no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. “Este livro apresenta os resultados desses eventos que divulgaram as diversas facetas do personagem, reveladas em diálogos interdisciplinares de pesquisadores estrangeiros e brasileiros que se dedicam ao entendimento das políticas econômicas e sociais associadas às artes, às ciências e à história editorial no período”, observam os organizadores.
Naturalista e pesquisador, Frei Veloso estudou as plantas das matas brasileiras – Reprodução/livro Frei Veloso e a Tipografia do Arco do Cego
“Sem livros não há instrução”, afirmou Frei Veloso
Duas espécies de falsas quinas, do livro Quinografia Portuguesa, de Frei Veloso – Reprodução/livro Frei Veloso e a Tipografia do Arco do Cego
“Frei Veloso e a Tipografia do Arco do Cego, que chega em boa hora, é um convite à leitura, em tempos de urgência de estudos sobre a identificação de plantas e sobre o futuro de nossas florestas”, observa Alda Heizer, pesquisadora convidada do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que assina a orelha do livro. “Além disso, a publicação ressalta uma grande preocupação de Veloso: ‘Sem livros não há instrução’, afirmação que demonstra, de forma definitiva, a atualidade de sua obra e atuação.”
Dividido em quatro partes, os artigos compõem a trajetória do naturalista em suas diversas funções. Os organizadores Ermelinda Moutinho Pataca e Fernando José Luna esclarecem: “Na primeira parte, tratamos do contexto histórico e social, demarcando a complementaridade entre as políticas econômicas e a formação da elite ilustrada luso-brasileira. Em um segundo momento, pensamos na atuação de Frei Veloso nas ciências e no fomento às artes, demarcando aproximações entre a história da arte e da ciência. Em seguida, desvelamos o perfil do frei Veloso editor, especialmente por meio da criação da Tipografia Calcográfica, Tipoplástica e Livraria do Arco do Cego, e debatemos a história do livro e da imprensa. Por fim, abordamos a circulação dos saberes na atuação de Veloso como tradutor e mediador cultural.”
Recado ao rei dom João VI
“Mas eu, Senhor, que nasci no Brasil, e que nele estive mais de 40 anos, que vi e pisei três das suas mais notáveis capitanias, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e o governo do Espírito Santo, não posso ser insensível à acertada resolução de Vossa Alteza, quando promove a conservação das brasílicas matas: portanto devo pôr na presença de Vossa Alteza as reflexões a que me obrigam as minhas viagens botânicas.”
Nessa epígrafe, que está em sua obra O Fazendeiro do Brazil, de 1798, frei José Mariano da Conceição Veloso se apresenta ao rei dom João VI. “Buscamos aqui compreender a formação e atuação de Frei Veloso como naturalista, viajante e missionário franciscano no período em que esteve no Brasil, de 1742 a 1790, quando formou seu imaginário brasileiro e criou novas concepções teóricas, metodologias de viagens científicas e técnicas de história natural”, esclarece Ermelinda Moutinho Pataca, que é professora da Faculdade de Educação da USP.
A professora ressalta que os interesses de Frei Veloso não se restringiam ao estudo das plantas. “Pesquisou também os animais, preparando coleções de insetos, conchas, peixes e animais marinhos, quando a expedição percorreu a costa da capitania. Essas coleções, dispostas em 70 caixas, permaneceram com o naturalista no Rio de Janeiro e só foram para Lisboa em sua companhia, em 1790, quando o frade se mudou para o reino acompanhando Luís de Vasconcelos e Souza.”
Uma tipografia que imprimia obras selecionadas
O livro sobre Frei Veloso lançado pela Editora da USP (Edusp) – Foto: Reprodução
A atuação editorial de Frei Veloso é destacada no título do livro. “Era tipografia, pois se tratava de uma gráfica que imprimia obras selecionadas”, esclarece a pesquisadora Edna Lúcia Oliveira da Cunha Lima em seu artigo. “Nela funcionava uma calcografia, ou seja, uma oficina de gravação em metal, na qual trabalhavam gravadores responsáveis pela ilustração dos livros e pela formação de outros gravadores. Completava o quadro de técnicas gráficas a fabricação de tipos móveis a cargo da tipoplastia, o último adendo ao já longo nome da oficina. Todos esses setores estavam a serviço da editora, que fazia traduções e editava textos literários, científicos e técnicos.”
Edna explica que o objetivo da editora era imprimir obras de divulgação técnica e científica. “Foi um projeto iluminista que promoveu em Portugal ações para ampliar o conhecimento de novos métodos e técnicas de exploração de minas, para plantio e aproveitamento de produtos naturais como o tabaco e o bicho-da-seda, tratamento de doenças tropicais, textos sobre matemática, filosofia, literatura, manuais de gravura em metal, enfim, uma plêiade de informações sobre os mais diversos assuntos, a maioria em traduções do francês e do inglês, abordados por estudantes e profissionais brasileiros residentes em Portugal.”
O diretor da tipografia era Frei Veloso e quase todos os colaboradores eram brasileiros de Minas Gerais. “Foi uma atividade extraordinária, pois conseguiu publicar mais de 80 títulos de 1799 a 1801, quando a casa foi incorporada à Imprensa Nacional lisboeta.”
Frei Veloso e a Tipografia do Arco do Cego, de Ermelinda Moutinho Pataca e Fernando José Luna (organizadores), Editora da USP (Edusp), 448 páginas, R$ 60,00.
A Feira SUB de arte impressa e publicações independentes que acontece neste sábado, 14 de setembro, na Biblioteca Pública Municipal ‘Professor Ernesto Manoel Zink’, das 11h às 21h, terá uma programação que inclui encontro literário, exposições, exibição de documentário e bate-papo. Alguns eventos acontecem antes do dia da Feira, na própria Biblioteca, e outros dois em dias alternados na Unicamp. A Feira e toda a programação têm entrada gratuita.
Uma novidade da programação é o encontrinho literário que vai acontecer nesta terça, 10, das 14h às 17h, na Biblioteca, com entrada gratuita. Também na Biblioteca, já está em cartaz a exposição ‘Passaragem’, de Vinícius Cruz, artista convidado para elaborar o cartaz da Feira SUB 2019. No dia da Feira, uma mini exposição vai mostrar os cartazes das edições anteriores elaborados por outros artistas.
Para Suze Elias, chefe de Setor da Biblioteca Pública Municipal ‘Professor Ernesto Manoel Zink’, “a Feira SUB transforma a Biblioteca em um dos mais importantes cenários para as editoras e publicadores independentes apresentarem seus trabalhos. É um evento único que responde à necessidade de uma biblioteca conectar pessoas com a criação e inovação e ser um espaço de trocas”.
A 4ª edição da Feira terá a participação recorde de 90 expositores. Em edições anteriores o número máximo foi 70. “A cada ano o número de inscritos aumenta. Priorizamos para essa edição ocupar cada espacinho da Biblioteca com expositores, ampliando a visibilidade de mais e mais editoras e artistas independentes. Será uma edição especial nesse sentido e acredito que teremos algumas atividades espontâneas que podem surgir no decorrer da Feira”, conta Fabiana Pacola Ius, coordenadora da feira e uma das responsáveis pela curadoria. Entre os participantes dessa edição, uma mesa com trabalho expositivo dos alunos, ex-alunos e professores do curso de Especialização em Design Gráfico da Unicamp.
“A parceria com universidades sempre está no nosso foco. Consideramos importante essa ponte entre universidade e feira porque é uma maneira de incentivar a produção artística de alunos, estreitar o contato deles com editoras, produtores independentes e o público. Possíveis parcerias podem eventualmente surgir desses encontros”, complementa Fabiana.
No dia da Feira, em parceria com o Festival Hercule Florence, haverá uma ação de colagem de lambe-lambes pelas ruas de Campinas, organizada por Ricardo Lima e Matheus Hofstatter, fotógrafo e artista expositor, respectivamente.
Confira abaixo a programação completa. Todos os eventos são gratuitos.
Programação
Feira SUB 2019
Data: 14 de setembro
Horário: 11 às 21 horas
Local: Biblioteca Pública Municipal ‘Professor Ernesto Manoel Zink’ | Avenida Benjamim Constant, 1633 | Centro | Campinas, SP (ao lado da Prefeitura).
Programação paralela
16.08 a 27.09
Exposição | Acervo de Publicações Independentes da Feira SUB
Local | ‘Projeto Estante de Livros e Cadernos de Artista’ do Depto. de Artes Plásticas do Instituto de Artes da Unicamp (DAP-IA) | térreo | R. Elis Regina, 50 | Cidade Universitária
Exposição de livros de artista, foto-livros, revistas, zines, cadernos e livros de publicadores independentes do acervo da Feira SUB.
Curadoria | Marcela Pacola e Fabiana Pacola Ius.
Expografia | Valéria Scornaienchi
Visitação | segunda a sexta, das 9h às 22h
Até 30.09
Exposição | PASSARAGEM | Vinícius Cruz
Local | Biblioteca Pública Municipal ‘Professor Ernesto Manoel Zink’ | Avenida Benjamim Constant, 1633 | Centro (ao lado da Prefeitura).
PASSARAGEM é uma pequena enciclopédia de reminiscências pessoais traduzidas para pássaros. Esta série de desenhos, realizados com nanquim e aquarela sobre folhas de dicionários, estabelece um glossário cuidadosamente desordenado das insignificâncias que levam alguém a acariciar o vento.”Para ser olhada como um céu de pipas por um moleque”.
Visitação | segunda a sexta | 9h às 17h
10.09
14h às 17h | Literal [ especial Feira SUB ]
Local | Biblioteca Pública Municipal ‘Professor Ernesto Manoel Zink’ | Avenida Benjamim Constant, 1633 | Centro (ao lado da Prefeitura).
Mediador | Eduardo Barbosa
‘Literal’ são encontrinhos descontraídos e itinerantes para troca de ideias sobre textos literários. É um projeto do MIX Estúdio Criativo com Eduardo Barbosa que está na 17ª edição. Em setembro, como parte da programação paralela da Feira, o encontrinho será na Biblioteca. No Literal [especial Feira SUB], a partir da leitura de diversos textos, vamos compartilhar nossas sensações e opiniões a respeito deles, estabelecer relações com a vida e refletir sobre o que a Literatura nos oferece.
25 vagas | sem inscrição | por ordem de chegada
Público | qualquer pessoa a partir de 16 anos pode participar
Pré requisito | não necessita
No dia da Feira
14.09
11h às 21h | Mini exposição ‘Cartazes’
Local | Biblioteca Pública Municipal ‘Professor Ernesto Manoel Zink’ |Avenida Benjamim Constant, 1633 | Centro (ao lado da Prefeitura).
Mini exposição dos cartazes da Feira SUB de todas as edições. A cada edição a SUB convida um artista para elaborar o cartaz, peça central da comunicação da Feira. Liberdade estética e ousadia criativa são elementos que devem nortear a concepção e a única referência proposta é com relação a simbologia da Feira representada pela figura de um peixe.
14.09
16h | Colagem Lambe | Ação do festival de Fotografia Hercule Florence
Colagem de lambe-lambe. Arte urbana nas ruas de Campinas numa ação do Festival de Fotografia Hercule Florence.
Projeto | Ricardo Lima e Matheus Hofstatter
Expositores 2019
+UM Coletivo | 2 no Telhado | Alexandre Teles | Amanda Miranda | anaiaiá | André Calvão | Anna Charlie | Annima de Mattos | AQUASTRE ateliê de arte | Arte de Maria | Arthur Moura Campos | Associações Insólitas | Ateliê Nômade | Ateliê Oráculo | Ateliê ReTina | Atelier Daniela Galanti | Banca Tatuí | Besoura | Borogodó Editora | Carlos Rincon | Carriero | Claudia Schmidt | Coletivo Discórdia | Coticoá | Cultura e Barbárie | Dani Akemi | Desgarra + Edições Insurrectas | Devora Editorial | Dink | Edições Barbatana | Edições Jabuticaba | Editora Incompleta | Editora Origem | Especialização Design Gráfico Unicamp | Experimentos Impressos | Figo | Flor Absurda | Galeria Na Bike | graficafábrica | Guilherme Fonseca | gustavoinafuku | Havaiana Papers | Isadora Não Entende Nada | Keila Knobel | Kenji Lambert | Kinco | Laboratório Torpe de Malcriações Gráficas | Liquido Preto | Loreley Books | Lote 42 | Lovely House | Malha Fina Cartonera | Malu Bragante | Márcio Sno Produções | Mariane Rubinato | Maringelli | Marisa Martins Carvalho | Matheus Hofstatter | MESMO | Mosca Dragônica | NADA∴Estúdio Criativo | Nestor Jr | Neuber | No Barbante | Old Boy | Olívia AF | ÔZé Editora | Palavraria Coletivo Literário | PAP e TIN | Partes | Pat Cividanes | PHONTE88 | Poupée Rouge Publicações Independentes | Priscila Bellotti | Rafaela Jemmene | Rendas Urbanas | Revista Subversa | Rusvel Magazine | selo doburro | Sismo | Studio Treze | Thiago Bortolozzo | Vanessa Prezoto | Vinícius Cruz | Vitor Pascale | Xilomóvel – Ateliê Itinerante | YOYO | Zarabatana Books | Zebra Amarela
A Feira SUB é uma iniciativa do MIX estúdio criativo (www.facebook.com/mixestudiocriativo/) de Campinas. A edição de 2019 conta com o apoio da Prefeitura Municipal de Campinas, da Secretaria de Cultura, do Instituto CPFL e da Agência Social de Notícias.
Jujuba, editora independente há 9 anos no mercado de literatura infantil, volta-se para a primeiríssima infância com uma coleção de livros diversos e que afirmam o bebê como leitor de literatura
CRISTIANE ROGERIO
(Foto: Shutterstock)
Lugar de bebê é no… colo! E lugar de livro, veja só, também! Mas de que colo estamos falando? De um colinho-carinho, colinho-aconchego, colinho-toda-a-atenção-do-mundo. A editora Daniela Padilha, criadora da Jujuba Editora e mãe de dois filhos pequenos, há alguns anos vem pesquisando as relações entre os livros e os bebês.
De leitor em leitor, passou a desejar ter em seu catálogo livros que acolhessem os bem pequenos, mas que atraíssem o adulto também. Nasce, assim, a coleçãoLiteratura de Colo, que a Jujuba lança com cinco livros para a primeiríssima infância (período da gestação aos 3 anos de idade). Dois são brasileiríssimos: O que tem aí?, da artista pernambucana Rosinha, e Bia e o elefante, da dupla Carolina Moreyra e Odilon Moraes. Os outros três que o público terá acesso agora, são o adorável Azul, dos espanhóis Meritxell Martí e Xavier Salomó; Onde está Tomás?, da peruana Micaela Chirif com a espanhola Leire Salaberria, e O urso e o barco, do inglês Cliff Wright.. Misturando autores brasileiros e estrangeiros, são convites à surpresa, ao olhar detalhes, seguir a narrativa. Embora dentro de uma coleção, são completamente diferentes um do outro, mais uma raridade no nosso mercado editorial.
Daniela Padilha (Foto: Divulgação)
Daniela acredita que as obras se conectam aos diálogos e escutas possíveis com os bebês anteriores à fala. “Que ainda estão na ordem do sentir, do estar, da relação primeira”, diz. Para 2020, a Jujuba relançará o clássico OPS, de Marilda Castanha, e ainda inéditos de Renato Moriconi, Stela Barbieri e Fernando Vilela e Lalau e Laurabeatriz. CRESCER conversou com a editora Daniela Padilha para saber mais sobre como uma editora escolhe um livro voltado para esta fase sem perder a essência da busca por uma boa literatura desde a barriga.
Como surgiu seu interesse por esta “fase” da literatura? Daniela Padilha: Curioso é que surgiu isso antes até da primeira gravidez! (risos). Depois, já grávida, quis fazer alguns projetos e em 2015 eu fiz uma roda de conversa no Sesc Belenzinho. Comecei a procurar livros e pesquisar muito.
Você ja sabia que tinha livros interessantes para esse público fora do Brasil?
Sim, eu já sabia que tinha muita coisa de qualidade sendo feita lá fora, mas que nem sempre chegava aqui por uma questão de custo. Isso começou a acontecer nos últimos anos, quando algumas editoras passaram a investir mais em obras para esse público.
Por que acaba-se priorizando livros sem narrativas ou o que chamamos de “livros-brinquedo”? Custo?
Os livros que vêm pra cá são livros mais baratos de comprar para traduzir. São livros que não têm tanta preocupação com uma história, são geralmente editoras que contratam um ilustrador, sem ser alguém que cria algo autoral. E ele faz vários livros e na quantidade fica mais barato. E vai naquela ideia de “ah, mas ele nem entende a história, é só um bebê”.
O que eu quis com o Literatura de Colo era tentar procurar fora e aqui de dentro do Brasil livros que tenham histórias para serem contadas. Por exemplo que podem falar de opostos, indo além do “em cima/embaixo”, “frio/quente”. Pelas pesquisas que fiz e por experiência própria, acho muito difícil criar uma relação com algo que é dado artificialmente a você. Se um pai ou mãe está com um bebê no colo e a única coisa que ele pode dizer é “triângulo” “bola” “quadrado” não vai fazer muito sentido para ele… E então não fará sentido àquele momento. Ela pode até apontar, mas “bola” ela vai “aprender na vida”, como dizia Paulo Freire.
Então vamos falar do livro O que tem aí?, da Rosinha. Eu tenho falado com as pessoas pós-leitura que faço, assim: “Sim, é um livro sobre cores, sobre números, sobre animais, sobre o ‘Cadê? Achou!’… Mas é mais do que isso!”
A gente começou a mapear esses tipos de livros pensando, por exemplo, por que as cores são tão importantes de falar para a criança, por que tantos de animais. E como fazer isso sendo diferente? Criando uma história. Para que a gente consiga criar a história destes pais com as crianças. Eles se vincularem com o livro e a criança também.
E é isso o que interessa, né?
É um livro que precisa da mediação do adulto, que ela não dá conta sozinha. Pode até ser uma reclamação (risos), mas acho bom. Se há uma intenção é criar esse vínculo. É ver que é esta a parte boa! Claro que a criança cria uma relação sozinha, mexe, etc. Mas com o adulto fica melhor. Em Azul, por exemplo: o adulto, que sabe ler, pode dizer “céu”, que é a única palavra escrita ali. Mas há uma narrativa acontecendo na imagem: um gato que derrubou um anel, que caiu…
Azul, Ed. Jujuba, R$ 42 (Foto: Divulgação)
Já o livro da Rosinha tem bicho de verdade e bichos inventados, a rima é uma provocação para os adultos! Ela tem uma facilidade de se comunicar com os menores. O uso de cores, etc. E quando pensamos nos bichos e cores, pensei nela e para ela é fácil brincar. Ela diz que é uma “brincante do livro”. E a gente tinha o desafio de ter um livro interativo, e queria um livro do cadê achou, muita coisa em um projeto! E aí veio a ideia das abas, com as cores, os bichos e os números, e a rima…
E o nonsense! E assim vai se dando a narrativa em diversos aspectos para as crianças!
O que tem aí?, Ed. Jujuba, R$ 42 (Foto: Divulgação)
O que tem aí?, Ed. Jujuba, R$ 42 (Foto: Divulgação)
Uma outra coisa que também é caracterítica ao, por exemplo, ler um livro ilustrado (pensando nele como a relação de dança entre palavra e imagem), é a necessidade de uma companhia. É mais gostoso se estiver lendo com alguém! Como o Odilon Moraes sempre diz: você lê desconfiando do que lê, sabe que tem algo a decifrar, a mais…
E o bebê só “existe” a partir do outro, a partir da relação com o outro.
Estas questões passam também por outro engano que cometemos, que é falar da criança pequena como “futuro leitor”. Ela é uma leitora naquele momento e, assim, vou produzir ou ler algo interessante para ela naquele momento.
É enxergar o bebê como algo que já é. Aí você oferece algo de qualidade. Se faz sentido para o mediador, será de um jeito, mas se você não acha importante…
Assim, de alguma maneira, os livros para bebês acabam tocando na questão de formação do leitor adulto, não?
Sim, e até o adulto e quem a gente acha que não é leitor, mas que é leitor. Lendo algum tipo de texto, imagem…
Muito mais importante pensar no direito à ficção.
Sim e pode ser que o livro não seja o seu lugar da ficção, e depois você pode achar outros.
E que podemos estabelecer relações diferentes com os livros…
Eu quero mesmo dizer que sejam livros que “não servem para nada”, mas “só” para ter uma relação de afeto!
E o livro é um convite a “ter um tempo” a mais…
Tempo externo e tempo interno. É um período muito pesado, principalmente para a mãe, cheio de cobranças. E não podemos colocar o livro como mais uma coisa que ser feita… mas conversar o que pode provocar de bom naquele momento. Aí só fazendo para entender: colocar um bebê no colo e ler e ver esta conexão acontecer! Quando você para para fazer isso, acalma você internamente, acalma ele. E estou falando de livro, mas pode ser música!
E em outros espaços, como a escola?
Acredito que dentro do espaço maior é buscar esta conexão possível. É esse “acalmar” dos dois lados, o respeito ao tempo de leitura e saber que ele mesmo engatinhando pode “estar” na leitura.
Então pensar o livro criando relações com os outros tantos adultos. Aquela cena da criança pequena trazendo um livro para a pessoa que ela acabou de conhecer… E a narrativa são códigos compartilhados.
E é isso que atrai o adulto. A ideia é mexer mais com essa nossa ideia aqui de livros para esta fase da criança: e, sim, eu sonho mesmo é que a gente tenha uma ampla produção de livros brasileiros para bebês.
A Audible defende que “as legendas” dão contexto e ajudam quem está a ouvir. Os editores consideram que os excertos de textos gerados por inteligência artificial geram erros gramaticais e de ortografia e em vez de ajudarem a leitura estão a fazer “um desserviço” aos autores, editores e aos leitores.
Isabel Coutinho
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E se alguém se lembrasse de colocar legendas em audiolivros? Confuso? Foi isso que aconteceu com a Audible, a empresa de audiolivros da Amazon, que teve esta ideia e pretendia lançar o novo serviço, a que chamou Audible Captions, no início do ano lectivo neste mês de Setembro nos Estados Unidos.
Mas os principais grupos editoriais norte-americanos, como a Chronicle Books, a Hachette Book Group, a HarperCollins Publishers, o Macmillan Publishing Group, a Penguin Random House, a Scholastic e a Simon & Schuster, consideraram que este recurso a legendas geradas por inteligência artificial viola os direitos de autor. E através da Association of American Publishers (AAP), os editores colocaram no passado dia 23 de Agosto um processo à Audible para a impedir de incluir obras das suas editoras neste programa. Entretanto a Audible decidiu adiar o lançamento de “legendas nos audiolivros” nas obras cujos direitos pertencem a estas editoras até que no próximo dia 25 de Setembro um juiz decida quem tem razão.
Num vídeo disponível online, Richard Stern, da Audible, explica que foi por causa do projecto Listen Up, que oferecia assinaturas desta plataforma de venda de audiolivros a estudantes de liceu em Newark, nos EUA, que perceberam que os jovens norte-americanos preferiam usar a Audible no telemóvel (a plataforma também está disponível no tablet e no computador) e que queriam ouvir os audiolivros tal como vêem televisão: com a ajuda de legendas.
Por isso o programa permite que à medida que se vai ouvindo um audiolivro(a maior parte das vezes lido por actores profissionais ou em alguns casos pelos próprios autores) se leia com um ligeiro atraso no ecrã do telemóvel algumas linhas que transcrevem o que se está a ouvir. A Audible defende que “as legendas” dão contexto e ajudam quem está a ouvir, pois ao carregar-se numa das palavras que aparecem no ecrã pode ver-se qual o seu significado — num dicionário ou na respectiva entrada na Wikipédia. Os editores dizem que o programa transcreve “todas as palavras” do livro que ouve ( e na verdade é isso que se vê no vídeo de promoção) e lembram que a Audible admitiu que 6% dos textos podem conter erros de transcrição.
“Hoje, somos confrontados com a primeira geração de não-leitores da nossa história, com menos de 20 por cento dos adolescentes norte-americanos a afirmarem que leram um livro, uma revista ou um jornal diário por prazer. Estamos empenhados em fazer o que nos seja possível para lidar com este problema”, escreve Don Katz, o CEO da Audible, num comunicado que pode ser lido online defendendo este serviço.
As editoras norte-americanas, por sua vez, consideram que a Audible não pode disponibilizar os textos dos livros porque a reprodução de áudio e a de texto têm licenças separadas e eles só compraram os direitos do áudio. Por sua vez, a Audible diz que não está a gerar PDF de livros completos e que “não se trata de um livro” mas sim de pedaços de texto gerados por uma máquina. Os editores acham a situação “muito preocupante”, pois os excertos de textos gerados por inteligência artificial geram erros gramaticais e de ortografia e em vez de ajudarem a leitura estão a fazer “um desserviço” aos autores, editores e aos leitores.
Confira como foi o primeiro dia da Convenção Nacional de Livrarias
Texto por Leonardo Neto
Sérgio Mena Barreto – presidente da Abrafarma – falou como as farmácias se reinventaram e deu dicas para que as livrarias sigam no mesmo caminho | Immonem Barros
Há que se tirar o chapéu para a organização desta edição da Convenção da Associação Nacional de Livrarias (ANL) que foi aberta oficialmente nesta quarta-feira e segue com a sua programação nesta quinta. A programação está realmente boa. Ontem, os livreiros e editores presentes tiveram a chance de ouvir de Sergio Mena Barreto, presidente da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), como o seu segmento se reinventou e saltou de um faturamento de R$ 3 bilhões para R$ 51 bilhões.Ele mostrou como a automatização dos estoques; a dinamização da distribuição de medicamentos; a gestão colaborativa com fornecedores e as informações compartilhadas entre indústria, distribuidores e varejo ajudaram a expansão do negócio no Brasil. Foi uma aula. Sobre isso, o PublishNews conversou com Sérgio e a entrevista estará na próxima edição do Podcast, que vai ao ar na próxima segunda.
O nostálgico Roger Chartier defendeu as livrarias e os livros físicos | Immonem Barros
Outro destaque da programação desta quarta-feira foi a participação de Roger Chartier. Professor, acadêmico e grande pensador da história do livro também deu uma aula. Com português impecável mostrou estar antenado com o que acontece no Brasil. Começou, como não poderia deixar de ser, falando sobre o “momento dramático”, fazendo uma referência às queimadas na Floresta Amazônica, “a mais importante livraria e biblioteca cultural da humanidade”. Depois citou matérias recentes publicadas pelos principais veículos de comunicação do País a respeito da situação atual das livrarias brasileiras. Foi, a exemplo da palestra de Sérgio, uma aula. No sentido mais acadêmico da palavra. No cerne da sua apresentação, estavam as novas formas de leitura, o papel do livro impresso e a livraria no mundo digital. De certa forma, Chartier repetiu as ideias que apresentou no sexto Congresso do Livro Digital, em 2016, de que a revolução promovida pela tecnologia de hoje impacta de forma incisiva a economia do livro moldada no século 18 e até então não ameaçada.
A sua defesa do livro impresso versus a existência de uma sociedade digital parece datada. Experiências mundo afora já mostraram não uma dicotomia, mas uma coexistência entre o físico e o digital. Se é que ele existe, o apocalipse do livro físico foi adiado.
Chartier foi brilhante ao defender as livrarias de argamassa e tijolos. “[Elas são] uma instituição fundamental do espaço público de que necessita a nossas sociedades. [Elas] foram local de resistência contra o poder tirânico desde a Espanha de Franco até a Buenos Aires da ditadura militar. Hoje em dia, em nossos tempos da reescrita da história, de falsas verdades, as livrarias são um instrumento essencial de acesso ao saber”, disse. “Cada um de nós se lembra das livrarias onde encontrou livros que não buscava e que transformaram a sua existência. Cada um de nós se lembra dos livreiros atentos que foram seus guias na floresta dos títulos convertida, graças a eles, em um jardim de várias flores. Estas lembranças não devem se transformar em uma nostalgia de um passado desaparecido. Pelo contrário, fortalecem a defesa das livrarias”, finalizou.
A programação da Convenção segue nesta quinta-feira debatendo a situação econômica brasileira com o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan e o próprio negócio do livro e seus modelos com nomes como Marcos Pereira (Sextante / SNEL), Samuel Seibel (Vila), Rui Campos (Travessa), Julio Cesar Cruz (Catavento), Marcus Teles (Leitura) Magda Krauss (Saber e Ler), Isaque Lerbak (Eldorado) e Henrique Nogueira (GfK).
Vinhos, maquiagens, café, temperos e LIVROS! Os clubes de assinatura vêm ganhando cada vez mais espaço entre leitores.
Texto por bOOKThaís Rossi
Os clubes de assinatura literária têm servido para aplacar a crise no mercado editorial em todo o país. De acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABCom), houve um aumento de 167% nos negócios envolvendo os clubes de assinaturas nos últimos quatro anos.
Para o book advisor Eduardo Villela, espera-se que as assinaturas cresçam ainda mais e que o faturamento através desse canal de vendas se multiplique nos próximos anos.
“Os clubes de assinatura de livros estimulam a leitura e valorizam a importância do livro no Brasil enquanto um produto que agrega inúmeros benefícios a leitores de diferentes idades (melhora de raciocínio, da criatividade, do repertório cultural, da capacidade de aprendizagem e do espírito crítico, além de ser uma excelente forma de lazer). A pesquisa ‘Produção e vendas do setor editorial brasileiro’ mostrou que em 2018 foram vendidos aproximadamente dois milhões e duzentos mil exemplares por meio de clubes de assinatura”
Além de livros com gêneros que correspondem à personalidade dos assinantes, as editoras disponibilizam também brindes exclusivos e um espaço digital reservado para que os leitores possam interagir e discutir suas leituras.
Outro diferencial é que o leitor não precisar sair de casa para receber o produto. A entrega em domicílio é um fator determinante para os interessados na leitura, mas que estão com o tempo corrido. A proposta também é muito interessante para aqueles que moram em cidades onde livrarias e sebos são escassos.
“As pessoas leem desde que os livros escolhidos sejam do interesse delas. Os kits chegam a casa dos leitores em uma caixa bonita e de qualidade, que poderá inclusive depois ser reaproveitada para guardar outros objetos. Dentro da caixa, além dos livros em si, o leitor encontra uma revista contendo entrevistas especiais com os autores, curadores e outras informações inusitadas sobre os livros do mês corrente, pôsteres para colecionarem, marcadores de páginas e outros mimos que enchem os olhos. Abrir uma caixa de um clube de assinatura de livros é uma experiência muito gostosa!” explica Eduardo.
Algumas editoras, inclusive, utilizam-se dos clubes de assinatura para inovar, trazendo versões impressas dos livros de autores independentes, clássicos que há muito tempo não são mais impressos e tradução de obras que não são disponibilizadas no Brasil, como também antecipar lançamentos aos assinantes antes dos volumes chegarem por aqui oficialmente.
A proposta em ascensão já conta com diversas opções como a TAG, Clube SKOOB, Turista literário, além do Clube Intrínsecos, que encabeça a lista dos mais procurados. O clube de assinaturas da editora Intrínseca oferece obras de gêneros variados com edições exclusivas em capa dura, entregues em uma caixa especial a um preço acessível.
Com o aumento crescente de vendas, as editoras aproveitam também para expandir suas publicações, pois conseguem viabilizar uma quantidade de exemplares de um título a um número próximo ou até maior do que a 1ª tiragem média produzida por médias e grandes editoras.
Os clubes de assinatura funcionam como uma opção de vendas de livros alternativa ao método tradicional conhecido – através de livraria física ou virtual. O novo formato está em crescente expansão e a previsão é que em pouco tempo ela ganhe muito mais adeptos no Brasil e no mundo.
Outro modelo interessante de vendas de livros é o Kindle Unlimited, que é uma plataforma exclusiva da Amazon disponibilizada somente para dispositivos e-readers. A iniciativa da gigante estrangeira oferece mais de 1 milhão de e-books através de uma assinatura mensal que o usuário pode cancelar quando desejar. E como se isso já não fosse atraente, o leitor ainda pode experimentar o plano por um mês sem pagar nada.
Com a assinatura ativa, o usuário pode escolher até dez livros por vez e baixá-los diretamente em seu Kindle, desde que o e-book esteja cadastrado no KDP Select; depois é possível devolver um volume já finalizado ou que não deseja mais ler e baixar outro no lugar. E não é preciso comprar o dispositivo para ter acesso à plataforma; usuários de tablets e celulares – ou até mesmo internautas – podem baixar o aplicativo Kindle e, a partir dele, ler o que quiser onde quiser.
Os diferenciais do Kindle Unlimited é que ele dispensa gastos com frete, envia o livro instantaneamente ao leitor e ainda oferece um gama de livros internacionais e nacionais, além de novos autores que o público provavelmente não conheceria de outra forma. É uma maneira de transgredir a leitura tradicional e conhecer novos nomes da literatura.
Quem altera obras sem o consentimento do autor pratica ato ilícito. Com esse entendimento, a 1ª Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (RJ e ES), por unanimidade, negou apelação da União e manteve condenação de R$ 50 mil a um coronel do Exército.